GESTÃO DEMOCRÁTICA ESCOLAR: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA
Julia Trojahn Bolzan[1]
Mara Lucia T Brum[2]
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa de Gestão realizado na Escola Estadual Técnica Nossa Senhora da Conceição. A pesquisa procurou investigar como acontece a gestão democrática na referida escola. Nesse período se buscou averiguar e questionar os sujeitos sobre como eles veem a escola que trabalham; Se obteve depoimentos esclarecedores sobre como a escola é percebida por seus membros e usuários. A metodologia utilizada foi pesquisa investigativa, pautada nas observações e conversas exploratórias deixando que os sujeitos se expressassem livremente. Realizou-se visitas setoriais nos diversos departamentos da escola, dialogando com todos os setores, na busca por informações sobre como vem acontecendo às relações administrativas com os funcionários e comunidade local. O propósito do estágio foi de unir teoria e prática, conhecendo a realidade da escola verificando como a mesma trabalha no dia a dia. Essa pesquisa buscou colher informações no intuito de colaborar e ajudar a escola parceira em possíveis problemas detectados na pesquisa e junto buscar uma solução. Além disso, se procurou analisar as relações da escola com o corpo docente, discentes e familiares. A pesquisa revelou que a escola parceira por ser uma escola agrícola apresenta características próprias que a difere das escolas de ensino fundamental da região.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão Democrática, Escola, Plano de Ação.
ABSTRACT
This article aims to present the management of research results conducted at the. Escola Estadual Técnica Nossa Senhora da Conceição. The research sought to investigate how the democratic management in the school happens. During this period, it was sought to ascertain and question subjects about how they see the school they work; It was obtained enlightening testimony about how the school is perceived by its members and users. The methodology used was investigative research based on observations and exploratory talks letting the subjects to express themselves freely. Held industry visits in the various departments of the school, dialoguing with all sectors in the search for information as has been happening to administrative relations with employees and local community. The purpose of the training was to unite theory and practice, knowing the school reality checking how it works on a daily basis. This survey sought to gather information in order to collaborate and help the partner school in possible problems encountered in the research and together find a solution. In addition, it sought to analyze the school's relationships with faculty, students and families. The survey revealed that the partner school for being an agricultural school has its own characteristics that differs it from the primary schools of the region.
Keywords: Democratic Management, School, Action Plan.
1 INTRODUÇÃO
A gestão não é uma tarefa simples, pois fazer com que todos os segmentos caminhem na mesma velocidade se torna complicado em algumas situações. Podem surgir alguns problemas e isso faz com que algum segmento pare de funcionar, prejudicando assim o andamento dos demais, já que todos estão diretamente ou indiretamente interligados. Na gestão escolar esse fato não é diferente, os setores se ligam, formando um todo. Imprevistos e problemas surgem e encontrar a melhor solução para eles nem sempre é uma tarefa muito fácil.
Durante o estágio em Gestão foram feitas visitas na Escola Estadual Técnica Nossa Senhora da Conceição, que fica localizada no Distrito de Três Vendas, município de Cachoeira do Sul, distante 25 km da sede do município de Cachoeira do Sul. A mesma funciona nos turnos da manhã e tarde, possui um total de 357 alunos, 38 professores e 26 funcionários. Os segmentos da escola são Séries Iniciais, Ensino Fundamental, Ensino Médio Politécnico, Ensino Médio Integrado e Curso Técnico em Agropecuária Pós Médio.
Para obtenção dos dados da pesquisa foram realizadas entrevistas dialogadas com os sujeitos que fazem parte escola para a obtenção de respostas que esclarecessem como a escola é vista por eles. Esses questionamentos foram sendo realizadas através de diálogos estabelecidos durante as visitas realizadas na escola e nas visitas nos diversos setores, que se desenvolvem todas as atividades pedagógicas e administrativas da instituição.
A pesquisa teve como propósito investigar como está o andamento da gestão democrática na escola parceira, verificando se acontece ou não, e como ela vem se desenvolvendo nesta instituição. Para obtenção dos dados se usou o método investigativo baseado na conversa e no diálogo com os sujeitos da escola. As respostas obtidas na pesquisa em muitas das vezes foram muito semelhantes em todos os questionamentos independentes do setor pesquisado. O que as diferenciou foi apenas a forma de se expressarem, sendo que alguns dos entrevistados se utilizam da linguagem mais culta e em outros uma linguagem mais formal.
