27/09/2018

O Papel/Função Da Educação Física Escolar Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental Nas Percepções Dos Professores Unidocentes

O PAPEL/FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES UNIDOCENTES

 

Hugo Norberto Krug [1]

 

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar o papel/função da Educação Física (EF) nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções de professores unidocentes, das redes de ensino, municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil). Caracterizamos a pesquisa como qualitativa do tipo estudo de caso. O instrumento de coleta de informações foi uma entrevista, tendo as respostas interpretadas por meio da análise de conteúdo. Participaram sessenta professores unidocentes das referidas redes de ensino e cidade, sendo vinte de cada rede. Concluímos que, o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental está alicerçado, principalmente, na tendência pedagógica Psicomotricidade, e, secundariamente, nas tendências pedagógicas Recreação e Desenvolvimento e Aprendizagem Motora.

Palavras-chave: Educação Física. Ensino Fundamental. Papel/Função da Educação Física. Professores Unidocentes.

1- AS CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

Segundo Mentz (2011), Aguiar (2014) e Salgado (2017), a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.9.394/96), a Educação Física (EF) é um dos componentes curriculares obrigatórios da Educação Básica (EB).

Entretanto, mesmo a EF sendo uma disciplina obrigatória na EB, conforme Cardoso (2014, p.8), a EF.

[...] ainda não tem identidade completamente estabelecida e por isso sua relevância no contexto escolar, por vezes, é questionada ou subvalorizada. Exemplo disso, é a presença do componente curricular nos [A]nos [I]niciais do Ensino Fundamental, que é obrigatório assim como nas outras etapas do ensino, porém não necessariamente é lecionada por um professor habilitado na área. Isso acontece devido a uma brecha no art. 31 da [R]esolução [n.]7/2010 que assegura a presença da disciplina com caráter obrigatório, mas não a presença do seu profissional especializado, aliado à gratificação da unidocência – presença de um professor habilitado em [M]agistério em nível médio, formação em nível superior ou graduado em Pedagogia que é regente de classe na Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Diante desse cenário de legislação, citamos Mensch e Schwengber (2009, p.294) que colocam que,

[l] mentavelmente, muitas Secretarias de Educação no Brasil consideram desnecessária a presença de professores da área de Educação Física para orientação da prática de atividades físicas com crianças pré-escolares e dos primeiros ciclos. Por conseguinte, muitas vezes há descaso com o componente curricular.

Frente a esse quadro, mencionamos Contreira e Krug (2010, p.1) que dizem que,

[a]o observarmos a realidade da Educação Física nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental nas escolas estaduais (e municipais) do Rio Grande do Sul (RS), encontramos, frequentemente, a utilização de professores “pedagogos” ou “polivalentes”, conhecidos no Estado como “unidocentes”, encarregados de ministrarem aulas de Educação Física para [...] (esse segmento escolar)”. (acréscimo nosso).

Nesse contexto, esta investigação volta olhares para a EF Escolar ministrada pelos professores unidocentes nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, mais particularmente para o papel/função da EF na unidocência, pois uma visão do que pensa esse docente pode oferecer subsídios para reflexões que contribuam com melhorias na qualidade das aulas desta disciplina.

Assim, fundamentando-nos nessas premissas anteriormente descritas, formulamos a seguinte questão problemática norteadora do estudo: qual é o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções de professores unidocentes?

Então, a partir dessa indagação, o objetivo geral foi analisar papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções de professores unidocentes, das redes de ensino municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil).

Justificamos a realização deste estudo, ao citarmos Fonseca e Cardoso (2014, p.42) que dizem que, “[a]pesar de importantes estudos relativos à temática da Educação Física nos [A]nos [I]niciais do [E]nsino [F]undamental [...] ainda há o que se discutir sobre a relação entre a [E]ducação [F]ísica e a unidocência [...]”. Já, Krug; Krug e Telles (2017, p.25) que colocam que, “pesquisas desta natureza oferecem subsídios para reflexões que podem despertar modificações no contexto da Educação Física Escolar, as quais podem contribuir para a melhoria dessa disciplina na escola”.

Para melhor entendimento deste estudo, convém lembrarmos que, a partir de 2006, com a instalação do Ensino Fundamental de nove anos (Lei n.11.274), a denominação passa de Séries Iniciais (1ª à 4ª Séries) para Anos Iniciais (1º ao 5º Ano).

2- OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterizamos os procedimentos metodológicos empregados neste estudo, como uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. Para Bogdan e Biklen (1982, p.50), as pesquisas qualitativas têm como características específicas:

[...] o ambiente como fonte de dados e o pesquisador como instrumento principal; os dados coletados são descritivos; o processo tem maior relevância que o produto final; as pessoas e os significados que estas dão a suas vidas merecem o foco do pesquisador; e por fim, a análise se dá por um processo interpretativo.

