12/02/2014

Gestão Compartilhada: Desafios E Perspectivas

Risoleide de Souza Nascimento[1]

RosenyA.Vieira Pontes[2]

 

Resumo

Pretende-se com este artigo apresentar uma breve abordagem a partir de arcabouço bibliográfico que tece as bases deste trabalho, cujos objetivos são destacar os princípios balizadores da relação existente no processo de construção do conhecimento, desafios e perspectivas da gestão compartilhada, onde todos os membros da comunidade escolar assumem o papel de membro ativo e participante efetivo na condução do processo da edificação do conhecimento. 

Palavras-chave:escola, gestão compartilhada, comunidade escolar, processo educacional.

 

1.Introdução

              Com as crescentes mudanças no campo educacional decorrentes das transformações ocorridas no âmbito da produção do conhecimento impulsionadas pelo contínuo processo de globalização, se fez necessário um repensar no seio das escolas sobre suas práticas e condução do processo. Em face disso, a gestão compartilhada aparece como forma abrangente e linear na condução do processo de gestão escolar, possibilitando assim, um trabalho alicerçado pelo direcionamento contextualizado e interativo conduzido de forma transdisciplinar.

              Deve-se ponderar que a gestão compartilhada, atualmente tem sido objeto de discussão e reflexão por parte dos atores que compõem o cenário escolar, considerando que o novo milênio preconiza a busca pelo conhecimento e aprendizado de forma dinâmica e contínua. Sendo exigido hoje do professor uma visão global e integrada do processo de ensino-aprendizagem, a qual torna-se possível com um trabalho desenvolvido de forma compartilhada, onde todas as práticas e ações são frutos da troca de ideias e planejamento compartilhado. Nessa premissa, se faz necessário um repensar sobre a gestão escolar e metodologias adotadas em sala de aula, buscando a integração dos alunos no processo de forma a construir uma rede de compartilhamento de ideias e conhecimento, possibilitando a quebra de paradigmas unicamente tradicionais e cedendo espaço para metodologias inovadoras ancoradas na expectativa da aquisição do conhecimento construído por meio de um aprendizado mútuo.

As escolas enfrentam problemas devido à falta de renovação dos seus modelos de gestão, que esgotam e se tornam deficientes, não respondendo, assim, às novas situações exigidas pela sociedade. A escola que se faz hoje é diferente da do passado, e possivelmente no futuro as escolas existirão de forma a se adequar às necessidades da vindoura realidade.( CAMPOS, 2010 p. 74)

              A gestão compartilhada é caracterizada pela ênfase na participação de todos os membros da comunidade acadêmica na tomada de decisões, bem como o envolvimento consciente e integrado nas atividades que permeiam o processo escolar. Sendo composta por  membros dotados de objetivos e interesses comuns, capazes de colaborar na tomada de decisões sobre orientações e melhorias de todo o processo no âmbito escolar, com a consciência de que a realidade escolar pode passar por mudanças e alcançar resultados positivos promovidos pela efetiva e consciente participação de toda comunidade escolar.

              A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de nº 9.394/96, em seu art. 3º inciso VIII, reforça o que já fora posto no texto da Constituição Federal de 1988, no inciso VII Art. 206.

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação,de acordo com os seguintes princípios:

I- Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II- Participação das comunidades escolares e local em conselhos escolares ou equivalentes; (LDB 9394/96)

 

              Para Martins 1999 - A escola, como qualquer outra atividade humana, exige esforços convergentes de grupos de pessoas a fim de ser eficiente no alcance dos seus objetivos e, portanto, necessita de ser bem administrada. Nessa premissa, o processo de gestão escolar precisa contar com um grupo responsável, norteados pelos mesmos objetivos e integrados de forma ativa e participativa.

              A gestão compartilhada pautada pela participação de membros dos seus variados segmentos tende a inverter o processo caracterizado e desenvolvido de forma tradicional, onde deixa de ocorrer sob o movimento vertical passando a adotar e valorizar a participação sob a ótica horizontal, possibilitando a participação dos seus membros de forma inter, multi e pluri e transdisciplinar, promovendo a condução do processo de ensino-aprendizagem de forma inovadora, onde cada integrante deixa de ser um ser passivo assumindo a condição membro ativo, participativo e transformador, seja no campo de tomada de decisões, ou dentro das práticas pedagógicas que permeiam todo o processo educacional.

A participação do maior número no máximo de responsabilidade não é somente uma garantia de eficácia coletiva; ela é também, uma condição de felicidade individual, uma tomada de poder cotidiano sobre a sociedade e sobre as coisas, uma forma de influir livremente sobre o destino. Não se trata mais para o cidadão de delegar seus poderes, mas de exercê-los, em todos os níveis da vida social e em todas as etapas da vida ( FAURE ET alli 1977, p.235.)

