21/09/2016

O Enxugamento do Currículo

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

 

            Partindo da premissa que o povo idiota é meta do governo, o ministro anunciou o enxugamento do currículo do ensino médio que é cortar certas disciplinas “irrelevantes”  como filosofia e sociologia, ou seja, disciplinas ligadas ao currículo da Ciência do Eu, muito defendido por Goleman em seu livro Inteligência Emocional, publicado em 1995 pela Editora Objetiva.

            De acordo como autor, está na Ciência do Eu o desenvolvimento social, as aptidões para a vida, o aprendizado social e emocional.

            Tais disciplinas desenvolvem no educando todas estas características, fazendo-o ser mais crítico, pois a filosofia o faz questionar certas verdades e a sociologia o faz perceber os problemas sociais e formas de resolve-los, logo, esta atitude apoiada por alguns políticos visa limitar de vez a criticidade de nossos educandos, deixando com que a putrefação política se instaure de vez e a omissão de seus jovens, seja reforçada pela ignorância e alienação.

            Com este currículo enxuto daremos mais forças para a escola massificada, com alunos idealizados e abstratos, alunos manipuláveis e verdadeiros néscios da realidade política, alheio a tudo e a todos. Seres totalmente domesticados e submissos, sem autonomia e sem iniciativa, educandos passivos e automatizados, perambulando como idiotas servis a acatar imposições absurdas, não assimilando mais os conceitos de dignidade e liberdade.

            O que a atual conjuntura quer, é aplicar a solução de More muito ressaltada por Burke e Ornstein no livro O Presente do Fazedor de Machados, publicado em 1998 pela Editora Bertrand Brasil. Para os autores, More ressaltava que, para se enfrentar a crise, era necessário ensinar submissão total à autoridade, resignação cristã em relação as privações e adversidades, isto é, seres totalmente alienados e devotos dos corruptores embasados em um conformismo.

            Com educandos assim, o poder corrupto e corruptor, irá se espalhar e aumentar ainda mais a segmentação social

            Freire em seu livro Educação como Prática da Liberdade, publicado em 1980 pela Editora Paz e Terra, esclarece que a educação é um fenômeno social que integra práticas socais e políticas, e ao “enxugar” disciplinas de suma relevância para se discutir problemas sociais e políticos, a educação perderá o seu papel social perante a sociedade.

            Ao invés de enxugar o currículo, porque não fazermos um currículo interdisciplinar contextualizado como ressalta Niskier em seu livro Paradigmas da Educação a Distância, publicado em 2004 pela Revista Ensaio, Fundação Cesgranrio. Para o autor, um bom currículo deve contemplar o contexto sociocultural e adversidades dos alunos, bem como procedimentos didáticos adequados a realidade destes.

            A educação está indo pelo viés da pedagogia dos dominantes muito alertada por Freire, pois a mesma está convergindo para à prática da dominação que esterilizará toda uma geração.

            Através deste currículo estéril, produziremos jovens deitados eternamente em berço esplêndido em estado cataléptico transformando o Brasil em um país com duas castas, as instruídas que irão para o topo da pirâmide a ser representada por uma minoria e uma que ficará na base, colhendo o fruto do apartheid.

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