10/10/2016

O PARADIGMA DA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O PARADIGMA DA INCLUÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 

Sônia Venâncio de Araújo Silva

Giselle Maria Santana Silva

Resumo

Falar teoricamente acerca da Educação Inclusiva é uma tarefa que exige puramente pesquisa, pois há inúmeros autores e estudiosos nessa área. Mas falar como esta ocorre na prática exige vivência, experiência e conhecimento de causa. Meus anos de docência forneceram-me um olhar mais crítico acerca da inclusão do deficiente na escola regular. Desta feita, no decorrer desse trabalho de pesquisa, levanto o questionamento de como a integração/inclusão ocorre nas práticas diárias da escola. Dentro desta perspectiva, as discussões seguem pelo viés do quão os professores e instituição estão preparados e capacitados para realizarem um trabalho de qualidade que realmente inclua os excluídos da sociedade. A família, enquanto elo indissociável entre aluno deficiente e sociedade, possui papel importante em todo esse contexto de quebra de preconceito e aceitação do diferente sob a égide de uma sociedade atravessada pela diversidade. Assim, o ponto crucial que perpassa essa pesquisa é quanto à inclusão ser aderida pela escola enquanto um cumprimento da lei, da ética e do “politicamente correto”, ou se realmente há esse despertar de consciência de que a mesma chave que abre a porta, também é a que fecha; ou seja, tudo vai depender do objetivo a ser alcançado. Isto é, a tentativa de inclusão sem nenhum aparato pode gerar exclusão, revolta e marginalização.

Palavras-chave: Portadores de Necessidades Especiais. Educação. Inclusão. Preconceito. Capacitação. Família.

Abstract

Talk about the theoretically Inclusive Education is a task that requires research, because there are purely countless authors and scholars in this area. But speak as this occurs in practice requires experience, experience and knowledge of the facts. My years of teaching provided me a more critical eye about the inclusion of deficient in regular school. This time, in the course of the research work, Levanto the questioning how integration/inclusion occurs in the daily practices of the school.Within this perspective, following discussions by the bias of how the teachers and institution are prepared and trained to ensure quality work that really include the excluded from society. The family, as the inseparable link between student deficient and society, has an important role in this whole situation of breakage of prejudice and acceptance of different under the aegis of a society bisected by diversity.Thus, the crucial point that permeates this search is regarding the inclusion be adhered to by the school as a law enforcement, ethics and a "politically correct", or if it is really this reawakening of conscience that the same key that opens the door, is also the which closes; i.e., everything will depend on the objective to be reached. This is the attempt to inclusion without any apparatus can generate exclusion, revolt and marginalization.

Keywords: Patients with Special Needs. Education. Inclusion. Prejudice. Training. Family.

1 Introdução

No dia em que, no Brasil, a Educação Inclusiva for uma extensão de todo o processo educacional, é que se poderá concebê-lo enquanto um país de todos, caso contrário será apenas um País dos mais privilegiados e daqueles tidos como “normais”. O preconceito existe em todos os segmentos da sociedade, pois a mesma ainda enxerga o diferente como anormal, sem se dar conta de que o ser humano não se marca pela igualdade e sim pela diferença; pela diferença na forma de agir e pensar e nas suas necessidades.

A educação, como meio imprescindível para mudar o mundo, é a porta inicial para romper barreiras e preconceitos tão arraigados no meio social. O deficiente já sofre uma série de limitações e dificuldades no seu dia a dia, e oferecer-lhe acesso e igualdade de participação do meio social, é algo que deveria ser corriqueiro, sem ter uma lei que lhes dessem essa garantia. Pois uma lei que garante um direito, só é criada quando em algum momento esse direito é negado.

O deficiente, em hipótese alguma, pode ser enxergado como “coitado” ou “incapaz”, e sim como portador de uma necessidade especial do qual é preciso algumas adaptações tanto do espaço físico, pedagógico e psicológico de todos os segmentos na educação. Incluir é muito mais do que abrir as portas da escola para o deficiente, é acima de tudo ajudá-lo a conquistar seu espaço na sociedade e usufruir de todos os direitos sociais que são conferidos a todos os cidadãos brasileiros.

