11/08/2025

Machismo Estrutural e o Agosto Lilás

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

Chegamos no mês de agosto e ele é representado como agosto lilás, cor escolhida para simbolizar a luta pelo fim da violência contra as mulheres.

Observe que não se trata de violência com as mulheres e sim contra, porque é uma expressão mais enfática que descreve a natureza da violência, que está direcionada à mulher baseada em gênero.

Interessante pontuar que a violência contra a mulher acontece nos vieses psicológico, físico, sexual, patrimonial e moral, embora o físico seja mais observável e fácil de se prestar queixas contra o agressor, mas conforme pesquisas realizadas pelo gov.br, 70% das vítimas de feminicídios nunca denunciaram agressões.

Trata-se de uma triste estatística, porque basta uma denuncia para reduzir este problema social que está enraizado culturalmente nesta sociedade ainda machista.

É como uma erva daninha em um jardim. Caso o jardineiro seja displicente ela com certeza destruirá suas flores e assim é o agressor, se ele tiver a certeza de sua impunidade, nada o intimidará a uma nova agressão ou até mesmo ao ápice da sua barbárie que é o feminicídio.

A violência não para com o silêncio da vítima. Quem agrediu uma vez, pode agredir outras mais, sendo assim, ela não pode ser banalizada ou vista como apenas um momento de raiva ou certo destempero, tornando tal ação como algo aceitável, subtraindo toda a sua gravidade, afinal de contas, foi só um empurrão, foi só um soco, foi só um xingamento, foi só uma vez....

A denúncia é uma reação, e a falta desta denúncia afeta não apenas a vítima de forma direta, mas seus familiares e também uma sociedade que vive refém de homens travestidos de bons cidadãos.

É triste perceber que a violência contra a mulher tem sempre um motivo: “ela me provocou”, “ela me fez ficar com ciúmes”, “ela não fez o que eu mandei”, “ela não fez as obrigações da casa”, “ela não quis fazer sexo comigo” dentre outros motivos injustificáveis[1].

Uma forma de policiar mais e melhor a violência contra a mulher seria por meio de uma alteração na Lei 11.340 de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, e esta alteração seria em constituir um objeto de notificação compulsória abrangendo todo território nacional para casos que houvessem indícios ou confirmação de violência contra mulher atendidos em serviços de saúde públicos e privados e esta mesma notificação perpassaria obrigatoriamente pela autoridade policial em um prazo de 24h.

Infelizmente este projeto foi vetado pelo Governo Federal na gestão de 2019 e em 2024 voltou a tramitar como Projeto Lei PL 3893/2024[2].

É sabido que este projeto sendo sancionado pelo atual Governo não erradicará a violência contra a mulher e tampouco o feminicídio, mas será visto como a mão do jardineiro a arrancar as ervas daninhas antes mesmo que elas sufoquem o jardim.

Assim sendo, que a educação possa criar o máximo de jardineiros para que este universo feminino floreie porque o mundo precisa de mais amor e que resiliência não seja confundida com humilhação e subserviência.

 

[1] O estupro também acontece com pessoas que se relacionam, sejam elas casadas, união estável ou namorados. O sexo é visto para muitos homens como uma obrigação da mulher. Cabe a ela satisfazer suas vontades, querendo ou não.

[2] https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2462055

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