19/05/2020

Memórias Construídas

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            A mentira sempre acompanhou o ser humano, mas o que vem a ser mentira?

            Para Derrida, em seu artigo intitulado História da mentira: prolegômenos[1], publicado pelo Estud. av. 1996, a mentira só é caracterizada mentira quando o sujeito que disse tal informação, a fez de propósito, o que é difícil provar se foi ou não feito intencionalmente, assim sendo, o autor define a palavra mentira como um ato intencional .

            Interessante perceber nas falas do autor que o mentir é sempre dirigido a outro, pois você não consegue mentir para você mesmo.

            Derrida faz uma citação de Santo Agostinho ao afirmar que "não há mentira, apesar do que se diz, sem intenção, desejo ou vontade de enganar". Tal fala é complementada por Matias et al, no artigo intitulado Mentira: Aspectos Sociais e Neurobiológicos[2], publicado pela Psic.: Teor. e Pesq. em 2015, ao afirmarem que o ato de mentir é um processo psicológico na tentativa de um indivíduo convencer o outro a aceitar aquilo que ele sabe que é falso. É um ato intencional em benefício próprio ou de outros, com o intuito de maximizar um ganho ou evitar uma perda.

            Nietzsche em seu livro Humano, demasiado humano: Un libro para espíritus libres, publicado pela Mateos S. A. em 1993, fala que mentir exige uma carga exagerada, pois para mantê-la, é preciso inventar outras vinte mentiras.

            Para Harari em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, esclarece que mentira difere de realidade imaginada, já que esta ao contrário da mentira, é algo que todos acreditam, sendo assim, ela exerce influência no mundo enquanto a crença for partilhada e persistente.

            O problema é quando a mentira passa a ser uma verdade, já que Harari em seu livro 21 Lições para o Século 21 publicado pela Companhia das Letras em 2018, elucida que uma mentira quando dita apenas uma vez, continuará sendo sempre mentira, mas se a mesma for dita mil vezes, tornar-se-á verdade.

            O interessante nas falas do autor é a sua afirmação ao dizer que se você quer poder, em algum momento terá de disseminar mentiras, e é exatamente isso que está acontecendo. Nossos políticos são grandes disseminadores de mentiras e para se manterem no poder, usam a máquina do Estado para distribuir fake news estratégia.

            A mentira para alguns se torna tão natural e é vista por Vasconcelos et al no seu artigo Understanding lies based on evolutionary psychology: a critical review[3], como uma ação pró-social  e o ator de mentir está intrinsecamente relacionado com às habilidades de comunicação, habilidades estas encontradas em muitos políticos.

            Algumas vezes a mentira é tão frequente na vida da pessoa que ela perde a própria identidade, pois a mentira passa  a ser sua parceira e ele começa a questionar se o que disse é realmente uma "falsa verdade".

            Este ato intencional as vezes só mostra o quanto o indivíduo que mentiu é carente, e por isso mente para se sentir amado, o que é corroborado por Mario Quintana, ao afirmar que " disfarce é a minha vida!", ou seja, alguns se envolvem tanto na mentira que começa a acreditar que é uma verdade.

            Como visto acima, a mentira sempre nos acompanhou, mas as mais aceitas são as mentiras sociais, que para Alves et al no artigo intitulado As várias Faces da Mentira[4], é denominada de mentira branca, que leva o ser humano a adaptar-se a sociedade.

            Os autores ainda citam outros tipos de mentiras como as denominadas esfarrapadas e compensatórias, sendo que a primeira pode ser explicada quando você diz que vai a um lugar e realmente foi em outro e a segunda, é a mentira mais comum, pois a pessoa finge um status que não lhe corresponde.

            Os autores supracitados complementam que a mentira tem o intuito de tirar vantagens e/ou se sentir bem diante dos outros, e que todos nós já mentimos em algum momento apesar de negarmos.

            Assim sendo, que a nossa educação possa nos direcionar para a verdade, negando as mentiras que nos são impostas pelo sistema e fazendo nossos educandos mais críticos para perceberem que verdade e ciência andam juntas, como dizia Alan Kardec, "é melhor rejeitar dez verdades do que aceitar uma mentira."

 

[1] Para mais informações vide DERRIDA, Jacques. História da mentira: prolegômenos. Estud. av.,  São Paulo ,  v. 10, n. 27, p. 7-39,  Aug.  1996 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000200002&lng=en&nrm=iso>. access on  17  May  2020.  https://doi.org/10.1590/S0103-40141996000200002.

[2] Para mais informações vide Matias,  Danilo Wágner de Souza. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Available from <https://www.scielo.br/pdf/ptp/v31n3/1806-3446-ptp-31-03-00397.pdf>. access on  17  May  2020.

[3] Para mais informações vide VASCONCELLOS, Silvio José Lemos et al . Understanding lies based on evolutionary psychology: a critical review. Temas psicol.,  Ribeirão Preto ,  v. 27, n. 1, p. 141-153, mar.  2019 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2019000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  maio  2020.  http://dx.doi.org/10.9788/TP2019.1-11.

[4] Para mais informações vide ALVES et al. As Várias Faces dDa Mentira: A Verdade Esclarecida? http://revistaconexao.aems.edu.br/wp-content/plugins/download-attachments/includes/download.php?id=1313

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