20/12/2017

FLEXIBILIDADE E SUA RELAÇÃO COM JOVENS PRATICANTES DE FUTEBOL

FLEXIBILITY AND ITS RELATIONSHIP WITH YOUTH FOOTBALL PLAYERS

 

Tiago Lourençoni Dias

Universidade Vale do Rio Verde – UNINCOR – Três Corações – MG.

 

Giuliano Roberto da Silva

Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS – MG; Faculdade Presbiteriana Gammon – FAGAMMON – Lavras – MG; Centro Mineiro de Ensino Superior - CEMES - Campo Belo - MG.

 

RESUMO
Este estudo procurou caracterizar a capacidade motora flexibilidade, levantando a sua importância e utilização, assim como o seu treinamento para o futebol. Muitas divergências foram encontradas sobre a importância dessa capacidade. Com relação ao treinamento foi observado um consenso geral sobre os cuidados que devem ser tomados ao ministrar um treinamento específico de flexibilidade para crianças e jovens, e as características de desenvolvimento e maturação de cada faixa etária devem ser levadas em consideração na elaboração de um programa de treinamento.

Palavras – Chave: Alongamento; Flexibilidade; Jovens; Treinamento.

 

ABSTRACT

This study sought to characterize the flexibility motor skills, raising its importance and use, as well as his training for football. Many differences were found regarding the importance of this capability. Regarding the training is general agreement about the care that must be taken to teach a specific flexibility training for children and youth, and the characteristics of development and maturation of each age group should be taken into account when developing a training program was observed.

Keywords: Stretching; Flexibility; Training; Young.

 

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo analisar a flexibilidade e o alongamento no período da adolescência, e sua relação com a prática de futebol, através de uma revisão de literatura.

O crescente desenvolvimento da "ciência" do futebol proporciona a cada dia novos métodos e maneiras de treinamento físico, técnico, tático e psicológico e cada capacidade motora apresenta características próprias para seu aperfeiçoamento (GODIK & POPOV, 1999).

Muito se discute sobre a importância da flexibilidade no futebol moderno. É sabido como afirma Frankl (2003), que manter a amplitude de movimento previne ou alivia dores articulares.

O alongamento, o qual contribui para a flexibilidade, deve envolver os principais movimentos articulares e ser realizado de forma lenta até o ponto de ligeiro desconforto e então mantidos por cerca de 10 à 20 segundos (NUNES, 1986).

Este estudo, porém, tenta solucionar algumas questões mais específicas com o treinamento e a importância da flexibilidade no futebol. Será que essa capacidade motora é realmente importante para um jogador de futebol? Qual o nível de alongamento deve ter um atleta de futebol? Como deve ser treinada a flexibilidade? Pensando nestas questões, tentou-se levantar por meio de revisão da literatura, quais os aspectos que norteiam a capacidade motora de flexibilidade relacionada à prática do futebol.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

Flexibilidade

De acordo com Nahas (1989), Achour Júnior (1994) e Guedes e Guedes (1995), a flexibilidade é considerada como um importante componente da aptidão física relacionada à saúde, e do desempenho atlético. 

É definida como a capacidade de movimentar as partes do corpo, através de uma ampla variação de movimentos sem distensão excessiva das articulações e ligamentos musculares (GETTMAN, 1994). Basicamente ela se manifesta de duas formas: flexibilidade estática e dinâmica (MOFFATI, 1994; DANTAS, 1984). A flexibilidade é bastante específica para cada articulação (HALL, 1993; PHILLIPS e HASKELL, 1995). Pode variar de indivíduo para indivíduo e até no mesmo indivíduo, sendo assim, um indivíduo que apresente níveis elevados de flexibilidade em determinada articulação, necessariamente, não irá apresentar índices equivalentes a este nas demais. (ACHOUR JÚNIOR, 1994; HOEGER e HOEGER, 1994),

Basicamente a flexibilidade é resultante da capacidade de elasticidade demonstrada pelos músculos e os tecidos conectivos, combinados à mobilidade articular, com isso, a manutenção de uma boa elasticidade dos tecidos musculares e conectivos, poderá garantir a manutenção de níveis desejados de flexibilidade (WEINECK, 1991; GUEDES e GUEDES, 1995; HALL, 1993). 

Alguns fatores como sexo e idade, temperatura corporal e estado de treinamento, apresentam influência direta sobre a estrutura e composição desses tecidos, levando consequentemente a um comportamento bastante diversificado dos níveis de flexibilidade articular (POLLOCK; WILMORE, 1993; HOEGER e HOEGER, 1994; DANTAS, 1984; ACHOUR JÚNIOR, 1996, GETTMAN, 1994). Além desses fatores, acredita-se que a estrutura das superfícies articulares e a elevada concentração de tecido adiposo em torno das articulações, influenciem de forma negativa os níveis de flexibilidade articular, possivelmente esse comprometimento da flexibilidade em determinadas articulações deve estar atrelado a um aumento do atrito entre as superfícies articulares, reduzindo a capacidade da amplitude articular  (HOEGER e HOEGER, 1994; HALL, 1993).

Independente do sexo, a flexibilidade decresce com a idade (HALL, 1993; HOEGER e HOEGER, 1994; WEINECK, 1991; POLLOCK e WILMORE, 1993). Por sua vez Phillips e Haskell (1995), apontam que um decréscimo mais acentuado só é verificado a partir dos 30 anos. Esta redução parece estar estreitamente associada a uma diminuição da capacidade de estiramento dos tendões, ligamentos e músculos devido a uma perda de água, fibras elásticas, mucopolissacarídeos (CHIVANSKI e MATTOS, 1989). Por outro lado, Hall (1993) associa esta redução mais a um decréscimo nos níveis de atividade física decorrente do avanço da idade do que ao processo de envelhecimento. 

Referindo-se ao estilo de vida, em relação à prática de atividades físicas regulares, os indivíduos mais ativos normalmente têm se mostrado mais flexíveis do que os indivíduos menos ativos (POLLOCK e WILMORE, 1993; NAHAS, 1989; WEINECK, 1991; ACHOUR JÚNIOR, 1995b; 1996; MOFFATT, 1994). Entretanto, mesmo aqueles indivíduos considerados ativos, como no exemplo dos maratonistas, os níveis de flexibilidade podem ser bastante reduzidos caso não realizem atividades físicas que envolvam extensão total dos segmentos (POLLOCK e WILMORE, 1993). 

Sendo assim, percebe-se que a relação entre flexibilidade e estilo de vida ativo, parece não ser uma relação de causa - efeito (indivíduo ativo - indivíduo flexível), e sim dependente da amplitude dos movimentos realizados nas atividades (DANTAS, 1984). Para que as atividades físicas tenham influência positiva sobre os níveis de flexibilidade, as articulações devem ser solicitadas acima da amplitude de movimento habitual (POLLOCK e WILMORE, 1993). Os exercícios contra resistência (musculação) realizados com amplitudes articulares reduzidas, combinados a ausência de alongamentos, podem promover reduções na flexibilidade articular quanto a esse assunto, como podemos citar os estudos de Monteiro e Farinatti (1996), que ao analisarem os efeitos agudos de um programa de musculação verificaram efeitos negativos sobre os índices de flexibilidade, sendo os indivíduos do sexo masculino os mais afetados. 

Embora as exigências de bons níveis de flexibilidade em relação à saúde sejam largamente descritas, ainda não se conseguiu esclarecer de forma cientifica, quanto de flexibilidade seria necessário para o ser humano (HALL, 1993). Segundo Monteiro e Farinatti (1996), o que se sabe é que existe a necessidade de níveis mínimos de flexibilidade, quer seja como forma de prevenção contra determinadas patologias, ou para um melhor desempenho atlético.

A manutenção de bons níveis de flexibilidade nas principais articulações tem sido comumente associada a: i) maior resistência às lesões (DANTAS, 1984; MATHEWS, 1980; HOEGER e HOEGER, 1994); ii) menor propensão quanto a incidência de dores musculares, principalmente na região dorsal e lombar (PHILLIPS e HASKEL, 1995; ACSM, 1987; HALL, 1993); ii) prevenção contra problemas posturais (ASHMEN et al., 1996; HOEGER e HOEGER, 1994; ACHOUR JÚNIOR, 1994; 1995a; 1996; SILVA et al, 1985). 

Na população em geral, a escassez de flexibilidade principalmente na região de tronco e quadril (coluna vertebral) tem sido apontada como fator de risco para o desencadeamento de dores lombares e problemas posturais (ACSM, 1987; ASHMEN et al., GUEDES e GUEDES, 1995; PHILLIPS e HASKELL, 1995; HALL, 1993; ACHOUR JÚNIOR, 1994; 1995b). Cerca de 80% das dores lombares são causadas pela combinação de níveis de flexibilidade articular reduzidos, musculatura abdominal flácida e problemas posturais (HOEGER e HOEGER, 1994). Ao realizarem um estudo com adultos Ashmen et al. (1996), observaram em  indivíduos com dor lombar crônica déficit de flexibilidade, força e resistência muscular localizada nas regiões de coluna e quadril. Todavia, não se pode associar de forma direta todos os problemas de postura e dores lombares a uma escassez de flexibilidade articular. 

 

Características da Flexibilidade na Prática de Futebol

Segundo Godik e Popov (1999), a flexibilidade é uma capacidade muito complexa, e para o desenvolvimento dessa capacidade é necessária uma série de exercícios especiais e auxiliares. A flexibilidade é muito específica, o indivíduo pode ser flexível para um movimento e não flexível para outro (PHILLIPS e HASKEL, 1995).

Weineck (1991) afirma que a flexibilidade é a única capacidade motora que atinge o seu valor máximo na infância e depois tem um decréscimo. Existe uma estabilização e até uma ligeira regressão da flexibilidade nos meninos por volta dos 17 anos (GALLAHUE; OZMUN, 2001).

Estudos segundo Farinatti (2000), concluíram que não existe uma associação significativa entre a flexibilidade e a prática do futebol. Constatou-se ainda que na comparação entre atletas de futebol e um grupo controle, existiria um declínio progressivo da flexibilidade com a prática continuada da modalidade.

Contudo, apesar de não ser um consenso geral, a prática continuada do futebol é associada a níveis mais baixos de mobilidade articular do que em populações não atléticas em diversas articulações (FARINATTI, 2000).

Outro ponto muito discutido é com relação à importância da flexibilidade na prevenção de lesões durante a prática esportiva. Estudos realizados por Ekstrand e Gillquist (2000); Weber e Bauman (2004), com jogadores de futebol, não encontraram relações estatisticamente significativas entre flexibilidade estática e lesões de todos os tipos. Segundo Farinatti (2000), diversos estudos e revisões, não puderam estabelecer uma correlação entre a flexibilidade e a prevenção de lesões nos esportes. Já para Achour Jr. (1995); Bompa (2002); Schmid e Alejo (2002); Kohan (2003); Shellock e Prentice; Wilson (2003), o trabalho da flexibilidade auxilia na prevenção das lesões. Frankl (2003), relata também, que uma grande amplitude de movimento, além de prevenir lesões, economiza energia.

Um estudo descrito por Ekstrand et al. (2003), constatou uma diminuição de 75% das lesões em equipes de futebol, com a implementação de um programa preventivo de treinamento, que incluía dez minutos de exercícios de flexibilidade em cada sessão de treinamento regular.

De acordo com Achour Jr. (1995), jogadores de futebol com excessiva flexibilidade na região do tornozelo lesionavam-se com frequência, mais pelo excedente alongamento dos ligamentos que pelos traumas da atividade, e constataram que os atletas que apresentavam um nível regular de flexibilidade estavam menos propensos às lesões do que os atletas com excesso de flexibilidade. Isso pode ser explicado, pois os atletas de futebol necessitam de tendões, cartilagens e ligamentos estáveis capazes de suportar as altas sobrecargas sobre as articulações, que são exigidas durante a prática esportiva competitiva (WEINECK, 2000). Kohan (2003); Frankl (2003) e Wilson (2003), afirmam que o excessivo desenvolvimento da flexibilidade (hipermobilidade) pode apresentar consequências negativas, como a desestabilização das articulações, proporcionando assim um alto risco de lesões.

A área que necessita de um maior alongamento no jogador de futebol é a musculatura da coxa, tanto anterior como posterior (WEINECK, 2000). É muito comum observarmos lesões na parte posterior da coxa em atletas de futebol, devido à grande exigência que essa região recebe durante o movimento de corrida em velocidade ou a ação do chute (ACHOUR JR., 1995).

