13/04/2020

O Papel da Escola Para a Educação Inclusiva

O PAPEL DA ESCOLA PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

 

Arcelita Koscheck[1]

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Resumo: O presente artigo trata da inclusão, sob a perspectiva histórica e, também sobre as mudanças ocorridos na atualidade em relação a educação inclusiva e os impactos trazidos para a escola.. Assim, a escola tem um papel fundamental na inserção de portadores e não portadores em salas de aulas comuns. A presença do portador de necessidades educativas especiais na escola regular, inclusive nas classes comuns é um verdadeiro desafio para a escola brasileira em relação à qualificação de recursos humanos, que atendam às necessidades educacionais desses alunos, em qualidade e acesso. Precisamos trabalhar a educação, para que a escola construa um mundo melhor para todos e que inclua no seu convívio todos, independentemente de padrões de normalidade. Para que a escola seja base para uma verdadeira cultura de paz.

Palavras-chave: inclusão, escola, educação inclusiva.

INTRODUÇÃO

            Pensar uma escola inclusiva é pensar uma escola justa e democrática, que inclua a todos, sem discriminação, e a cada um, com suas diferenças, independentemente de sexo, idade, religião, origem étnica, raça, deficiência. Uma sociedade não apenas aberta e acessível a todos os grupos, mas que estimula a participação; uma sociedade que abrigue e aprecie a diversidade humana; uma sociedade cuja meta principal é oferecer oportunidades iguais para que todos desenvolvam seu potencial.

            A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e pela busca da participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. Sabemos que não é fácil e imediata a adoção dessas novas práticas, pois ela depende de mudanças que vão além da escola e da sala de aula.

               O objetivo geral deste estudo é perceber que a inclusão hoje ainda está caminhando lentamente, mas essa transformação do sistema educacional brasileiro é necessária para que todos tenham acesso à educação.

               A escola inclusiva não é um processo fácil, e as mudanças estão ocorrendo gradativamente e aos poucos acompanham a legislação da educação. Neste contexto o trabalho a seguir evidencia dois momentos. O primeiro momento uma breve reflexão em relação a algumas concepções e aspectos históricos sobre a escola inclusiva, e no segundo momento um estudo direcionado ao papel da escola para que a inclusão seja concreta.

                 A escola inclusiva é um desafio, pois a inclusão exige modificações profundas, que demandam ousadia, prudência, política efetiva, oferecendo as crianças com deficiência educação de qualidade para que seja uma escola única e democrática.

               Percebe-se que a inclusão social ou escolar tem se tornado foco nas escolas, pois cada vez mais pessoas com deficiências têm a consciência de seu direito ao acesso aos bens públicos e à garantia de uma educação de qualidade que respeite e atenda a sua formação plena. Segundo Mantoan (2003, p.5) “educar é empenhar-se por fazer o outro crescer, desenvolver-se, evoluir”.

SOBRE A INCLUSÃO: CONCEPÇÕES E ASPECTOS HISTÓRICOS

          Quando falamos sobre escola inclusiva, é possível perceber a diversidade de significados e de diferentes aspectos que a cerca, tornando-a uma palavra utilizada por todos, sendo tratados no senso comum sem saber o seu significado. Para Ferreira (2010, p. 93) “[...] incluir é o mesmo que compreender, que por sua vez, quer dizer entender, alcançar com a inteligência ”.  JÁ, de acordo com Mantoan (2005, p. 96):

Inclusão é a nossa capacidade de entender e receber o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas deferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. È para o estudante com deficiência, física, para os que têm comportamento mental, para os superdotados, e para toda criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com outro.

             A escola inclusiva se caracteriza com uma política de justiça social que alcança alunos com necessidades especiais, tomando-se aqui o conceito mais amplo, que é o da Declaração de Salamanca (1994, p. 17- 18):

O princípio fundamental desta linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem-dotadas, crianças que vivem nas ruas e que trabalham, crianças de minorias linguística, étnicas ou culturais e crianças e crianças de outros grupos ou zonas desfavoráveis ou marginalizadas.

             A educação especial surgiu por meio de muitas lutas, organizações e leis favoráveis as pessoas com deficiência e a educação inclusiva começou a ganhar força a partir da Declaração de Salamanca (1994), a partir da aprovação da constituição de 1988 e da LDB 1996.

             Historicamente, a educação especial tem sido considerada como educação de pessoas com deficiência, seja ela mental, auditiva, visual, motora, física múltipla ou decorrente de distúrbios evasivos do desenvolvimento, além das pessoas superdotadas que também têm integrado o alunado da educação especial. Morin (2011, p. 49-50) apresenta de forma belíssima esse princípio:

Cabe à educação do futuro cuidar para que a ideia de unidade da espécie humana não apague a ideia de diversidade, e que a da sua diversidade não apague a da unidade. Há uma unidade humana. Há uma diversidade humana. A unidade não está apenas nos traços biológicos da espécie Homo sapiens. A diversidade não está apenas nos traços psicológicos, culturais, sociais do ser humano. Existe também diversidade propriamente biológica no seio da unidade humana; não apenas existe unidade cerebral, mas mental, psíquica, afetiva, intelectual; além disso, as mais diversas culturas e sociedades têm princípios geradores ou organizacionais comuns. É a unidade humana que traz em si os princípios de suas múltiplas diversidades. Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno.

