12/07/2018

O Bom Professor Universitário Na Percepção de Acadêmicos Concluintes da Licenciatura Em Educação Física

O BOM PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NA PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS CONCLUINTES DA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

 

Hugo Norberto Krug [1]

RESUMO

O objetivo do estudo foi analisar as percepções de acadêmicos concluintes de um curso de Licenciatura em Educação Física (EF), de uma universidade pública, de uma cidade da região sul do Brasil, sobre o bom professor universitário. Caracterizamos a pesquisa como qualitativa descritiva do tipo estudo de caso. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário. A interpretação das informações coletadas foi realizada por meio da análise de conteúdo. Participaram vinte acadêmicos concluintes do referido curso e cidade. Concluímos que, ‘coletivamente’ foram percebidas pelos acadêmicos estudados, uma ‘boa quantidade e diversidade’ (dezoito) de características do ‘bom professor’ universitário de EF. Também concluímos que, as ‘disposições (arranjo das características)’ ‘mais valoradas’, pelos acadêmicos estudados, foram às relacionadas ao ‘tato pedagógico’, ao ‘conhecimento’ e à ‘cultura profissional’, e, as ‘menos valoradas’, foram às relacionadas ao ‘compromisso social’ e ao ‘trabalho em equipe’.

Palavras-chave: Educação Física. Docência Universitária. Bom Professor.     

1- AS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

De acordo com Ferreira e Krug (2001b, p.75),

[o] mundo atual caracteriza-se pela velocidade das mudanças e pelo progresso, derivado das inúmeras descobertas no campo científico o que ocasiona um avanço tecnológico. Dentro des[s]e contexto, os (docentes universitários) têm a incumbência da capacitação de recursos humanos para a área da[e]ducação, pois é ela a base do desenvolvimento da sociedade (inserção nossa).

Já, Schwartz e Bittencourt (2012, p.1) destacam que, em tempos recentes, “[...] a universidade como agência formadora de professores está sendo questionada”, isto porque, “[a] qualidade da educação brasileira tem sido evidenciada em inúmeras pesquisas como bastante precária [...]”. As autoras salientam que, “[e]sse fato está diretamente relacionado ao aparente despreparo dos professores para promover um ensino de qualidade”.

Diante desse cenário, consideramos necessário destacarmos a importância do docente universitário, pois esse contribui na formação de professores que atuarão na educação básica e que poderão promover uma educação de qualidade em nossa sociedade, atendendo assim, as necessidades da população.

Convém lembrar que, segundo Pimenta (2002), a docência universitária, refere-se à atividade exercida pelo docente na instituição de Ensino Superior.

Nesse sentido, Pimenta e Anastasiou (2008) ressaltam que, investigações sobre os professores podem colaborar para a superação da desvalorização da profissão docente e identificar caminhos para a melhoria da formação e atuação dos professores.

Entretanto, podemos afirmar que “estudar o professor não é algo novo, pois muitos pesquisadores já o fizeram” (PEREIRA; GARCIA, 1996 apud FERREIRA; KRUG, 2001b, p.75). Assim, destacamos que, nesta investigação, interessa estudar o ‘bom professor’ (grifo nosso a partir deste momento), pois, conforme Sales (2009 apud OLIVEIRA, 2016, p.409), “[...] a qualidade do ensino está fortemente relacionada ao ‘bom professor’”. Já, Cunha (2010, p.43) afirma que, “[a] necessidade de encontrar o modelo ideal do ‘bom professor’ justifica-se na perspectiva de melhoramento do ensino e da educação”.

Dessa maneira, considerando o amplo cenário da docência universitária, focamos o interesse investigativo na área da Educação Física (EF), isto é, nos acadêmicos, futuros professores, pois, acreditamos que estudar o que esses pensam sobre o ‘bom professor’ universitário, pode apontar dimensões importantes a serem consideradas para a melhoria da qualidade da docência universitária e, consequentemente, para a melhoria da qualidade da educação básica.

Portanto, a partir dessas premissas descritas anteriormente, formulamos a seguinte questão problemática norteadora do estudo: quais são as percepções de acadêmicos concluintes de um curso de Licenciatura em EF, de uma universidade pública, de uma cidade da região sul do Brasil, sobre o ‘bom professor’ universitário? Então, frente a essa indagação, delineamos o objetivo geral como sendo: analisar as percepções de acadêmicos concluintes de um curso de Licenciatura em EF, de uma universidade pública, de uma cidade da região sul do Brasil, sobre o ‘bom professor’ universitário.