Segundo Kohan (2003), a flexibilidade tem uma grande importância na prática esportiva, onde uma amplitude de movimento reduzida é prejudicial, o alcance da técnica é satisfatório, mas o excesso de flexibilidade não implica em desempenho melhor. Dantas e Soares (1995), afirmam ainda que a flexibilidade, ao contrário das outras capacidades, não é melhor quanto maior. O máximo dessa capacidade nem sempre é o ideal, isto é, depende da modalidade esportiva.

 

Treinamento da flexibilidade

Para Godik e Popov (1999), os exercícios de flexibilidade deveriam ser incluídos na parte preparatória de qualquer sessão de treinamento. O processo de elevação da flexibilidade é gradual, necessita de várias semanas de treinamento, deve ser utilizado desde o início da preparação (WEINECK, 2000). O treinamento da flexibilidade deve ser constante, pois um período de inatividade fará com que a capacidade de alongamento volte aos valores iniciais e os exercícios, entretanto, devem ser realizados de forma específica e na posição correta (BARBANTI, 1996).

Para Kohan (2003), uma grande preocupação que os professores e preparadores físicos devem ter relaciona-se à idade do praticante, pois não se pode fornecer a crianças e jovens a mesma carga e intensidade do treinamento que é fornecida aos adultos. Com o início da primeira fase puberal, ocorre um crescimento acentuado das crianças, devido a alterações hormonais (causado pela influência do hormônio de crescimento e do hormônio sexual); ocorre uma diminuição da capacidade de resistência mecânica do aparelho locomotor passivo (WEINECK, 1991). Esse crescimento acentuado da estatura, aliado à diminuição da resistência do aparelho locomotor, acarreta uma piora da flexibilidade, baseada no fato de que a capacidade de estiramento dos músculos e ligamentos não acompanha o crescimento acelerado (FREY, 1992). O treinamento da flexibilidade nesse período é necessário, mas a escolha dos exercícios deve ser criteriosa em sua intensidade e abrangência, devido à baixa resistência mecânica do aparelho locomotor (WEINECK, 1991).

Deve-se treinar na infância a flexibilidade por meio de jogos e de forma progressiva, utilizando os métodos e conteúdos semelhantes aos dos adultos, sendo ainda, esta deve fazer parte de todo o trabalho de treinamento, não só como fim em si mesma (WEINECK, 1999). Os exercícios de alongamento precisam ser realizados em grupos musculares que são solicitados em grande proporção no jogo, pois os exercícios de alongamento têm especial importância no trabalho de compensação, pois o trabalho muscular pode ocasionar alterações degenerativas nos aparelhos motores passivo e ativo (WEINECK, 2000).

Os exercícios de alongamento são importantes como medidas regenerativas no sentido de diminuição do tônus muscular e, com isso, recuperação acelerada após a competição ou treinamento (WEINECK, 2000; BOMPA, 2002). Os exercícios de flexibilidade estática são mais seguros e efetivos do que os de flexibilidade balística (SCHMID e ALEJO, 2002).

O treinamento da flexibilidade no futebol deve ser de três formas de alongamento: estático, dinâmico e facilitação proprioceptiva neuromuscular (FNP), onde os movimentos balísticos devem ser executados com cautela, para não exceder os limites de extensibilidade dos tecidos envolvidos e consequentemente provocar lesões (FRANKL, 2003).

 

Avaliação da flexibilidade

Várias técnicas vêm sendo empregadas para mensurar os níveis de flexibilidade articular, comumente, envolvendo movimentos de flexão e extensão (BOMPA, 2002). A verificação desses níveis pode ser feita de forma direta ou indireta, onde as medidas realizadas de forma direta, normalmente, envolvem aparelhos, enquanto que a determinação por medidas indiretas empregam instrumentos como réguas e taquímetros (MOFFATT, 1994). As técnicas diretas expressam os resultados em graus e respeitam o aspecto de que a flexibilidade é especifica para cada articulação, com isso, elas têm sido descritas como sendo as mais precisas (SILVA et al., 1985; HIGAJO et al., 1991; GETTMAN, 1994). Utiliza-se para obtenção dessas medidas diretas o goniômetro (ASHMEN et al., 1996) e o flexômetro de Leighton (MATHEWS, 1980; SILVA et al., 1985). Entretanto, essas técnicas podem consumir muito tempo e dinheiro, o que, consequentemente, pode limitar a sua aplicação, principalmente em estudos epidemiológicos que envolvam um grande número de sujeitos (GETTMAN, 1994).

A determinação dos níveis de flexibilidade através de técnicas indiretas (testes práticos) têm sido bastante criticadas devido: i) os resultados podem ser influenciados pela largura e extensão dos segmentos corporais (MOFFATT, 1994); ii) envolve mais de uma articulação na realização da tarefa motora, onde a eficiência de uma articulação pode compensar a deficiência da outra (ACHOUR JÚNIOR, 1995a; SILVA et al., 1985).

O teste de sentar e alcançar vêm sendo um dos mais indicados tanto para avaliação de crianças e adolescentes quanto na avaliação de adultos (GUEDES, 1994; ACHOUR JÚNIOR, 1996; VIANA et al., 1985; PEREIRA, et al., 1988; CHIVANSK e MATTOS, 1989; HOEGER e HOEGER, 1994). Além disso, Phillips e Haskell (1995), em um estudo de revisão observaram que o teste de sentar e alcançar era o único que apresentava a sua padronização descrita nas principais baterias de teste da performance motora. Frequentemente os resultados obtidos neste teste vem sendo empregados como sendo representativos da flexibilidade geral (HOEGER e HOEGER, 1994). Sua grande aceitação se deve: i) utilização de um movimento que se assemelha com algumas ações do cotidiano (SILVA et al., 1985); ii) grande facilidade na sua aplicação, principalmente quando envolve um grande número de sujeitos a serem avaliados (ACHOUR JÚNIOR, 1994); iii) a alta reprodutibilidade (SILVA et al., 1985) e; iv) por avaliar a flexibilidade ao nível da coluna e dos músculos isquiotibiais, que está associada a grande parte das queixas dolorosas na região lombar e aos problemas de ordem postural (GUEDES e GUEDES, 1995; ASHMEN et al., 1996). Entretanto, a utilização deste procedimento avaliativo é bastante limitado para indivíduos que já apresentem suspeitas ou problemas de coluna (GETTMAN, 1994). 

 

Exercícios de alongamento e flexionamento

No treinamento da flexibilidade, tem-se utilizado os métodos de alongamento estático, dinâmico e de facilitação neuro-proprioceptiva (FNP), também conhecido como método 3s, onde estes três métodos tem demonstrado eficácia no desenvolvimento da flexibilidade, cada um apresentando vantagens e desvantagens (POLLOCK e WILMORE, 1993; DAN WATHEN, 1989).

O método estático tem sido o mais indicado para o desenvolvimento da flexibilidade em programa de atividade física relacionado à promoção da saúde, por apresentar menor associação com: i) desencadeamento de lesões músculo articular (ACHOUR JÚNIOR, 1995a); ii) dores musculares (POLLOCK e WILMORE, 1993; MOFFATT, 1994; ACHOUR JÚNIOR, 1995b) e; iii) além da grande facilidade de aprendizagem para a realização dos movimentos (ACHOUR JÚNIOR, 1994). O método balístico, por sua vez, tem sido contra indicado para este campo de aplicação, pois os movimentos são executados de forma rápida e sucessiva levando a um superestiramento dos ligamentos, tendões e fibras musculares e aumentando o risco de lesões musculares (HOEGER e HOEGE, 1994). Os métodos, dinâmico e FNP, têm apresentado grande aplicabilidade na área dos esportes de rendimento e em programas de reabilitação do sistema músculo-articular (WEINECK, 1991). 

A frequência, intensidade e duração são fatores que devem ser estabelecidos quanto aos exercícios de alongamento, do mesmo modo como são observados nos demais componentes de um programa de exercícios físicos (DANTAS, 1984). Na verdade, qual seria a intensidade, duração e frequência adequada para a prescrição dos exercícios de alongamento? O Quadro 01 ilustra as sugestões de alguns autores quanto a esse aspecto.

