O ENSINO PROFISSIONAL NO BRASIL: BREVE HISTÓRICO
O ENSINO PROFISSIONAL NO BRASIL: BREVE HISTÓRICO
Profa Maria da Gloria Barbosa Matoso ( UECE/FAFIDAM)
Claudia Maria de Sousa Farias ( Psicóloga na Coordenação da Saúde Mental dos Povos Indígenas do Ceará )
No Brasil a formação do trabalhador ficou marcada já no inicio com o estigma da servidão, por terem sido os índios e os escravos os primeiros aprendizes de oficio. Com isso, “... habitou-se o povo de nossa terra a ver aquela forma de ensino como destinada somente a elementos das mais baixas categorias sociais”. (FONSECA, 1961, p.68).
Conforme Fonseca, alguns fatores contribuíram para a solidificação desse estigma, o primeiro foi à entrega do trabalho pesado e das profissões manuais aos escravos; isto não só agravou o pensamento generalizado de que o oficio eram destinados aos deserdados da sorte, como também impediu, pelas econômicas, os trabalhadores livres de exercerem certas profissões. Um outro fator foi que a educação eminentemente intelectual que os jesuítas ministravam aos filhos dos colonos afastavam os “elementos socialmente mais altos” de qualquer trabalho físico ou profissão manual.(FONSECA, 1961, p.68).
O sistema escravocrata, que sobreviveu por séculos, deixou marcas profundas na construção das representações sobre o trabalho como atividade social e humana. Além de envolver a violência cometida contra os habitantes nativos, impondo-lhes um padrão civilizatório que não era o seu, e de afugentar os trabalhos livres, o emprego da mão – de – obra escrava para a execução de atividades artesanais e de manufatura acabou criando a representação de que todo e qualquer trabalho que exigisse esforço físico e manual consistiria em um trabalho desqualificado. (MANFREDI, 2003, p.71).
A transferência da corte portuguesa para o rio de janeiro, em 1808, mudou o status do Brasil, que deixou de ser colônia para se tornar a sede do Reino. Em vista disso, ocorreram aqui, durante as duas primeiras décadas do século XIX, transformações econômicas e políticas muito significativas. Do ponto de vista econômico, extinguiram-se as relações de intercambio e de exploração características do modelo Metrópole-Colônia. A economia brasileira deixou de basear-se apenas na agroindústria voltada para o sistema colonial de trocas. Iniciou-se a implantação de atividades e de empreendimentos industriais estatais e privados, para subsidiar o comercio que interessava a metrópole. Ao mesmo tempo, gestou-se a formação do Estado Nacional e a constituição do aparelho educacional escolar, que persistiu por mais de um século, basicamente com a mesma estrutura (CUNHA, 2000ª, p.59).
Nos meados de 1968 e 1971, toda essa política de favorecer os favorecidos e desfavorecer os desfavorecidos, exigia que houvesse uma reforma na educação para garantir o desenvolvimento econômico fundamentado no capital internacional. Caberia ao estado militar adequar à educação brasileira a esse tipo de desenvolvimento econômico contraditório. (MANFREDI, 2003, p.103)
Preparar mão de obra para o capital. Essa é uma tarefa imediata, necessária apesar de não ser a mais importante. Todas as reformas de ensino que aconteceram no Brasil, nas ultimas três décadas, tiveram como objetivo fundamental a preparação de mão de obra conveniente ao bom desempenho das indústrias no desenvolvimento econômico de nosso país. Esse objetivo está claro nas justificativas das próprias reformas. (GUARESCHI, 1985. P. 72).
Na primeira metade do século XX a educação profissional foi marcada pela dualidade de um sistema que se voltava para as elites e outro para as classes populares. A não equivalência entre os cursos secundários e os técnicos, associada aos currículos enciclopédicos dos primeiros, era a expressão concreta de uma distinção social mediada pela educação. Com a industrialização a dualidade foi mantida. Aceitou-se sua função de preparar as pessoas para o mercado de trabalho, predominando sua função profissional, em permanente tensão com a função propedêutica. (RAMOS, 2011. P.38)
Enquanto vigorou o projeto nacional-desenvolvimentista e a certeza do pleno emprego, preparar para o mercado de trabalho foi realmente a principal finalidade da educação brasileira, ainda que o acesso ao ensino superior fosse facultativo e altamente demandado. (RAMOS, 2011.p 113).
Atualmente, o Brasil conta com políticas públicas direcionadas a educação profissional e tecnológica. Todas contemplam a integração entre a educação profissional e o ensino médio, perspectiva que pode ser coerente com a construção técnico - prática de uma educação tecnológica que corresponda à preparação das pessoas para a compreensão dos fundamentos científico–tecnológica, sócio histórico e cultural da produção moderna. (RAMOS, 2011.p.11).
A integração da educação básica com a educação profissional na modalidade educação de jovens e adultos (EJA) é uma conquista advinda de lutas pelo direito à educação e de resistências à lógica fragmentaria, focalizada, compensatória e reducionista das ações de formação implementadas anteriormente. (RAMOS, 2011.p 17).
Como formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política. Formação que, neste sentido, supõe a compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos (CIAVATTA, 2005, p.85).