Muito Barulho por Nada
Dênio Mágno da Cunha*
Essa mania de gostar de História e de ficar curiosamente buscando a origem das coisas me levou a procurar quem foi que inventou as provas.
Fui encontra-lo com os seguintes dados biográficos de nascimento: batizado em 26 de abril de 1564 na Igreja da Santíssima Trindade, em Stratford-upon-Avon, cidade do condado de Warwickshire, no centro da Inglaterra.
Chegando a esse Senhor bem humorado e lendo a sua peça denominada “Much Ado About Nothing” descobri a razão de alguns fenômenos escolares, presentes em dia de prova, que passo a relatar a seguir:
1. As perguntas inevitáveis. Obedecendo a um roteiro os alunos devem fazer todas as seguintes perguntas sobre a prova, para bem caracterizar o momento.
- pode ser feita lápis?; / - pode ser em dupla? / - é com consulta? / - pode entregar amanhã? / - pode deixar a lápis? / - é pra marcar o gabarito? – pode ser a lápis o gabarito?
2. a cola: Obedecendo ao segundo ato, o aluno deve assumir duas posições e se possível alterar a sua posição geográfica rotineira. Alunos que estudam, terão suas proximidades disputadas; alguns ficarão olhando para o alto, esperando que a resposta às questões venham do Alto. E sobretudo, deverão ficar olhando para o professor, esperando uma distração para poderem perguntar algo para seu colega – de trás, da frente ou dos lados.
Recentemente entreguei uma prova a uma aluna que colou da outra o nome que iria ser colocado no cabeçalho. Estava insegura quanto ao próprio nome. Parece exagero, mas aconteceu.
3. a solenidade. O dia da prova é revestido de uma falsa solenidade. Tem alunos que veem a aula especialmente para esse dia. Tem aluno que vem às aulas todos os dias e faltam justamente nesta hora.
4. a ritualização do mito. Professores e alunos elevam a prova ao altar do máximo e único real instrumento de avaliação do conhecimento: “Habemus Prova”; “Habemus Prova”.
De todos estes, o que foi mais interessante descobrir foi o fenômeno da desconfiança, que é bem característico do inventor. O professor desconfia do aluno, e por isso vigia para que ele não avance na ética da individualidade avaliativa; o aluno desconfia que o professor é o caçador que está atrás de pegar a caça. Assim um desconfia da intenção do outro e a farsa se instala.
Desta forma como na peça, “Much Ado About Nothing” cria-se uma situação falsa, em cima de pressupostos falsos. Nem todo aluno é antiético; nem todo professor é caçador. Pois vejam: A quem interessam as provas, exercícios, atividades? Ao aluno e ao professor. Instrumentos que são de apoio ao aprendizado, no caminho de se tornarem (ambos) pessoas mais sábias. Então, porque a desconfiança? Somente pelo prazer da teatralização do processo de conhecimento.
Nesta farsa, todos cumprem bem o seu papel para que a peça continue. Como numa peça de teatro, quando termina o espetáculo todos voltam ao normal e a vida continua.
Essa peça trás prejuízos incomensuráveis para campos diversos da aprendizagem, seria bom atuarmos – principalmente nós, professores – no sentido de desmascará-la. Fazendo como em “Much Ado About Nothing”, que tudo seja “muito barulho por nada” e transparente no final. Precisamos mesmo é fazer pouco barulho e nos concentrarmos naquilo que realmente importa: a transformação de alunos em aprendizes/estudiosos/pesquisadores autônomos dos temas de seu interesse e professores em verdadeiros artesãos/mestres/orientadores do conhecimento.
Agora, vai dizer isso para a burocracia do Ministério da Educação e Cultura, que vive e sobrevive da farsa, num ambiente de desconfiança histórico e medieval. Como diz o Cortella no final de suas colunas na rádio CBN: É tempo para o conhecimento. Que seja urgente!
* Professor: MBA Carta Consulta. Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba.