06/05/2014

O Ensino e a Aprendizagem de Nossa Língua Materna

Escrever é desvendar n-equações.

(O autor)

RESUMO: Esse trabalho pretende mostrar que a adoção de alguns critérios, objetivos, concepções de linguagem, gramática, cultura e até mesmo de tradução podem facilitar o ensino e a aprendizagem da Língua Portuguesa.

PALAVRAS-CHAVE: Concepção. Linguagem. Gramática. Objetivos.

ABSTRACT: Thiswork aims to showthat the adoption ofcertain criteria, goals, concepts of language, grammar,cultureand eventranslationcanfacilitate the teachingand learning of Língua Portuguesa.

KEY WORDS: Conception. Language. Grammar. Objectives.

 

1 INTRODUÇÃO

            Pretendemos, nesse trabalho, tratar sobre o ensino-aprendizagem de nossa língua materna.
            Além disso, pretendemos mostrar ainda algumas características do funcionamento da Língua Portuguesa, comparando-as com o da Língua Inglesa.

            Nesse sentido, a relevância desse trabalho consiste em propor, a partir das diferenças e semelhanças entre a Língua Portuguesa e Inglesa, sugestões que acreditamos melhorará a qualidade do ensino-aprendizagem da nossa língua materna.
            Sendo assim, adotaremos o seguinte critério para a construção desse texto:
a. Primeiramente trataremos da importância de se estipular previamente objetivos para o ensino-aprendizagem de nossa língua materna, dessa maneira, tentaremos, no transcorrer desse trabalho, responder às seguintes questões: por que ensinar língua materna a quem já fala com propriedade sua própria língua? Não PARECERIA mais fácil, mais lógico e coerente ensinar qualquer outra língua estrangeira?

b. Mostraremos ainda algumas concepções de gramática e de linguagem.
c. Discorreremos também sobre alguns conceitos de literatura e um conceito de cultura, que acreditamos serem importantes para a constituição desse estudo.
d. Faremos uma breve exposição sobre algumas semelhanças e diferenças morfológicas, sintáticas e semânticas entre a Língua Inglesa e Portuguesa, além disso, apresentaremos  um conceito de tradução que pensamos ser mais adequado no que tange à tradução da Língua Inglesa para a Portuguesa, pois, algumas obras em Língua Inglesa podem ser utilizadas como base para ensinar a Língua Portuguesa.

e. E para finalizar, teceremos as Considerações Finais acerca desse trabalho.
            Assim, após os argumentos anteriormente arrolados, trataremos no próximo item dos objetivos do ensino-aprendizagem de nossa língua materna.

2 OBJETIVOS DO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA

Antes de ensinar qualquer língua natural e, principalmente, Língua Portuguesa, devemos estipular objetivos que justifiquem o ensino dessa língua, por isso, a seguir, mostraremos alguns desses objetivos.

Dessa forma, primeiramente, devemos, de acordo com Travaglia (1996):  

1ª) Desenvolver a Competência Comunicativa dos usuários da língua, isto é, a capacidade do usuário de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação.
A Competência Comunicativa estaria intimamente ligada com outras duas: a Gramatical ou Linguística e a Textual.

Nessa circunstância, a Competência Gramatical seria a capacidade do usuário da língua (falante/ouvinte, escritor/leitor, enunciador/enunciatário) de gerar sequênciaslinguísticas gramaticais e aceitáveis.

Por sequênciaslinguísticas gramaticais (não confundir essas sequências com  a gramática  normativa), por isso, sequênciaslinguísticas gramaticais são sequências aceitáveis, bem formadas, coerentes, de acordo com regras intrínsecas da língua, como por exemplo:

a) “Nóisvamo pega as goiaba.”

b) “As moça de Belzonte é linda”.

            Não se deve levar em conta nestes tipos de sentenças juízo de valor, conceito esse que será retomado a posteriori.

            Sendo assim, as sequênciaslinguísticas aceitáveis estariam intimamente ligadas com as gramaticais, porque quanto à aceitabilidade, teríamos sequênciaslinguísticas admissíveis como construções possíveis dentro do nosso sistema linguístico, portanto, a aceitabilidade e a gramaticalidade estão intimamente ligadas e uma não existe independente da outra, lembrando ainda que para esses dois critérios não se deve levar em conta o que chamamos anteriormente de “juízo de valor linguístico”, que seria supervalorizar uma variedade linguística ( nesse caso, a dita padrão) em detrimento de outra variedade linguística, a saber, a popular.

            Desse modo, vejamos:


‘a)[2] *“O está feliz garoto”.

‘b) * “Nóis as goiaba pegávamo.”

‘c)* “As é linda moça de Belo Horizonte”

            Estas três sentenças são agramaticais e inaceitáveis, já que ferem a boa formação, estruturação da língua, acreditamos que sentenças como a’, b’, c’ seriam construções impossíveis a falantes nativos da Língua Portuguesa, devido a gramática internalizada existente em qualquer falante de qualquer língua, entretanto, construções como a’, b’, c’ PODERIAM até ser admitidas por estrangeiros que estariam apreendendo a nossa língua.

            Já a Competência Textual, de acordo com Travaglia (1996), seria a capacidade dos usuários da língua (locutor/ouvinte, escritor/leitor) de em situação de interação comunicativa compreender, produzir, textos considerados bem formados, valendo das seguintes capacidades:

  1. Capacidade Formativa – possibilita aos usuários compreender e produzir um número de textos basicamente ilimitados, além de poder avaliar a boa ou a má formação dos textos dados, isto é, poder ser capaz de dizer se um enunciado linguístico é ou não um texto de acordo com critérios de textualidade previamente estabelecidos.
  2. Capacidade Transformativa – seria a possibilidade de os usuários da língua modificar de diferentes maneiras um texto: parafrasear, parodiar, resumir etc.
    c)Capacidade Qualificativa – seria a possibilidade de os usuários poderem dizer a que tipo de texto pertence um texto dado, se é uma receita de alimento ou remédio, um ofício, uma carta, romance, reportagem, uma narração, uma descrição, uma argumentação ou dissertação etc.

            Por conseguinte, faz-se necessário para realização do objetivo anteriormente elencado,embasar o ensino-aprendizagem de nossa língua materna na produção, compreensão de textos, os mais variados possíveis.

            Além do objetivo anteriormente citado, em consonância com Travaglia (1966), para termos um ensino mais produtivo de nossa língua materna, temos que considerar dois outros objetivos, são eles:

  1. levar o aluno a “dominar” a norma culta ou padrão;
  2. ensinar a variedade escrita da língua.

            Estes dois objetivos se justificam, porque quando um aluno começa inicia sua vida escolar, pressupõe-se que já domine a norma coloquial e ainda por razões políticas, sociais, ideológicas e culturais, deve-se ensinar a variedade escrita da língua, porém, o ensino de nossa língua materna não deve se restringir somente a estes dois objetivos, já que nem sempre o falante/ouvinte, escritor/leitor da Língua Portuguesa, estará utilizando, unicamente, a norma culta ou escrevendo.

            Assim sendo, admitimos que esses dois objetivos são mais restritos do que realmente se pretende: desenvolvimento da Competência Comunicativa, já que se almeja que o usuário da língua seja capaz também de utilizá-la nas mais diversas situações possíveis de interação, considerando o contexto sócio-histórico-ideológico no qual o sujeito está ou inserido.

            Além disso, devemos considerar ainda mais um objetivo no que tange ao ensino de nossa língua materna: levar o educando ao conhecimento da instituição linguística, social que a língua é, ao conhecimento de sua forma e função, esse conhecimento seria importante na mesma medida em que se considera importante reconhecer outras instituições de nossa sociedade, ou melhor, casamento,religiões, justiça, congresso, instituição bancária etc. É o que Perini (1988) chama de “Conhecimento Cultural”, ou seja, “saber que correr é um verbo e que Colombo descobriu a América em 1492.”Este tipo de conhecimento também é conhecido como Conhecimento de Mundo ou Extralinguístico.
            Do exposto, deve-se ainda embasar o ensino de nossa língua materna no que convencionou-se chamar de Atividades Metalinguísticas, isto é, ensinar gramática normativa, não obstante, temos de lembrar que não existe um único tipo de gramática, ou melhor, não existe somente a gramática ensinada pela escola, para aprofundar mais esta questão basta consultar os livros que citaremos ao final desse estudo.