Dessa forma, o papel do pesquisador foi mais de observar para interar-se de como acontecem os processos administrativos e pedagógicos na prática através da rotina do seu quadro profissional. Nesse momento, foi possível investigar a fundo toda a trajetória percorrida pela escola e sua real identificação com unidade educacional. Que se configurou como um contexto muito complexo, pois a escola é caracterizada pelos sujeitos que a compõe, portanto quando há mudanças de sujeitos há mudanças na escola.
O estágio se caracteriza como um momento de aprendizado que tem por objetivo observar a rotina da escola para auxiliar nos processos necessários e não para criticar o que pode estar sendo realizado de uma forma inadequada, mas sim apontar possíveis soluções para o problema em questão. Neste tempo procurou-se saber como a escola se caracteriza e como se identifica como instituição de ensino.
Na pesquisa buscou-se analisar a participação da comunidade escolar nas decisões da escola. Nas reuniões do CPM e do Conselho Escolar foi possível avaliar a presença dos membros desses conselhos, sua efetiva contribuição e se as contribuições foram utilizadas na resolução dos possíveis problemas encontrados. O que mostra o quanto é importante trazer as famílias para participarem das tomada de decisões da escola ajudando a direção da escola a encontrar soluções para as diversas demandas que surgem no espaço escolar, conforme veremos a seguir.
2 A GESTÃO DEMOCRÁTICA E SUAS LIMITAÇÕES
A gestão escolar não é uma tarefa fácil de ser desempenhada, afinal trata-se de gerenciar os sujeitos, o que diferencia a gestão da administração. E, além do mais, os recursos destinados nunca são os suficientes para que o trabalho seja desempenhado da melhor forma. Os recursos que mantém a escola parceira são muito precários e escassos, incluindo os recursos financeiros, materiais e pessoais.
Paro (1994, p. 443) enfatiza que “Não há dúvida de que é preciso mudar quase tudo na forma de operar das escolas, mas a condição primeira é provê-las dos recursos materiais e financeiros necessários para isso.” Pois fica difícil gerir uma escola sem as mínimas condições financeiras.
A gestão de uma escola, na maioria dos casos, é realizada apenas pelo diretor. No entanto essa forma de gerenciar uma instituição não é mais correta, pois o correto é uma administração democrática que saiba delegar funções e principalmente procure ouvir todos os sujeitos envolvidos no processo ensino aprendizagem. Na gestão democrática os sujeitos dialogam e dividem responsabilidades, além de dar autonomia para que cada sujeito administre seu espaço dentro da escola, organizando as tarefas que desempenha, fazendo com que mais pessoas atuem no processo de gestão, e que cada um se comprometa com parte do trabalho para formar um todo. A gestão não é simplesmente o diretor dar uma ordem e os demais sujeitos cumprirem. Esta é uma tarefa complexa e que exige conhecimento, observação das situações e estar sempre disposto a mudanças. Trabalhar com pessoas exige do profissional muito mais do que apenas um “mandar e desmandar”, mas sim saber compreender e visualizar a melhor opção para que todos se beneficiem. Paro (2010, p. 776) salienta que “Considerada a escola como uma empresa, sua administração, ao cuidar da utilização racional dos recursos, supõe que tal utilização seja realizada por uma multiplicidade de pessoas, mas sem ignorar que, em cada um dos trabalhos (que concretizam essa realização), está presente o problema administrativo, ou seja, a necessidade de realizá-lo da forma mais adequada para a consecução do fim que se tem em mira”. Reforçando a necessidade de gerenciar com o apoio da comunidade escolar. O diretor escolar desempenha um papel central dentro da escola, pois é dele a escolha final na tomada de decisões, mas ouvir o que os envolvidos nesse processo educativo têm a dizer é de fundamental importância para uma boa gestão. São outras formas de ver a mesma situação e por isso é preciso que se aceite a opinião dos demais sujeitos que possam colaborar com o trabalho administrativo. Segundo Paro,
“Convém lembrar que, na administração de uma empresa, não se trata do esforço de um indivíduo isolado, mas do esforço humano coletivo, ou seja, da multiplicidade de habilidades, forças, destrezas, conhecimentos, enfim as mais diferentes capacidades presentes nos diferentes componentes humanos da organização” (2010, p. 767).
