01/12/2017

INTERDISCURSIVIDADE E CRÍTICA SOCIAL : ANÁLISE DO DISCURSO APLICADA A LETRA AFRONTAMENTO – TÁSSIA REIS

INTERDISCURSIVIDADE E CRÍTICA SOCIAL : ANÁLISE DO DISCURSO APLICADA A LETRA AFRONTAMENTO – TÁSSIA REIS

 

MAILSON JOSÉ DO CARMO*  NEILTON LIMA**

 

*Aluno do Curso de Licenciatura em Letras (Português/Inglês) da Faculdade São Miguel - Recife/PE - Brasil

**Docente da Faculdade São Miguel - Recife/PE - Brasil

 

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar o discurso presente na letra Afrontamento, da rapper Tássia Reis, à luz da linha francesa de Análise do Discurso e os pressupostos da exterioridade. Tencionamos também discutir o papel da interdiscursividade do contexto e o modo como a mesma atua na construção discursiva do enunciador através das relações de sentido estabelecida por ele no texto e com os elementos presentes na letra. Lançamos luz à forma como o enunciador se utiliza da relação língua-ideologia-história para sedimentar sua crítica social e se relacionar com os possíveis enunciatários discursivos contidos no objeto simbólico de análise ao ponto de trazer o centro da sua fala as questões referentes às desigualdades sociais sofridas pelos possíveis ouvintes ou leitores do texto.

 

Palavras-chave: Discurso; Sujeito; Crítica social; Interdiscursividade.  

 

ABSTRACT: The present research aims to analyze the discourse present in the letter Afrontamento, written by the rapper Tássia Reis, in the light of the French Line of Discourse Analysis and the presuppositions of the exteriority. We also intend to discuss the role of the interdiscursivity of the context and how it acts in the discursive construction of the enunciator through the relations of meaning established by it in the text and with the elements present in the letter. We will analyze how the enunciator uses the language-ideology-history relationship to sediment his social critique and to relate to the possible discursive enunciatores contained in the symbolic object of analysis to the point of bringing the center of his speech to the issues related to the social inequalities suffered possible listeners or readers of the text.

Keywords: Discourse; Subject; Social criticism; Interdiscursivity.

 

INTRODUÇÃO

       A Análise do Discurso em sua linha francesa vislumbra o homem e seu fazer histórico ao passo que considera as condições pelas quais a linguagem foi produzida para que assim possa fazer relação entre o léxico as circunstâncias em que os dizeres foram desenvolvidos. Para Gregolin (1995) O seu desenvolvimento (Análise do Discurso) significou a passagem da Linguística da "frase" para a Linguística do "texto" e partindo desse princípio, podemos afirmar que a AD faz relação entre o uso da linguagem e a exterioridade quando desenvolve seu analítico do texto enquanto sua materialidade ampla.

       Sabendo que a ideologia é fundamentada no discurso e que o mesmo é a palavra em movimento, podemos afirmar que analisar o discurso perpassa pela relação língua-discurso-ideologia, pois para Pêcheux (1988), não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. Dentro dessa relação podemos lançar que “[...] o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido”. Orlandi (2013, p. 17). Em outras palavras, podemos dizer que o discurso toma vida através da ideologia que age sobre o indivíduo com o objetivo de fazê-lo proferir fala usando a língua como meio para tal.

        Logo, podemos aferir que o discurso é o ponto onde o analista pode perceber as relações que se estabelecem entre língua e ideologia e através disso vislumbrar como os sujeitos produzem sentido através da língua. Sobre o Discurso, Gregolin (1995) afirma que mesmo é:

(...) um suporte abstrato que sustenta os vários TEXTOS (concretos) que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em termos de figuras e temas, das estruturas semio-narrativas. Através da Análise do Discurso possível realizarmos uma análise interna (o que este texto diz?, como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que ele diz?). (p.17)

 

        Ao passo que Orlandi (2013), corrobora sua afirmação dizendo que: 

 

Diferentemente da análise de conteúdo, a Análise de Discurso considera que a linguagem não é transparente. Desse modo ela não procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado. A questão que ela coloca é: como este texto significa? Há aí um deslocamento pelos formalistas russos, onde a questão a ser respondida não é “o quê” mas o “como”. Para responder, ela não trabalha com os textos apenas como ilustração ou como documento de algo que já está sabido em outro lugar e que o texto exemplifica. Ela produz um conhecimento a partir do próprio texto, porque o vê como tendo uma materialidade simbólica própria e significativa, como tendo uma espessura semântica: ela o concebe em sua discursividade (ORLANDI, 2013, p. 17).

 

       Tendo em vista o exposto, o presente trabalho tem como objeto simbólico de análise discursiva a letra de Afrontamento, da rapper Tássia Reis, analisando-o à luz da exterioridade, ou seja, lançaremos olhares acerca do contexto histórico em que a letra se insere ao passo que lançaremos mão do que a AD chama de sujeito, para analisar como o mesmo constrói e sedimenta, dentro do objeto simbólico analisado, a relações de crítica social e resistência presente em seu discurso materializado e como acontece a construção de sentido através dos versos da letra a seguir:

 

Afrontamento (Tássia Reis)

Quer saber o que me incomoda, sincero

É ver que pra noiz a chance nunca sai do zero

Que se eu me destacar é pura sorte jão

Se eu fugir da pobreza

Eu não escapo da depressão

Um quadro triste e realista

Na sociedade machista

As oportunidades são racistas

São dois pontos a menos pra mim

É difícil jogar quando as regras

Servem pra decretar o meu fim

Arrastam minha cara no asfalto

Abusam, humilham, tiram a gente de louco

Me matam todo dia mais um pouco

A cada claudia morta, a cada alan morto

Se não bastasse essa injustiça e toda dor

Transformam adolescentes em um

Filho da puta de um mal feitor

É complicado essa anedota, não acha?

Mas hoje ouvirão verdades vinda dessa racha

No rap, ego inflado, os cara se acha

Mas ninguém se encontra e geral arrasta

À margem de tudo a gente marcha

Pra manter-se vivo respirando nessa caixa

Eu quero mais, eu vou no desdobramento

Nem que pra isso eu tenha que

Formar um movimento

Agora é a preta no comando, no empoderamento

E eu vim logo de bando, vai vendo

Com o afro alaranjado, chegando no talento

Gritando mãos ao alto

E atirando argumento, pow!

Da zona de conforto pra zona de confronto

Vai vendo

Sumemo, me chame de afrontamento!***

 

Tássia Reis: contexto e representação do sujeito

 

       A rapper Tássia Reis, assim como gosta de ser chamada, nasceu na cidade de Jacareí, interior de São Paulo, onde participou de alguns coletivos negros de dança e cultura negra. Porém, a ela logo mudou-se para a capital do estado, pois segundo a mesma, em entrevista para a Revista Trip, em 2016, procurava uma formação que conseguisse fazê-la alcançar seus sonhos e objetivos.

        Nesta mesma entrevista, ressalta que mesmo tendo feito muitas entrevistas não lhe era concedida a vaga mesmo ela tendo formação em moda, área que havia escolhido cursar no ensino superior. Ela veio a descobrir que o real motivo para a sua não contratação era a cor da sua pele e seu cabelo crespo, segundo ela. Nesse ponto, Tássia ressalta que se sentiu aliviada por não ser incompetente no seu fazer profissional, pois estava sendo vitimada pelo racismo estrutural que permeia a nossa sociedade.

       Descobrir que as estruturas sociais racistas também tangenciavam o seu fazer profissional impedindo a mesma de ser contratada foi o que trouxe como já citado um certo “alivio” e desconforto, pois foi a partir desse ponto que a mesma resolveu abraçar a sua carreira de cantora e voltar para sua cidade onde se envolveu com a cena e a produção do hip-hop e rap, pois os empregos que havia conseguido na área do telemarketing como atendente não lhe satisfaziam profissionalmente e nem ideologicamente.

      Portanto, somo levados a crer que a produção da letra “Afrontamento” traz consigo dentre tantas coisas a vivência da mulher negra em sociedade e o modo como ela lida com esses entraves sociais e raciais que diversas vezes não lhe permitem alçar um lugar desejado dentro da sua profissão seja pelo gênero, cor da pele ou origem social.

     A partir da ótica da rapper em consonância com seu fazer ideológico, o discurso de enfrentamento e denúncia das desigualdades raciais vai se construindo sob o prisma da vivência e da materialidade discursiva usando como meio a língua para tal.