Segundo Yin (2005, p.32), “o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real” adequado quando “as circunstâncias são complexas e podem mudar, quando as condições que dizem respeito não foram encontradas antes, quando as situações são altamente politizadas e onde existem muitos interessados”.

Assim, neste estudo, o caso investigado referiu-se à EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ministrada por professores unidocentes, mais particularmente, das redes de ensino municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do RS.

Nesse sentido, a justificativa da escolha da forma de pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso foi devido à possibilidade de se analisar um ambiente em particular, onde se levou em conta o contexto social e sua complexidade para compreender e retratar uma realidade em particular e um fenômeno em especial, ‘o papel/função da EF Escolar, ministrada pelos professores unidocentes’.

A coleta de informações foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada. Conforme Triviños (1987, p.142), as entrevistas com roteiros semiestruturados “[...] favorecem não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]”.

Utilizamos, para a interpretação das informações coletadas, à análise de conteúdo, que, de acordo com Turato (2003), possui os seguintes procedimentos básicos: a leitura flutuante, o agrupamento de respostas e a categorização.

Participaram do estudo sessenta professores unidocentes das redes de ensino municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil). Convém salientarmos que a escolha dos participantes se deu de forma espontânea, onde a disponibilidade dos professores unidocentes foi o aspecto determinante. Quanto aos aspectos éticos vinculados às pesquisas científicas destacamos que todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e suas identidades foram preservadas.

Enquanto ‘caracterização pessoal e profissional’ dos professores unidocentes estudados, temos que: a) ‘todos’ (sessenta) eram do ‘sexo feminino’, fato esse que comprova o dito por Maciel (2012) de que existe a tendência de feminização dos cursos de Licenciatura em Pedagogia no Brasil, acentuada a partir do final do século XIX; b) as ‘idades variaram de 32 a 65 anos’. Conforme Luizari (2006), a vida é composta de ciclos e esses estão relacionados, geralmente, às mudanças pelas quais às pessoas passam, mas que, nenhum deles é mais importante que outro, pois cada período do ciclo de vida é influenciado pelo que ocorreu antes e irá afetar o que virá depois; c) a ‘grande maioria’ (cinquenta e cinco) eram ‘licenciados em Pedagogia’ e a ‘minoria’ (cinco) em ‘Letras’. Vale lembrar que, segundo Piccoli (2007), para lecionar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é exigida a formação mínima de Magistério em nível médio ou curso superior de Pedagogia ou equivalente; e, d) o ‘tempo de serviço variou de 2 a 35 anos de docência’. Huberman (1992), tendo como critério a distribuição dos anos de docência e suas características, classifica o ciclo de vida docente em fases ou ciclos de desenvolvimento profissional em: entrada na carreira (até 3 anos de docência); estabilização (de 4 a 6 anos de docência); diversificação (de 7 a 15 anos de docência); serenidade e/ou conservantismo (de 15 a 20-25 anos de docência); desinvestimento (de 25 a 30-35 anos de docência). O autor lembra que estes ciclos de vida profissional não são, apenas um conjunto de acontecimentos e sim um processo que, para alguns, pode ser linear e, para outros, descontínuo. Não significa dizer que as seqüências estabelecidas sejam experenciadas na mesma ordem e nos respectivos períodos, nada impede de um profissional retornar a uma das fases ou passar por um delas e sofrer com todos os seus efeitos.

3- OS RESULTADOS E AS DISCUSSÕES

Os resultados e as discussões deste estudo foram orientados e explicitados a partir do objetivo geral do mesmo, pois esse representou a única categoria de análise existente, fato esse em consonância com o afirmado por Minayo; Deslandes e Gomes (2007), de que a(s) categoria(s) de análise pode(m) ser gerada(s) previamente à pesquisa de campo.

Então, considerando que, o papel/função da EF na unidocência foi a categoria de análise, achamos necessário citarmos Luft (2000) que diz que, a palavra ‘função’ significa obrigação a cumprir, papel a desempenhar. Já, o autor diz que, o conceito de ‘papel’ está associado à função desempenhada por alguém ou algo. Acrescenta que as palavras função e papel são sinônimos. Assim, consideramos neste estudo, que papel/função significam os objetivos que, os professores unidocentes estudados, desenvolvem as suas aulas de EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Dessa forma, emergiram, na visão dos professores unidocentes estudados, ‘três unidades de significados’. De acordo com Molina Neto (2004), unidades de significados são como enunciados dos discursos do informante que são significativos, tanto para o colaborador (pesquisado), quanto para o pesquisador, sendo atribuídos aos pressupostos teóricos da pesquisa. Dessa maneira, as unidades de significados foram descritas a seguir.