            Assim, após esses breves comentários sobre os objetivos do ensino de nossa língua materna, no subitem que se segue, trataremos de concepções de gramática e de linguagem. 3. CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA

            Existem vários conceitos de gramática, porém, mostraremos somente três que pensamos ser relevantes para esse estudo a que nos propomos, por isso, vejamos como Possenti (1996:62-64) trata desta questão: “1 – Conjunto de regras que devem ser seguidas; 2 – Conjunto de regras que são seguidas; 3 – Conjunto de regras que o falante domina.”
Esses três conceitos de gramática poderão gerar três tipos de gramática diferentes, o primeiro corresponde à Gramática Normativa, isto é, regras utilizadas pelos falantes/ouvintes a fim de aprenderem a “escrever e falar corretamente”, ou melhor, o não seguimento dessas regras implicaria em sanções nada positivas, socialmente falando, porque se alguém diz, por exemplo, “nóis vai”, uma das primeiras coisas que as pessoas podem dizer é que fulano fala “errado” ou no mínimo esquisito, estranho, e quase sempre não se admitiria que se pudesse falar diferente.

            No segundo conceito, percebe-se que a gramática não funcionaria apenas para descrever uma única variedade da língua e classificá-la como “certa” ou “errada”, mas sim, procurar-se-ia descrever uma língua; levando em conta às infinitas possibilidades de construções que esta língua possui e, isso inclui um grande número de variedades pertencentes a um determinado sistema linguístico.

            No terceiro conceito, este tipo de gramática também é conhecido por Gramática Internalizada ou Natural, isto é, conjunto de regras que o falante domina, as quais lhe permite produzir sentenças linguísticas que tenham coerência, ou seja, façam sentido, tratando-se, assim, da Competência Linguística inata ao falante/ouvinte de uma determinada língua; aliás esta Competência é que vai determinar quais as sequênciaslinguísticas serão aceitas, ou não, dentro de uma determinada comunidade linguística.
            Assim, é perfeitamente aceitável sequências do tipo:

  1. Os menino subiu na cadeira.
  2. Eu vô apanhá as goiaba.

Por outro lado, penso ser inaceitáveis sequências do tipo:

*c) A cadeira subiu nos meninos.

*d) As vão goiabas apanharem os meninos.

            A não ser que uma dessas sequências (no nosso caso, a sequênciac), pertença a uma área da Literatura conhecida como Realismo Fantástico, pois, no mundo textual fictício, acredito que esta sentença poderia ser aceita, todavia, não estamos tratando do mundo textual fictício. E ainda, em se tratando dessas duas sentenças, gostaríamos de dizer (mais uma vez) que a presença dos asteriscos se faz necessária, já que segundo os Linguistas estes asteriscos são usados para mostrar que estas sentenças não são aceitas na nossa língua materna. Além disso, no que se refere à Gramática Internalizada, Luft (1996), diria que o indivíduo nasce “programado” para falar.

            Após mostrar anteriormente os três tipos de gramática propaladas por Possenti (1996), abordaremos, a seguir, as três concepções de linguagem construídas no transcorrer da História da Humanidade.

4 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM

            De acordo Koch (1997), foram construídas, no decorrer da história da humanidade, três concepções distintas de linguagem, a saber: linguagem como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento; como instrumento (“ferramenta”) de comunicação; como forma (“lugar”) de ação ou interação.
            Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais interessa para este trabalho é a terceira, apesar de a primeira e a segunda serem muito defendidas, atualmente.
            A primeira afirma que a linguagem serviria para representar o mundo e a realidade que nos cerca e ainda aquilo que pensamos sobre ela, dessa forma, a linguagem seria uma espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos ou não os quais nos rodeiam.

            A segunda mostra-nos que a linguagem seria centrada apenas na comunicação. A linguagem funcionaria somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor ideal. Apesar de o processo de comunicação e a linguagem não serem tão simples assim como mostra a Teoria da Comunicação, porque as pessoas ao falarem não só comunicam o que estão falando, como também agem e reagem através da linguagem, desse modo, podem interromper quem fala e muitas vezes também são interrompidas, além de poderem produzir pausas, hesitações e ironias.
            Além disso, há de se considerar o lugar de onde as pessoas falam, a imagem que elas têm umas das outras, a posição social dessas pessoas e ainda o que dizem e até o que não dizem dizendo, ou melhor, a questão dos não-ditos. Observando, ainda, principalmente; o contexto sócio-histórico e ideológico no qual esses interlocutores estão inseridos.
            Na terceira concepção, percebemos que a linguagem seria fruto da interação entre enunciador/enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de comunicação, isto é, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e, neste caso, a linguagem sofreria o que Travaglia (1996), chama de “exterioridade” sócio-histórica e ideológica, ou melhor, a linguagem seria influenciada pelo contexto linguístico e extralinguístico, pela ideologia e pela História, não só a oficial, mas também a história de cada indivíduo.
            Embora diferentes, as três concepções de linguagem acima citadas, não são totalmente excludentes, complementam-se, inter-relacionam-se, posto que os falantes de certa língua, ao utilizá-la, estarão, concomitantemente, comunicando-se, pensando sobre o quê e como devem falar e ainda integrando-se no meio social do qual participam.