       Em entrevista ao jornal do Estado em 2016, ela afirmou que: 

 

Retrato coisas que vejo, vivo e sinto. Eu, como mulher negra, já vivenciei boa parte do que transmito em minhas músicas. O racismo não me deixou ter um estágio na época da faculdade, por exemplo. Quando me dei conta de que estava à margem da sociedade, agarrei a oportunidade com unhas e dentes. Parei de ser enganada. Não estava tudo bem. E, desde então, me vi capaz de fazer alguma coisa para mudar. Posso falar de amor, mas sei que o amor para uma jovem negra tem outra conotação. Existe o machismo e o racismo. Os recortes estão ali o tempo inteiro e mudam o enredo da história. (Tássia Reis – Estadão – set, 2016)

 

      Tássia Reis afirma que a machismo afeta a realidade de muitas mulheres em todos os círculos sociais ao redor do mundo, elenca que a presença da figura feminina nos meios do rap ainda é tímida devido a hegemonia masculina tanto em festivais quanto nos meios de comunicação. Podemos inferir a partir disso que em uma camada fundamental, a letra perpassa por questões referentes a desvalorização da eu feminino não somente no fazer artístico, mas em sociedade como um todo. A paulistana ao ser questionada sobre o assunto afirmou:

 

Existem várias artistas que fizeram história no rap nacional, mas não são conhecidas. A invisibilidade é cruel e não permite que as mulheres cheguem lá. Os line-ups de festivais são bons exemplos. Só tem homem! A mulher precisa sempre ficar provando que é capaz de estar lá. Eu não odeio os homens, muito pelo contrário. Eu quero minha parte, minha vez, meu pedaço do bolo. O diálogo está mais aberto, mas ainda falta muita coisa. Só vou dizer que melhorou quando eu tiver as mesmas possibilidades de um homem. Isso, infelizmente, está muito longe de acontecer”, crava. (Tássia Reis – Estadão – set, 2016)

 

      Aos nos debruçarmos acerca do contexto de produção da presente letra, somos levados a crer que a mesma advém de uma realidade periférica em conjunto com a segregação e negação das realidades sociais e demandas da população, em sua maioria negra, que vive à margem dos grandes centros dos cuidados da sociedade, como fica exposto no transcorrer da enunciação do sujeito ficando isso exposto de modo que lançamos mão da exterioridade para compor esse parecer analito do discurso.

 

Interdiscursividade e a resistência social

 

      Ao redor do mundo, especialmente em nosso pais, a luta por igualdade racial e social da população negra remonta desde o período escravocrata, perpassa pelo enfrentamento protagonizado pelos movimentos sociais de abolição e desagua nos dias atuais com um maior questionamento por representatividade nos meios de comunicação, ao passo que reivindica políticas de reparação histórica para o povo usado como mão de obra pelos senhores de engenho.

    No mundo do rap, as questões que tangenciam as desigualdades e descriminações raciais e sociais são um ponto fortemente tocado desde o seu surgimento e que sempre estão sendo tocados e reafirmados como bandeira de combate a esse tipo de segregação da população. Dentre muitos grupos, podemos destacar o grupo Racionais MCs, que desde anos 1990 (mil novecentos e noventa) vem discutindo e retratando as questões referentes ao povo da periferia.

    O sujeito dentro do nosso objeto simbólico de análise tem em si uma carga do que Orlandi (2013) chama de memória discursiva quando afirma que a sociedade é racista nos versos (As oportunidades são racistas / São dois pontos a menos pra mim / É difícil jogar quando as regras / Servem pra decretar o meu fim) corroborando a leitura da sociedade brasileira vivida pela artista o enunciador remonta a essas lutas sociais históricas para compor a discursividade presente em seu dizer lançando mão da interdiscursividade presente em seu contexto de produção.

      Em seu livro, Análise do Discurso, Orlandi (2013) afirma o seguinte sobre o papel da memória na formulação do discurso:

 

A formulação, então, está determinada pela relação que estabelecemos com o interdiscurso: no exemplo dado, (...) o saber discursivo que foi-se constituindo ao longo da história e foi produzindo dizeres, a memória que tornou possível esse dizer para esses sujeitos num determinado momento e que representa o eixo de sua constituição (interdiscurso) (ORLANDI, 2003, p. 33)

 

     Segundo a leitura feita pelo sujeito, essa sociedade onde as oportunidades são negadas a população da periferia, em sua maioria não branca, também se manifesta através do extermínio da juventude quando diz (A cada claudia morta, a cada alan morto / Se não bastasse essa injustiça e toda dor / Transformam adolescentes em um / Filho da puta de um mal feitor).

    O enunciador constrói a crítica social e racial através da retomada da memória em conjunto com ideologia que impele a dizer algo, a proferir fala diante da realidade da  vivenciada pela população que morre sem nem mesmo ter sua identidade reconhecida, tendo em vista que a mesma não coloca os nomes com letra maiúscula, denotando assim que o extermínio é velado desconhecido da grande população, pois nem sequer são nomeados, eles morrem assim sem ter sua identidade reconhecida e sem figurar nas capas das manchetes e ainda sendo tomados como mal feitores.  Sobre a relação estabelecida entre memória e ideologia, Orlandi (2013) diz:

 

O trabalho ideológico é um trabalho da memória e do esquecimento pois é só quando passa para o anonimato que o dizer produz seu efeito de literalidade, a impressão do sentido ­lá: é justamente quando esquecemos quem disse "colonização", quando, onde e porquê, que o sentido de colonização produz seus efeitos (ORLANDI, 2003, p. 49).

 

      A posição que esse sujeito ocupa dentro da discursividade é um lugar de confronto e de esclarecimento das questões pelas quais a rapper vivenciou em seus anos de vida na periferia e na grande cidade enquanto mulher negra. Acerca da temática aborda em suas letras a mesma afirma que (...) é um contexto bem reflexivo, com uma boa dosagem de autoanálise. É minha reflexão sobre questões como feminismo, racismo, assuntos que nos afetam e como podemos seguir a partir daí.”(REIS,2016) em entrevista concedida ao jornal Diário da Região em 2016.

    Em um nível fundamental, termo cunhado por Gregolin (1995) podemos afirmar que o objeto simbólico de análise articula e tangencia temas recorrentes a maioria da população da negra da periferia, lança luz à questões pertinentes a sua realidade social ao passo que demonstra a necessidade de se continuar seguindo na luta contra as bases de segregação racial que fundamentam a nossa sociedade desde a chegada dos portugueses em 1500.

   Partindo disso, somos levados a crer que o discurso permeado pela crítica social às estruturas sociais que fundamentam a nossa sociedade que está materializado na letra não somente pela linguagem, todavia por um conjunto de fatores que vão desde o contexto onde materialização foi produzida e perpassa pela ação da ideologia na interpelação que enunciador tenta transpassar em seu discurso.

 

Construção de sentido no Afrontamento

 

      A construção de sentido pretendida pelo enunciador perpassa não somente questões tangentes as descriminações acometidas à população da periferia, segundo a autora, mas também, há uma espécie de aviso de resistência dessa camada da população no texto.

       No transcorrer do mesmo e através dos dizeres do sujeito, podemos ver que a posição que ele ocupa nesse “aviso” é de mensageiro dessa resistência permeada pelo combate as mais diversas formas de desigualdades, sejam elas raciais, sociais ou de gênero, que são impelidas a eles até mesmo dentro de suas próprias realidades através do machismo como fica expresso nos versos quando o enunciador diz:

“Mas hoje ouvirão verdades vinda dessa racha

No rap, ego inflado, os cara se acha

Mas ninguém se encontra e geral arrasta

À margem de tudo a gente marcha

Pra manter-se vivo respirando nessa caixa

Eu quero mais, eu vou no desdobramento

Nem que pra isso eu tenha que

Formar um movimento” (REIS,2015)

 

      Essa “mensagem” trazida pelo sujeito em seu dizer, é clara, pois demonstra que as pessoas que foram historicamente segregadas pela sociedade e postas em lugar de marginalizados sociais em detrimento de uma narrativa hegemônica branca e burguesa, não aceitam mais esse lugar comum que vem sendo imposto a elas pelos mecanismos ideológicos da nossa sociedade composta pelas suas instituições: estado, família e igreja.

      Diante disso, se é que podemos tencionar chegar a uma finalidade ou a quem se destina essa mensagem? Acreditamos que enunciador através do seu fazer discursivo, destina seus versos para dois enunciatários distintos: o primeiro seria, em nível mais amplo de abrangência e alcance do seu discurso, as já citadas instituições que compõem a sociedade, para fazer-lhes saber que há uma resistência aos modelos apregoados e impelidos historicamente a população periférica materializado através ações como racismo institucional aos mais diversos tipos de atitudes segregadoras para com essas pessoas a fim de sair desse lugar comum de subserviência à essa realidade imposta.

     O segundo enunciatário que acreditamos existir, é a própria população da periferia, que segundo o enunciador, sofre os mais diversos tipos de violência, desde o apagamento das suas existências até o seu extermínio social quando inviabilizam a sua ascensão econômica e social através da negação ao emprego e ao extermínio das suas vidas literalmente quando os mecanismos sociais impõem a eles serem marginalizados considerando assim eles como malfeitores, segundo o sujeito.

    Partindo desse princípio, somos levados a crer que o enunciador tenta através de uma linguagem tida como simples do ponto de vista normativo em conjunto com ações que remontam os fatos que a maioria das pessoas que vivem na periferia poderiam ter sofrido demonstrar que também passou pelas mesmas coisas e sofreu enquanto pessoa também periférica e passível de toda sorte de preconceitos e racismos.

    Assim sendo, esse enunciador busca validar seu ponto de vista de vista acerca da sociedade aludindo um fazer coletivo que, segundo ele, a população não branca que vive fora dos grandes centros. O sujeito da discursividade buscas duas coisas: em primazia ser reconhecido como igual dentre os seus seja dentro do contexto do rap ou inserido no ciclo social, para tanto demonstra ter sofrido as mesmas mazelas da sociedade que os outros sofreram. Ao passo que tenciona em segunda instância ser tomado como porta-voz e conclamador desse levante contra opressão racial e social que ele acredita sofrer em coletivo os povos de origens negra inseridos dentro dos contextos periféricos sociais. Como fica exposto nos versos abaixo: 

 

Formar um movimento

Agora é a preta no comando, no empoderamento

E eu vim logo de bando, vai vendo

Com o afro alaranjado, chegando no talento

Gritando mãos ao alto

E atirando argumento, pow!

Da zona de conforto pra zona de confronto

Vai vendo

Sumemo, me chame de afrontamento!

 

      A relação enunciador e enunciatário se estabelecem através da aproximação da linguagem utilizada no desenvolvimento de sentido impregnado na discursividade presente no objeto simbólico analisado com a objetividade maior de ser reconhecido como igual e membro que compõem esse “Afrontamento” das diretrizes sociais impostas à população da periferia lançando mão de argumentos para questionar as bases sociais sob as quais a nossa nação foi e continua sendo construída cotidianamente.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

      Analise do discurso em sua linha francesa concebe o homem enquanto seu fazer histórico e social, sendo assim, debruçar-se acerca da discursividade presente no objeto simbólico de análise lançando mão dessa concepção é vislumbrar e perceber a construção de sentido presente no texto a partir do prisma da relação ideologia-língua-história. Pois, é através materialidade da língua que o discurso se materializa de forma ideológica.

     Vislumbrar o texto analisado sob a ótica da exterioridade demanda conceber a composição da discursividade sob múltiplos aspectos dentre eles contextos e possíveis apagamentos da memória em detrimento da veracidade ilusória do seu discurso. Lançar luz tanto acerca do contexto de produção do mesmo quanto o processo de formulação discursiva são ingredientes imprescindíveis no fazer profissional do analista, mas o que se buscou aqui não foi um sentido tido como “verdadeiro” (...) mas o real do sentido em sua materialidade linguística e histórica. (Orlandi,2013).

   Tendo isso posto, a presente análise buscou lançar luz acerca dos efeitos da interdiscursividade no discurso do sujeito contido na letra da música “Afrontamento” ao passo que elucida os meios pelos quais o enunciador construiu a crítica social e racial. Tencionamos levantar possíveis finalidades contidas dentro desse discurso no que tange a relação estabelecida entre enunciador e enunciatário na presente letra considerando aspectos da exterioridade apregoadas pela linha francesa de Análise do Discurso.  

 

REFERÊNCIAS

BINI, Paulo Renan. SANTOS, Silmara. Música e interdiscursividade: análise discursiva da música Ideologia – Cazuza. (artigo). Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel – Univel. 2015.

Gregolin, Maria do Rosario Valencise. A análise do discurso: conceitos e aplicações. ALFA: Revista de Linguística, v. 39, 1995 - A análise do discurso Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/107724>. Acessado em 04 de junho 2017. 22:30 hr.

GUERRA, Vânia Maria Lescano. Uma reflexão sobre alguns conceitos da análise do discurso de linha francesa. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2010.

ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 11 ed. Campinas: Pontes Editores, 2013.

REIS, Tássia. Afrontamento.  Disponível em: < https://www.letras.mus.br/tassia-reis/da-lama/>. Acessado em 05 de junho 2017. 16:45 hr.

Jornal Estado de São Paulo - Tássia Reis lança o disco 'Outra Esfera' e levanta a bandeira contra o machismo e o preconceito. Disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,tassia-reis-lanca-o-disco-outra-esfera-e-levanta-a-bandeira-contra-o-machismo-e-o-preconceito,10000077025>. Acessado em 05 de junho 2017. 16:30 hr

Portal Diário da Região - Crítica marca Outra Esfera, novo disco da rapper Tássia Reis. Disponível em: < http://www.diariodaregiao.com.br/cultura/cr%C3%ADtica-marca-outra-esfera-novo-disco-da-rapper-t%C3%A1ssia-reis-1.465262>. Acessado em 05 de junho 2017. 17:00 hr

Revista Trip. Tássia Reis, Rainha. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/trip-tv/tassia-reis-rap-empoderamento-feminino-musica>. Acessado em: Acessado em 05 de junho 2017. 17:00 hr

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