14/11/2016

Impressões 31 - ONDE ERRAMOS?

Dênio Mágno da Cunha*

               O momento pelo qual passamos é caracterizado por indagações, pois pleno de dúvidas a respeito do futuro. Mesmo que elas sempre tenham existido, as incertezas, nos parece ser este aquele com o maior número delas. Em todas as áreas da vida. Isto é positivo, a meu ver, e não negativo como é comum ouvirmos dizerem. A dúvida sempre nos leva à reflexão e, a reflexão nos conduz a novos caminhos e soluções – parodiando um programa de tv: cidades e soluções.

               No campo político, assusta aos homens de bem o crescimento da participação dos conservadores e, no Brasil, dos “não políticos amadores” (algo que não existe). A eleição de Trump, nos EUA, de Crivela, no Rio de Janeiro, e de Kalil, em Belo Horizonte, insere uma grande interrogação no mundo todo (no caso do primeiro) e no Brasil. Por outro lado, a persistência dos estudantes nas invasões de escolas, nos abre uma outra perspectiva duvidosa se estaríamos diante, também, de uma nova situação política. Duvidas de perplexidade e de questionamento sobre o rearranjo das forças conservadoras e progressistas. Estaríamos diante de um novo arranjo de poder?

               Na economia, a consequência da eleição americana eleva a movimentação dos valores. Analistas, imediatamente, valorizam o sistema democrático americano acreditando que seus valores fundantes serão capazes de controlar a inexperiência do novo presidente. A restauração do poder econômico, através da geração de empregos na iniciativa privada e não pela ajuda do estado, parece ser uma tendência – inclui-se aqui a eleição de Dória, em São Paulo. Se eles (Trump, Crivela, Kalil) foram eleitos é porque tiveram capacidade para gerar votos em torno de uma ideia e, logicamente, povo algum seria capaz de cometer loucuras a ponto de se deixar destruir.

               Não é bem assim, não é mesmo?

               A história está repleta de exemplos que invalidam a frase acima. Povos e mais povos dão razão ao título destas impressões; povos que ao longo do tempo foram obrigados a se perguntarem onde foram que erraram. O exemplo mais próximo poderia ser o povo venezuelano que passa por uma crise de abastecimento sem precedentes, depois de ter acreditado por décadas no movimento Chavista. O mais clássico, o povo alemão que na década de 1930 acreditou estar elegendo um salvador que lhe restituiria a autoestima, destruída durante a primeira grande guerra. E por aí seguimos: a voz do povo, ou da maioria, nem sempre é a voz adequadamente correta para os destinos de uma nação ou da Humanidade.

               É neste momento que achamos oportuno trazer nossa reflexão para a educação, como sempre fazemos aqui.

               A primeira reflexão é a reação de nossos alunos quando não alcançam os resultados esperados nos processos avaliativos. Não sei bem como isto acontece no geral, estatisticamente falando, mas tenho percebido uma incompreensão e não aceitação que beira ao completo desconhecimento de habilidades e conhecimentos adquiridos. Isto é, o aluno por se achar presente às aulas, considera ter aprendido. A consulta rápida à internet, a leitura superficial da bibliografia disponibilizada (se houver) e a presença física, seriam capazes de garantir um bom resultado na avaliação. Claro, que há um erro de avaliação aqui.  Onde erramos?

               Felizmente, parece que os próprios alunos, inconscientemente ou não, estão percebendo que a compreensão sobre a sua educação na escola está errada. Em oposição a uma visão do tipo “jeitinho brasileiro” tem crescido uma outra cultura. Cada vez mais, (sem estatística que comprovem), vejo surgir movimentos de valorização do estudo, como se estivesse surgindo a percepção de que a melhor coisa do mundo é saber daquilo sobre o qual estamos falando. Isto é, consultar a internet rapidamente e perceber o potencial de resposta que é possível encontrar através desta tecnologia, tem criado verdadeiros novos pesquisadores que não se contentam com pouco. Na sala de aula sou otimista: “o onde erramos” provocado pela geração “quem cola sai da escola” está dando lugar àqueles outros que valorizam o conhecimento, ignorando inclusiva a forma antiga de avaliação (prova) e seus resultados. Neste sentido, é a organização escolar que precisa mudar e se perguntar onde errou, sob pena de ser ultrapassada por movimentos autônomos de aprendizagem.

               Uma segunda situação é justamente a reflexão que proponho no final do parágrafo anterior. A escola como organização, no Brasil, não tem conseguido acompanhar a evolução da sociedade – eu grande erro. Pais, independente da sua formação cultural e nível social, têm exigido cada vez mais uma nova escola que, além do conhecimento técnico, ofereça uma formação integral a seus filhos. Mais do que saber ler, escrever e fazer contas, os pais desejam que seus filhos sejam formados como cidadãos participativos e conscientes da realidade onde vivem. Acham que só assim, estes filhos terão condições de sobreviverem nas condições adversas que a vida lhes proporá. A educação, finalmente, está se completando em seu significado, tornando-se plena. Talvez por isso a discussão sobre “escola sem política” ou as invasões por um melhor conteúdo. Talvez, e é uma dúvida mesmo, estejamos (a sociedade) cansados de reformas que maquiam de moderna uma escola que continua velha, na sua organização, na sua forma, no seu conteúdo, na sua metodologia[1]. A pergunta retorna para a sociedade: onde erramos que deixamos que isto acontecesse? Não seria a escola fruto e consequência da evolução da sociedade onde está inserida? Neste caso a pergunta teria uma complexidade maior: onde erramos a ponto de permitir que a nossa sociedade continue, no século XXI, como era no tempo de sua fundação? Tenho hipóteses, mas não cabem aqui, pelo menos agora.

               Para finalizar, pois o pensamento já está fugindo, deixo mais uma vez essa reflexão que não pergunta sobre culpas mas busca a identificação daquele ponto em que tomamos uma direção inadequada para os propósitos que perseguíamos. Penso, uma vez identificado este ponto, podemos alterá-lo, retomando nossos objetivos de um mundo melhor. Assim espero e desejo, como sempre. “Errar é humano. Permanecer no erro é burrice” já dizia um adágio popular. Portanto, já é tempo de mudar nossos caminhos na educação. Quanto a nossas escolhas política, só daqui a quatro anos, caso elas se mostrem equivocadas.

                * Dênio Mágno da Cunha, professor em Carta Consulta, em Una-Unatec, Doutorando em História da Educação pela Universidade de Sorocaba. É otimista e acredita no que expos neste artigo.

 

[1] Me perdoem, mas vi um vídeo não sei quando e nem aonde, mostrando que a escola era o único lugar do mundo que mantinha a sua forma mesmo tendo se passado anos de sua criação: cadeiras enfileiradas, um quadro (ou tela) e um professor (que acha ser o dono do conhecimento).

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×