Depois dos argumentos anteriormente arrolados no item 4 sobre as concepções de linguagem no item 5, mostraremos alguns conceitos de Literatura e de Cultura que acreditamos serem de grande valia para um estudo produtivo da língua.

5 CONCEITOS DE LITERATURA E CONCEITO DE CULTURA

            Segundo o Houaiss (2001), temos vários conceitos de Literatura, dentre eles gostaríamos de elencar os seguintes: 1. Ensino das primeiras letras. 2. LIT. Uso estético da linguagem escrita; arte literária 3. Conjunto de obras literárias de reconhecimento do valor estético, pertencentes a um país, época, gênero etc. (...)

            Sendo assim, essa palavra pode assumir ainda outras acepções, conforme Leite apud Geraldi (1997, p. 21):

1. A Literatura como instituição nacional, como patrimônio cultural.

2. A Literatura como sistema de obras, autores e público.

3. A Literatura como disciplina escolar que se confunde com a história literária.

4. Cada texto consagrado pela crítica como sendo literário.

5. Qualquer texto, mesmo não consagrado, com intenção literária, visível num trabalho da linguagem e da imaginação, ou simplesmente esse trabalho enquanto tal.

            Apesar das concepções de Literatura anteriormente mencionadas, adotaremos a última, por acreditarmos que essa seja a melhor concepção de Literatura para a constituição desse estudo.

            Nesse aspecto, trataremos agora sobre o conceito de Cultura, desse modo, cultura a nosso ver seria de acordo com Sarmento et al (2004, p. 12):
[...]Não há povo que não se orgulhe de suas histórias, tradições e lendas. A produção literária de um povo faz parte do conjunto de atividades a que damos o nome de cultura – e a capacidade de criá-la é o que nos distingue dos outros seres.

            Logo, a Cultura compreende não só toda manifestação literária de um povo, mas também, toda manifestação artística desse mesmo povo, dessa maneira, a cultura se torna algo inerente exclusivamente ao ser humano, porque somente ele pode criar, modificar e interferir nas produções artísticas e literárias realizadas em uma determinada época ou período.

Após tratarmos anteriormente sobre alguns conceitos de Literatura e Cultura, mostraremos a seguir algumas semelhanças e diferenças morfológicas, sintáticas e semânticas entre a Língua Portuguesa e Inglesa e ainda trataremos sobre a questão da tradução da Língua Portuguesa para a Inglesa e vice-versa.

6 SEMELHANÇAS E ALGUMAS DIFERENÇAS MORFOLÓGICAS, SINTÁTICAS E SEMÂNTICAS ENTRE A LÍNGUA INGLESA E A PORTUGUESA E AINDA SOBRE A QUESTÃO DA TRADUÇÃO
            Iniciaremos essa penúltima parte desse trabalho, mostrando o comportamento dos adjetivos em Língua Portuguesa e em Inglesa.

            Nesse aspecto, procuraremos elencar, assim, as diferenças morfológicas no que tange à colocação do adjetivo nessas duas línguas, desse modo, também mostraremos as diferenças semânticas consequentes do comportamento dessa palavra nas duas línguas acima citadas, pois, mesmo para o docente que ministra somente aulas de Língua Portuguesa as diferenças anteriormente assinaladas são importantes para compreender melhor como funciona a Língua Portuguesa e quais os efeitos de sentido que o falante quer imprimir aos enunciados, quando ele antepõe ou pospões os adjetivos aos substantivos.

            Sabemos que em Inglês, o adjetivo possui uma posição fixa, sempre vem antes do substantivo, conforme veremos:

  1. An old woman.

b. A new man.

c. A poor man.