 
  Autores

Frequência (1 semana)

Intensidade

Duração (2 semanas)

ACSM (1987)

3 sessões

Mínimo desconforto em relação à dor muscular

10 a 20 segundos

HALL (1993)

-

Mínimo desconforto em relação à dor muscular

10 a 20 segundos

WEINECK (1991)

-

Mínimo desconforto em relação à dor muscular

10 a 15 segundos

HOEGER & HOEGER (1994)

2 a 6 sessões

Mínimo desconforto em relação à dor muscular

10 a 60 segundos

DANTAS (1984)

3 sessões

Mínimo desconforto em relação à dor muscular

20 a 30 segundos

POLLOCK & WILMORE (1993)

-

-

10 a 60 segundos

 

QUADRO 01 - Indicação da frequência, intensidade e duração dos exercícios de alongamento utilizando o método estático. 

 

Na estruturação de um programa de flexibilidade devem ser observados alguns aspectos: i) orientar o usuário para realizar o alongamento de forma lenta e progressiva, sem movimentos bruscos; ii) deve-se manter a posição de alongamento por um determinado tempo, para que os benefícios sejam obtidos; iii) orientar para a manutenção da postura corporal correta; iv) evitar os exercícios unilaterais; v) estabelecer uma sequência a ser seguida durante a realização dos exercícios; vi) substituir os exercícios, garantindo uma maior diversidade de experiências quanto as tarefas motoras realizadas (WEINECK, 1991).

Com relação aos efeitos produzidos pelos programas de flexibilidade, sabe-se que os mesmos atuam sobre os componentes elásticos dos tecidos conectivos, evitando seu encurtamento, consequentemente, melhorando a sua capacidade de extensibilidade e contribuindo para uma minimização dos efeitos inerentes ao processo de envelhecimento (MOFFATT, 1995; DANTAS, 1995).

Outra questão bastante polêmica, diz respeito ao momento certo para realização desses exercícios. Alguns autores tem defendido que os mesmos possam ser executados durante as fases de aquecimento e de volta à calma (POLLOCK e WILMORE, 1993; ACSM, 1987; DAN WATHEN, 1989; AMORIN et al, 1990). Existem algumas evidências de que a sua realização após exercícios de alta intensidade ou exercícios com pesos de caráter excêntrico têm apresentado algumas restrições, tendo em vista a maior probabilidade de lesões no tecido muscular (DONNELLY et al., 1992). Por outro lado, a execução do alongamento após a prática de exercícios de intensidade moderada vem sendo defendida por vários autores que consideram a elevação da temperatura corporal uma vantagem em relação à capacidade de extensibilidade dos tecidos conectivos, o que resultará em maiores ganhos em termos de flexibilidade (POLLOCK e WILMORE, 1993; HOEGER e HOEGER, 1994; MOFFATT, 1994). 

 

CONCLUSÃO

Nesta revisão literária, conclui-se que a importância do treinamento da flexibilidade no futebol é muito controversa. O futebol exige um nível de flexibilidade muito específico, nível este que apresenta grande dificuldade de determinação. Segundo Barbanti (1996) e Weineck (2000), a flexibilidade deve ser desenvolvida até o ponto necessário para a ideal utilização da técnica de movimento e das capacidades motoras da modalidade esportiva, e não no seu máximo.

Todo treinador, ao iniciar um trabalho de treinamento com adolescentes, deve prioritariamente conhecer suas condições físicas e psicológicas e também as transformações fisiológicas naturais que ocorrem a cada fase de seu desenvolvimento, adequando sempre o planejamento a essas mudanças, evitando assim um problema sério, a “especialização precoce”, que poderá ter consequências irreversíveis e comprometedoras no desenvolvimento físico, orgânico e emocional do adolescente.

Os benefícios do exercício físico são comuns a todos os tipos de atividade física, esportiva ou laborativa, desde que os esforços não sejam excessivos em relação à condição física da pessoa. O exercício físico é uma forma de sobrecarga para o organismo, e sobrecargas bem dosadas estimulam adaptações de aprimoramento funcional de todos os órgãos envolvidos, mas quando excessivas, produzem lesão ou deterioração das funções.

Logo, cabe a cada treinador ter a consciência do treinamento a ser aplicado, colaborando para o aprimoramento total de seu atleta de futebol, obtendo seu máximo rendimento em função da faixa etária.

 

REFERÊNCIAS 

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