04/12/2014

Gestão de Cursos no Ensino Superior: Uma Análise dos Agentes Envolvidos no Processo Educacional

Pâmella Gabriela Oliveira Pugas

1. Introdução

Analisando a atual conjuntura do Ensino Superior Brasileiro, observa-se nos últimos dez anos um forte incentivo para a entrada de estudantes nas Universidades. Além de programas governamentais como o Prouni e FIES, há um forte incentivo para abertura de novos cursos e novas faculdades, principalmente no âmbito federal. Ainda, com o advento da tecnologia, nota-se o aumento da oferta de cursos à distância, indicando mais facilidades no acesso ao ensino superior.

Segundo Meyer Jr., Pascucci, Mangolin (2012), o contexto em que se inserem as IES caracteriza-se por forte competição, respostas lentas às demandas externas, busca pela melhoria da qualidade do ensino, baixa produtividade acadêmico-científica e foco na eficiência organizacional.

O mercado de instituições que atuam no ensino superior é diversificado: há as instituições públicas, mantidas pelos governos federal e estadual; e as instituições privadas que se dividem em grandes grupos educacionais formados por fusões e aquisições, e pequenas e médias instituições de ensino. Esta conjuntura demonstra que não há mais espaço para amadorismo, as instituições que pretendem atuar no segmento da educação e principalmente com o ensino superior precisam se profissionalizar para conseguir competir e até mesmo sobreviver neste mercado.

Não é possível falar desta profissionalização sem atrelá-la ao processo de gestão. O processo de gestão leva as organizações a pensarem em todas as etapas necessárias para o desenvolvimento satisfatório de seu negócio, para o atendimento de sua missão e objetivos. De acordo com Fleck e Pereira (2011, p. 286) a “área educacional universitária tem buscado uma maior profissionalização de seus cargos administrativos, partindo da necessidade do gestor, na área educacional, conciliar a gestão administrativa, pedagógica, acadêmica e científica”.

As IES, em particular as universidades, têm sido pressionadas a reverem sua gestão e buscarem formas mais eficientes e eficazes de atuação. Entre os motivos, destacam-se as constantes mudanças na política educacional, as demandas do setor produtivo, as flutuações na demanda por cursos e as renovadas necessidades e expectativas dos alunos (MEYER JR., PASCUCCI, MANGOLIN, 2012).

Uma boa forma de iniciar uma discussão sobre a eficiência dos processos de gestão destas instituições é conhecer quais os agentes envolvidos no processo educacional. Além da própria IES, que se configura como o agente que fornece o bem (neste caso o ensino) por meio de seus processos administrativos, há o discente, que recebe este bem; os docentes, que se configuram como intermediários do processo ensino-aprendizado; e o agente regulatório, neste caso o Ministério da Educação. Assim, o objetivo deste artigo é analisar a conjuntura e o perfil dos principais agentes que estão envolvidos no processo educacional e que influenciam diretamente no processo de gestão, utilizando de uma perspectiva teórica, por meio de uma revisão bibliográfica.

 

2. Perspectivas discentes: criando valor

Quando se trata do processo educacional, um dos principais agentes é o discente. Observa-se que desde a última década, com a velocidade das mudanças, principalmente no que tange a tecnologia, o perfil deste aluno vem se modificando. Nota-se que não há uma homogeneidade em seu comportamento, porém as novas formas de comunicação vêm impactando de forma significativa o processo de ensino-aprendizado.

A alta oferta de cursos superiores, tanto em quantidade como em diversidade, dá ao aluno uma grande possibilidade de escolhas diferentes. Além do aumento de possibilidades de escolha, estes agentes possuem um maior conhecimento de seus direitos como consumidor. Isto leva os gestores educacionais a começarem a se preocupar com o ‘encantamento’ de tais alunos, convencendo-os dos benefícios de determinada escolha, uma vez que o bem ‘educação’ não é algo tangível e palpável.