Sendo assim, vejamos:

  • O exemplo (a) significa uma velha mulher ou uma mulher velha, percebemos nesse exemplo as diferenças semânticas oriundas dessa oração, quando traduzida para o Português, já que nessa língua o adjetivo pode vir tanto posposto quanto anteposto ao substantivo, o que não vale para o Inglês, por isso, no primeiro caso: uma velha mulher significaria uma mulher experiente, experimentada na vida, já o segundo caso: uma mulher velha significaria uma mulher avançada na idade, ou seja, corresponderia à faixa etária.
  • Já a letra (b) e (c), também traduzidas gerariam diferenças no que se refere à semântica de nossa língua materna, seria a mesma regra aplicada em (a), dessa maneira, observemos: em (b), teríamos um homem novo e um novo homem, acarretando, assim, diferenças na significação, porque um homem novo corresponderia à faixa etária, ou seja, um homem jovem, já um novo homem, seria um homem transformado, mudado. No entanto, a sentença (c) correspondente a um pobre homem ou a um homem pobre, deve ser compreendida respectivamente: um homem digno de piedade, misericórdia e a um homem com condições financeiras fracas.
  • Outra diferença morfológica que gostaríamos de salientar seria quanto ao emprego dos pronomes e o gênero em Inglês e em Português, porque sabemos ainda que no Inglês padrão existem três gêneros: o masculino – He, correspondente a Ele em nossa língua, o Feminino – She correspondente a Ela em Língua Portuguesa e, o pronome It – empregado exclusivamente para coisas e animais no Inglês, significando Ele ou Ela, já em nossa língua materna não existe o gênero neutro, somente o feminino e o masculino que, infelizmente, ainda muitos gramáticos os confundem com o conceito de sexo, ora todo ser tem gênero, entretanto, nem todo ser apresenta sexo, por exemplo, temos os gêneros de mesa, porta, cadeira, computador, livro, mas, não possuem sexo.
  • Outro aspecto que nos chama a atenção é que no Inglês padrão não existe o pronome sujeito Tu, o que tem como supostamente parecido é o pronome You que funciona como você e não é considerado padrão em Português. Ou seja, o pronome Tu jamais funciona como sujeito em Inglês padrão. Não obstante, tanto no Português padrão ou popular como no Inglês padrão ou popular o pronome You poderá funcionar como sujeito.
  • Além disso, temos a mesma posição sintática canônica tanto no Inglês quanto no Português: SVO, sujeito + verbo + complemento, como por exemplo: Eu Amo meus amigos em Inglês seria: I lovemyfriends. Onde o sujeito seria Eu, o verbo amo – transitivo direto, presente do indicativo, primeira pessoa do singular e, o objeto direto seria: meus amigos.

            Após essas breves colocações sobre algumas diferenças morfológicas e semânticas entre a Língua Portuguesa e a Inglesa, apresentaremos no parágrafo a seguir um conceito de Tradução, acreditando que esse conceito possa auxiliar os professores de Língua Portuguesa, quando eles estiverem utilizando obras da Língua Inglesa para enriquecerem ainda mais suas aulas.

            Assim, quanto à Tradução adotaremos o critério estipulado por Campos (1988), que chamou de Transcriação, ao processo criativo, adaptado de acordo com o contexto e com a situação do texto produzido a partir da Tradução da Língua Inglesa para a Portuguesa, desaconselhando, dessa maneira, a Tradução puramente das palavras isoladas do contexto e da situação.

            Após os argumentos anteriormente arrolados no que tangem às diferenças morfológicas, semânticas, sintáticas e ainda do conceito de Tradução proposto, abaixo teceremos as Considerações Finais acerca desse trabalho.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Do exposto, percebemos que a Cultura, a Linguagem, a Literatura estão intrinsecamente relacionadas e ainda notamos que existem diferenças não só quanto ao aspecto gramatical de certas línguas, nesse caso, a Inglesa e a Portuguesa, mas também diferenças quanto ao uso e, valorizando essas diferenças, além das sugestões expostas nesse trabalho, poderemos obter um ensino-aprendizado de nossa língua materna profícuo, produtivo, onde as diferenças não deverão ser motivos para discriminações, mas sim, para valorização de cada ser humano, indivíduo, independentemente da posição social, etnia, faixa etária ou até mesmo do tipo de Linguagem que utiliza: a forma dita padrão ou a coloquial, já que aos indivíduos além da Constituição da República Federativa do Brasil garantir-lhes o direito de ir e vir, ela também assegura-lhes o direito de expressarem adequadamente os seus pensamentos em quaisquer circunstâncias de comunicação ou interação social por que passem (sem que sejam cerceados por qualquer aparelho ideológico do Estado, seja esse a Igreja, a Escola, o próprio Estado ou qualquer Empresa privada existente nesse país), garantindo-lhes o direito de dizer realmente aquilo que pensam, sentem, pois, só assim teremos um país livre de verdade.

 

Autor: MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO[1]

 

 

8 REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail (1997). Marxismo e Filosofia da linguagem. 8 ed. São Paulo: Hucitec.
BARONAS, Roberto & GREGOLIN, Maria do Rosário (Org). (2003). Análise do Discurso: as materialidades do sentido. São Carlos – SP: Editora Clara Luz.
BRANDÃO, Helena H. Nagamine (1988). Introdução à análise do discurso. 7 ed. Campinas: Editora da UNICAMP.

CALDAS, Alberto Lins. (2001). Nas Águas do Texto: Palavra, Experiência e Leitura em História Oral. Porto Velho/RO: EDUFRO.

CAMPOS, Haroldo de (1998). Pedra e luz na poesia de Dante. Rio de Janeiro: Imago.
CARDOSO, Sílvia Helena Barbi (1999). Discurso e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica.
CITELLI, Adilson (1995). Linguagem e Persuasão. 10 ed. São Paulo: Ática.
COSERIU, Eugenio (1998). Semântica Estructural y Semántica Cognitiva.
FARACO, Carlos Alberto CASTRO (Orgs.) (2001). Gilberto de & TEZZA, Cristóvão. Diálogos com Bakhtin. 3 ed. Curitiba: Editora da UFPR.

FERRAREZI Jr., Celso (2003). Livres Pensares. Porto Velho/ RO: EDUFRO.
FREITAS, Maria Tereza de Assunção. (1996). Vygotsky e Bakhtin – Psicologia e Educação: um intertexto. 3 ed. São Paulo: Ática.

GERALDI, João Wanderley (org). (1997) O Texto na Sala de Aula. São Paulo: Ática. ___________, (Org). (1996). Linguagem e Ensino. Exercícios de Militância e Divulgação. Campinas: Mercado de Letras – ALB.
___________, (1995). Portos de Passagem. 3 ed., São Paulo: Martins Fontes.
KOCK, Ingedore Villaça (1997). A inter-ação pela linguagem. 3 ed. São Paulo: Contexto.
LUFT, Celso Pedro(1995). Língua e Liberdade. 4ed. São Paulo: Ática.

MIRANDA, Luis; Orellana, Amanda (Eds.) (1988). Actas Del II Congreso Nacional de InvestigacionesLingüístico-Filológicas. Peru: Ed. De laUniversidad Ricardo Palma.
ORLANDI, Eni Pulcinelli (2001). Análise do discurso: princípios e procedimentos. 3 ed. Campinas: Pontes.

____________________. (1983). A Linguagem e seu funcionamento. 4 ed. Campinas: Pontes.
____________________. (1996). Interpretação. Vozes: Rio de Janeiro. ____________________. (1993). Discurso e Leitura.2 ed. São Paulo: Cortez.
PARTEE, Bárbara H. (1997). The development of formal Semantics in Linguistic Theory. In: Lappin, Shalom (Ed.) (1998). The Handbook of Contemporary Semantic Theory. Massachusetts: Blackwell Publishers.

PÊCHEUX, Michel. (1995). Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Editora da UNICAMP.

_______________. (1997). Discurso: estrutura ou acontecimento. 2 ed. Campinas: Pontes.
PERINI, Mário Alberto. “Níveis de detalhamento na descrição gramatical: uma perspectiva pedagógica”. Nº12. Campinas, SP, IEL/UNICAMP, jul. - dez p.23-32.
______________ (1997). Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática.
POSSENTI, Sírio (1996). Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP, ALB: Mercado de Letras.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos (1996). Gramática e interação: uma proposta para ensino de gramática no 1ª e 2ª graus. São Paulo: Cortez.

SARMENTO, Leila Lauar et al. (2004). Português: literatura, gramática e produção de texto. São Paulo: Moderna.







 

 

[1] Mestre em Linguística e, Professor da Cadeira de Língua Portuguesa no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia.

 

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×