 

              A escola é uma organização continuamente cobrada no aspecto resultados dos alunos, avaliações internas, externas, pelos próprios alunos, pais e pela comunidade onde está inserida, visando promover melhorias no campo do ensino-aprendizagem, percebe-se que a condução do processo de ensino-aprendizagem de forma compartilhada possibilita a troca de ideias entre todos os segmentos da escola atrelado a definições claras dos objetivos, esse formato favorece um aprendizado compartilhado e mais eficiente.

              O planejamento realizado de maneira conjunta, possibilita que todos os envolvidos desenvolvam uma visão do todo, a participação de todos os membros da comunidade na gestão compartilhada, possibilita o desenvolvimento do trabalho uniforme e norteado pelas necessidades de cada segmento.

              A implantação da gestão compartilhada na escola não é tarefa fácil, faz-se necessário um trabalho preliminar de conscientização e quebra de paradigmas balizados por uma concepção tradicional, onde a zona de conforto deve ser abandonada cedendo espaço  para os desafios que uma gestão compartilhada efetiva propõe às instituições.

 

  1. DESENVOLVIMENTO

 

              Quando se busca no contexto educacional uma educação de qualidade fundada num projeto educacional participativo (democrático), educadores têm na sua militância, travado grandes batalhas, sobretudo, aliando-se aos movimentos sociais. Nesse contexto, não generalizando as ações, muito se tem falado em gestão democrática, gestão participativa e gestão compartilhada.

              A gestão educacional compartilhada é alicerçada pela responsabilidade integrada e unificada entre seus membros, onde busca estabelecer as diretrizes metodológicas que norteiam o processo educacional, tendo como princípio balizador a integração de seus membros no que versa sobre o estabelecimento de um planejamento conjunto criado por membros articulados e organizados, no intuito de promoverem subsídios necessários para o desempenho das atividades inerentes ao processo educacional.

              Na gestão compartilhada a tomada de decisão perpassa por todos os membros, sendo apreciadas, discutidas e votadas de forma conjunta, possibilitando a análise e reflexão de forma horizontal, onde cada membro possui seu papel de sujeitos atuantes, frente aos objetivos traçados para o projeto.

              Luck 2006, afirma: “A gestão democrática ocorre na medida em que as práticas escolares sejam orientadas por filosofia, valores, princípios e ideias consistentes, presentes na mente e no coração das pessoas, determinado o seu modo de ser e de fazer”. (p. 41)

              Vale ressaltar que a gestão democrática busca mecanismos focados na estruturação organizada e objetiva para condução do processo educacional, buscando a promoção, focada no desenvolvimento integral da aprendizagem da comunidade discente nos âmbitos cognitivos e formativos, cumprindo assim, o papel designado à escola e a educação.

No campo da liberdade, o papel da gestão escolar está inextricavelmente ligado à questão da democracia, não apenas porque, pela educação, faculta-se ao educando o acesso à ciência, à arte, à tecnologia, enfim, ao saber histórico que possibilita o domínio das leis da natureza  e seu uso em benefício humano, fazendo afastar assim o âmbito da necessidade, mas também porque pode propiciar a aquisição de valores e recursos democráticos propiciadores da convivência pacífica entre os homens em sociedade. (PARO, 2001 P. 51)

 

 

PLANEJAMENTO COMPARTILHADO

 

              O planejamento de ensino desenvolvido de forma compartilhada possibilita uma análise abrangente das reais necessidades e objetivos dos conteúdos integrantes da proposta pedagógica de todos os componentes curriculares. Proporcionando um trabalho pedagógico inter, multi e pluri e transdisciplinar e integrado em forma de liames, fazendo com que se tornem mais significativos e interessantes para formação dos alunos, dessa forma, todos os conteúdos possuem uma ligação entre si deixando de ser ministrados isoladamente, sendo transformados em um trabalho conjunto e integrado onde todos os membros da comunidade acadêmica passam a desenvolver um papel de agente ativo no processo de ensino aprendizagem.

              O planejamento compartilhado possibilita a reorganização das diretrizes tomadas inicialmente e a revisão dos elementos da prática pedagógica em virtude da observação de fatos que exigem uma mudança de postura do agente formador para alcançar os objetivos pedagógicos, afim de que a estrutura do processo pedagógico seja objetiva e significativa.

              Na gestão participativa o planejamento é conduzido à luz da “autonomia pedagógica” com foco central no individuo e no seu processo de formação.  Para Veiga 1998, a autonomia pedagógica “consiste na liberdade de propor modalidades de ensino e pesquisa”.

