26/11/2017

LUTAS E ARTES MARCIAIS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA REVISÃO DA LITERATURA

LUTAS E ARTES MARCIAIS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA REVISÃO DA LITERATURA

 

                                                    *RAFAEL MADEIRA DA COSTA

 

*Professor de Educação Física - município de São José, SC. Estudante do curso de Bacharel em Educacao Física na Universidade Federal de Santa Catarina. lattes.cnpq.br/8286392660470991. E-mail: rafaelmadeiradacosta@hotmail.com

 

RESUMO

 

As lutas, possuem considerável relevância por seu valor histórico cultural e pelo valor educacional. Assim, este estudo caracterizou-se por ser uma revisão literária sobre a inserção das lutas e artes marciais como elementos pedagógicos nas aulas de Educação Física Escolar, sendo, portanto, o foco da presente pesquisa. Sabe-se que as artes marciais fizeram parte da história de muitas culturas e, em muitas delas era elemento disciplinador e educador, adquirindo técnicas, ensinamentos e valores morais que fazem parte da maioria delas até hoje. Foi constatado que as lutas estão através dos principais documentos que referenciam a Educação Física no aspecto escolar fazendo parte dos eixos que devem ser utilizados para o desenvolvimento das crianças e jovens nas escolas. Também foi observado a dificuldade de se inserir as lutas por falta de espaço, material, falta de conhecimento no tema e pré-conceito dos familiares, por acreditarem que as lutas são geradoras de violência.

 

Palavras-chave: Lutas. Arte marcial. Educação. Produção científica.

 

1 INTRODUÇÃO

 

Uma das inúmeras possibilidades de ação pedagógica durante as aulas de Educação Física são as “Lutas e Artes Marciais”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) recomendam que as lutas e artes marciais podem ser exploradas nas aulas de Educação Física escolar, através de atividades lúdicas e também de forma competitiva (BRASIL 1998).

A escola tem um papel de socialização do saber sistematizado (SAVIANI, 1992). Neste sentido, a escola necessita promover uma Educação diferenciada daquela praticada pela vida familiar, na convivência humana e no trabalho, considerando como um conhecimento também fundamental para os alunos fora do ambiente escolar.

As produções acadêmicas podem refletir alguns dos problemas a serem transpostos pelos professores nas aulas de Educação Física, de forma que esta discussão é pertinente não só no que diz respeito as possibilidades que podem ser explorados para o ensino as crianças e jovens através dos conteúdos de lutas e artes marciais durante as aulas de Educação Física, podendo ser utilizado alguns temas inerentes as Lutas, tais como valores morais e éticos, conhecer, respeitar e discutir a filosofia oriental e conhecer a origem das lutas pelo mundo.

As lutas e artes marciais são práticas competitivas, populares e reconhecidas ferramentas na Educação de crianças e jovens, e, mesmo possuindo diversos profissionais qualificados em centros de artes marciais e academias, a maioria das escolas no Brasil, não utilizam este conteúdo nas aulas. Realidade diferente dos países orientais que utilizam as artes marciais nas aulas de Educação Física (MOCARZEL, 2011).

Nos países ocidentais as artes marciais são vistas como atividades que estimulam a violência dos alunos, e que este seria o principal motivo para a falta de uso das artes marciais nas aulas de Educação Física Escolar (VERTONGHEN, 2010). As Lutas e Artes Marciais devem ser de conhecimento legítimo da Educação Física, mas o desconhecimento especializado nas técnicas e seus princípios se tornaram uma barreira para o uso da modalidade nas escolas (GOMES, 2008).

Deste modo, este estudo terá como foco apresentar as principais evidências científicas sobre a produção acadêmicas na área de lutas e artes marciais como elementos pedagógicos para as aulas de Educação Física.

 

Uma das inúmeras possibilidades de ação pedagógica durante as aulas de Educação Física são as “Lutas e Artes Marciais”.k

1.1 OBJETIVO GERAL

 

Analisar a produção científica sobre a inserção da lutas e artes marciais como elementos pedagógicos nas aulas de Educação Física.

 

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

Este estudo apresenta como objetivos específicos a revisão da literatura sob os seguintes aspectos relacionados as lutas/artes marciais:

 

  • Revisar os aspectos legais da inclusão das lutas e artes marciais no ambiente escolar.
  • Identificar os princípios das lutas e artes marciais no contexto escolar.
  • Analisar os estudos que implementaram a inserção das lutas/artes marciais no contexto escolar no Brasil.

 

1.3 JUSTIFICATIVA

 

As Lutas e Artes Marciais fazem parte dos cinco grandes eixos da Educação Física Escolar que são: Dança, Ginástica, Esportes, Lutas, Jogos e Brincadeiras. Estes são os meios escolhidos para proporcionar conhecimentos da cultura corporal, cognitivos e motor, social e afetivo que fazem parte do documento do PCN (1998). Assim, o presente estudo procurará explorar as bases legais para inserção destas atividades no contexto escolar, analisar seus princípios e os estudos que se propuseram realizar a inserção na escola.

No que diz respeito a história das lutas e artes marciais, este estudo compilará os artigos acadêmicos para que se possa verificar as principais mudanças que acometeram durante a história das lutas para que se possa entender como as lutas se tornaram uma possibilidade real como prática nas aulas de Educação Física.

Transcendendo a relação com o objeto do estudo, justifico a importância de analisar os dados existentes com o intuito de verificar a situação das Lutas e Artes Marciais nas aulas de Educação Física, a fim de apontar discussões para as ações pedagógicas futuras com a intenção de incentivar o uso nas aulas de Educação física de forma regular.

 

 

2 TIPO DE PESQUISA

 

Este é um estudo de revisão narrativa. Segundo Cruz e Ribeiro (2004, p.34) a revisão de literatura tem papel fundamental no trabalho acadêmico, pois é através dele que você enfoca a área principal da pesquisa, contextualizando a base teórica por meio dos autores selecionados para a revisão de literatura. Neste estudo, procurou-se utilizar a revisão narrativa a fim de pontuar os principais tópicos sobre o tema.

 

2.1 TÉCNICAS/INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

 

Para realização deste estudo foram utilizados como fontes de consultas, livros, artigos, teses, dissertações e como fonte principal, utilizou-se a base de periódicos da CAPES, além das bases do Scielo e Lilacs. Também foram revisados estudos de tese e livros disponíveis na internet e na biblioteca da UFSC.

Os documentos analisados foram selecionados por necessidade de entender o que os referenciais curriculares dos estados e do Brasil esperam da Educação das crianças e jovens na escola por intermédio das aulas de Educação Física.

Nos diversos artigos encontrados a grande maioria faz referência a esses documentos. Os artigos foram selecionados por leitura inicial dos resumos de cada trabalho para no primeiro momento identificar a proximidade do tema escolhido para a revisão de literatura. Os documentos que determinam as diretrizes e que estabelecem e incentivam os parâmetros ideais para Educação Física escolar foram o Parâmetro Curricular Nacional, e documentos específicos de cada estado com diferentes nomes, mas que abarcam o tema proposto.

Buscou-se informações a respeito da aceitação por parte dos professores nas escolas, alunos, pais, direção da instituição, temas mais abordados pelas lutas e artes marciais nas aulas de Educação Física, e aspectos de contribuição cultural e corporal aplicados nas escolas. Para a busca das informações utilizou-se como termos chave as palavras lutas, artes marciais, educação física escolar, escola, PCN e currículo. Todos os documentos encontrados foram lidos e selecionados os com proximidade ao tema e relevantes aos objetivos específicos. Os artigos foram relacionados e comparados entre seus pares, quando não possuíam comparativos as descrições foram feitas de forma específica falando somente daquele artigo dependendo do assunto.

 

 

3 REVISÃO DA LITERATURA

 

Este estudo de revisão de literatura propõe sintetizar estudos e documentos que colaborem com a temática a que se pretende estudar, neste caso, a inserção das lutas e artes marciais no ambiente escolar e as possíveis transformações sofridas para que as lutas e artes marciais fossem incluídas na escola, assim como os problemas encontrados para a realização desta prática como conteúdo da Educação Física.

 

3.1 OS PRINCÍPIOS E A EVOLUÇÃO DAS LUTAS NO CONTEXTO ESCOLAR

 

No plano escolar, as lutas na escola são descritas pelo parâmetro curricular nacional da seguinte forma:

 

As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da Capoeira, do Judô e do Karatê (Brasil, 1997)

 

As lutas fazem parte da história da humanidade, estão ligadas às técnicas de autodefesa e a sabedoria de vida de muitos povos, desde muito tempo são amplamente ensinadas nas forças armadas (PARANÁ, 2006).

