13/06/2016

O Processo de Formação do Professor e o Resgate do Lúdico na Educação Infantil

RESUMO: Este trabalho apresenta o processo de formação de professores e como este pode contribuir significativamente apontando caminhos norteadores para a adoção da dimensão lúdica- pedagógica no âmbito da educação Infantil. A postura do professor, os conhecimentos e a capacidade de dialogar e refletir na e sobre sua prática envolvendo os alunos rumo à construção do saber privilegiando o brincar como forma de aprender e desenvolver os aspectos físicos, psicológicos e pedagógicos da prática educativa. Assim, tem-se como objetivo realizar uma reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem no cotidiano da Educação Infantil permeada pela brincadeira. Esta é de grande relevância deixando marcas no indivíduo para e resto da vida. Numa perspectiva prática, busco subsídios para a compreensão do ato de brincar. A metodologia utilizada é fruto de pesquisa bibliográfica, que delineia como elemento primordial a formação e possibilita a articulação entre a teoria e a prática, visando à transformação da realidade.

Palavras-chave: Educação Infantil; Brincar; Aprendizagem; Reflexão sobre a prática.

THE PROCESS OF FORMATION OF THE PROFESSOR AND THE RESCUE OF THE DIDACTIC

IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION

ABSTRACT: This paper presents the process of teacher education and how it can contribute significantly indicating methods for guiding the adoption of the playful dimension in education Child. The position of teacher knowledge and ability to talk and reflect on their practice and on involving the students towards the construction of knowledge emphasizing the play as a way to learn and develop the physical, psychological and pedagogical aspects of educational practice. Thus, we have aimed to reflect on the process of teaching and learning in the daily life of early childhood education permeated the game. This is of great relevance leaving marks on the individual and for life. A practical perspective, I seek help us to understand the act of playing. The methodology used is the result of literature review, which outlines how essential factor in the formation and to improve the articulation between theory and practice, aiming to transform reality.

Keywords: Child Rearing; Playing, Learning, Reflection on the practice.

O presente artigo pretende fazer uma abordagem sobre a formação inicial vivenciada no curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia partindo da seguinte questão: como o processo de formação possibilitou-me  rever a minha prática, entender e apreender como é importante “brinquedos e brincadeiras” quando se trabalha com crianças na Educação Infantil?

O estudo tem por objetivo a reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem. Busca verificar a importância do brincar para construção do conhecimento, observando possibilidades e significados favoráveis à aprendizagem.

Descortinar a teoria para definir a prática na Educação Infantil, experimentar o prazer de aprender brincando,construindo um aprendizado permeado de brinquedos e brincadeiras é a motivação deste artigo que tem como referência minha prática profissional e minha formação como pedagoga.

No primeiro momento contextualizo minha prática profissional, pontuando a formação vivenciada e o processo de mudança de concepções buscando respaldo na teoria. Em seguida procuro entender a relevância das brincadeiras para o desenvolvimento e também a função do professor como mediador e facilitador do saber.

Trabalho a alguns anos na Educação Infantil. No início exercia uma prática descontextualizada e desprovida de embasamento teórico, sem muito significado, permeada de concepções errôneas. Não valorizava a presença do lúdico na Educação Infantil. Não percebia a importância e a relevância de um aprendizado permeado por brincadeiras e também não conseguia ver aprendizado no brinquedo, pensava este de forma separada do conhecimento da criança. Não entendia o porquê do brincar, não podia perceber a ligação de múltiplas aprendizagens através das brincadeiras.

No início da carreira, exercia a função de auxiliar de creche, (como era denominada a profissão na época), mais tarde por exigências legais a creche passou a ser administrada pela Secretária Municipal de Educação, provocando mudanças no que diz respeito à formação do profissional atuante na Educação Infantil.

Determinação que procurava atender as exigências da Lei 9394/1996-Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional que segundo Oliveira (2002, p.28) exigia ;

A formação de docentes para atuar na Educação Básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.

Neste contexto, a necessidade da formação docente, passou a ser cada vez mais destacada no cenário educacional. Assim, a Prefeitura Municipal de Uberlândia, em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia ofereceu um curso de capacitação: Programa Emergencial Para Habilitação em Nível Médio Modalidade Normal – do Professor de Educação Infantil em Exercício.

 Acompanhando essas mudanças ocorre a discussão sobre a identidade e a vida profissional dos auxiliares, em relação às mesmas, acontece também às mudanças de nomenclatura de: Auxiliar de Creche para Educador Infantil.

À medida que as primeiras aprendizagens foram acontecendo possibilitou-me rever minha postura pedagógica, construir novos paradigmas, estabelecendo novos conceitos, estruturando a teoria e a prática.

Durante a formação tivemos oportunidade de ressignificar à identidade do professor; podemos perceber que a prática é uma atividade complexa e carregada de conflitos ,de valores, o que exige posturas éticas e políticas. Ser professor requer saberes e conhecimentos científicos, pedagógicos, educacionais, sensibilidade, indagação teórica e criatividade para saber proceder, precisa ter embasamento teórico para entender o cotidiano pedagógico. É possível perceber que o trabalho docente está impregnado de intencionalidade, permeada de situações ambíguas, incertas, conflituosas e às vezes violentas. É preciso proceder de maneira concreta para amenizar tais conflitos, propor transformações sociais, questionando, refletindo,o que evidencia a necessidade da competência profissional.

Assim, identificamos que o professor necessita de conhecimentos e práticas que ultrapasse o campo de sua especialidade, precisa dominar o saber que vai além da graduação, deve estar sempre em busca de novas leituras, cursos de aperfeiçoamento e formação continuada, ampliando a compreensão e o conhecimento da realidade profissional de ensinar.

Após essa formação fiquei motivada a continuar meus estudos.Assim, em de 2005, iniciei o curso de pedagogia na Faculdade Católica de Uberlândia. Na graduação, construí um novo conhecimento para atuar junto às crianças de zero a seis anos, este transformou meu olhar e também meu modo de agir. As transformações possibilitaram-me ampliar a consciência sobre a minha prática em  sala de aula e o da escola como um todo, o que pressupõe conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. Outro ponto importante, com toda certeza, foi a realização do Estágio aliado às experiências docentes acumuladas que tornaram-se relevantes para meu aprimoramento e qualificação profissional.Este aspecto evidencia o que  Oliveira (2002, p. 17) afirma em sua análise da relação entre teoria e prática:“No processo educativo, teoria e prática se associam e a educação é sempre intencionada pela teoria”. Daí a necessidade de atribuirmos significado ao Estágio como campo de saberes.

Durante a graduação comecei a participar de vários outros cursos de formação pedagógica, tive oportunidades de participar de experiências e aprendizagens diversas. Com um olhar mais atento, trilhei diversos caminhos, antes desconhecidos por mim. Todo este saber foi transformando meu modo de agir e pensar. As teorias abordadas vieram ao encontro de minhas necessidades. Agora num movimento de resposta às aprendizagens, consolidando os conhecimentos construídos pelas diversas leituras tornou-se um desafio, pois era preciso incorporá-las ao meu trabalho, modificando o meu fazer pedagógico em sala de aula.

No início da profissão, o brincar era uma coisa corriqueira, sem importância, mas depois deste longo tempo, e, tendo a oportunidade de estudar vários autores, entre eles, Froebel, Montessori e Rousseau, foi possível perceber a relevância das brincadeiras para a aprendizagem.

 Froebel (1782-1852), educador alemão, que trouxe novas influências teóricas e ideológicas ao liberalismo e nacionalismo. Numa perspectiva mística, criou em 1837 o KINDERGARTEN “(jardim de infância)”. A concepção de criança: - “pequenas sementes”. Segundo este autor, a escola demonstrava preocupação com a modelagem das crianças. A ênfase posta por ele era na liberdade da criança, os recursos pedagógicos eram as prendas ou dons, que ele chamou de “atividades maternais”.

 Montessori (1879-1952) construtora de propostas sistematizadas para educação infantil no séc. XX propunha uma pedagogia científica, pois não aceitava a natureza como ambiente apropriado para o desenvolvimento infantil, a criança era disciplinada pelo trabalho que ocupava. Montessori elaborou materiais adequados à exploração sensorial e específica ao alcance de cada objetivo educacional. O material didático previa exercícios destinados a desenvolver as diversas funções psicológicas. Criou instrumentos elaborados para a educação motora, educação dos sentidos, da inteligência e valorizou a diminuição do tamanho do mobiliário.

Não podemos deixar de mostrar a importância de Jean Jacques ROUSSEAU (1712-1778) como precursor dessas idéias, pois o mesmo revolucionou a educação de seu tempo, propunha “educação que seguisse a liberdade e o ritmo da natureza, preconizava o controle dos infantes pelos adultos”. Ressaltava que a criança deveria aprender por meio da experiência, de atividades práticas, da observação, da livre movimentação, de formas diferentes de contato com a realidade. Ele criou condições para discussões sobre a brincadeira infantil. Estes precursores delinearam novas perspectivas para a educação de crianças pequenas.

A apropriação dessas teorias na minha formação envolveu um longo processo de reflexões. Muito contribuíram para a transformação dos meus princípios e passei a perceber a importância e a maneira como a educação dos pequenos deveria ser pensada. Toda esta trajetória solicitou-me grandes transformações e questionamentos da prática pedagógica que desenvolvia em sala de aula.

Este processo de mudança, que hoje percebo em meus posicionamentos envolve a assimilação de novos paradigmas e concepções que só foi possível acompanhado do processo de formação: seja por meio de cursos de capacitações ou a nível acadêmico. Na teoria buscamos respaldo teórico à prática antes desenvolvida no senso comum, desprovida de reflexões, formação de conceitos importantíssimos para desempenharmos argumentações teóricas fundamentais que requer o bom profissional.

 Na formação é possível desenvolver e se modificar pelas interações estabelecidas no contexto social, uma vez que está envolvida com os múltiplos protagonistas. Podemos entender questões históricas que perpassam as teorias, o ensinar e aprender, o desafio da educação, o papel da escola dentre outras.

 A formação é um processo de identidade profissional que acompanha o indivíduo, dar-se-á ao longo da vida, revendo posturas, problematizando concepções, construindo significativamente conceitos próprios e, talvez a possibilidade de ler e interpretar a história da formação de cada um de nós possibilitará entender o que fomos ontem e o que somos hoje.

O professor precisa desvelar as teorias que colocam em prática, desconstruindo conceitos enraizados, compreender a própria prática sempre dialogando com esta, assumir posturas diversas desenvolvendo capacidades de reflexão, perceber o outro, estar aberto ao acolhimento (saber), ser transformador, ter capacidade de analisar e criar e assim superar práticas dominantes.

Em geral, nas escolas de Educação Infantil, podemos encontrar as mais variadas práticas muitas vezes com visão somente de escolarização, insistindo em imobilizar as crianças numa carteira. Recorrem a instrumentos pedagógicos mais disciplinadores, como: carteiras enfileiradas, lousa, giz, apagador, carimbos, folhas mimeografadas e estereotipadas, cartilhas entre outros. Imobiliza, limita e tole o movimento, as emoções e as experiências, que são próprias desta faixa etária, com práticas pouco atrativas e cansativas, que não agradam as crianças.

 É preciso uma visão abrangente do espaço educacional, alicerçado no tripé: conteúdo, método e relação teoria e prática, para combatermos uma pedagogia centrada na figura do professor e reconhecermos na criança um interlocutor inteligente que constrói significados.

Enfim, para compreendermos melhor a proposta cujo objetivo principal é resgatar o caráter lúdico do movimento humano, devemos proporcionar um espaço brincante com muitos materiais e objetos, os quais devem ser utilizados pelas crianças. Exemplos: os jogos, livros de histórias, roupagens diversas, quebra cabeças variados, dominós, palitos, jogos de encaixes, de construções, figuras geométricas de tamanhos e formas diferentes, blocos de construção, revistas, jornais, papéis variados, destinados a dobraduras e perfurações, recorte-colagem, massa de modelar, argila, areia, giz de cera, canetinhas coloridas, discos, CDs para músicas e filmes infantis, cordas, bola e outros.

Tentando compreender o universo da Educação Infantil muitos pesquisadores atentaram para a importância e riqueza desta faixa etária, embora nem todos tenham se dedicado a pesquisar exclusivamente o desenvolvimento infantil, tais teorias vêm sendo amplamente debatidas e disseminadas no contexto educacional.

Um desses pensadores exponenciais para Educação Infantil, é o cientista suíço Jean Piaget (1896-1980), que se dedicou a compreender a forma como o processo de aquisição do conhecimento pela criança acontece. De acordo com sua teoria, a criança constrói o conhecimento mediante descobertas. Semelhantemente, o raciocínio é construído gradualmente. Seus apontamentos são que as crianças passam por processos de assimilação e acomodação. As conclusões da pesquisa resultam em quatro estágios de desenvolvimento cognitivo: Sensório–motor (zero até dois anos de idade) no qual desenvolvimento ocorre a partir da atividade reflexa para a representação e soluções sensório-motoras dos problemas. Inteligência prática. O ato de aprender se confunde com a ação.

 Pré-operacional (dois até sete anos). O desenvolvimento ocorre a partir da representação sensório-motora para soluções de problemas e o pensamento pré-lógico.

Operações concretas (sete aos onze ou doze anos).Período em que as crianças usam o raciocínio e a lógica na manipulação de objetos concretos. O desenvolvimento ocorre a partir do pensamento pré-lógico e de problemas concretos.