              No Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro-Oeste - UNIDESC os componentes curriculares compostos essencialmente por atividades de ensino e aprendizagem proporcionam ao professor regente a sua autonomia. Para tal, devem ter o cuidado de atrelá-las “a identidade, a função social, a clientela, á organização curricular, à avaliação, bem como aos resultados e, portanto, a essência do projeto pedagógico da escola” (Veiga 1998).   

   Tudo que é novo gera reações, portanto, é essencial que o professor demonstre ao seu alunado que o novo na sala de aula é o elo para transformação do aprendizado e aplicação de das práticas pedagógicas e resultado da busca de mais agilidade na gestão aliada à necessidade no planejamento compartilhado.    

              No UNIDESC professores e alunos, têm tido a oportunidade dialogar e trocar experiências, a fim de que ambos os sujeitos da relação ensino-aprendizagem aprimorem seus conhecimentos. O ensino e a aprendizagem estão em uma coluna única de forma linear, com certa hierarquia, a vinculação de tais ações anseia a completa aprendizagem.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

              Este trabalho pautou-se pela análise bibliográfica dos aspectos relacionados a Gestão Compartilhada. Acredita-se ter organizado alguns subsídios para a discussão e reflexão sobre a temática no contexto escolar. Entende-se que a reflexão apresentada é inicial e pode ser ampliada. Contudo, evidencia-se um possível diálogo entre os autores.

              As construções teóricas dos autores que possuem como pilares os conceitos de gestão democrática, gestão compartilhada e gestão participativa se mostraram fundamentais para embasamento das concepções metodológicas aplicadas no Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro-Oeste, que propõe construir práticas pedagógicas em aplicação na instituição.

              Observa-se que o objetivo de discutir alternativas e oportunidades para uma gestão eficaz e eficiente dentro do UNIDESC possibilitaram grandes evoluções no meio acadêmico.

A gestão compartilhada se traduz cotidianamente como ato na sua construção coletiva envolvendo os diversos segmentos, nas discussões e tomadas de decisões. Vale frisar, que quando estas são tomadas pelos principais interessados na qualidade e desenvolvimento da Instituição de Ensino Superior, é positiva e satisfatória. Assim, todos os atos pedagógicos e administrativos deverão ser decididos coletivamente e compartilhada por todos os envolvidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de, et al. A Dimensão Relacional no Processo de Formação Docente. In.: ________. O Coordenador Pedagógico e a Formação Docente. São Paulo: Loyola, 2000. (Orientação Educacional e Pedagógica).

BRANDÃO, Carlos Rodrigues, 1940 – O que é Educação . São Paulo: Brasiliense, 2003 – Coleção primeiros passos:20.

CAMPOS, Casemiro de Medeiros – Gestão escolar e docência. São Paulo: Paulinas, 2010. – Coleção pedagogia e educação)

DALMÁS, Ângelo – Planejamento participativo na escola : elaboração, acompanhamento e avaliação / Ângelo Dalmás . 14.ed – Petrópolis , RJ : Vozes , 2008.

FRAUCHES, Celso da Costa – LDB anotada e reflexões sobre a educação superior- 2ª ed. Atual – Brasília: ILAPE – 2007.

http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/reduc/article/viewFile/195/192 - acesso em 23/03/2011

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1809-6.pdf - acesso em 23/03/2011

LIBANEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira, TOSCHI, Mirza Seabra – Educação Escolar: políticas, estrutura e organização – São Paulo : Cortez, 2003.

LÜCK, Heloísa – Concepções e processos democráticos de gestão educacional/ Heloísa L6uck – Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Série: Cadernos de Gestão.

MARTINS, José Prado – Administração Escolar : Uma abordagem crítica do processo administrativo em educação , 2ª ed. – São Paulo: Atlas, 1999.

Organizadoras:BARBOZA FERNANDES, Cleoni Maria, GRILLO, Marlene – Educação Superior: Travessias e Atravessamentos – Canoas: Ed. ULBRA, 2001.

PARO, Vitor Henrique- Escritos sobre educação- São Paulo: Xamã, 2001.

SANTOS, Boaventura de Sousa – A universidade no século         XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade/ Boaventura de        Sousa Santos. – 3ª Ed. – São Paulo: Cortez, 2010.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógio da escola: uma construção coletiva. In: projeto político – pedagógico da escola: uma construção possível. 7.  ed. Campinas, SP: Papirus, 1998.

www.dhnet.org.br/dados/relatorios/dh/br/jglobal/redesocial/redesocial_2001/cap4_desigualdade.htm - acesso em 08/03/11

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[1] Mestranda em Direito Internacional – UCB, graduação em Direito – UNIDESC.

[2] Mestranda em Educação – UCB, pós-graduada em Psicopedagogia – UNIDESC, graduada em Pedagogia- UNIDESC.

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