Esses são aspectos que foram sendo observados durante o período de estágio em Gestão, como se comportaram os diferentes sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, tanto alunos como professores, funcionários, diretores, supervisores, orientadores e pais.
No primeiro momento do estágio em Gestão conversamos com a supervisora para a apresentação da Carta de Aproximação. Dialogando com ela foi possível observar a boa receptividade e a necessidade de um trabalho no formato do qual estava sendo proposto. Nessa primeira visita, procuramos saber sobre as questões da escola (objetivos, formas, organização, espaços, rotinas), se percebeu que muitas dessas questões nunca tinham sido pensadas por ela, até porque faz pouco mais de um ano que ela está na escola.
Após essa conversa com a supervisora, ficou bem definido que o projeto da escola é orientar os alunos em todas suas dificuldades, e não apenas transmitir conhecimento, mas fazer com que ele se torne um cidadão comprometido, crítico e educado. Sendo o papel (da escola) prover o ensino aprendizagem dos alunos, assim como ajudar a solucionar as necessidades dos alunos, procurando resolver as dificuldades que eles possam a ter no processo ensino aprendizagem, fazendo com que ele aprenda com o sentido prático, que será utilizado por toda a sua vida. Conforme Saviani,
“Escolarizar todos os homens era condição de converter os servos em cidadãos, era condição de que esses cidadãos participassem do processo político, eles consolidariam a ordem democrática, democracia burguesa, é óbvio, mas o papel político da escola estava aí muito claro. A escola era proposta como condição para a consolidação da ordem democrática (SAVIANE,1996, p.45).
Dessa forma, a escola se organiza conforme as situações exigidas de diferentes formas. Se há necessidade de uma organização diferenciada, a maioria dos sujeitos da escola se empenha para que a forma desejada seja a melhor possível para aquela ocasião. Algumas tarefas são rotineiras na escola, as quais são desempenhadas diariamente pelas pessoas envolvidas. Cada funcionário tem seu setor, mas há um rodízio entre eles para atender aos finais de semana, feriados e férias escolares. Essa troca ocorre também com os professores e vice-diretoras. Porém, ainda falta muito diálogo entre os setores e entre alguns sujeitos para que haja um melhor andamento do trabalho. Motta (1994, p. 200) conceitua a participação como “todas as formas e meios pelos quais os membros de uma organização, como indivíduo ou coletividade, podem influenciar os destinos dessa organização”. Pelo que podemos perceber a escola parceira ainda não apresenta uma gestão democrática, mas caminha para concretude.
Um dos maiores desafios encontrados pelos professores que chegam novos na escola é a adaptação ao modo agropecuário. Por ser uma escola técnica, tem um diferencial em relação às demais escolas, já que a maioria dos professores trabalha em escolas localizadas na zona urbana.
A escola ocupa seus espaços das mais diversas formas possíveis, proporcionando o bem estar do aluno e proporcionando a participação da comunidade em diferentes eventos e situações que necessitem de uma participação mais efetiva da comunidade. A escola está desenvolvendo um projeto chamado “Escola de Pais”, para que a comunidade se envolva mais com os assuntos escolares.
Já sobre as questões que compõem o cenário interno (organização administrativa, procedimentos e práticas pedagógicas, formação continuada de professores, estabelecimento de relações bem sucedidas com os pais dos alunos, desenvolvimento de clima e cultura favoráveis ao trabalho coletivo e à aprendizagem) a escola tem maior controle e possibilidade de atuação” (FALSARELLA, 2013. p 23)
Foram realizadas reuniões mensais sobre temas diversos como saúde, drogas, lei do menor, educação no trânsito e outros assuntos importantes para a sociedade. Porém nem todos os pais se fizeram presentes nessas reuniões.
A efetiva participação da comunidade na gestão da escola pública encontra inúmeras barreiras para consolidar-se, afinal, o maior interessado que deveria ser a comunidade precisa estar convicto da importância e da necessidade dessa participação, para não desistir ante as primeiras dificuldades.
Se, todavia, concebemos a comunidade – para cujos interesses a educação escolar deve voltar-se – como real substrato de um processo de democratização das relações na escola, parece-me absurda a proposição de uma gestão democrática que não suponha a comunidade como sua parte integrante (PARO, 2000, p. 15).
