18/09/2017

O Papel da Escola e os Novos Rumos da Educação Pública

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Primeiramente cabe ressaltar que escola é composta por um corpo docente, seus discentes, funcionários, gestor (es), comunidade escolar, dentre outros voluntários ou efetivos que tem o intuito de auxiliar no ato de educar.

            A educação em si não é de responsabilidade única e exclusiva do professor e vale lembrar que todos envolvidos na instituição escolar tem sua parcela na educação em si, e a escola não é nem mais e nem menos que o reflexo de sua gestão.

            É interessante ouvir palpites de aventureiros se embasando em falácias para defender a educação e seus novos rumos. Seria o mesmo que ir a um médico cardiologista ou outro especialista sem este ter passado sequer por uma faculdade de medicina.

            São falas vazias, vista como colchas de retalhos de ideias passadas pelas mídias por pessoas sem experiências em salas de aula de escola pública, sem presenciar o quão é difícil trabalhar com um público totalmente despreparado para uma vida cívica e social.

            Turmas formadas por alunos desestruturados e sem referência de uma autoridade e com certeza não verá autoridade em uma escola pública, pois culturalmente o público não pertence a ninguém, ou seja, pode-se fazer o que bem entender.

            É literalmente difícil ouvir pessoas que se dizem professores apaixonados pela profissão afirmarem que precisamos conhecer o nosso aluno de hoje. Precisamos entendê-lo, e muitas outras idiotices de pessoas sem experiência em uma sala de aula de uma escola pública.

            São como os pedagogos de mesa que ficam apenas no mundo das ideias, sem qualquer prática e culpando os professores por qualquer fracasso escolar, impondo a eles a obrigação quanto a aprovação do aluno.

            Estes professores que vivem no mundo de Alice , junto com os pedagogos de mesa, são os verdadeiros encalhes para que uma educação de qualidade ocorra.

            Eles tiram a autoridade dos professores e fazem os gestores serem apenas marionetes de um sistema completamente falho.

            De acordo com Daniela Fernandes da BBC Brasil (2014) o Brasil ocupa  o topo do ranking de violência contra os professores, o que corrobora com a pesquisa do Jornal do Dia de mesmo ano quando a manchete é Brasil é líder mundial em agressão a professores.

            Uma reportagem realizada pelo UOL Educação (2017) chega a ser mais estarrecedora. De acordo com sua manchete "Violência nas escolas públicas atinge mais da metade dos educadores" é relatado que estes educadores "afirmam ter presenciado agressões físicas ou verbais de alunos a funcionários incluindo professores, no ambiente escolar", e a impunidade de tudo isso é quase certa, pois para pessoas como estes professores e pedagogos que dizem que os docentes têm que entender o aluno, geralmente se omitem e acovardam quanto as atitudes que deveriam ser tomadas.

            Muitos professores estão lidando diretamente com marginais que se acham no direito de espancá-los caso não obtenham a nota desejada.

            A impunidade é tão grande que algumas escolas tem sido usada como pontos de droga, lugar para marcar compromissos escusos (encontros para prostituição, agressões, roubos, vendas de drogas, etc).

            São tantos absurdos e tanta negligência quando se trata dos direitos dos professores e demais envolvidos neste processo de educação que têm aumentado em demasia o número de afastamento.

            Segundo o Portal Todos Pela Educação, é informado que 15% dos professores da rede estadual são afastados e a Agência Brasil EBC ressalta que outra pesquisa citada em revista da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) destaca que no Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil as principais causas de afastamento estão nos processos inflamatórios das vias respiratórias (17,4%), depressão, ansiedade, nervosismo, síndrome do pânico (14,3%) e estresse (11,7%).

            Para não fugirmos ao tema proposto, quais são nos novos rumos? Seja qual for a política ou politicagem, cabe observar que a educação pública não é vista como investimento pelos políticos. Quando se trata de educação usa-se o verbo gastar. Gasta-se com educação e investe em presídios, que paradoxo vive este nosso Gigante adormecido.

             Não adianta os novos rumos nos direcionarem para tecnologias educacionais de primeiro mundo se nossos alunos não tem sequer noção de civilidade, e que na primeira oportunidade, depredam o patrimônio ou até mesmo roubam coisas que seriam usados por eles mesmos para ajudá-los a recuperarem algo que já perderam a muito tempo e não perceberam, que são a própria consciência e de forma concomitantemente, a dignidade.

            Não adianta estes professores engravatados e pedagogos de mesa virem com conversa de que temos que entender nossos alunos e perceber as suas aspirações, sendo que hoje para um professor ministrar uma aula e sair com a consciência tranqüila de que realmente cumpriu a sua função de professor, pelo menos 20% de seus piores alunos terão que ter faltado a aula.

            Dito isso, vale ressaltar que da escola em relação aos novos rumos da educação perpassará pelos professores, funcionários, comunidade, gestão, políticos  e principalmente família.

            Todos deverão em parceria, encontrar formas para minimizar este problema social, e o mesmo não será minimizado com ideias vazias de professores que sequer tem noção do quão é difícil lecionar em uma escola pública sem sair frustrado de sua sala por não ter conseguido fazer o que se propôs e ao mesmo tempo, ter que agradecer por não ter sido mais uma vítima a engordar as estatísticas de violência nas escolas.

            Antes de seguirmos os novos rumos, precisaremos vencer desafios como fugir a padronização, adestramento, ensino bancário, instrucionismo, domesticação subalterna, discurso com manipulação consciente, oferecer uma educação como transformação da sociedade, desenvolver o hábito de leitura no aluno visto que 60% dos brasileiros nunca abrem um livro, recuperar o espírito, a criatividade e a interação humana que foi roubada no PEC 241 ou PEC 55 preparada por economistas, advogados e engenheiros que fazem parte dos professores supracitados acima que tem ideias mas não vivenciaram uma realidade sequer de escola pública.Professores estes cujos alunos ocuparão o topo da pirâmide.

            É importante frisar que escola pública aqui se refere a rede estadual e municipal, pois as escolas federais são exceções nesta educação pública sofrível, tanto que o portal G1 Educação relata que as escolas públicas são menos de 10% entre as mil com maior nota no Enem. De acordo com essa reportagem, Ana Carolina Moreno e Will Soares esclarecem que na lista com as 1.000 (mil) maiores notas no Enem 2014, só há 93 (noventa e três) escolas públicas e entre essa 'elite' da rede pública, quase todas são escolas federais.

            Tais informações vem a corroborar com a pesquisa relatada pela agência Fapesp em que Marcelo Knobel esclarece que "a grande massa de estudantes que concluem o ensino médio em escolas públicas não considera o ingresso em universidades públicas"

            Dessa forma, os novos rumos da educação pública continuarão levando o seu aluno ao nada, fazendo com que este continue sendo apenas uma mão de obra descartável para o sistema a engordar as estatísticas de problemas sociais.

            Não basta apenas novas metodologias de aprendizagem ou metodologias ativas para adentramos nestes "novos rumos". É preciso muita vontade e ação política, coisa que não existem, pois os nossos representantes, precisam dessa massa amorfa, alienada e idiotizada para que suas arbitrariedades se perpetuem cada vez mais.

            Apesar de todas as dificuldades, cabe a nós verdadeiros educadores, continuarmos a carregar conosco "a estranha mania de ter fé na vida" e darmos o nosso melhor.

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