 E o estágio das operações formais (a partir dos doze anos). O desenvolvimento ocorre a partir de soluções de todas as classes de problemas.

No Brasil após a aprovação da nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional-Lei nº. 9394/1996, são elaboradas as diretrizes curriculares do MEC para Educação Infantil (1997) que apresentam propostas pedagógicas que contemplam os aspectos físicos, emocionais, cognitivo-lingüísticos, afetivos e sociais da criança, pois esta deve ser pensada em sua totalidade. Este referencial Curricular propõe uma educação permeada pelo lúdico que desafiem e estimulem a curiosidade e a criatividade do educando.

 Devido a todos estes fatores, é importante compreender que as brincadeiras façam parte do trabalho, uma vez que possibilita à criança aprender. Dada a relevância do desenvolvimento infantil, partimos do pressuposto que não há como falar de infância sem considerar: “brinquedos e brincadeiras”. Dentre eles podemos citar vários: jogos, contação de histórias, faz-de-conta e muitos outros.

            Brincando e jogando, a criança reproduz as suas vivências, transformando o real de acordo com os seus desejos e interesses. Por isso, pode-se dizer que através do brinquedo e do jogo, a criança expressa, assimila e constrói a sua realidade. É o reconhecimento do valor inerente do prazer de pertencer a esse enorme tabuleiro em que ganhamos, perdemos, jogamos e aprendemos, sempre.

            Dentro do contexto  educacional a oportunidade do brincar assumiu características próprias,  hoje podemos afirmar, com segurança, que a brincadeira é um agente de mudança do ponto de vista educacional, e por acreditar nesta afirmação, consideramos que o desenvolvimento da criança acontece através do lúdico, ela precisa brincar para crescer e desenvolver integralmente.

A Escola deve ser local de aprendizados diversos, onde seja possível desenvolver potencialidades dos múltiplos aspectos do desenvolvimento humano.Que a brincadeira seja vista e tratada com o respeito e a consideração que lhe é devida. E ocupe lugar de destaque, de alegria, de riso, movimento para reinventar experiências como divertir, distrair,se relacionar com os outros, tais como: cantar, imaginar, enfim atividades carregadas de possibilidades e significados favoráveis à inter- relação pessoal ou grupal.

            As crianças precisam ver significado e sentido no que fazem; não é possível expô-las a atividades desinteressantes e descontextualizadas, com modelos que não dão motivação, prazer, funcionando apenas como controladores da ordem. Muitas unidades de ensino parecem que encaixotaram o lúdico. A principal implicação educacional em brincar, é a valorização da atividade lúdica, que tem como conseqüência o respeito às necessidades afetivas da criança.

            Promovendo o respeito à criança, contribuímos para diminuir a opressão dos sistemas educacionais extremamente rígidas, além de resgatar o direito a infância, tenta salvar a criatividade e a espontaneidade da criança tão avançada pela tecnologia educacional demassa.

            O processo criativo é uma tentativa de encontrar um sentido maior ,voltada para o ser humano integral, beneficiando as crianças envolvidas na Educação Infantil .Enquanto o adulto realiza tarefas que lhe dão prazer como: ler, escrever, pintar, etc.: as crianças brincam. O brincar está entre o prazer real, e sua evocação, ela brinca num futuro anterior. Imaginando o real ela atua e representa papéis numa elaboração inconsciente que o faz-de-conta proporciona. No brincar a criança vivencia três tempos: passado, presente e futuro.

Nem sempre as escolas dispõem de espaços adequados, no que se refere à dimensão, luminosidade, ao mobiliário e até mesmo às condições de segurança e higiene, para a realização das atividades a que se propõem. Mas, mesmo assim, é possível, com atenção e bom-senso, transformar significativamente o ambiente da sala de aula, tornando-o mais agradável e estimulante ao pleno desenvolvimento das crianças. O espaço precisa ser visualmente limpo e claro, para permitir que as crianças desenvolvam suas capacidades de criação e imaginação.

Freqüentemente temos salas muito decoradas e enfeitadas, resultando num ambiente confuso, poluído e até mesmo enjoativo. O mobiliário também precisa ser pensado de forma a garantir mobilidade na composição cênica das situações e maior liberdade de movimentos, a segurança também é fundamental. Este mobiliário deve ser leve, com superfícies lisas e sem arestas pontiagudas, assim favorecem a manipulação, possibilitando a criação de diferentes espaços que complementarão o trabalho.