2 Educação Inclusiva - Realidade ou Utopia

Atualmente, existe um paradigma que perpassa toda a sociedade, um modelo mental que determina a concepção “normal” da realidade. Essa forma de pensar cria dois mundos distintos e segregados um do outro, de um lado o mundo das pessoas normais e de outro lado o mundo das pessoas diferentes, isso gera preconceito e exclusão para com aqueles que não se encaixam no padrão de normalidade criado pela sociedade. É pela existência desse paradigma que as pessoas são aceitas ou rejeitadas.

Visto por esse prisma, é prática querer que o deficiente se adapte ao meio, sem se dar conta que é o sistema escolar como um todo que deve estar adaptado para acolhê-lo dentro de suas necessidades diferenciadas. Contudo, a sociedade tende a enxergar o deficiente como se ele fosse responsável por ser “diferente” e que, portanto, deveria encontrar meios para se normalizar. Todo esse pré-conceito marginalizou e excluiu o deficiente, contudo, é na década de 60 que começa a despontar um novo olhar sobre o deficiente.

Em 1960 surgiu no Brasil uma nova modalidade de educação, chamada Educação Especial. Embora seja possível apontar um grande avanço em termos de educação no Brasil, vale salientar que ocorreu de forma segregada da educação comum. Em outras palavras, a educação especial era uma forma de “confinar” o aluno deficiente, criando um mundo à parte do que as outras crianças e/ou alunos “normais” concebiam como educação.

É de natureza comum todo ser humano possuir uma deficiência, contudo, essa verdade incontestável não é suficiente para romper barreiras e preconceitos que muitas famílias e deficientes têm que enfrentar no decorrer de toda a tentativa de inclusão social e educacional. Os centros ou instituições voltadas para o deficiente apenas comprovam que existe uma barreira que marginaliza e separa os diferentes dos iguais.

O conceito de normalidade não é universal e muito menos uma verdade absoluta, ou seja, esta pode mudar e variar conforme o tempo, de modo que o que é considerado normal hoje, pode não ser normal amanhã. O conceito de normalidade e de anormalidade não possui lugar colado no indivíduo, não está dentro de cada ser humano, e sim algo que vem de fora, como um pré-conceito apontado pelo outro.

A inclusão educacional deve ser algo a caminhar junto com a inclusão social, uma vez que esta questão não pode ser vislumbrada apenas pelo viés da conscientização social, como um processo de aceitação social aos diferentes, pois aqui se configura algo ainda mais abrangente, abarcando a ideia de direito amparado pela Constituição Federal, ao garantir o direito de cidadania, de uma sociedade feita para todos, onde todos possuem os mesmos direitos e deveres.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aponta para a educação especial como um dever do Estado, ou seja, a educação regular e a educação especial partem de um mesmo dever constitucional. Assim, a LDB 9394/96 regulamenta a forma como a inclusão do deficiente deve ocorrer no ensino regular.

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educados portadores de necessidades especiais. (Art. 58 da Lei nº 9394/96 (LDB) Capítulo v - da Educação Especial)

Embora tenha esse amparo legal, há várias questões que começam a fazer parte do ambiente escolar, dentre as quais se podem apontar o fato de muitas escolas sustentarem o discurso de não estarem preparadas para receber o deficiente e muito menos o professor está apto para lidar com as diversas necessidades dos alunos. Para PINTO (1998) é preciso reavaliar esse discurso acerca do “despreparo do professor”, pois o bom professor de educação especial se especializa, em sua maioria, nas interações das práticas diárias de sua função.

Isso ocorre porque a educação não parte do comum para o especial, e sim ao contrário, de modo que, na maioria dos casos, basta que o professor domine o especifico e perceba que a inclusão não é uma categoria, e sim uma questão de mentalidade. Ou seja, “o que lhes falta, muitas vezes, é a confiança em sua própria habilidade” (MITTLER, 2003, p.181), gerando resistências em lidar com a diversidade.

O princípio fundamental da Educação Inclusiva é a valorização da diversidade dentro da comunidade humana. Quando a Educação Inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a idéia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo. (KUNC, 1992)

De acordo com Kunc, não é possível lidar com a inclusão educacional ancorado na pedagogia da normalidade, de modo que enxergar o deficiente pelo viés de uma pessoa anormal é uma forma de marginalizá-lo. É preciso, antes tudo, compreender e entender que todo ser humano é atravessado pela diversidade. Há uma forte tendência de deturpar a ideia de inclusão, pois muitos educadores, professores enxergam-na como o simples fato de receber o deficiente na escola regular, mesmo sem nenhum aparato para isso.

É normal muitos alunos serem atendidos na escola regular em salas de recurso como se esta fosse seu ambiente de estudo e não um ambiente de apoio às suas necessidades especiais. Essa é uma forma de separar os “diferentes” dos “iguais”, e isso nem de longe pode ser chamado de educação inclusiva, é apenas uma forma preconceituosa ou falta de conhecimento do que seria ofertar acessibilidade ao deficiente e incluí-lo no sistema de ensino junto aos demais alunos.

Muitas escolas não acolhem o deficiente com o objetivo de assumir esse papel de inclusão, e acabam por fazer essa tarefa apenas para cumprir o que a lei determina. Essa questão de “falsa inclusão” pode gerar traumas terríveis nos alunos deficientes, ao passo que percebem que estão sendo tratados de forma diferente, separados dos demais. O próprio sistema já exclui e aponta para a segregação social.

A inclusão não é um despertar de consciência de nossos políticos brasileiros, é antes de tudo um processo de luta mundial pelo direito de uma educação para todos; uma luta dos deficientes e suas famílias pelo seu lugar na sociedade. A família está presente nesse processo de luta, em especial por esta ser o primeiro contato do aluno, pois é o seu primeiro grupo social, sua porta de entrada para o convívio com as pessoas fora do rol familiar.

A participação da família é de suma importância no movimento da inclusão. Seja de forma individualizada ou por meio de suas organizações, é imprescindível a sua participação para que a continuidade da luta por sociedades mais justas para seus filhos seja garantida. É importante sua participação, pois assim a família irá exercer sua cidadania e funcionará como um veículo por meio do qual seus filhos possam aprender a ser. (SANTOS, 1999, p. 78)

Cabe a escola facilitar e encorajar a participação da família na educação dos filhos, principalmente o acompanhamento do filho especial, uma vez que esta é o primeiro elo entre a criança e a sociedade, de modo que esta é quem pode assessorar e tornar menos acentuado as dificuldades da criança portadora de deficiência, por conhecê-la bem e saber como lidar com determinadas situações que só quem convive diariamente com o deficiente pode compreender e ajudar na superação.

Todo o ser humano possui alguma necessidade especial, contudo, há quem precise de mais atenção que o outro, pois sua necessidade é maior. Nem sempre se pensou dessa forma, pois o deficiente, antes da década de 60, era tido como invalido e por isso separado do convívio social, não tinham espaço no mercado de trabalho, nem na educação, enfim, não tinham espaço na sociedade. Essa forma de conceber o deficiente como inválido fez com que as famílias internassem-no em instituições de caridade, onde eram cuidados, medicados e possuíam algumas atividades para ocupar o tempo.

Essa forma de conceber o deficiente foi se modificando com o tempo, principalmente diante do surgimento de estudos e teorias que fomentaram um novo olhar para a educação, de modo a incluir os excluídos, dando voz ao oprimido. Teoricamente a ideia de inclusão se tornava cada vez mais significativa e de certa forma trazia em seu dorso uma beleza incontestável. Contudo, a prática nem sempre acompanha a teoria, e pode caminhar a contramão do que teoricamente havia idealizado. Desta feita, é comum muitas pessoas se indagarem quanto o funcionamento prático da educação inclusiva. Ou seja, a educação inclusiva é realidade ou utopia?

Atualmente quando se fala em inclusão, logo pensam em acessibilidade, e consecutivamente vem a ideia de construção de rampas, como se dar acesso ao deficiente estivesse pautado única e exclusivamente no fator físico de construção de rampas. Essa forma pequena e simplória de enxergar a situação se dá até mesmo por parte do governo, uma vez que se preocupou em adequar toda a estrutura física da escola para receber o deficiente, criaram rampas, adaptaram banheiros, como se todo deficiente fosse cadeirante. A deficiência vai além desse pensamento, existe um número gigantesco de deficiências, tais como visual, auditiva, hiperatividade, autismo, e dentre outros. Cada tipo de deficiência requer um tipo diferenciado de lidar com a situação.

Esse tipo diferenciado é onde está localizada a raiz do problema, pois os professores sentem-se despreparados para essa diversidade, mesmo diante do investimento ou interesse governamental no aperfeiçoamento ou capacitação do professor para atender os portadores de necessidades especiais. Essa realidade sustentada pelo discurso da falta de preparo, não se fundamenta segundo VIGOTSKY, 1987:57:

Podemos dizer que em uma análise psicológica não há qualquer pedagogia especial, diferente em princípio para a criança com defeito. A educação da criança com defeito constitui somente um capítulo da pedagogia geral

Contudo, mesmo diante desse aspecto, alguns professores têm feito a diferença nesse cenário de inclusão, congregando esforços para, no mínimo, diminuir a exclusão social no rol da educação. A família também vem contribuindo para que isso ocorra, na busca da autonomia, e da integração/inclusão do portador de deficiência na sociedade atual. Cujo objetivo, não é normalizar; tornar normal o diferente, e sim concebê-lo dentro de sua diversidade e pluralidade para que o mesmo possa usufruir dos direitos sociais básicos que lhe são conferidos pela constituição federal, como saúde, educação, lazer, trabalho, direito de ir e vir e outros.

Os objetivos da educação especial destinada às crianças com deficiências mentais, sensoriais, motoras ou afetivas são muito similares aos da educação geral, quer dizer: possibilitar ao máximo o desenvolvimento individual das aptidões intelectuais, escolares e sociais. (UNESCO, 1968)

Para que isso de fato ocorra, o ponto de partida para a Educação Inclusiva deve ser o aluno, jamais sua deficiência. Pois não se inclui deficiência, o que se busca incluir é o sujeito que, em detrimento de sua deficiência, foi excluído do meio social. Há de se mudar estereótipos e paradigmas para romper a barreira que anos a fio foi criada para separar o deficiente de todos os direitos que são inerentes a sua condição humana.

A integração/inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais ocorre de forma não planejada, gerando a falta de conhecimento, de estrutura e de suporte corroborando para a exclusão no cenário onde a proposta inicial era para incluir.

(...) A simples inserção de alunos com necessidades educativas especiais, sem qualquer tipo de apoio ou assistência aos sistemas regulares de ensino pode redundar em fracasso, na medida em que estes apresentam problemas graves de qualidade, expressos pelos altos níveis de repetência, de evasão e baixos níveis de aprendizagem. (BUENO, p. 06, 1988)

Por este prisma, é possível perceber que tudo o que ocorre de forma não planejada tende a não dar certo. O projeto não surgiu apenas para preencher espaço, surgiu, acima de tudo, para dar um direcionamento seguro à prática. Em suma, Planejar e se preparar para as situações é uma forma de garantir o sucesso da ação.

A inclusão escolar pode um dia ocorrer de forma plena, em especial quando o professor e todo o sistema de ensino, perceber que a educação inclusiva ultrapassa a categoria do deficiente, pois os excluídos de hoje são aqueles alunos que, sem deficiência, mas que sofre as pressões com base na sua cultura, etnia, classe social, gênero, dentre outros. Em outras palavras, é preciso mudar a mentalidade, para que todos os alunos sejam incluídos no espaço escolar e social diante de sua diversidade.

3 A política de educação inclusiva e o (des) preparo do professor

É crescente a necessidade de diminuir a lacuna existente entre sociedade e deficiente. Fato este que se pode comprovar diante da criação de Leis e Decretos que vêm ao encontro da inclusão do deficiente, principalmente pela criação da Secretaria de Educação Especial, do Ministério da Educação. Assim, o Governo Federal, busca, com isso, respaldar a inclusão na escola, pois de nada adiantaria criar Leis que obrigassem a escola a receber o deficiente, sem que o professor tivesse um apoio quanto às dificuldades diárias que iria encontrar na escola.

Além da Constituição Federal de 1988 que garante os direitos de todo o cidadão, o que também inclui o cidadão deficiente, foi criada a Lei 7853/89, esse foi um grande marco, elevando o Brasil como o País possuidor de uma avançada lei de inclusão, se destacando em toda a América. A lei trata, além dos direitos do deficiente, a definição dos crimes cometidos contra o portador de deficiência e consequentemente sua punição. Essa é uma forma de orientar o trabalho do Ministério Público quanto aos crimes cometidos em desfavor da pessoa com deficiência.

Todo um aparato foi criado para garantir a proteção dos portadores de necessidades especiais. As políticas públicas criadas a partir desta lei foram de grande relevância, principalmente órgãos como CONADE[1], que, por sua vez, articularam políticas públicas focadas na promoção da cidadania e defesa dos direitos. E foi criado também o CORDE[2], um órgão fiscalizador que visava acompanhar e avaliar o cumprimento das políticas criadas para a inclusão do deficiente.

Esses dois órgãos formam as bases da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal. Tudo pensado na questão do enfrentando da inclusão, não só na educação, como também na saúde, trabalho, cultura, lazer, ou seja, em todos os segmentos da sociedade.

A escola regular começa a ser um espaço de unidade inclusiva, e é necessário que os professores sejam, de fato, preparados, capacitados para atender às necessidades do deficiente. Contudo, Cláudia Dutra, Secretária de Educação do MEC, ressalta que:

O projeto a inclusão não pode ser adiado por entender que as escolas não estão preparadas. A formação não é apenas o treinamento prévio, é preciso matricular a criança, estabelecer a relação professor/aluno e então perceber o que é necessário para que ela aprenda.

É fato que os professores precisam estar capacitados, mas é quase impossível realizar uma capacitação plena que dê respostas e explicações para todas as indagações e dificuldades que vão encontrar na sala de aula. Pois, somente na prática que o professor terá a dimensão da deficiência do aluno e poderá, com isso, criar meios para diminuir sua dificuldade, adaptar currículo, criar técnicas e formas de ensinar tão peculiar quanto se apresentam as deficiências de cada aluno.

É difícil pensar em capacitar previamente o que somente na prática o professor vai perceber. À grosso modo, seria como fazer um manual de como criar os filhos, e supor situações que talvez a mãe possa se deparar. Contudo, a realidade é muito dinâmica e as coisas não acontecem conforme está escrito em um manual, não existe um padrão de comportamento que se encaixe em todas as pessoas.

Desse mesmo modo é possível compreender a ideia de capacitação prévia do professor, supor situações e supor soluções não é a saída. Mas, enfrentar as dificuldades que ocorrem de forma tão distintas entre os alunos e a partir de então buscar meios para que consigam se adaptar, aprender e interagir com os outros alunos, é a saída ou talvez a porta de entrada para uma educação realmente inclusiva.

Os professores sentem-se desamparados, mas ao mesmo tempo em que circunda esse sentimento, há a criação de Leis que servem – lhes com amparo no momento de lidar com a inclusão do aluno especial. A LDB[3] 9394/96, por exemplo, trata dessa questão, normatizando essa questão e amparando tanto professor quanto aluno no enfrentamento à inclusão. Essa é uma tarefa árdua, mas necessária e possível.

O deficiente não pode ser refém do seu próprio mundo e a sociedade precisa compreender que diferença não é desigualdade, e a escola, enquanto espaço de formadores de opinião, é o ambiente em que mudanças podem ser pensadas, no instante em que nesse espaço se promove a compreensão e respeito à diversidade a qual a sociedade é atravessada.

Existem várias linhas de pensamento quanto a inclusão escolar. Dentre elas, destacam duas principais linhas, uma que aponta a inclusão como necessária e de grandes resultados para todos os envolvidos nesse processo. Em outra vertente há o discurso de que há certas deficiências que não permitem a inclusão, pois há crianças/alunos que possuem um grau de deficiência muito acentuada que o impedem de conviver e/ou interagir com outras crianças.

Embora, existam essas vertentes, vale ressaltar que é difícil responder se existe ou não algum tipo ou grau de deficiência que impeça a inclusão, mas é fato que se o grau de deficiência exigir, além do trabalho personalizado do professor, um cuidado maior e mais constante, tal aluno, segundo a LDB 9394/96 é um direito do portador de deficiência receber atendimento especializado na escola regular que venha ao encontro às peculiaridades de suas necessidades.

Art. 58 . Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços a escola ainda conta com um espaço especializado e de atendimento individualizado para o deficiente, espaço esse denominado de sala de articulação. (LDB 9394/96 capítulos v da Educação Especial)

Na sala de articulação há um profissional voltado para as dificuldades de cada aluno, geralmente esse profissional recebe capacitação continuada e permanente. O articulador é o professor que vai trabalhar justamente no ponto onde o aluno possui maior dificuldade, para que posteriormente seja inserido na sala de aula novamente.

Esse profissional é sabedor das Leis que versam sobre a inclusão sócio educacional, direitos do deficiente, além de ter conhecimentos de linguagens de sinais (Libras), acolhimento humanizado do deficiente, e outros conhecimentos que se fazem necessários para lidar de forma especializada com o aluno portador de necessidades especiais.

Dentro do enfoque de ofertar respaldo ao trabalho do professor, o governo do estado de Mato Grosso vem priorizando políticas de educação inclusiva, uma vez que tem criado várias portarias, cujo intuito é buscar uma ação integrada entre várias secretarias para melhorar o atendimento do deficiente na rede estadual de ensino.

A portaria nº 324 estabelece uma comissão de estudos com o objetivo de elencar critérios para que as diversas entidades filantrópicas, que atendem o deficiente, possam se conveniar à Seduc (Secretaria de Estado de Educação). Desse modo, o Estado busca respaldar os trabalhos realizados na busca da melhora da qualidade de vida do deficiente, ou seja, a preocupação vai além do ambiente denominado escola regular, e chega aos mais diversos espaços de atendimento ao deficiente.

Já a portaria nº 329 tem por função fazer um levantamento e análise da situação geral para, então, instituir a Política de Educação Especial para o estado. E sem contar que foi criada uma comissão, através da portaria nº 330 para viabilizarem um projeto de construção de um prédio que funcione como centro de apoio à inclusão da Educação Especial.

Essas portarias foram criadas em setembro de 2015 no Palácio Paiaguás, durante a Semana Estadual da Pessoa com deficiência. É notória a preocupação quanto à inclusão do deficiente, embora muitos professores tenham a ideia de que estão relegados a própria sorte ou desassistidos pelo governo. Durante o evento o secretário de Estado de Educação Permínio Pinto Filho, ressaltou as ações que norteiam sua pasta:

“Incentivamos o envolvimento familiar e a identificação de parcerias e serviços na comunidade, orientando a formação de redes de apoio e a formação continuada de profissionais da educação. ”

Dessa forma é necessário que todos se envolvam no processo de inclusão. Nesse quesito a família possui papel fundamental no enfrentamento à desigualdade e preconceito e, acima de tudo, pode ajudar o professor a lidar com a dificuldade da criança, pois a convivência diária faz com que a família perceba e entenda meios de adaptação que, talvez, o professor demoraria um tempo maior. Todos os esforços, tanto da família, da educação, da comunidade, dos núcleos de apoio e do governo devem caminhar de mãos dados nesse enfrentamento. Pois, é desse fator que se poderá medir o sucesso ou insucesso da inclusão do deficiente na escola regular.

