04/10/2016

Gestão Financeira das IES em tempos de crise

*Antônio Pádua   

É senso comum que a gestão financeira é um exercício indispensável para a obtenção dos resultados organizacionais. Entre os caminhos que levam ao êxito no processo de uma gestão financeira eficaz, um dos mais importantes é o planejamento financeiro.

Observa-se uma certa carência de alguns elementos norteadores do planejamento financeiro em algumas Instituições de Ensino Superior. Há uma lacuna em relação a alguns princípios básicos, como um sistema de monitoramento adequado, aliado a um programa de informação que seja consistente e que auxilie o gestor para a tomada de decisões. Além disso, é indispensável que haja o concomitante controle para direcionar as ações de planejamento.

Cenário Financeiro

Há pouco tempo atrás, essas lacunas eram obstáculos transponíveis com até certa facilidade. Todavia, o cenário macroeconômico apresenta-se como um elemento desafiador. As altas taxas de evasão; as indefinições das políticas públicas para o setor educacional de nível superior - notadamente sentidas com a dificuldade de funding para viabilizar o programa FIES; o momento recessivo que atravessa o país; a alta taxa de desemprego;  a baixa liquidez do mercado; a redução do crédito (e os consequentes impactos na gestão do Fluxo de Caixa das IES), são variáveis que impõem um modelo de gestão profissional, visto que, num horizonte temporal curto, não vislumbra-se uma significativa melhora nesse quadro.

Cabe ao   gestor financeiro capacitar-se de forma a estar apto para viabilizar as melhores oportunidades de crescimento que proporcionem retorno com menor risco para a IES. Sabemos que os investidores do segmento educacional normalmente advêm da vida acadêmica e, não raramente, de áreas com pouca afinidade com os princípios de gestão financeira. Portanto, precisam de informações, dados, índices que os ajudarão a identificar os possíveis problemas, antecipar turbulências no processo acadêmico, administrativo e operacional.

Plano e Controle

Outra necessidade está intrinsecamente relacionada ao processo de implementação de plano de ação adequado, visando a criação de uma cultura de planejamento e controle pautado em sistema de informação confiável. Dessa forma, os Investidores das Instituições de Ensino Superior estarão instrumentalizados a proceder a normalização de processos decisórios que mitiguem drasticamente os riscos financeiros, uma vez que, conforme dito acima, normalmente não possuem experiência prévia com finanças, contabilidade, mercado financeiro e afins.  

Custos

Quantas IES sabem exatamente o custo marginal de cada aluno, cada curso? Quantas efetuam corretamente os rateios de todos os seus custos indiretos, apropriando todos os centros de custo? E com relação aos preços das mensalidades, faixa de descontos que podem ser oferecidos para convênios? É comum nos deparamos com instituições que auferem prejuízos por não saberem efetuar esses controles, estabelecer índices que remunerem a operação, mas, também, remunerem o capital investido pelos acionistas das IES diante de todos os riscos sistêmicos e específicos de cada atividade.

Fluxo de Caixa

Outro aspecto que sacrifica imensamente os resultados operacionais das IES está diretamente relacionado ao financiamento do Fluxo de Caixa. É inerente ao modelo de gestão das Instituições de Ensino Superior um alto ciclo operacional. Tal fato decorre dos altos prazos de recebimento de suas receitas (notadamente por causa da inadimplência e da dificuldade de planejamento das datas de repasses dos programas públicos de financiamento). Quantas IES elaboram o cálculo da sua Necessidade de Capital de Giro e obtém funding com custo e prazo compatível com seu ciclo operacional e decorrente ciclo de caixa? Em momento em que há a necessidade de recorrer às Instituições Financeiras e financiar-se com juros mais altos e prazos mais baixos há o repasse desses valores para o valor da mensalidade? Tais decisões são precedidas de análise financeira que justifiquem a viabilidade?

Profissionalização

Com o agravamento da crise, muitas IES têm passado por momentos difíceis, até mesmo com o risco de encerrarem suas atividades. Algumas, sem planejamento prévio, recorrem a empréstimos com juros elevados e incorrem nos riscos já descritos. A escassez de recursos e a dificuldade em captar novos alunos exigem das IES a premente necessidade de profissionalizar a sua gestão financeira. O período de “voo de cruzeiro “com fácil acesso ao crédito, IPO´S (abertura de capital na Bolsa), investimentos através de Fundos de Equity foi importantíssimo para viabilizar o crescimento orgânico do setor educacional de nível superior no Brasil. Contudo, esse processo prescindiu da capacitação financeira necessária aos gestores.

Oportunidades na crise

Porém, historicamente, os momentos de crise são ricos em oportunidades. Os Grupos Educacionais que se capacitarem e investirem na profissionalização da sua gestão financeira estarão à frente da concorrência. Não há segredo, a adoção de medidas básicas, como controle rígido de custos e despesas, a elaboração de estudo financeiro de longo prazo que deem suporte ao estudo de viabilidade de implantação de novas formas de financiamento estudantil privado são alguns dos caminhos a serem trilhados. A crise econômica que o país vem enfrentando tem atingido aos mais diversos setores, entretanto, há como aproveitar esse momento para superar praticamente incólume, se diferenciar e adquirir Know how. O antídoto para a crise é o conhecimento e, não ao acaso, esse é o objeto das IES.

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