27/08/2025

O Desabafo de Helena

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

Olhando as informações nas redes, mas sempre com o senso crítico acionado, me deparei com um texto intitulado “Desabafo de Professora Repercute nas Redes Sociais”, de Ruth Toledo e reproduzido de: Chico - Cartas de Paz e Consolação.

Este desabafo traz em si as angústias não apenas dessa professora, mas de muitos docentes que se encontram em situação análoga a dela, ou as vezes, até pior devido ao alto grau de periculosidade a que algumas escolas estão expostas.

Em seu último dia, ela se lembrou da fala de um menino de 7 anos dizendo que ela não servia para nada e para degradar ainda mais o momento, a criança reafirma que a mãe disse que pessoas velhas como ela já deveriam ter se aposentado.

Percebe-se que a fala da mãe é a fala de muitos outros responsáveis que deveriam reconhecer o trabalho do docente, mas teimam em romper o elo entre escola e família, elo este que já se encontra frágil diante de tanta omissão por parte da família em seu dever de educar seu filho, em passar os verdadeiros valores como ética, moral e caráter, valores esses, que deveriam ser inalienáveis no leito familiar, mas que se perderam diante de tanta inversão de valores.

Helena lembra dos anos 80 em que ser professora era algo prazeroso, e fazendo uma analogia, este prazer e reconhecimento poderiam ser visto como um adicional ao salário que já não era tão bom, mas que o reconhecimento e a satisfação complementavam.

Ela afirma ter sofrido violência verbal, mas ela é apenas mais uma, visto que uma “pesquisa de 2023 indicou que 8 em cada 10 educadores sofreram algum tipo de agressão no ambiente escolar, sendo a violência verbal a mais frequente (76,1%) seguida da psicológica/moral (41,5%), e que, embora menos comuns, as agressões físicas também ocorrem, segundo um artigo do Sismmac e da CNN Brasil[1].

O desabafo da professora Helena ecoa por toda a docência embora o sistema tente calar a todos, subtraindo sonhos, lutas, reconhecimentos e dignidade.

Podemos citar como exemplo, o deputado Renan Jordy que compara a docência como uma liturgia, e entende-se liturgia a sua forma literal “o conjunto dos elementos e práticas do culto religioso (missa, orações, cerimônias, sacramentos, objetos de culto etc.) instituídos por uma Igreja ou seita religiosa”, e como afirmado por mim no texto Educación no es Sacerdócio, publicado em 2012 pela Revista Gestão Universitária[2], professor é uma profissão que merece atenção como todas as outras.

Neste texto é explicito a origem da palavra sacerdócio que vem do latim sacer “sagrado” e dotis “dom”, e ser professora não é desempenhar um sacerdócio, quem trabalha sacerdócio é o padre que são mantidos pela igreja dentre outras instituições religiosas e muitos fazem caridade.

Nós professores não lecionamos por caridade, lecionamos porque é a nossa profissão, e como muitos brasileiros, também precisamos nos sustentar, pagar boletos, ter uma qualidade de vida um pouco melhor dentre outras coisas que qualquer profissão proporciona.

Segundo o parlamentar[3], o professor não pode ministrar aulas “utilizando roupas incompatíveis com a liturgia do cargo” pois isso atenta contra a moral e os bons costumes, o que na verdade se trata de hipocrisia e falso moralismo, o que me faz entender melhor as falas de Nietzsche[4] (1993) ao fazer a afirmação de que “la moral es una mentira necesaria”.

Observe que lecionar é uma seara árida quando se encontra parlamentares imbecis que tentam efetivar leis idiotas, dentre outros que tentam “lacrar” com as piores mentiras bizarras, afinal de contas, as mentiras (fake News) são vistas como seu carro chefe do mal político, como afirma Harari[5] ao dizer que “[...] se você quer poder, em algum momento terá de disseminar mentiras” e isso é o que o deputado a seguir mais sabe fazer, pois a mentira que o elegeu.

Nikolas Ferreira[6], em sua última mentira tão sórdida quanto as outras foi dita como protesto contra a adultização das crianças (tema que ele deveria defender), ao afirmar que professores de escolas públicas passam filmes pornográficos para seus alunos e obrigam que alunos se beijem na boca.

Enfim, os esforços para quem tem a sensação de dever cumprido fica cada vez mais distante, visto que hoje é comum ser defendido por políticos assim pautas que propagam teorias conspiratórias sobre vacinas, fomentam temas nacionalistas xenófobos, são contrários às políticas ambientalistas dentre outras que fogem ao senso moral e ético.

O desabafo de Helena não é só dela, é de todos que buscam melhores condições, reconhecimento e que ainda acreditam que por meio da educação de qualidade, pessoas como estes parlamentares jamais se reelegerão.

 

[1] Pesquisa realizada por IA

[2] http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/educacion-no-es-sacerdocio

[3] https://oglobo.globo.com/blogs/ancelmo-gois/post/2025/08/deputado-propoe-lei-para-restringir-roupas-de-professores-no-rio-atentem-contra-a-moral-e-os-bons-costumes.ghtml

https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/deputado-do-pl-quer-regular-uso-de-roupas-por-professores-em-escolas-do-rio/

[4] Nietzsche, Friedrick.   Humano, demasiado humano: Un libro para espíritus libres. Marcelina-Madrid: A. L. Mateos, S. A. 1993

[5] HARARI, Yuval Noah. 21 Lições para o Século 21. 3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

[6] https://www.sinprodf.org.br/nota-do-sinpro-professores-sob-ataque-criancas-em-risco-o-discurso-perigoso-de-nikolas-ferreira/

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-nikolas-recorre-a-fake-news-sobre-professores-para-criticar-pl-da-adultizacao/

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