A ‘Psicomotricidade’ foi a primeira e principal unidade de significado destacada (quarenta e duas citações). Sobre esse papel/função da EF na unidocência, nos reportamos ao Grupo de Estudos Ampliados de Educação Física (1996) que dizem que, a Psicomotricidade legitimou-se como conteúdo da EF Escolar em contraposição ao modelo esportivo tornado hegemônico na escola, principalmente no que se relacionava a precocidade do ensino de modalidades esportivas para crianças das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com Peres (2001), a Psicomotricidade compreende a EF como um mero instrumento:

Isto quer dizer que ela, a Educação Física, passa a ser de grande utilidade no auxílio do ensino dos componentes curriculares, por exemplo: história, matemática, ciências..., enfim, de todos os demais que compõem o currículo pedagógico (PERES, 2001, p.234-235).

Sob essa perspectiva, o componente em questão (EF), perdeu sua especificidade o que acarretou marcas importantes na marginalização do mesmo, reavivando assim, a hierarquia dos saberes escolares. As disciplinas ditas científicas deveriam ser mais enfatizadas e enaltecidas em detrimento das demais (PERES, 2001, p.234).

Já, Azevedo e Shigunov (2001) colocam que, os conteúdos na Psicomotricidade são desenvolvidos a partir das condutas motoras: lateralidade, coordenação, equilíbrio, percepção sonoro-tátil-visual, destacando sua pré-história como fator de adoção de estratégias pedagógicas e de planejamento. Ainda o Grupo de Estudos Ampliados em Educação Física (1996) reflete a respeito da Psicomotricidade ressaltando que, esta se baseia em padrões de movimentos genéricos e universais, utilizando testes padronizados na elaboração de sua proposta pedagógica, o que pressupõe uma homogeneização dos indivíduos, sendo essa uma condição incompatível com uma perspectiva de educação transformadora. Uma outra reflexão do grupo é que a Psicomotricidade não leva em consideração os condicionantes sócio-históricos, desprezando as experiências sociais. Dessa forma, podemos inferir que, a tendência pedagógica ‘Psicomotricidade’ não é a mais adequada para ser utilizada na EF Escolar pelos professores unidocentes.

A segunda unidade de significado destacada foi ‘Recreação’ (quinze citações). Relativamente a esse papel/função da EF na unidocência, nos referimos a Fonseca et al. (2014) e Fonseca e Cardoso (2014) que colocam que, a Recreação é o foco das professoras unidocentes no que diz respeito aos conteúdos da EF. Também Aguiar (2014, p.6) em seu estudo, intitulado ‘Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: um paradoxo educacional’, concluiu que, a EF nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ministrada por professores unidocentes, “tem como característica a [R]ecreação”. Já, o Grupo de Estudos Ampliados em Educação Física (1996) afirma que, por trás do argumento de permitir à criança (aluno) movimentar-se de forma livre, a Recreação camufla seu maior propósito que é o de compensar energias acumuladas durante o tempo em que a criança está submetida à inércia da sala de aula. E ainda, o professor, nesse sentido, acredita que a EF acalma e tranqüiliza os alunos para o retorno às ‘atividades sérias’ da sala de aula. Assim, nesse entendimento de EF, Aguiar (2014, p.6) diz que, esta identidade de EF, enquanto Recreação, gerada pelos professores unidocentes, é “reflexo de sua formação” e contribui “para a dificuldade de visualizar a Educação Física como componente curricular e consolidar-se como disciplina nos [A]nos [I]niciais do [E]nsino [F]undamental”. Nesse direcionamento de afirmativa, citamos Peres (2001) que destaca que, a formação profissional da Pedagogia trata a EF em seu currículo como Recreação, ignorando a especificidade desse conteúdo, contribuindo para o status marginalizado da EF no âmbito escolar. Nesse sentido, Aguiar (2014, p.34) adverte que, “[p]ercebe-se pouca reflexão sobre o que deveria fazer parte do processo pedagógico da Educação Física, deixando a Recreação como identidade da Educação Física [E]scolar”. Devemos então, no mínimo, perceber, segundo o Grupo de Estudos Ampliados de Educação Física (1996), a Recreação foi apropriada pela EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, posteriormente, na Educação Infantil, a partir do modelo do ‘lazer’ ou da ‘Educação Física informal’. Já, Darido e Rangel (2005) afirmam que, na visão recreacionista de EF, praticamente o professor não intervém, deixando os alunos decidirem o que vão fazer na aula, escolhendo o jogo e a forma como querem praticá-lo. Isso desconsidera a importância dos procedimentos pedagógicos dos professores. Dessa forma, as autoras questionam se os alunos são capazes de aprender o conhecimento histórico, geográfico ou matemático sem a intervenção ativa dos professores? Porque, então, não há intervenção ativa dos professores quando fundamenta-se na Recreação? Então, é só preenchimento de tempo escolar? Nesse direcionamento de pensamento, o Grupo de Estudos Ampliados em Educação Física (1996) acrescenta que, a Recreação, enquanto prática pedagógica pode apresentar-se como: a) atividades espontâneas experimentadas pela criança com fins em sí mesmas; e/ou, b) atividades propostas pelo professor, porém desarticuladas umas das outras. Destacam que, nos dois casos citados, o professor não está comprometido com a sistematização, a complexidade e a ampliação do conhecimento a que as crianças precisam ter acesso a fim de avançarem em seu processo ininterrupto de aprendizagem e desenvolvimento. Dessa forma, podemos inferir que, a tendência pedagógica ‘Recreação’ não é a mais adequada para ser utilizada na EF Escolar pelos professores unidocentes.