               A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9394/1996 foi outro ponto importante sobre a inclusão em termos legais, pois foi através dessa Lei que o sistema de educação brasileira definiu, e regulamentou e apontar os preceitos tanto para educação básica como para a educação superior e também para a modalidade de ensino a educação especial.

A INCLUSÃO E O PAPEL DA ESCOLA

           A escola na perspectiva inclusiva, é aquele cuja principal característica é reconhecer as diferenças dos alunos diante do processo educativo, buscando a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas novas práticas, pois ela depende de mudanças que vão além da escola e da sala de aula. Dessa forma gomes (1999, pg. 31) observa que “a escola é um espaço sociocultural em que as diferentes presenças se encontram”. Para Fávero (2004, p. 53) a escola “é o espaço privilegiado da preparação para a cidadania e para o pleno desenvolvimento humano”. Na verdade, possibilitar as diferentes presenças é um desafio.

             A escola deve ser um espaço sociocultural, em que as diferenças se encontram, num espaço privilegiado de acolhida, evidenciando as potencialides de cada ser para a construção de uma sociedade mais igualitária, sem preconceito. Para Cavalleiro (2006, p. 21):  “Silenciar-se diante do problema não apaga magicamente as diferenças, e ao contrário, permite que cada um construa, a seu modo, um entendimento muitas vezes estereotipado do outro que lhe é diferente”. É imprescindível, portanto, reconhecer esse problema e combatê-lo no espaço escolar. É necessária a promoção do respeito mútuo, o respeito ao outro, o reconhecimento das diferenças, a possibilidade de se falar sobre as diferenças sem medo, receio ou preconceito.

           A escola precisa estar apta a atualizar-se e desenvolver novos conceitos, buscar novas alternativas e práticas pedagógicas educacionais compatíveis com a inclusão. Um ensino para todos os alunos de qualidade deve ser primordial, dessa forma todos os profissionais que compõem o corpo educacional devem assumir esta tarefa.

           Nas escolas inclusivas, o projeto político pedagógico precisar estar adequados ao plano de trabalho a ser seguido, a escola atual precisa mudar, eis a questão mais complexa. Cada escola ao abraçar esse trabalho, tem o desafio de encontrar soluções para as suas próprias dificuldades.

            As mudanças provem aos poucos, por vontade própria da escola, e com uma gestão escolar envolvida neste processo com muita autonomia e coragem. A organização da sala de aula tem um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagens dos alunos, a rotina da turma é de acordo com cada realidade, cada grupo de alunos tem necessidades diferentes.

            Com o envolvimento de toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inovador, o resultado será positivo, e teremos uma educação de qualidade inclusiva. Fávero (2004, p. 38) destaca a inclusão antes de tudo, “deixar de exclui”. Pressupõe que todos façam parte de uma mesma comunidade e não de grupos distintos.

CONCLUSÃO     

           Através da pesquisa foi possível reconhecer que mesmo dentro de toda complexidade das relações humanas, o papel da educação é inigualável e insubstituível. Para que este papel tão importante da educação aconteça na prática é preciso qualidade, eficiência, competência, dialogo e afetividade para transformar sonhos em alegrias concretas.

            O direito a educação é um direito de todos os seres humanos, sendo direito individual, social, econômico ou cultural.  Uma educação igualitária para todos, revela o princípio da dignidade humana individual ou coletiva.

             Este estudo aponta para a necessidade de repensar e resignificar a prática pedagógica inclusiva, efetivando a construção de uma metodologia de ensino em que a prioridade seja levar o aluno a compreender as diferenças.

              Embora muitos conheçam o conceito de Inclusão, o processo pode ser muito difícil. Entender as políticas públicas e as leis que permeiam esta trajetória envolve esforço e habilidades, pois perpassa pela modernização e reestruturação de muitas condições existentes na maioria das escolas. Enfrentamos muitos obstáculos para mudar as condições excludentes de ensino e aprendizagem. É um grande desafio encaixar um projeto novo, como é o caso da inclusão. A inclusão não é só uma política, mas um caminho que, ao trilhar, construímos.

REFERÊNCIAS

CAVALLEIRO, Eliane. Introdução. In: BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/ Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006.

­­ FÁVERO, Eugênia Augusta Gonzaga. Direitos das pessoas com deficiência: garantia de igualdade na diversidade. Rio de Janeiro: WVA, 2004.

FERREIRA, C. A. Vivências de Integração Curricular na Metodologia de Trabalho de Projecto. Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía e Educación, v. 18, n. 1, p. 91-105, 2010.

MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

MANTOAN, Mª Teresa Eglér. Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. Nova Escola, maio de 2005.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez: Brasília, UNESCO, 2011.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de ação sobre necessidades educativas especiais. [Adotada pela Conferência Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais]. Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994. Genebra, UNESCO 1994.

 

[1] Licenciatura em Pedagogia – UNIJUI; Pós-Graduada em Psicopedagogia Institucional – UNOPAR. Pós Graduada em Psicopedagogia Clinica, Institucional e Educação Infantil – FAVENI. Pós Graduação em Educação Especial e Inclusiva, Coordenação e Gestão Pedagógica E-mail: arcelitak30@gmail.com 

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