De acordo com a orientação do Parâmetro Curricular Nacional que entre outras considerações e disposições apoia o uso das Lutas e Artes Marciais nas aulas regulares de Educação Física (BRASIL 1998), esta pesquisa tem como proposta o estudo das transformações das lutas para a adequação e inserção nas aulas de Educação Física.

Contudo, as Lutas e Artes Marciais ainda são utilizadas na escola de forma rara e pouco frequente, além disso, alguns entraves para o professor utilizar este conteúdo nas aulas regulares de Educação Física já foram discutidos e algumas conclusões obtidas. Muitos professores não trabalham as lutas como conteúdo escolar por acreditarem ser esta uma modalidade que necessitaria de professor especializado nesta prática, não tendo conhecimento nos aspectos filosóficos, história das Lutas e Artes Marciais, regras das lutas em competições, conhecimentos que nem sempre são disponibilizados na sua formação acadêmica, ou nas propostas pedagógicas escolares (SO; BETTI, 2009). Portanto, estes professores precisariam estudar, confrontar e reformular seus saberes docentes para ministrar os conteúdos a respeito das Lutas e Artes Marciais em suas aulas (SOUZA, 2012).

 

3.3 ANÁLISE DA REGULAMENTAÇÃO DAS ARTES MARCIAIS NAS ESCOLAS.

 

A Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 20 de dezembro de 1996 procurou mudar a maneira que a Educação Física vinha sendo praticada nas escolas e a forma que ela assumiu nos últimos anos ao explicitar no art. 26, § 3o, assim, a Educação Física passou a ser exercida em toda a escolaridade no território brasileiro entre a primeira a oitava séries, não somente de quinta a oitava séries, como era até então.

Com o objetivo de auxiliar a execução do trabalho dos professores de Educação Física na escola, compartilhando seu esforço diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade é que o Parâmetro Curricular Nacional descreve e incentiva o uso das lutas como conteúdo a ser utilizado nas aulas de Educação Física regular, por se tratar de uma disciplina que possibilita reflexões e discussões das opiniões dos alunos, verificação dos aspectos técnicos e táticos, contribuindo no desenvolvimento cognitivo, utilização das habilidades motoras e desenvolvimento das capacidades físicas (BRASIL, 1997).

Sabe-se que o espaço a ser utilizado nas escolas carece de uma reformulação, o próprio Parâmetro Curricular Nacional afirma que a realidade enfrentada para a utilização dos espaços para os jogos, esportes, lutas, danças e ginásticas são precários e afirma que para realizar essas transformações, se faz necessário o trabalho conjunto da comunidade e dos poderes públicos. Ainda assim esta situação não exclui a utilização dos espaços existentes e disponíveis (BRASIL, 1997). O PCN relaciona fatores inerentes as lutas e artes marciais pertinentes ao ensino da Educação Física que são importantes para o desenvolvimento das capacidades físicas; da utilização das habilidades motoras; respeito as regras e colegas; expressão de opiniões pessoais quanto a atitudes e estratégias, apreciação de esportes e lutas considerando alguns aspectos técnicos, táticos e estéticos.

Na análise de documentos nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, observa-se que não existe consenso sobre a utilização das lutas e artes marciais como conteúdos nas aulas de Educação Física, alguns nem citam as lutas como conteúdo a ser trabalhado apesar do apoio e incentivo previsto no PCN.

No estado de Santa Catarina, por exemplo, a proposta não menciona o uso das lutas e artes marciais. Contudo, no Rio Grande do Sul, que mantém a orientação do PCN em seu documento e o classifica como uma atividade física que deve ser experimentada na escola, sem intenção de aperfeiçoamento técnico como é pregado nas academias e centros voltados exclusivamente para as lutas, mas no sentido de conhecer e proporcionar a prática aos escolares (RIO GRANDE DO SUL, 2009). Além disso, estimula os jogos de combate, onde o objetivo é dominar o oponente por meio de técnicas, táticas e estratégias de desequilíbrio, segurar, soltar-se ou conhecer o espaço na combinação de ações de ataque e defesa.

No estado do Paraná o documento da secretaria do estado “Diretrizes Curriculares da Educação Básica, especifica uma forma clara e exclusiva para as lutas, o considera como uma prática de esporte individual que auxilia o convívio social entre as pessoas, possibilita a discussão dos aspectos históricos de diferentes culturas e a experimentação das práticas corporais específicas das Artes Marciais.

O documento da secretaria do estado do Paraná “Diretrizes Curriculares da Educação Básica orienta as lutas e artes marciais na educação Física com a intenção de desenvolver por meio das práticas corporais na escola, conceitos, categorias e explicações científicas reconhecendo a estrutura da cultura corporal, bem como condições para construí-la a partir da escola. Reflete possibilidades além dos jogos de oposição, para se trabalhar com o conteúdo de lutas, os professores devem promover pesquisas, seminários, visitas às academias para os alunos conhecerem as diferentes manifestações corporais que fazem parte desse conteúdo Estruturante.

O documento “Currículo do estado de São Paulo” em seu conteúdo prevê o uso das lutas e artes marciais nas aulas de Educação Física de forma a aproveitar ao máximo o maior número possível de possibilidades para a construção do indivíduo social, entre o aprender as diferentes culturas e o perceber a si mesmo e ao próximo, encontra-se a necessidade de verificar cada região de forma a privilegiar melhor o uso das diferentes lutas e artes marciais a fim de promover uma melhor percepção entre os jovens a respeito de si mesmo e do próximo, para tanto se faz necessário julgamentos e estudos sociais de cada região a fim de proporcionar o mais apropriado em termos culturais e corporais para cada população.

O documento transmite de forma ampla e generalizada diferentes possibilidades de abordagens para cada idade ressaltando a importância de se conhecer as condições sociais de cada região para um trabalho mais adequado para os alunos.

 

3.4 EVIDÊNCIAS SOBRE A UTILIZAÇÃO DAS LUTAS E ARTES MARCIAIS NO AMBIENTE ESCOLAR

 

Conforme evidenciado anteriormente as lutas e artes marciais são propostas que podem atender ao ambiente escolar. Contudo, a sua efetivação ainda é pouco discutida na Educação Física Escolar. Como já apontou-se, o PCN incentiva o uso das artes marciais na escola e a maioria dos artigos encontrados discutem esta importante inserção através principalmente da importância dada e creditada ao especialista, na grande maioria das situações, os professores não utilizam as lutas nas aulas, por não possuírem conhecimento e se sentirem inseguros para ministrar o tema para as crianças e os jovens.

Ferreira (2006) afirma que nos cursos de Licenciatura muitos acadêmicos consideram a disciplina lutas e artes marciais como descartável e o autor ainda questiona se haveria a possibilidade de em seis meses o acadêmico se tornar apto ao ensino das lutas e artes marciais com contextos lúdicos para se ter objetivado a intensão concreta no ensino escolar.

O fato de muitos professores resistirem ao uso deste conteúdo pode ser a falta de tempo e formação na área de lutas, o que pode dificultar sua aplicação ou preparação para realizar a mesma, sendo mais fácil introduzir jogos com bola que são mais conhecidos. Pois como afirma Ferreira (2006), a Educação Física Escolar deve ser revista pelos profissionais da área, pois a falta de conhecimento deste material faz com que poucos o utilizem na prática as recomendações dos PCN.

A ausência das lutas nos conteúdos da Educação Física escolar, é resultado da formação esportista que na ênfase teoria e prática voltada ao esporte, aos gestos técnicos, que ainda pregam o saber fazer para ensinar (Darido 2003). Darido (2003) em suas pesquisas obteve resultados que demonstram a falta de interesse dos professores a modernização do conhecimento, a visão tecnicista e higienista onde a repetição pela repetição torna-se alienante, sem produção, sem crescimento, sem aprendizagem, perde-se então o sentido de se ter um professor frente aos alunos (TORRES, 2010).

Ferreira (2006), concluiu que a prática das lutas é parte dos blocos de conteúdos do PCN, portanto apreciado pela Educação Física escolar, todavia não estão sendo explorados, e que para não sucumbir as eternas práticas de “rachas com bola” deve-se cumprir o que se estabelece no PCN. Se faz necessário um investimento pessoal de cada professor devendo investir em capacitação, cursos e reciclagem no referido tema. É certo que grande número de professores tem uma visão distorcida a respeito da imagem das lutas, a violência e agressividade não são temas das lutas como acreditam grande parte dos professores, atitude oposta a Educação Física e a própria filosofia das Lutas (FERREIRA, 2006).