Muitas vezes observa-se uma dificuldade em perceber os caminhos de mudanças indicados pelos próprios alunos, ou seja, uma dificuldade em compreender o perfil do aluno. Outra grande dificuldade é que o discente participa do processo, mas não possui consciência, portanto é um desafio fazer com que ele compreenda as especificidades do serviço oferecido e se envolva com o mesmo (CARTA CONSULTA, 2014).

Para desenvolver esta capacidade de convencimento, os gestores precisam aumentar a percepção de valor que os discentes possuem do curso e da IES, desenvolvendo ações para captar, manter e fidelizar seu aluno. Segundo Muriel e Giroletti (2014) captar e manter aluno são ações correlatas e complementares. Em pesquisa realizada pelos autores, foi possível perceber a existência de procedimentos usuais e inovadores para captar e manter alunos. Usualmente os gestores de curso utilizam eventos promocionais, propaganda na mídia, indicação de alunos, marca institucional forte e abatimento no preço das mensalidades.

Estes itens levam a IES a buscar o desenvolvimento de um diferencial para sua atuação no mercado. A Carta Consulta (2014) indica alguns pontos para criar este diferencial, a saber: educação continuada, laboratórios, sistemas de informação, prêmios para desempenho acadêmico, política do egresso, atendimento personalizado. Porém indica que a qualidade ainda é a melhor estratégia de diferenciação que a IES pode adotar. Diante do apresentado, não resta dúvida que a melhor forma de divulgação de uma IES são os alunos satisfeitos.

 

3. Perspectivas docentes: motivando o grupo

Também envolvido no processo ensino-aprendizado há a figura do docente. No atual contexto da educação superior, o que se tem observado é que, com exceção das instituições públicas, a maioria dos professores considera a docência não como atividade principal, mas sim como uma complementação de renda. Ainda, em boa parte das instituições de ensino privado, os professores são horistas e trabalham em mais de uma instituição. Tais fatos dificultam a atuação deste agente nas atividades de extensão e pesquisa, além de dificultar a cobrança no atendimento das rotinas pedagógicas e na maior participação das atividades da IES.

Considerando os cursos bacharelados, outra dificuldade observada é que a maioria dos docentes não possui formação para ser professor. Sem esta formação, muitos docentes não internalizam os processos de ensino e avaliação, apresentando problemas na didática e no acompanhamento do perfil dos discentes e das novas formas de aprendizado.

Ainda, os professores podem render mais ou menos conforme o conhecimento dos alunos ou, até mesmo, pelo momento em que vivem na vida, decorrentes de fatos que desencadeiam a motivação - ou a falta dela - para o trabalho como docente. O que se espera do professor é que ele assuma seu papel de liderança na “condução” dos alunos pelos caminhos da aprendizagem (MURIEL, 2014).

Em pesquisa realizada por Meyer Jr., Pascucci, Mangolin (2012) pode-se observar que as relações informais predominantes se constituíram em fonte de maior integração e comunicação entre gestores e professores, contribuindo para o fomento de práticas estratégicas relevantes. Já na pesquisa desenvolvida por Fleck e Pereira (2011) o que se observou foi que os coordenadores possuíam um perfil mais direcionado para administrar tarefas do que para administrar as relações.

Observa-se, portanto, que a relação dos gestores educacionais com os docentes é fundamental para se atingir os objetivos organizacionais e que esta relação deve transcender a execução de tarefas, passando para o âmbito das relações. E é neste âmbito que o desenvolvimento de uma figura de liderança se torna fundamental para motivar o corpo docente

De forma simples, liderar seria a capacidade de mobilizar pessoas para atingir objetivos organizacionais e pessoais. De acordo com Muriel (2014), na gestão educacional, a liderança situacional, proposta por Ken Blanchard, seria a que possui maior aplicabilidade. Na liderança situacional, o bom líder se posiciona de acordo com a situação.

Neste contexto, os gestores educacionais precisam atuar de forma que o docente se sinta motivado a atuar em todos os âmbitos da educação (ensino, pesquisa e extensão), além de promover continuamente a capacitação pedagógica, demonstrando a importância e necessidade de execução da proposta pedagógica dos cursos.