Justificamos a realização deste estudo, considerando o dito por Silveira e Leon (2018, p.247) de que, “[...], conhecer os aspectos considerados fundamentais pelos estudantes na prática de um ‘bom professor’ ao ministrar uma boa aula é importante para auxiliar no planejamento de ações que contribuam para um ensino de melhor qualidade”.

2- OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterizamos esta investigação como uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. Segundo Lüdke e André (1988, p.13), uma pesquisa qualitativa “[...] envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”. Já, no estudo de caso, ainda para Lüdke e André (1988, p.17), “[o] interesse, [...] incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações”. As autoras destacam que, “[q]uando queremos estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso”.

Assim, neste estudo, o caso investigado referiu-se a um determinado curso de Licenciatura em EF, de uma universidade pública, da região sul do Brasil.

Nesse sentido, a justificativa da escolha da forma de pesquisa qualitativa e estudo de caso foi devido à possibilidade de se analisar um ambiente em particular, onde se levou em conta o contexto social e sua complexidade para compreender e retratar uma realidade em particular e um fenômeno em especial, ‘as percepções de acadêmicos de EF, sobre o ‘bom professor’ universitário’.

O instrumento de pesquisa utilizado para coletar as informações foi um questionário contendo uma única pergunta, na qual foi usada como estratégia a Técnica de Complemento, que, segundo Vergara (2010, p.203), “é um termo que designa instrumentos para a obtenção de dados por meio dos quais o pesquisador apresenta ao respondente um estímulo para ser preenchido com palavras”. Triviños (1987) destaca que, o questionário, mesmo sendo de emprego usual no trabalho positivista, também pode ser usado na pesquisa qualitativa.

O estímulo repassado, em forma de texto, aos acadêmicos estudados foi destacado a seguir. Durante sua trajetória de formação na graduação você teve oportunidade de se relacionar com vários professores. Relembre o processo de ensino destes professores e pense naqueles que você considera os melhores e descreva: as características do ‘bom professor’ universitários de Educação Física são... .

As informações obtidas foram interpretadas pela análise de conteúdo que, de acordo com Turato (2003), possui os seguintes procedimentos básicos: a leitura flutuante, o agrupamento de respostas e a categorização. Para Bardin (2011, p.147),

[a] categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por agrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos.

Participaram do estudo vinte acadêmicos concluintes (8º semestre) de um curso de Licenciatura em EF, de uma universidade pública, da região sul do Brasil. Optamos por acadêmicos do 8º semestre do referido curso pelo fato de que os mesmos já teriam uma noção completa do curso e da atuação da totalidade, ou quase, dos professores universitários de EF, podendo assim verbalizar sobre as características do ‘bom professor’ universitário de EF. Nesse sentido, a escolha dos participantes aconteceu de forma intencional, em que a disponibilidade dos mesmos o fator determinante para serem colaboradores da pesquisa. Nesse direcionamento de decisão, Molina Neto (2004) coloca que, esse tipo de participação influencia positivamente no volume e credibilidade de informações disponibilizadas pelos colaboradores.

Quanto aos aspectos éticos vinculados às pesquisas científicas, destacamos que todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e suas identidades foram preservadas.

3- OS RESULTADOS E AS DISCUSSÕES

Os resultados e as discussões deste estudo foram orientados e explicitados pelo objetivo geral.

Nesse sentido, a seguir, apresentamos o quadro 1, onde é possível observarmos as percepções dos acadêmicos estudados, sobre as características do ‘bom professor’ universitário de EF.

QUADRO 1 - As características do ‘bom professor’ universitário de EF, na percepção de acadêmicos concluintes de um curso de Licenciatura em EF, de uma universidade pública, da região sul do Brasil.

Características do ‘bom professor’ universitário de EF

Citações

1-Domina os conhecimentos da sua disciplina**

20

2-Tem uma boa didática*

18

3-Tem uma boa relação com os alunos*

17

4-Gosta do que faz, ser professor****

15

5-Tem experiência profissional**

14

6-Planeja a sua disciplina****

9

7-Respeita às diferenças dos alunos*

8

8-Promove o senso crítico e reflexivo dos alunos***

8

9-Valoriza a sua profissão*****

5

10-Procura o aperfeiçoamento profissional constantemente****

4

11-É atualizado**

2

12-Relaciona o conteúdo de sua disciplina com o contexto social***

2

13-É pesquisador**

2

14-Promove a formação integral do aluno***

1

15-Tem bagagem cultural**

1

16-Tem boa relação com os pares*****

1

17-Troca experiências com os pares*****

1

18-Trabalha coletivamente*****

1

Legenda: *Disposição ao tato pedagógico; **Disposição ao conhecimento; ***Disposição ao compromisso social; ****Disposição à cultura profissional; *****Disposição ao trabalho em equipe.

Fonte: Elaborado pelo autor.

 

No quadro 1, podemos visualizar a ‘identificação de um rol de dezoito características diferentes do bom professor de EF’, na percepção dos acadêmicos estudados. Foram as seguintes:

1- ‘Dominar os conhecimentos da sua disciplina’** (vinte citações). Sobre essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, nos referimos à Nóvoa (2011) que diz que, é fundamental que o professor detenha o conhecimento, pois ninguém ensina no vazio e é por meio do conhecimento e do objeto do estudo que se ensina. Também Cunha (1992) afirma que, para o professor trabalhar bem a matéria de ensino tem que ter profundo conhecimento do que se propõe a ensinar. Assim, para Martins e Rausch (2012, p.253), o ‘bom professor’ universitário deve “ter domínio elevado do conteúdo no qual leciona”. Nesse sentido, Cunha (1992, p.69-70) destaca que, “[...] dificilmente um aluno apontaria um professor como BOM ou MELHOR [...], sem que tenha as condições básicas de conhecimento de sua matéria de ensino [...]”;

2- ‘Tem uma boa didática’* (dezoito citações). Quanto a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, pode ser embasada em Matos (1994), que ressalta que, o professor deve possuir conhecimento pedagógico do conteúdo para poder realizar um trabalho docente eficaz. Também Ferreira e Krug (2001a) destacam que, o ‘bom professor’ deve possuir conhecimento pedagógico do conteúdo, ou seja, além dele saber o conteúdo a ser desenvolvido, torna-se necessário também saber como transmitir o conhecimento aos alunos;

3- ‘Tem uma boa relação com os alunos’* (dezessete citações). Relativamente a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, citamos Nóvoa (2011) que salienta que, a necessidade do professor estar capacitado para se relacionar e se comunicar com os alunos, pois sem estas habilidades não se cumpre o ato de educar. Já, Darido e Rangel (2005) afirmam que, o sucesso e o insucesso do processo ensino-aprendizagem depende da interação professor-aluno em sua prática pedagógica, sendo que a boa relação está associada ao sucesso e a má relação ao insucesso;

4- ‘Gosta do que faz, ser professor’**** (quinze citações). A respeito dessa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, nos referimos a Feil (1995) que afirma que, o gostar do que faz é fator determinante para a existência de eficiência no trabalho. Já, Luckesi (1994) diz que, o professor precisa gostar do que faz, pois, antes de tudo, é preciso desejar ensinar, é preciso querer ensinar. Segundo Ferreira e Krug (2001b), o gosto pelo que faz por parte do professor, é muito importante porque isto torna a aula agradável, que se traduz em um clima positivo de aula o que incentiva a dedicação do aluno;

5- ‘Tem experiência profissional’** (quatorze citações). Em relação a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, nos embasamos em Cunha (2005) que defende a proposta do docente universitário e a compreensão que, diferente de outros profissionais, estes, geralmente, têm como base determinada profissão vinculada ao mercado de trabalho. Esta concepção sustenta a noção de que ‘quem sabe fazer, sabe ensinar’. Assim, segundo Martins e Rausch (2012, p.253), esta ideia vai ao encontro da recorrência “aos saberes do conhecimento prático” do professor;

6- ‘Planeja a sua disciplina’**** (nove citações). No que diz respeito a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, apontamos Canfield (1996, p.21) que salienta que, o planejamento “[...] é a pedra fundamental, a razão de ser de todo o trabalho pedagógico consciente. É o que orienta o professor na sua caminhada pedagógica em busca da aprendizagem de seus alunos”. Já, Libâneo (1994) diz que, o planejamento é uma tarefa que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos de uma organização e coordenação em face aos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. É também um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação;

7- ‘Respeito às diferenças dos alunos’* (oito citações). Essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, pode ser embasada em Martins e Rausch (2012) que destacam que, os professores precisam saber adequar o processo do ensino-aprendizagem à capacidade de cada aluno. Já, Marchesi (2008, p.63-64) diz que, os professores competentes “[...] são aqueles que projetam atividades com diferentes graus de dificuldades, nas quais podem trabalhar diferentes alunos; que oferecem uma ajuda específica àqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem”. Essas colocações vêm ao encontro de Cunha (1992) que lembra que, nem todo aluno aprende da mesma forma, fato que exige que o docente esteja atento às diferenças individuais de cada um;

8- ‘Promove o senso crítico e reflexivo dos alunos’*** (oito citações). Relacionada a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, mencionamos Pimenta e Anastasiou (2008) que dizem que, a missão docente universitária é contribuir para formar profissionais competentes, críticos e reflexivos, dotados de conhecimentos técnico-científicos, políticos e sociais adequados ao pleno exercício da profissão e da cidadania. Já, Silva et al. (2014, p.21) afirmam que, “[s]e, por um lado, emerge a necessidade de formar profissionais críticos, reflexivos e competentes, por outro destacam-se estratégias na transmissão de conhecimentos que fazem os discentes reproduzirem facilmente os conteúdos, apesar da forte concepção de que não é suficiente a abordagem e reprodução dos conteúdos para ser um bom docente e para preparar bons profissionais”;

9- ‘Valoriza a sua profissão’***** (cinco citações). Na direção dessa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, destacamos Gatti (2000) que afirma que, a valorização social de uma área profissional trás reflexos nas estruturas da carreira e nos salários a ela relativos. Já, Ramos e Spgolon (2005, p.202) ressaltam que, “a valorização profissional é de certo modo um incentivo, para qualquer profissional trabalhar com satisfação. Pesquisas mostram que profissionais satisfeitos apresentam resultados significativos e de qualidade, ao contrário, profissionais insatisfeitos não evoluem”;

10- ‘Procura o aperfeiçoamento profissional constantemente’**** (quatro citações). Relativamente a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, indicamos Garcia (1999) que destaca que, os professores são sujeitos que aprendem. Já, de acordo com Krug et al. (2015), estar sempre aprendendo é uma característica do ser professor de EF;

11- ‘É atualizado’** (duas citações). Essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, encontra sustentação em Silveira (1988) que afirma que, a atualização é um dos requisitos necessários para o exercício da docência. Já, Barros (1993) diz que, a sociedade exige serviços específicos e de alto nível na área da EF com acesso à conhecimentos recentes, pois essa desperta novas necessidades e exige serviços de qualidade, sendo necessário que os profissionais de EF dominem esses conhecimentos, portanto há uma necessidade permanente de atualização. Além disso, Martins e Rausch (2012, p.253-254) destacam que, “[n]a sociedade atual, o conhecimento se encontra além das Universidades. Se anteriormente era difundido e permanecia nas instituições de ensino, hoje, grande parte do conhecimento permeia os meios de comunicação interativos, a própria internet e os diversos outros dispositivos”. Assim, mergulhados nestas novas realidades, as autoras ressaltam que a necessidade de atualização dos professores para manter o saber docente;

12- ‘Relaciona o conteúdo de sua disciplina com o contexto social’*** (duas citações). No que se refere a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, citamos Freire (1996, p.76) que aponta que, “ensinar exige apreensão da realidade. Já, Krug et al. (2017, p.93) destacam que “saber compreender a realidade” é um dos saberes do ‘bom professor’ formador em EF;

13- ‘É pesquisador’** (duas citações). No direcionamento dessa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, observamos Vieira (2005) que declara que, a investigação é algo imperativo na responsabilidade moral de ser professor. Já, para Vasconcellos (1996, p.10), o docente universitário deve ter a capacidade “[...] do bom pesquisador, capaz de, através de estudos sistemáticos e de investigações empíricas, produzir o novo e induzir seu aluno a também criar”;

14- ‘Promove a formação integral do aluno’*** (uma citação). Essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, encontra apoio em Canfield (1996, p.30) que diz que, “[o] professor de Educação Física precisa ter consciência de seu papel, da sua importância no desenvolvimento do aluno, sendo este aluno visto como um ser em formação, e nós, professores, agentes auxiliadores neste processo”;

15- ‘Tem bagagem cultural’** (uma citação). Essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, identifica-se com o que diz Forquin (1993) de que, é incontestável que exista uma relação entre a educação e a cultura, tanto quando se contempla a educação como formação e a socialização do indivíduo, nas diversas instâncias sociais, quanto no momento em que ela fica restrita ao domínio escolar. Salienta ainda que, a educação se apropria de alguns elementos da cultura para formar a própria cultura;

16- ‘Tem uma boa relação com os pares’***** (uma citação). Essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, encontra suporte em Zabalza (2004, p.193) que coloca que, “[a]inda que aprender seja um processo interno do indivíduo (uma experiência subjetiva de aquisição e mudança), é também algo que não ocorre no vazio social, mas em um contexto de trocas. Aprendemos em um marco cultural, nas instituições [...], em relação às trocas feitas com os outros”;

17- ‘Troca experiências com os pares’***** (uma citação). Essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, vai ao encontro de Nóvoa (1992) que salienta que, a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, onde os professores podem (re)pensar a prática pedagógica; e,

18- ‘Trabalha coletivamente’***** (uma citação). Quanto a essa característica do ‘bom professor’ universitário de EF, nos reportamos a Moraes (1996) que destaca que, o professor sozinho não pode avançar significativamente, pois quanto mais o professor avança na sua profissão, mais necessita interagir com seus colegas, mas percebe o diálogo com os outros professores como uma forma de melhoria profissional. Ressalta que, o professor somente é capaz de avançar de forma significativa se sua progressão estiver associada ao esforço de progressão de um grupo como um todo e, ainda mais, da sociedade da qual ele é parte.

Assim, essas foram as características do ‘bom professor’ universitário de EF, nas percepções dos acadêmicos estudados.

Nesse direcionamento de constatação, lembramos que nossos achados estão em consonância com os estudos de Ferreira e Krug (2001b) e Krug e Krug (2008), pois esses encontraram resultados similares.

Para Ferreira e Krug (2001b), as características do ‘bom professor’ de EF, formador de professores (universitário), são as seguintes: 1) dedicado; 2) boa didática; 3) domínio do conteúdo; 4) amigo; 5) responsável; 6) acessível; 7) afetivo; 8) competente; 9) paciente; 10) gosta do que faz; e, mais outras trinta e quatro características.

Já, segundo Krug e Krug (2008), as características do ‘bom professor’ de EF da Educação Básica são as seguintes: 1) ter boa didática; 2) ter domínio do conteúdo; 3) ser respeitador; 4) ser criativo; 5) gosta do que faz; 6) ser educador; 7) ser planejador; 8) ser atualizado; 9) ser profissional; 10) ser orientador; 11) ser justo; 12) ser dinâmico; 13) ser incentivador; 14) ser exigente; 15) ser persistente; 16) ter cultura geral; 17) ser amigo; 18) ser comunicativo; 19) ser compreensivo; 20) ser interessado; 21) ser inteligente; 22) ser eficiente; 23) ser atencioso; 24) ser honesto; 25) ser objetivo; e, 26) ser consciente.

Ao realizarmos uma ‘análise geral’, sobre as características do ‘bom professor’ universitário de EF, nas percepções dos acadêmicos estudados, constatamos que, as mesmas estão situadas em cinco disposições do ‘bom professor’, referenciadas por Nóvoa (2009). Nesse sentido, consideramos importante abordarmos algumas explicações do referido autor.

De acordo com Nóvoa (2009), muitos pesquisadores definem o ‘bom professor’ através de listas intermináveis de competências, cuja enumeração, muitas vezes, se torna insuportável. Frente a essa problemática, esse autor, tenta sair, um pouco, desse rol, apresentando, de forma simples, algumas disposições que caracterizam o trabalho docente nas sociedades contemporâneas, preferindo utilizar o termo ‘disposição (arranjo de características pessoais e profissionais)’ ao invés de competências.

O autor justifica esta decisão da seguinte forma:

[a]o surgir um novo conceito, disposição, pretendo romper com um debate sobre as competências que me parece saturado. Adoto um conceito mais ‘líquido’ e menos ‘sólido’, que pretendo olhar preferencialmente para a ligação entre as dimensões pessoais e profissionais na produção identitária dos professores (NÓVOA, 2009, p.23).

