09/06/2017

Livros Didáticos

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

Você sabia que os brasileiros tem pouco hábito de leitura? Que de acordo com o NOP World Culture Score Index, um estudo realizado pela agência NOP World relata que o Brasil ocupa 27ª posição em um ranking de 30 países? E que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro?

Com as informações acima pode-se perceber os esforços hercúleos para uma editora vender uma obra literária e dá até para contar os escritores que enriqueceram escrevendo e publicando livros.

Confesso que é uma seara árida, mas o fato de compartilhar idéias e levar um conhecimento a um público sem esclarecimento é realmente gratificante.

E quando um autor resolve escrever sobre um tema em particular, ele já tem um nicho a ser atendido, obviamente caberá aí uma boa publicidade das editoras para que as vendas sejam um sucesso e proporcione em um bom retorno financeiro ao escritor.

Vender livros realmente não é fácil, e infelizmente alguns escritores e editoras encontram uma forma através da politicagem, de escrever e publicar livros didáticos preenchidos com conteúdos evasivos e totalmente sem didática.

A politicagem age com a função de impor este livro como um livro didático e isso irá gerar uma receita na casa dos milhões tanto para editora quanto para o escritor.

De acordo com o portal do MEC, em 2014 tínhamos 188.673 Escolas de Educação Básica e 49.771.371 alunos. Já imaginou quantos livros didáticos uma editora poderia vender? Só para se ter uma base, 98% dos professores de escolas públicas usam livros didáticos.

O problema é que os livros didáticos nem sempre são didáticos. Temos como exemplo um livro de “conto de fadas” enviado pelo MEC que faz fomento ao abuso sexual, incesto e que tende a fazer a criança acreditar que tal comportamento é normal.

Não cabe aqui citar o nome da obra, pois acredito que quem o escreveu não teve este intuito, mas o fato é que ganhou muito dinheiro com a venda, o que é ressaltado com um estudo realizado pela Agência Brasil que informou que somente em 2012, houve uma reposição dos livros para o ensino fundamental, somando mais R$ 443,5 milhões e com um investimento em 2013 no valor de R$ 1,2 bilhão.

De acordo com Verceze e Silvino (2008, p. 85) um artigo publicado na Revista Práxis Educacional intitulado “o livro didático e suas implicações na prática do professor nas escolas públicas de guajará-mirim” ressalta que o livro didático tem a sua importância como material para reflexão atendendo “à dupla exigência: de um lado, os procedimentos, as informações e os conceitos propostos nos manuais; de outro lado, os procedimentos, as informações e conceitos que devem ser apropriados à situação didático-pedagógica a que se destinam”.

Para as autoras, cabem aos educadores levantarem algumas questões para aprovarem ou não um livro didático em sala de aula, que são: os conceitos estão corretos? São adequados? Os exercícios ajudam o aluno a pensar e desenvolver o raciocínio crítico? As ilustrações contribuem para a compreensão dos textos?

Em alguns casos, o capitalismo selvagem fala mais alto e assim se usa de meios escusos para aprovar livros não instrutivos com valores, ética, e tudo mais que se espera em uma pessoa de bem.

Os autores Megid Neto e Fracalanza (2003) em seu artigo “O livro didático de ciências: problemas e soluções” publicado pela scielo, esclarecem que existe um esforço de pesquisadores acadêmicos em investigar a qualidade das coleções didáticas e isso já ocorre a mais de duas décadas.

Para os autores, esta investigação visa denunciar as deficiências e apontar soluções para a melhoria da qualidade dos livros didáticos, entretanto as vozes das denúncias não são ouvidas nem pelas editoras e escritores de livros didáticos e tampouco pelos órgãos gestores das políticas públicas educacionais.

Assim sendo, pode-se perceber uma força política e um lobby para que tais obras continuem sendo empurradas nas escolas e cobradas das mesmas a adoção destas.

Cabe a nós educadores o bom senso em percebermos se o livro instituído pelos órgãos públicos são ou não relevantes para a aprendizagem e também formação moral de nossos educandos.

Sabe-se que ao assumirmos tal postura, sofreremos assédio moral, mas uma forma de ultrapassarmos estas barreiras será mesclando obras mais críticas e que tenham ligações com situações vivenciadas pela comunidade escolar fazendo com que o educando pense, desenvolvendo assim o seu poder de discernimento.

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