Uma boa dica, além da implantação de uma postura de liderança situacional, seria a elaboração de um plano de desempenho para orientar os professores antes, durante e após a execução de suas atividades nos semestres. Isso é importante para orientar os docentes ao longo do processo, e não apenas depois que o semestre termina (MURIEL, 2014).

 

4. Ministério da Educação: atendendo a regulação e os processos de avaliação

Como agente regulador, o Ministério da Educação cumpre a função de aprovar, avaliar e reconhecer os cursos e instituições de ensino superior no Brasil. Atualmente, a avaliação é feita por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) que analisa as instituições, os cursos e o desempenho dos estudantes.

O Sistema foi instituído através da Lei nº.10.861, de 14/04/2004. Ele é acompanhado pela ComissãoNacional de Avaliação da EducaçãoSuperior, a CONAES, como um órgãocolegiado de coordenação e supervisão doSINAES. A operacionalizaçãodo Sistema está sob a responsabilidadedo Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais Anísio Teixeira – INEP. Como forma de atingir as instituiçõesde ensino superior na sua totalidade, o SINAES possui três componentes principais:a avaliação das instituições, dos cursos edo desempenho dos estudantes. Este modelo de avaliação tem comobase a avaliação institucional, que compreendea avaliação externa e a avaliaçãointerna, principalmente com seu componente central, a auto-avaliação (POLIDORI, MARINHO-ARAUJO E BARREYRO, 2006).

Apesar de sofrer críticas quanto aos formatos e meios de avaliação, o sistema de regulação é fundamental para manter a qualidade no ensino e indicar possíveis caminhos para a oferta de um ensino que coloque no mercado profissionais aptos para executar de forma eficiente suas funções.

Neste contexto, os gestores educacionais precisam conhecer toda legislação que envolve este processo de avaliação e que permeia o seu curso (Lei das Diretrizes e Bases, Diretrizes Curriculares, atos normativos e SINAES), incluindo-a em seu processo de planejamento e nas ações desenvolvidas para a IES.

 

5. Considerações finais

Acredita-se que uma forma de iniciar uma discussão sobre a eficiência dos processos de gestão das instituições de ensino superior é conhecer quais os agentes envolvidos no processo educacional e como atender a expectativas destes agentes. Neste sentido, o presente artigo apresentou alguns pontos importantes para que o leitor conheça um pouco do contexto e do perfil dos envolvidos na educação superior. A intenção não é esgotar o debate acerca do tema e sim contribuir com os gestores para que seu olhar esteja direcionado para aqueles que irão influenciar diretamente sua gestão e o atendimento dos objetivos de sua instituição e de seu curso.

 

Referências

CARTA CONSULTA. Fundamentos e Orientações Gerais para o trabalho de Coordenação de Cursos. Apostila do Curso ‘Programa de Capacitação para Coordenadores de Curso de Instituições Superiores’. 2014.

FLECK, Carolina Freddo; PEREIRA, Breno Augusto Diniz. Professores e gestores: análise do perfil das competências gerenciais dos coordenadores de pós-graduação das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) do RS, Brasil. Organ. Soc., Salvador, v. 18, n. 57, June 2011.

MEYER JR, Victor; PASCUCCI, Lucilaine; MANGOLIN, Lúcia. Gestão estratégica: um exame de práticas em universidades privadas. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 46, n. 1, Feb.  2012 .

MURIEL, Wille. Liderança na gestão com Docentes.Texto base do Curso ‘Programa de Capacitação para Coordenadores de Curso de Instituições Superiores’. 2014

______; GIROLETII, Domingos. Captação e Retenção de alunos no ensino superior. Texto base do Curso ‘Programa de Capacitação para Coordenadores de Curso de Instituições Superiores’. 2014

POLIDORI, Marlis Morosini; MARINHO-ARAUJO, Claisy M.; BARREYRO, Gladys Beatriz. SINAES: perspectivas e desafios na avaliação da educação superior brasileira. Ensaio, v. 14, n. 53, p. 425-436, 2006.

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