A falta de formação adequada ao tema em questão também é apontada por Fernandes (2010), para ele a inserção deste conteúdo nas aulas de Educação Física poderiam proporcionar uma educação diferenciada sob muitos aspectos específicos e introduzindo importantes conceitos da vida para os seus participantes. As crianças formam seus conhecimentos no meio em que vive suas interações, sendo motivadas desde cedo a prática esportiva, através da família, dos amigos, dos meios de comunicação.

 A Educação Física faz parte da Educação geral, em sua tarefa educacional, é preciso entender e saber que tipo de homem se quer formar, adicionando reflexão,  emoções, as respotas do homem as ações que não são físicas e nem psíquicas, mas obrigatórias a concretização dos planos políticos pedagógicos e o desenvolvimento das técnicas, discursos, relações sociais e programas de ensino para a formação do homem total e unitário. (Shigunov p 333, 2000).

Um texto descrito por Souza e Silva (2010) denominado “O conteúdo lutas nos currículos dos cursos de formação em Educação Física da Bahia” verificou vinte e seis cursos de Educação Física em dezessete instituições de ensino superior no Estado da Bahia que possuem lutas e artes marciais no currículo. Dos vinte e seis cursos dezesseis são de licenciatura, cinco de Bacharel e cinco oferecem ambas habilitações (Souza e Silva, 2010). Baseado no PCN e na resolução CNE/CES nº 07/2004 sobre os conteúdos dos cursos de graduação em Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) estabelecendo que a formação dos cursos tenha que obrigatoriamente agregar conhecimentos próprios da área:

No livro “Das brigas aos jogos com regras” de Jean Claude Olivier  publicado originalmente no ano 2000 sobre o título de La Lutte à L´École é descrito na resenha de Cazeto (2008) como uma importante contribuição para a Educação Física escolar no que diz respeito a tentativa de diversificação de conteúdos ministrados no Brasil especialmente ao tratamento das lutas e artes marciais pelos professores nas escolas que não possuem conhecimento ou segurança para a utilização desta prática com os alunos que de forma geral é uma grande novidade no Brasil (CAZETO, 2008).

Na prática as lutas seriam transformadas em jogos de ataque e defesa. É interessante notar que a violência é controlada e reduzida a uma forma de jogo onde ocorrem formação de grupos durante um período letivo a fim de incentivar os jogos de rapidez e atenção, jogos de conquista de objetos, jogos de conquista de territórios, jogos de desequilibrar, jogos de reter, atividades de imobilizar e soltar, jogos de combate (CAZETO, 2008).

Sob um olhar sociocultural, o ato de lutar faz parte da identidade do ser humano e qualquer outro ser vivo que precise defender seu território, a sí mesmo ou seus filhos quando atacado ou tão sob ameaça ameaçado (MOCARZEL, 2011 apud SANTOS, D., 2008). Historicamente as ferramentas de combate surgiram da necessidade da autodefesa e mais uma vez as artes marciais desenvolveram técnicas de combate para melhor manejar as ferramentas ou armas de combate (FERREIRA, 2008). É possível citar que isso é algo tão intrínseco aos seres vivos, que talvez possa ser considerado como uma espécie de identidade (MOCARZEL, 2011, apud MURAD, 2007). Embora as lutas sejam vistas por muitos como gerador de violência e hostilidade, estudos de Daniels e Thorton (1990 e 1992) comparam as lutas com outras modalidades esportivas e chegam a conclusão de que quanto maior o tempo de prática menor a hostilidade. Outro estudo buscou relacionar sexo com a agressividade nos atletas de Judô, e a conclusão é de que não há relação e novamente constatou-se que quanto maior o tempo de prática menor a hostilidade e violência (LAMARE e NOSANCHUCK, 1999).

A violência é discutida por Antunes (2009, apud Sun Tzu, 1999, p.25) no capítulo sobre a Espada Embainhada, onde lutar e vencer não é a glória suprema. A glória maior está em vencer sem lutar, demonstrando a preocupação de se evitar a batalha ao máximo possível para que não ocorra a violência. O autor ainda descreve um provérbio shaolin que diz: Aprenda a preservar e não destruir. É melhor evitar do que enfrentar, machucar que mutilar, mutilar que matar, pois a vida não pode ser substituída (ANTUNES, 2009. Apud CHOW; SPANGLER, 1982, p.9)

Entende-se que a construção de valores positivos e negativos nos alunos dependem da forma com que o professor avalia o comportamento de seus alunos e como ele reflete de maneira pensante e crítica os preceitos filosóficos das artes marciais (MOCARZEL, 2011). Os temas como preconceito, violência, gênero, esporte e saúde devem ser trabalhadas em debates nas aulas de lutas e artes marciais na Educação Física como forma transformadora seja ela através do Karatê ou outra Luta (KUNZ, 2006).

