14/04/2020

Família

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Interessante perceber que no meio das crises surgem oportunidades, e estas oportunidades podem ser vistas como momento de crescimento, introspecção para o autoconhecimento e conhecimento dos próprios entes queridos que fazem parte deste isolamento social.

            Em meu livro Escola não é depósito de crianças: a importância da família na educação dos filhos, publicado pela WAK em 2012, é ressaltado o dever moral e obrigação da família na ação de educar, ação esta que está sendo empurrada para a escola.

            Já que é no leito familiar que ocorre o primeiro processo de socialização e construção do caráter, termos estes reforçado no livro Educação um ato político, publicado pela Autografia em 2019.

            Em palestras ministradas por mim envolvendo família e escola, é salientado que na convivência familiar existe a formação moral e intelectual, afetividade, além do amparo psicológico, já que há um elo entre afetivo e cognitivo, o que reforça a transmissão de valores e normas para boa convivência.

            O problema é que a família tem deixado seus filhos a revelia nas escolas públicas e a omissão  de suas funções e obrigações passa a ser o seu grande erro perante o verdadeiro educar.

            Independente o tipo de família, seja nuclear ou elementar, extensa, composta, etc, ela será a pedra angular para a formação do caráter do indivíduo e construção de sua identidade, já que nela deve ser proporcionado a estabilidade, autoridade e sentimento do que é correto.

            Infelizmente as famílias não tem mais noção do que é ser uma família. Muitos acham que é apenas um aglomerado de pessoas sem vínculos afetivos, e assim tem sido com alguns pais.

            Temos pais travestidos de pais, ou seja, pois negligenciam o seu verdadeiro dever de educar e agindo com desleixo, deixa de ser exemplo vivo do que é correto.

            Este isolamento social veio para minimizar o impacto do Covid-19 sobre o Sistema Único de Saúde e prolongar o tempo para se preparar uma infraestrutura para receber as pessoas com casos confirmados e sintomas agravados.

            É uma forma para não acontecer como aconteceu em países de primeiro mundo cujo sistema de saúde teve um colapso a ponto dos médicos terem que escolher quem viverá e quem deverá morrer.

            Obviamente que no Brasil a situação será bem pior se não nos prepararmos, já que somos um país de tamanho continental e temos um sistema de saúde precário, visto que saúde e educação nunca foram prioridades nos governos.

            Assim sendo, este isolamento veio como uma oportunidade para que os familiares possam se conhecer melhor e para que os pais sejam realmente pais e é um momento para que os mesmos percebam o mal que têm feito a seus filhos com esta omissão

            Interessante perceber que alguns destes pais por não estarem familiarizados com seus próprios filhos, fazem pressão para que governantes retornem as atividades escolares, exigindo assim uma ação irresponsável e que poderá causar trágicas consequências.

            Muitas destas crianças por terem pais negligentes, sequer os vêem como autoridade e o desrespeito por estes pais chega a ser banalizado e visto como algo corriqueiro.

            Tais pais não conseguem impor uma atividade sequer a seus filhos, seja ela de auxílio no cuidar da casa ou do mais novo, ou até mesmo uma atividade escolar como um estudo autônomo e/ou leitura de um livro.

            Estes mesmos pais querem uma oportunidade para fazer pressão e se livrarem novamente de seus filhos, empurrando-os para o espaço escolar e deixando-os  mais uma vez a total responsabilidade da escola.

            Eles ignoram o Estatuto da Criança e do Adolescente no Art. 4º que ressalta ser da família a responsabilidade de cuidar e educar os filhos.

            A família quando é omissa, deixa uma carência em seu filho já que o abandono afetivo tende a gerar um dano moral a criança, o que pode refletir negativamente na vida do mesmo, por isso é importante os pais cumprirem suas papeis, já que alguns encontram-se totalmente descompromissadas com o seu deveres morais, abstendo-se de afeto e respeito.

            Quando alguém se torna pai ou mãe, tem-se a vida totalmente transformada, pois mudam-se as formas de pensar e o viver passa a ser em função daquele que nasceu em seu leito.

            É o momento em que deixamos o egoísmo de lado e aprendemos a compartilhar e a saber realmente o que é amor, este sentimento imensurável e inalienável.

            Sendo assim, que este isolamento possa nos dar realmente a oportunidade de sermos pais e aproveitarmos nossos filhos para passar valores, respeito e muito, muito amor.

            Quem sabe, assim quando este isolamento acabar, estas crianças aprendam realmente a verdadeira função da escola que é o ensinar, pois o educar a família já terá se encarregado, já que a educação vem do berço.

            Como dizia Jean Yves Leloup, ao afirmar que "nós escutamos o barulho do carvalho que cai mas não escutamos o barulho da floresta que cresce", então que prestemos atenção no verdadeiro crescimento da família e na sua importância para a formação de uma sociedade mais moralizada e humanizada.

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