Quanto à percepção dos sujeitos sobre o papel da escola, houve diferentes formas de responder, mas que todas levam ao mesmo ponto que é a formação integral do aluno. Ao perguntar a vice diretora do turno da manhã e Supervisora do turno da tarde sobre o papel da escola ela nos informou que é: “formar cidadãos críticos, capazes de colaborar com o desenvolvimento da comunidade onde está inserido, preparando para um futuro onde se possam fazer as escolhas certas”. (DIRETORA). No entanto ao entrevistar uma aluna de 18 anos sobre o mesmo item, disse que: “Ah, o papel da escola é transmitir os conhecimentos necessários aos alunos para que eles sejam pessoas cultas, educadas e que desempenhe de forma honrada o seu papel na sociedade”. (ALUNO). Nesta afirmação podemos perceber que mesmo os jovens de hoje ainda usam o termo “transmitir conhecimento, termo este usando pela escola tradicional considerado ultrapassado, cabendo a escola hoje ajudar o aluno a construir seu conhecimento.
Diante dessa resposta, lhe foi questionado se realmente esse papel estava sendo cumprido. “Acho que não está em alguns casos, mas que na maioria sim. Quantas pessoas saem da escola com boa formação e bons conhecimentos a cada ano. A gente sempre vê o lado ruim das coisas, mas tem muita gente boa se formando.” (ALUNO). Pelo que se pode perceber a escola na atualidade esta tão perdida em meio a tanta burocracia e teorias que não consegue mais nem transmitir nem incentivar a construção do conhecimento.
No entanto ao indagarmos a Supervisora do Ensino Fundamental sobre a diferença entre a escola em que ela atuou e a atual ela nos relatou que a característica principal da escola é o ensino Técnico em Agropecuária. Sendo que nos anos iniciais, as escolas se assemelham uma as outras. No entanto a escola Agropecuária por estar diariamente desenvolvendo atividades chama atenção, até dos alunos do Fundamental, que se integram em algumas atividades, para observar os futuros Técnicos. A escola apresenta-se como um desafio até para os novos professores como nos relata uma das professoras entrevistadas,
“Quando cheguei aqui foi um desafio para mim, pois trabalhava em escola urbana, me aposentei e voltei para a ativa. Tudo era diferente, os alunos, a participação dos pais. Foi um aprendizado e continuo aprendendo a cada dia.” (PROFESSORA).
Como se pode notar pela fala da professora, o ensino técnico apresenta outra dinâmica, pois faz a união da teoria com a prática diariamente, fazendo assim com que tanto os professores como os alunos estejam sempre em constante aprendizado. Como nos diz Falsarella (2013), apesar de fazer parte de uma só rede (federal, estadual ou municipal), com regras gerais dirigidas a todas as unidades, cada escola tem suas peculiaridades, suas características próprias, seu modo de ser. Sendo que a nosso ver as escolas técnicas apresentam características e leis próprias que as regem, diferenciando as do ensino fundamental.
Outra entrevistada, a funcionária da portaria indagada sobre a mesma questão respondeu que o local é muito bom de trabalhar, tranquilo por ser no interior e que há uma boa harmonia entre os colegas.
“Trabalho aqui há muitos anos. Conheço a maioria dos pais dos alunos, muitos foram nossos alunos também. Quando eles vêm na escola a gente fica conversando sobre o tempo deles aqui. Até conto para os filhos o que os pais aprontavam (risos). Acho que isso diferencia a nossa escola das demais, pela amizade que temos com as pessoas. A gente sabe onde o aluno mora. A gente conhece todo mundo que estuda aqui”. (FUNCIONÁRIA).
A funcionária por fazer parte do quadro de funcionários da escola há anos tem uma relação de amizade com as pessoas que frequenta a escola, pais, alunos, professores, pois certamente já conhece varias gerações de uma mesma família.
Na continuidade da pesquisa entrevistamos o diretor da escola para averiguar quais são os objetivos da escola e as dificuldades enfrentadas para alcançá-los na atualidade. Segundo ele,
“A escola poderia ter mais autonomia para tomar suas decisões. Muitas coisas já vêm prontas, modelos prontos, temos apenas que trocar o nome da escola. Acho que isso não é democracia. Várias coisas seriam muito mais aproveitadas pelos alunos se não fossemos “engessados”. Boa vontade de fazer mais e melhor existe, mas nem sempre isso é possível”. (DIRETOR).
O relato do diretor revela um problema enfrentado pela maioria das escolas públicas e municipais, a falta de autonomia para gerir sua própria proposta pedagógica, assim como organizar seu ensino aprendizagem de forma a atender a realidade da escola. As autoras Luce & Medeiros (2008), dizem que a autonomia é uma tarefa com certa complexidade, já que há os dois extremos: liberdade total ou a exigência que se cumpra o que foi solicitado. Conforme elas,
“Pensar a autonomia é uma tarefa que se apresenta de forma complexa, pois se pode crer na idéia de liberdade total ou independência, quando temos de considerar os diferentes agentes sociais e as muitas interfaces e interdependências que fazem parte da organização educacional. Por isso, deve ser muito bem trabalhada, a fim de equacionar a possibilidade de direcionamento camuflado das decisões, ou a desarticulação total entre as diferentes esferas, ou o domínio de um determinado grupo, ou, ainda, a desconsideração das questões mais amplas que envolvem a escola” (LUCE & MEDEIROS, 2008, s/p).
A pesquisa nos mostrou que a autonomia é desejada pelas escolas, porém nem tudo pode ser resolvido pela escola de forma autônoma porque acima da gestão, estão às coordenadorias de educação e a própria legislação que dá uma falsa autonomia as escolas.
Quanto às potencialidades percebidas pelos sujeitos, pode-se destacar a fala da Vice Diretora da tarde: “Acho que escola só tem a crescer. Cada vez mais sendo divulgada e a procura pelos alunos formados aqui. O corpo docente é muito bom desde o Ensino Fundamental até a formação Técnica.” (VICE-DIRETORA).
Entretanto as opiniões se divergem sobre este assunto, entrevistada a funcionária da limpeza ela nos relata que,
“Ainda temos muito que desenvolver na nossa escola, mas uma coisa que vejo que ainda falta é mais interação entre os setores. A gente não sabe o que os outros fazem, e muitas vezes queremos ajudar, mas não sabemos fazer.” (FUNCIONÁRIA).
Conforme vamos entrevistando os sujeitos percebendo que a escola ainda precisa melhor quanto a sua comunicação com os sujeitos que fazem parte da escola, pois nos parece que está faltando comunicação entre os setores. De certa forma esse relato nos leva a pensar que a gestão da escola parceira, não é assim tão democrática, pois a funcionária alega querer ajudar, mas não sabe como. Isso mostra que eles não costumam serem ouvidos pela direção.
Quanto à interação família escola podemos verificar que são oferecidas nas datas festivas apresentações para os pais, sendo que apenas as professoras das séries iniciais e as do fundamental fazem combinações e se organizam para que essas festas aconteçam. Alguns professores que são do ensino médio ajudam na organização quando há necessidade e tempo por parte destes, mas parecem não se importar muito com esses eventos.
Pode-se averiguar que os funcionários não comentam sobre assuntos pedagógicos, apenas falam sobre os serviços que são necessários realizados por eles. Uma funcionária da biblioteca mencionou que no setor todas as funcionárias se ajudam nas tarefas que precisam ser realizadas, apenas para a hora do conto que somente uma é habilitada para desempenhar essa função. O que de certa forma é ruim, pois se a funcionária ficar doente ou precisar faltar, os alunos ficam sem a atividade. Dessa forma, é possível visualizar que o papel da escola é pedagógico, com o grupo de gestores, professores, pais e alunos preocupados com o aprendizado dos alunos, porém aspectos relacionados com os cuidados com a limpeza e organização do ambiente para que este trabalho ocorra de forma plena é preocupação dos funcionários da limpeza. O que nos parece haver uma segregação entre esses dois universos, que trabalham juntos, porém distanciados. Mas, se observa que a escola se preocupa com a formação humana, com valores éticos e morais dos seus membros.
A pesquisa nos revela que a escola pretende crescer, e muitos almejam esse crescimento. A maioria dos sujeitos com o qual se dialogou lembram-se do que a escola era e de como está hoje, muito mais organizada e com muitos recursos, mas ainda precisa melhorar, para que o ensino possa ser cada vez mais qualificado.
A articulação da escola com a família é um tema bem divergente, pois nas séries iniciais a família se faz muito presente na escola, mas quando o aluno passa para o ensino fundamental séries finais, essa presença diminui muito.
A escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas. Só assim eles vão se sentir comprometidos com a melhoria da qualidade escolar. Muitas instituições não informam à família sobre o trabalho ali desenvolvido e isso dificulta o diálogo.” (BENCINI, 2003, sn).
