Momento Histórico
Dênio Mágno da Cunha*
Nestes tempos tenho ouvido que estamos vivendo um momento histórico. Por trás dessa afirmativa há o pressuposto que existem momentos e não momentos históricos. Isto é, a história acontece em alguns momentos, em outros não.
Ouso discordar por considerar que todos os momentos são históricos. Posso até considerar se a afirmativa fizer diferença entre um momento e outro, isto é, um momento histórico pode ser mais significativo que outro. Mas em tese, quando dizem assim é porque consideram que outros momentos não são históricos.
Penso no aluno que está vivendo o importante momento histórico de sua formatura no ensino superior. Antes, ele entrou na faculdade e antes, muito antes, havia começado a sua educação no ensino primário. Momentos também históricos. E aquele dia em que apresentou seu primeiro trabalho, frente a toda a turma; e aquele outro em que chegou atrasado e perdeu a aula; e aquele em que levou um presente para a professora; e aquele outro...
Desde o primeiro dia em que pisou na escola, o aluno começou a construir a sua história. A partir daí foi somando dia-a-dia momentos que fizeram a sua história acadêmica. Por isso o documento que comprova a sua evolução se chama histórico escolar. Até ai, “morreu neves”. Estou sendo óbvio e chamando a atenção para algo comum. Mas não é nesse ponto que quero chegar.
Quero chegar à valorização necessária dos “pequenos momentos históricos” que são aqueles que garantem os grandes. Nossos alunos não estão acostumados a compreenderem e valorizarem estes momentos cotidianos. O professor, por força da profissão e da preparação da aula, provavelmente perceba mais essa dimensão ao buscar a evolução de seus objetivos de aprendizagem. Mas o aluno? Penso que não.
Um exemplo que me incomoda é quando chego à sala de aula e sou recebido com a seguinte pergunta: “Professor, o senhor vai liberar a gente mais cedo hoje?” Em alguns casos, encontro o aluno apenas uma vez por semana e nesse exato momento ele pergunta se pode ir embora mais cedo? Como assim? É um descaso consigo e comigo, penso. Mas é um descaso ainda maior com o futuro do próprio sujeito da história. O aluno não se vê como sujeito de sua história, será?
Felizmente, por força da minha observação, aprendi a fazer “cara de paisagem” que evita uma resposta contundente e seca. Mas isso é de menor importância porque não aguça ou não chama a atenção para o desperdício do momento.
Em algumas turmas eu inicio os trabalhos mostrando o tempo passado até que pudéssemos nos encontrar naquela hora, naquele lugar; chamo a atenção para a relevância desse encontro e do quanto isso é mágico e histórico. Parece surtir efeito.
Até a próxima impressão.
* Professor: MBA Carta Consulta. Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba.