30/03/2019

O Corvo de Alison Silveira de Morais

O Corvo de Alison Silveira de Morais

 

"O Corvo", de Edgar Allan Poe, na versão traduzida do original em inglês para o dialeto regional manezinho da Ilha de Florianópolis por Alison Silveira de Morais, parece seguir a máxima de Haroldo de Campos para quem a tradução de textos criativos será sempre recriação, ou criação paralela, autônoma, porém recíproca:"numa tradução dessa natureza não se traduz apenas o signo, ou seja: suas propriedades sonoras, de imagética visual, enfim tudo o que forma segundo, Charles Morris, a iconicidade do signo estético." Assim sendo Alison atua como tradutor-recriador.

 

Albert Fabri desenvolveu a tese  de que: "A essência da arte é tautológica, sendo que  as obras artísticas não significam, mas são".  Na arte é impossível distinguir entre representação e representado. O corvo de Edgar Allan Põe não é O corvo de Alison e vice versa. Parafraseando o manezinho da Ilha de Florianópolis: "Uma coza é uma coza, outra coisa é outra coza completamente diferente". Sua tradução encanta e diverte, ainda que não consiga gerar a catarse, os conflitos internos evocados por Poe. 

 

Edgar Allan Poe usa a sonoridade, a imagética visual, a cadência, a repetição, enfim, todos os recursos que formam o signo estético definido por Morris, em tom solene, circunspecto e sinistro que resulta em suspense, apreensão, angústia e terror no leitor. A recriação de Alison narra a mesma estória, porém embora com o mesmo conteúdo, o meio  é distinto ou seja: O dialeto regional manezinho da ilha, pode parecer jocoso, pitoresco e engraçado e Para Machluhan o meio é a mensagem.

 

Contudo, a tradução-recriação de Alison aproxima o leitor familiarizado com o dito dialeto regional manezinho da Ilha de Florianópolis de Edgar Allan Põe no que diz respeito ao conteúdo. O número de possibilidades interpretativas e de interesse pela leitura não está circunscrito ao número de traduções, recriações, versões ou adaptações que houver, mas este será exponencialmente maior. Nisso contribui a tradução, versão, adaptação, recriação ou como quer que seja nominada a obra de Morais que se constitui em um belo texto, harmonioso, sonoro, dialético e principalmente artístico e criativo.

 

 

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