Modelo de organização – Adocracia
Jorge Barros
Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira
A adocracia coloca a ênfase na simplificação dos processos e na adaptação da organização a cada situação particular e carateriza as estruturas concebidas para durarem pouco. No entanto, também se podem caraterizar por não apresentarem uma estrutura definida, verificando-se uma adaptação constante do seu desenho de acordo com as necessidades de resposta aos problemas que surgem.
Este modelo de organização é muitas vezes atribuído a uma organização jovem, uma vez que se trata da forma menos estável de estrutura. É difícil manter por muito tempo uma estrutura neste estado, impedir que os comportamentos se formalizem, assegurar um fluxo regular de projetos realmente inovadores. Podemos igualmente referir que a adocracia pode ser percecionada como qualquer forma de organização que corta com todos os processos caraterísticos das organizações burocráticas relacionados com a pesquisa e análise de novas oportunidades, resolução de problemas e obtenção de resultados. Desta forma, pode aplicar-se a qualquer organização que rompa com as tradicionais normas burocráticas, geralmente dominantes em empresas na sua fase de maturidade e tem como objetivo a deteção de novas oportunidades, a resolução de problemas e a obtenção de resultados através do incentivo à criatividade individual enquanto caminho para a renovação organizacional.
Além deste tipo de estrutura estar associada à juventude da organização, normalmente, esta também está presente nas primeiras fases de desenvolvimento estrutural. Todos os tipos de forças estimulam a adocracia a burocratizar-se à medida que vai envelhecendo.
A adocracia é uma estrutura orgânica pouco formalizada em que sobressai a força que a puxa para a colaboração, constituindo-se como um mecanismo de controlo e do ajustamento mútuo. Possui uma grande diferenciação horizontal porque é apoiada por profissionais com elevados níveis de conhecimentos. Por outro lado, a diferenciação vertical é baixa porque os diferentes níveis de administração são mínimos, uma vez que limitam à adaptabilidade da organização, sendo também limitada a necessidade de supervisão. Possui, ainda, uma baixa formalização, descentralização e grande flexibilidade.
Este tipo de estrutura encontra-se construída para situações que implicam estratégias de alto risco, trabalho e tecnologia não estandardizáveis, próprias de ambientes simultaneamente complexos e dinâmicos.
Trata-se, na verdade, de um modelo usual em escritórios de engenharia, de consultoria e de marketing e publicidade onde o pessoal trabalha em grupo. Normalmente o nível de habilitações é elevado. É sobretudo adaptada a trabalhos por encomenda com caráter único.
De todas as estruturas, esta é aquela que é mais capaz de promover e facilitar a inovação e possui como caraterísticas principais, as seguintes: estrutura organizacional marcadamente orgânica; pouca formalização dos procedimentos e comportamentos; especialização do trabalho assente na formação; coordenação e controlo efetuado pelas próprias equipas de trabalho; baixo grau de estandardização dos processos; elevado grau de descentralização; alguma indefinição de papéis; e alguma dificuldade na comunicação formal.
A adocracia é das estruturas existentes a mais complexa, contudo, não é muito estruturada. É a mais recente e é a que que se conhece menos. Esta configuração das organizações ao nível dos mecanismos de decisão pode ser dividida em dois tipos: a adocracia operacional e a adocracia administrativa. A primeira inova e resolve os problemas diretamente em nome dos seus clientes, enquanto a adocracia administrativa leva a cabo os seus projetos para servir-se a si própria, separando a componente administrativa do seu centro operacional, em que, por sua vez, este último também se encontra separado do resto da organização. Esta situação visa estruturar a componente administrativa como uma adocracia. A separação a que nos referimos pode ser realizada das seguintes formas: o centro operacional pode ser estabelecido como uma entidade separada da organização. Em segundo lugar, o centro operacional pode ser completamente suprimido, e as suas atividades subcontratadas por outras organizações. Uma terceira forma de separação consiste na automatização do centro operacional. Uma vez o centro operacional automatizado, ele é capaz de se gerir a si próprio, não tendo quase necessidade de supervisão direta ou de outros tipos de controlo por parte da componente administrativa.
Esta estrutura apresenta como vantagens o facto de permitir uma rápida adaptação da organização à mudança e possibilitar inovações sofisticadas, assim como é a única configuração para os que acreditam em mais democracia com menos burocracia.
Já as desvantagens prendem-se, essencialmente, com as reações humanas à ambiguidade, ou seja, muitas pessoas não gostam da rigidez da estrutura e da concentração de poder, principalmente as mais criativas, o que pode trazer problemas e conflitos internos no seio da organização, tornando-a menos eficaz e eficiente.