A autora defende que a família seja consultada em todos os momentos dentro da escola incluindo as questões pedagógicas Não se percebe na escola parceira uma integração como descreve a autora. Segundo a LBD em seu artigo 14 que fala da gestão do ensino público, temos assegurado que o mesmo deve contar com a participação dos profissionais da educação na elaboração da proposta pedagógica assim como da comunidade escolar em suas diversas instâncias. Porém nem sempre o que está na lei é visto acontecer dentro das escolas.
O projeto político pedagógico foi escrito já há algum tempo, e como mudou o quadro de pessoal da escola, nem todos os que o construíram ainda permanecem na escola. Já a participação em Conselho Escolar e CPM foram observadas, inclusive participando de uma reunião do Conselho. Os membros se interessam em saber o que está acontecendo na escola e opinam nas decisões que serão tomadas. O artigo 15º da LDBEN/96 diz que,
“Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”. (LDBEN, LEI 9394/96)
A autonomia escolar é observada, porém ainda muito presa ao que a mantenedora decide. A parte financeira é ainda mais atrelada às decisões da mantenedora, que diz onde e com o que será gasto o dinheiro, mesmo que a necessidade da escola não seja aquela definida por eles. A autonomia pedagógica é um pouco mais fácil de adaptar a realidade da escola, mas nunca retirando os conteúdos obrigatórios de serem trabalhados. A autonomia administrativa é em parte realizada e em parte não, pois até o sistema onde são anexados os pareceres dos alunos é igual para todos. Isso tem um lado positivo, pois padroniza o sistema, mas também inviabiliza a escola de criar um princípio de acordo com a realidade local.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como estudante do Curso de Licenciatura em Pedagogia realizar o estágio em Gestão de Processos Escolares foi de fundamental importância, pois ele possibilitou acompanhar as atividades realizadas dentro da escola e buscar as melhores soluções para os problemas que apareceram durante esse período.
No estágio foi possível ampliar os conhecimentos unindo campo teórico e prático, conhecendo e explorando o funcionamento de uma escola e das tarefas necessárias para um bom andamento de todos os setores.
Buscou-se avaliar a escola nesse primeiro estágio em Gestão com um olhar diferenciado para que fosse possível analisar o que acontece dentro da escola, percebendo o comportamento dos sujeitos envolvidos através da observação e do diálogo. Como estudante e pesquisadora, procurei ser uma observadora no primeiro momento e posteriormente dialoguei sobre as possíveis ações (e talvez até mudanças positivas) em relação a determinadas situações que me foi dado o direito de opinar.
A pesquisa revelou que existem muitas dificuldades e desafios a serem enfrentados, tanto na questão financeira quanto na questão humana, mas há vontade de enfrentá-los, fazendo com que o ensino se torne cada vez melhor e mais prazeroso para toda a comunidade escolar. Na maioria das entrevistas foi possível perceber que há um bom entrosamento entre os sujeitos que fazem parte do quadro de pessoal da escola. Foram raros os casos de problemas com a divisão das tarefas.
Porém, analisando as respostas, também é possível perceber que cada um aponta o que vê pelo seu ponto de vista, o que fez muitos repensarem, pois ao serem questionados responderam que teriam que pensar, pois nunca haviam ponderado sobre o que lhe foi questionado.
O estágio em Gestão proporciona uma visão geral do funcionamento de uma escola, das dificuldades, das potencialidades e dos entraves. Cabe ao aluno apontar possíveis pontos críticos do sistema e também as áreas que mais se sobressaem na gestão escolar e tentar encontrar soluções para apresentar a escola parceira. Deixa-se como sugestões a realização de reuniões com professores, funcionários e direção para que todos participem das tomadas de decisões da escola e delas façam parte. Talvez essa seja uma solução simples para acabar com a falta de comunicação entre os setores da escola parceira.
REFERÊNCIAS
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[1] Graduanda em Pedagogia em EAD/UFPEL. Graduada em Tecnologia em Agropecuária: Sistemas de Produção pela UERGS (2007). Email: julia.bolzan@gmail.com
[2] Mestre em educação – UFPEL (2014); Especialista em Psicopedagogia Institucional pela UCB (2005) Especialista em Educação Infantil pela UCB (2004). Graduada em Pedagogia – FURG (1998), professora curso de Pedagogia EAD/UFPel e-mail: marabrum@gmail.com