A proposta escolar não é marcializar o aluno nas aulas de Educação Física, mas despertar o interesse pelo conhecimento, pela resolução de problemas explorando o máximo possível de cultura corporal de movimentos (TORRES, 2010). Para tal o professor deve ter claro o seu papel político como formador de cidadãos completos de valores sociais, frutos de suas experiências constituídas aos poucos e ao longo do processo de aprendizagem, cabendo a elaboração e adequação das aulas as situações que podem ser previstas durante a prática, dando especial atenção ao nível de conhecimento de cada aluno, definindo objetivos concretos e atingíveis (MATTOS, 2008, P.59).

Não existe uma parceria efetiva que pudesse orientar o professor a sistematizar  “o que”, “quando” e “como” ensinar com a cultura do movimento (SO; BETTI, 2009). Kunz (1994, p.150) argumenta que a Educação Física precisa de um programa mínimo de organização curricular que pudesse orientar a sistematizar o plano de aula. Em nenhum dos documentos existem consenso a respeito das metodologias a serem utilizadas para as lutas e artes marciais ficando a cargo do professor a escolha da forma de abordagem com os alunos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 DISCUSSÃO

 

Após revisar os aspectos legais da inclusão das lutas e artes marciais no ambiente escolar, percebe-se que existe uma discussão muito favorável ao uso das lutas e artes marciais por parte dos documentos que incentivam a prática nas aulas de Educação Física e as classificam como um dos pilares a serem trabalhados nas escolas, acompanhada dos esportes, ginástica, jogos e brinquedos, e a dança. Esta determinação e incentivo não provêm apenas da boa vontade ou interesse de professores com conhecimento na área, é sim uma determinação das leis de diretrizes e bases e portanto estabelecido como área da Educação Física pelo Parâmetro Curricular Nacional que é o principal documento de orientação para a construção do currículo na escola, nele as lutas estão presentes assumindo uma posição de grande importância para o desenvolvimento motor, cognitivo e social.

Apesar dessas ações favoráveis ao uso das lutas e artes marciais nas aulas regulares de Educação Física, os documentos que referenciam a educação nos estados do Brasil tem visões diferentes. Enquanto o estado de São Paulo e Paraná descreve com mais informações os objetivos de se utilizar as lutas e artes marciais nas escolas, em Santa Catarina não há menção do tema lutas e artes marciais nas referências curriculares.

A grande maioria dos artigos que discutem as lutas e artes marciais no contexto escolar identificam uma grande dificuldade de se encontrar professores que utilizem as lutas nas aulas de Educação Física. Existem algumas explicações encontradas para que se explique esta dificuldade em se encontrar a modalidade nas escolas de forma regular nas aulas de Educação Física, em parte porque os professores em geral não se sentem aptos em ministrar o conteúdo por acreditarem que as lutas devem ser ensinadas por especialistas, entretanto ficou claro ao ler os artigos que este temor não tem base quando nos deparamos com os reais motivos que é a compreensão dos jogos de luta, controle motor, interação social, a descoberta dos limites e cuidados com o próximo entre muitas outras possibilidades que podem ser utilizadas nas aulas.

Por fim, podemos concluir que o currículo das lutas no Ensino Superior necessita ser revisado e repensado para dar ênfase a parte pedagógica, as possibilidades de jogos com as crianças e jovens, as relações sociais que se formam a partir das aulas e discussões filosóficas que fazem parte de forma tão importante nas artes marciais. Foram relatados que os cursos superiores relacionados estão preocupados com os gestos técnicos, e com a biomecânica dos movimentos, entretanto biomecânica é uma disciplina específica destes cursos e a intensão da deveria privilegiar as possibilidades de melhor inserção e quais os principais objetivos e metas a serem alcançados ao se utilizar as lutas e artes marciais na escola.

