Greve na UnB acaba depois de 101 dias
Docentes decidem encerrar paralisação na segunda. Novo calendário será definido na próxima semana.
Em assembléia dividida e com clima de frustração no ar, os professores da Universidade de Brasília (UnB) decidiram encerrar a greve que dia 16 de dezembro, completou 101 dias. Foram 88 votos favoráveis ao fim da paralisação (proposta encaminhada pelo Comando Nacional de Greve), 26 favoráveis à continuidade do movimento e nove abstenções. O novo calendário letivo será definido, provavelmente, nos dias 19 ou 20 de dezembro, quando o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) se reúne. A proposta a ser apresentada pela reitoria é que as aulas voltem no dia 3 de janeiro de 2006 para que o segundo semestre de 2005 seja encerrado até o final de março.
O reitor da UnB, Timothy Mulholland, esclarece, porém, que essa é apenas uma proposta e que o conselho é soberano em suas decisões. "A data da convocação dependerá da possibilidade de reunirmos todos os conselheiros. De qualquer forma, o calendário de 2006 inevitavelmente invadirá, pelo menos, janeiro de 2007. A regularização deve acontecer mesmo somente a partir de março de 2007", avalia. As datas do 1° vestibular de 2006 não serão alteradas e permanecem nos dias 7 e 8 de janeiro.
O 2° semestre letivo de 2005 começou em 8 de agosto e seguiu normalmente até 6 de setembro, quando os docentes deflagraram a greve. Ainda faltam 70 dias para que ele seja completado.
Quadro Nacional
Visivelmente contrariado com a decisão de encerrar a greve, o diretor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB, Everaldo Anastácio Pereira, considera que a avaliação do dia 16 de dezembro poderia ter sido feita meses antes, quando as negociações com o governo apontavam para o impasse. "Que ganho tivemos com isso? Nenhum. Como vamos encarar nossos alunos? O que vamos dizer? Encerramos a greve com um projeto de lei (PL) que não tem nem data para ser votado e apenas obtivemos um remendo de um plano de cargos e salários que precisa ser redefinido", lamenta.
A decisão tomada pelos professores da UnB está de acordo com a orientação do Comando Nacional de Greve, que apontou para a necessidade de uma saída unificada de todas as instituições. A presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Marina Barbosa Pinto, explica que a decisão foi tomada porque das 39 instituições paralisadas, apenas oito decidiram pela continuidade, duas pela continuidade com disposição para saída unificada e todas as demais optaram pelo encerramento. "Chegamos a um ponto de impossibilidade de manter o movimento", lamenta.
Falta união
Ela explica que a saída da greve não implica aceitação do PL 6368, em tramitação no Congresso Nacional. Marina considera todo fim de greve é muito difícil, mas que o movimento obteve ganho especial ao conseguir levar para a sociedade o debate sobre a universidade pública e seus problemas. "Apesar de não ser o que queríamos, o PL é uma vitória. Quando a greve começou não tínhamos nada", analisa.
Para a professora do Departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da UnB Rachel Nunes da Cunha, a conjuntura nacional mostra que os docentes não têm mais força para manter a greve e que é preciso reconhecer o fracasso. "Não tivemos condições para enfrentar o quadro que se colocou e temos de assumir o compromisso de sermos uma categoria unida em torno de nossos interesses. É isso que falta na UnB", criticou. Ela se refere ao baixo número de docentes envolvidos na paralisação, no comando local de greve e, principalmente, nas assembléias dos professores. Mesmo com mais de 1,3 mil docentes, em praticamente nenhuma ocasião a presença chegou a mais de 200 pessoas.
Frustração
O presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb), Rodrigo Dantas, considera que a paralisação conseguiu sim ganhos. Entre eles, Dantas aponta o alívio nos salários (ainda que insuficiente para repor a inflação), a criação da categoria de Professor Associado, a diminuição da diferença na pontuação da Gratificação de Estímulo à Docência (GED) entre docentes ativos, aposentados e pensionistas e a liberação de quatro mil vagas para concursos públicos.
"Infelizmente a greve ainda é, como nos últimos 20 anos, o único instrumento para defender a categoria e a universidade pública no país", lamenta Dantas. O presidente da Adunb explica ainda que a sensação de frustração que tomou conta do anfiteatro 3, onde foi realizada a assembléia que definiu pelo fim da greve, tem origem no desrespeito do governo à categoria e ao ensino superior público gratuito. "É sempre muito duro encerrar uma paralisação sem ter a pauta de reivindicações atendida. O governo traiu todos os seus compromissos com a educação superior", critica.