Assim, dentre as disposições do ‘bom professor’, Nóvoa (2009) ressalta cinco que, no seu ponto de vista, são essenciais à definição do ofício dos professores na contemporaneidade: a) disposição ao conhecimento; b) disposição à cultura profissional; c) disposição ao tato pedagógico; d) disposição ao trabalho em equipe; e, d) disposição ao compromisso social.

Diante dessas colocações de Nóvoa (2009), constatamos que, a ‘disposição’ com ‘maior (primeira) número de citações’ (quarenta e três) foi a relacionada ao ‘tato pedagógico’ (com três características do ‘bom professor’: itens 2; 3 e 7), onde cabe a capacidade de relação e comunicação sem a qual o professor não cumpre o ato de educar. A serenidade de quem é capaz de se dar ao respeito, conquistando os alunos para o trabalho educacional. Saber conduzir alguém para a outra margem, o conhecimento, não está ao alcance de todos. A segundadisposição’ mais citada (trinta e nove) foi a relativa ao ‘conhecimento’ (com cinco características do ‘bom professor’: itens 1; 5; 11; 13 e 15), onde é preciso conhecer bem aquilo que se ensina. O trabalho do professor consiste na construção de práticas docentes que conduzem os alunos à aprendizagem, ao pensar. E ninguém pensa no vazio, e sim na aquisição e na compreensão do conhecimento. A terceiradisposição’ mais citada (vinte e oito) foi a ligada à ‘cultura profissional’ (com três características do ‘bom professor’: itens 4; 6 e 10), pois ser professor é compreender os sentidos da instituição educacional, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. É no local de trabalho e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão. O registro das práticas, a reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são elementos centrais para o aperfeiçoamento e a inovação. A quartadisposição’ mais citada (onze) foi a referente ao ‘compromisso social’ (três características do ‘bom professor’: itens 8; 12 e 14), onde situam-se os princípios, os valores, a inclusão social, a diversidade cultural. Educar é conseguir que o aprendiz ultrapasse as fronteiras que, tantas vezes, lhe foram traçadas como destino pelo nascimento, pela família ou pela sociedade. Comunicar com o público, intervir no espaço público da educação, faz parte do ethos profissional docente. Já, a ‘disposição’ com ‘menos (quinta) número de citações’ (oito) foi a ligada ao ‘trabalho em equipe’ (com quatro características do ‘bom professor’: itens 9; 16; 17 e 18), que são aquelas dimensões coletivas e colaborativas, do trabalho em equipe, da intervenção conjunta nos projetos educativos da instituição educacional. O exercício profissional organiza-se, cada vez mais, em torno de (comunidades práticas), no interior da instituição educacional, e também, no contexto de movimentos pedagógicos que nos ligam a dinâmicas que vão para além das fronteiras organizacionais.

Nesse contexto, podemos inferir que, o ‘bom professor’ universitário de EF, nas percepções dos acadêmicos estudados, possuem, diversas características pessoais e profissionais, isto é, ‘disposições mais valoradas relativas ao tato pedagógico, ao conhecimento e à cultura profissional’.

4- AS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que, ‘coletivamente’ foram percebidas pelos acadêmicos estudados, uma ‘boa quantidade e diversidade’ de características do ‘bom professor’ universitário de EF. Essa conclusão está em consonância com os estudos de Ferreira e Krug (2001b) e Krug e Krug (2008) de que os ‘bons professores’ de EF, universitários e/ou da Educação Básica possuem muitas características pessoais e profissionais em sua imagem de docente eficaz. Nesse sentido, também concluímos que, os acadêmicos estudados, ‘possuem uma visão bem ampla das características necessárias à imagem do bom professor universitário de EF’.

Também concluímos que, as ‘disposições (arranjos de características pessoais e profissionais)’ ‘mais valoradas’, pelos acadêmicos estudados, foram às relacionadas ao ‘tato pedagógico’, ao ‘conhecimento’ e à ‘cultura profissional’. E, as ‘menos valoradas’, foram às relacionadas ao ‘compromisso social’ e ao ‘trabalho em equipe’.

Para finalizar, citamos Krug (2018, p.6) que destaca que, “[...] é preciso considerar que este estudo fundamentou-se nas especificidades e nos contextos de um curso de Licenciatura em específico e que, por isso, os seus achados não podem ser generalizados”. Nessa situação, o mesmo autor sugere “[...] a realização de novos estudos mais aprofundados sobre esta temática”.

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[1] Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Doutor em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Professor Aposentado do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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