Foram constatados no ambiente escolar que dentre as dificuldades diversas para o uso das lutas como um dos temas eixo nas aulas de Educação Física, as principais seriam a falta de locais apropriados com tatames, falta de materiais como os próprios uniformes para a prática, melhor apoio do estado com o tema faltando cursos de aprofundamento teórico prático para os professores, reuniões com os pais explicitando os benefícios da prática das lutas e artes marciais nas escolas como meio formador do indivíduo como um todo, seja fisicamente ou socialmente através da cultura e filosofia das artes marciais. Uma parcela de dificuldade apresentada  ao se inserir definitivamente as artes marciais nas escolas é o medo de gerar violência através da prática, mostrando um completo despreparo e falta de informação a respeito das lutas e artes marciais, uma vez que a filosofia inerente ao tema prega a não violência para beneficio pessoal sobre questões que não sejam a defesa de si mesmo ou de uma vida, mostrando caráter e preocupação com o próximo. A possibilidade de violência se tornará mínima se nas escolas as lutas e artes marciais forem ensinadas com os objetivos básicos da Educação Física que são os conhecimentos sobre a cultura corporal, cognitivos e motor, social e afetivo como forma de socializar e educar o controle de si mesmo fazendo com que o aluno se importe com o próximo.

De fato as alegações das dificuldades dos professores parece ser pertinente, entretanto existe uma carência de esclarecimentos e reavaliações de pontos de vista. Concordo com a afirmação de que a luta é uma manifestação da cultura de movimento que não pode ser negada, e seu ensino na escola não exige que o professor seja treinador ou professor de artes marciais, já que não se pretende formar atletas/lutadores, mas apresentar as manifestações da cultura do movimento inerente as lutas e artes marciais para que os alunos possam se apropriar desta importante experiência (SO; BETTI, 2009).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5 CONCLUSÃO

 

Neste estudo foi observado a respeito da inserção e utilização das lutas e artes marciais no ambiente escolar, sob o aspecto de disciplina pertinente da Educação Física, após verificar que a legislação é favorável para tal, ficando claro que as lutas e artes marciais devem fazer parte das modalidades de desenvolvimento de cultura corporal no currículo escolar. Tendo em vista que o Parâmetro Curricular Nacional reconhece e estabelece as lutas como um dos pilares da Educação Física escolar.

Entretanto nem todos os documentos Estaduais respeitam esta determinação, por exemplo: o Parâmetro Curricular de Santa Catarina nem cita o referido tema, sendo este um dos motivos pela não utilização frequente nas aulas de Educação Física, porém outros estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul respeitam as leis de diretrizes e base e o Parâmetro Curricular Nacional e descrevem as lutas nos documentos estaduais de referência curricular.

As lutas e artes marciais são ricas em filosofia, entretanto não está previsto nos documentos e leis que a filosofia das lutas e artes marciais estejam presentes nas aulas de educação Física. Este é um tema importante tendo em vista que censo comum toda a parte filosófica das lutas são de grande importância na educação que é parte intrínseca das artes marciais orientais. A filosofia das artes marciais está presente quando se fala em respeitar o próximo, conhecer os limites e resguardar a saúde do colega durante as aulas, refletir sobre suas ações podem de maneira simples fazer parte de um programa mais elaborado para esta valorosa experimentação e inserção dos alunos as lutas e artes marciais.

Após as leituras dos artigos ficou claro a importância de uma metodologia que favoreça os professores que não dominam muito bem, criando de forma lúdica, aulas que tenham em seu objetivo os referenciais curriculares. Podemos perceber que se a metodologia estivesse de alguma forma organizada em cursos específicos ou se os cursos de Educação Física de forma Homogênea privilegiasse em seu currículo acadêmico uma atenção voltada a uma formação mínima que garantisse as aulas de lutas e artes marciais nas escolas.

O temor que as lutas possam de alguma forma estimular a violência contraria a filosofia das artes marciais. E em nenhum artigo a violência se fez estimulada, o que ocorreu foi o respeito e o cuidado com o próximo.

Estudos mais específicos poderão enriquecer em muito as lutas nas aulas de educação Física, estudos de comportamento dos alunos durante a intervenção com o tema, estudos para a criação de metodologias lúdicas específicas a esta área se fazem necessárias. Apesar de pouca literatura a respeito concluo que as lutas precisam fazer parte regular das aulas de educação física tendo em vista todas as possibilidades descritas nos documentos e leis que abarcam o conteúdo a ser ministrado nas aulas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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