A terceira e última unidade de significado destacada foi o ‘Desenvolvimento e Aprendizagem Motora’ (três citações). Quanto a esse papel/função da EF na unidocência, citamos o Grupo de Estudos Ampliados de Educação Física (1996) que colocam que, a tendência pedagógica denominada de Desenvolvimento e Aprendizagem Motora instalou-se como reforçador do modelo esportivo, como precedente ao esporte de rendimento, voltando-se ao desenvolvimento das habilidades motoras necessárias a um futuro desempenho esportivo. Segundo Moreira (2001), essa tendência preocupa-se com os padrões e normas estabelecidas de habilidades motoras básicas, localizando assim os erros de execução e oferecendo condições para que os alunos possam superá-los. Dessa forma, podemos inferir que, a tendência pedagógica ‘Desenvolvimento e Aprendizagem Motora’ não é a mais adequada para ser utilizada na EF Escolar pelos professores unidocentes.

Assim, esses foram os papéis/funções da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções dos professores unidocentes estudados.

Ao fazermos uma ‘análise geral’, sobre o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções dos professores unidocentes estudados constatamos que, a ‘maioria’ (quarenta e duas citações) está classificada na tendência pedagógica da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental como ‘Psicomotricidade’ (primeira unidade de significado) e a ‘minoria’ (dezoito citações) está dividida como ‘Recreação’ (quinze citações: segunda unidade de significado) e a classificada como ‘Desenvolvimento e Aprendizagem Motora’ (três citações: terceira unidade de significado). Esse fato convergiu com o colocado pelo Grupo de estudos Ampliados em Educação Física (1996) de que, as tendências pedagógicas da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental são: a Psicomotricidade, o Desenvolvimento e a Aprendizagem Motora e, a Recreação. Dessa forma, podemos inferir que, os professores unidocentes estudados, possuem percepções sobre o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental que correspondem às influências exercidas pelos seus cursos de formação profissional inicial e que essas não são as mais adequadas para esse segmento escolar. Assim, aconselhamos a utilização dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para a EF, pois esses recomendam uma ação nas aulas de EF, para esse segmento escolar, mais adequada por que valorizam a disciplina ao tratá-la enquanto um corpo de conhecimentos próprio da área.

4- AS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela análise das informações obtidas, constatamos que, a ‘maioria dos professores unidocentes estudados, possuem uma percepção sobre o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental classificada como uma tendência pedagógica denominada de Psicomotricidade, sendo que, a minoria está dividida entre a classificada como Recreação e a Desenvolvimento e Aprendizagem Motora’.

A partir destas constatações, proporcionadas pelas percepções dos professores unidocentes estudados, podemos concluir que, o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental está alicerçado, principalmente, na tendência pedagógica Psicomotricidade, e, secundariamente, nas tendências pedagógicas Recreação e Desenvolvimento e Aprendizagem Motora. Nesse sentido, lembramos Soldateli e Krug (2009, p.23) que destacam que, “[a] Psicomotricidade pode ser considerada bastante disseminada e, talvez, hegemônica no desenvolvimento da Educação Física nas Séries(/Anos) Iniciais do Ensino Fundamental” (acréscimo nosso). Entretanto, Sayão (2002) ressalta que, a Psicomotricidade é pautada num modelo de criança universal, onde o movimento serve de recurso pedagógico visando ao sucesso da criança em outros campos do conhecimento.

Assim, os resultados desta investigação apontam para a necessidade de mais discussões e estudos sobre o papel/função da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para que novos horizontes sejam explorados para contribuir com a melhoria da qualidade desta disciplina no currículo escolar.

Para finalizar, destacamos que é preciso considerar que esse estudo fundamentou-se nas especificidades e nos contextos de uma cidade em particular e de professores unidocentes em específico e que seus achados não podem ser generalizados e sim encarados como uma possibilidade de ocorrência.

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[1] Licenciado em Educação Física (UFPel); Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM); Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM); Professor Aposentado do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); hnkrug@bol.com.br.

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