A diversidade é uma questão social, do mesmo modo que a deficiência é fruto da sociedade e compete a esta, de uma forma geral, criar meios para facilitar o acesso do deficiente no meio social em que vive e faz parte.

Portanto, o despreparo do professor é antes de tudo desconhecimento de como as coisas funcionam ou deveriam funcionar. O professor está despreparado, porque lhe falta confiança na sua capacidade de ensinar diante da diversidade. O professor não consegue lidar com a diversidade, não se sente incluído como peça fundamental para o processo de inclusão, por isso, o enfrentamento desse “problema” se torna árduo e cansativo. Essa dificuldade em que muitos professores insistem em apontar não está propriamente no problema da deficiência, mas na forma como ele pensa na deficiência. É mais uma questão de mentalidade do que de qualquer outra coisa.

4 Considerações finais

Para que a inclusão de fato ocorra é necessário o reconhecimento de que a diversidade faz parte de toda sociedade. Isso está acima da criação de qualquer lei, programa ou políticas de inclusão. A resistência em lidar com a diferença existe quando se concebe todos os seres humanos atravessados pela igualdade, um modo de pensar que aponta para um mundo que não existe, e é justamente nesse modo de pensar que muitos alunos são educados hoje, isto é, para um mundo desaparecido.

Portanto, são notórias diversas barreiras que se opõem à ideia de inclusão, em primeira instância está o pré-conceito que gera segregação social, de um lado os “normais”, de outro lado, os “diferentes”; dois mundos separados pela não aceitação da diversidade. Em segunda instância, os professores e todo o sistema educacional em si, não conseguem, em sua maioria, dar um salto de qualidade na educação do deficiente, pois se sentem desamparados e desassistidos pelo governo.

Mas, na realidade, falta a compreensão de que a capacitação maior é aquela que se dá nas práticas diárias da escola e que existe uma série de Leis e órgãos que servem para dar respaldo ao trabalho do professor. Contudo, é necessária que o professor esteja atento a isso e, acima de tudo, tenha aptidão para buscar seu conhecimento, tenha vontade de conhecer sobre o assunto e vontade para fazer a diferença. Pois, há como se capacitar sim, se preparar, há recursos financeiros para a implementação da política de inclusão do deficiente na escola regular.

Se isso não estiver acontecendo, alguma coisa está errada, pois o governo disponibiliza recursos financeiros para que a escola se adapte e se adéqüe à normativa. Assim, a inclusão educacional pode um dia vir a acontecer de forma plena, mas dependerá da congregação de esforços entre sociedade, família, educação e governo, caso contrário o cenário que se apresentar como de inclusão será apenas um modo de “camuflar” a exclusão do deficiente.

Referências

BRASIL. Lei nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre a educação especial. Capítulo V. São Paulo, 1996.

BUENO, Geraldo. Crianças com necessidades educativas especiais, política educacional e a formação de professores: generalistas ou especialistas? Texto apresentado no Grupo de Trabalho da Anped - 1998.

KUNC, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Editora Perspectiva, 1992.

MEC - Ministério de Educação - Secretaria de Educação Especial: POLÍTICA NACIONAl DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Brasília MEC - SEEDSP 1994.

MITTLER, Londero. Implicações do Diagnóstico na aceitação da criança com deficiência: Um estudo qualitativo. Interação em pscicologia, Curitiba, 2003

PINTO, M. D. Sociedade educação inclusiva: desafios do final do século. In: mensagem da APAE, jan/Marc de 1999.

SEMANA ESTADUAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Disponível em [http://goo.gl/rGbJGT] – Acessado em 10 de março de 2016

SANTOS, S. M. Família de pessoas com deficiência: Desafios e superação. Revista de Divulgação Técnico Ciêntifica do ICPG, Blumenau, 1999

VIGOTSKY, L. S. Obras completas. Tomo cinco. Fundamentos da defectologia. La Havana. Pueblo y Educacion, 1987.

[1] Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência

[2] Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência

[3] Lei de Diretrizes e Bases da Educação

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