O professor é sem dúvida, a pessoa que tem funções importantes neste processo, e uma delas é o de ser um “observador”, procurando intervir o mínimo possível, garantindo a segurança e o direito à livre manifestação de todos. A outra função, é a de “catalisador”, procurando através da observação, descobrir as necessidades e os desejos implícitos na brincadeira, para enriquecer o desenrolar de tal atividade. E finalmente, de “participante ativo” nas brincadeiras, atuando como um mediador das relações que se estabelecem e das situações surgidas, em proveito do desenvolvimento saudável das crianças.

Embora nem sempre nas instituições de ensino as condições oferecidas são adequadas à realização das propostas pedagógicas, não podemos distanciar-nos de uma busca por condições que favoreçam nossas intervenções neste sentido, sob pena de cairmos numa atitude conformista e porque não dizer derrotista, frente à educação. Essa busca passa necessariamente pela nossa capacidade de justificarmos as nossas exigências a partir de sólida e coerente argumentação. Que faça com que os propósitos sejam compreendidos e valorizados como proposta educacional consciente, bem como das nossas qualidades de vivacidade e criatividade em superar limitações, barreiras e preconceitos, em prol de uma educação integral.

Segundo Kishimoto (1993, p.47) “é tarefa da escola tornar disponíveis acervos culturais que dão, oportunidade as expressões imaginativas, abrindo espaço para elementos da cultura  não  escolarizada que enriquece a imaginação”. E algumas práticas pedagógicas parecem vincular o brincar a imensos espaços vazios de brinquedos, predominam corredores desprovidos de objetos para que se possam correr e pular, salas repletas de mesas e cadeiras, nas quais desenvolvem atividades consideradas “pedagógicas”, com supervisão do professor. Muitas vezes os brinquedos estão em caixas e armários. Quando disponíveis, a brincadeira é vista independente da cognição, afetividade e sociabilidade.

Os brinquedos são vistos como objetos inadequados, o brincar fica reservado a playground, brinquedoteca. Desvaloriza um aspecto importante que é a interação criança/criança, criança/adulto por meio das interações. Não aproveita a oportunidade de construção do conhecimento, desenvolvimento da linguagem, elaboração de hipóteses e a compreensão de regras.

Brincar é tão importante quanto estudar, ajuda a esquecer momentos difíceis. Quando brincamos, conseguimos – sem muito esforço – encontrar respostas a várias indagações, podemos sanar dificuldades de aprendizagem, bem como interagirmos com nossos semelhantes. Não posso deixar de acrescentar que brincar, além de muita importância, desenvolve os músculos, a mente, a sociabilidade, a coordenação motora e além de tudo deixa qualquer criança feliz. (MALUF, 2003, p.19). 

Alguns professores pensam que as crianças só alcançam à aprendizagem, treinando as mãos e o corpo, com exercícios repetitivos e sem significado, recebendo informações e memorizando-as.

            Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, aquele que o professor considera o mais correto, mas é ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. .É oferecer várias ferramentas para que o indivíduo possa escolher aquele que for compatível com seus valores, uma visão de mundo e com as circunstancias adversas que cada um irá encontrar.

O corpo, o movimento os gestos são fundamentais para a formação do ser humano, a linguagem corporal está implícita desde o nascimento.

 E a criança usa esta linguagem para conhecer a si mesma, para relacionar com os outros, para movimentar-se e descobrir o mundo. Tais descobertas feitas com o corpo deixam marcas, são aprendizados efetivos incorporados. São saberes que adquirimos sem perceber, mas que ficam à nossa disposição para serem colocados em uso quando precisamos ser criativos ou para resolver problemas do nosso cotidiano.

A obrigação de deixar o corpo estático pode ser a causa da hiperatividade, distúrbios de aprendizagem, de manias de comportamentos repetitivos sem significado. Isso sem falar das dores corporais que a falta de atividades traz.

Incentivar uma relação saudável com o corpo e o uso dele na aprendizagem são práticas que deveriam ser cultivadas por todos os níveis de escolaridade partindo do pressuposto que para aprender precisamos de coisas marcantes e positivas para deixar boas recordações, ainda que inconsciente. Essas lembranças precisam ser prazerosas para pessoa associar o aprendizado a sensações gostosas.

 Não dá mais para conceber práticas repetitivas e sem significado como: é mais inteligente quem consegue registrar tudo que foi transmitido, precisamos entender que a aprendizagem é resultado de empenho pessoal e coletivo em entender, manipular e reconstruir coisas que cercam a nossa curiosidade e as relações que as pessoas estabelecem entre si e com o meio.

As brincadeiras em grupo, o contato direto com os objetos e a interação promovem inquietação, curiosidade, necessidade de movimentar-se e no final um aprendizado mais efetivo.

  Para Kishimoto (1993, p.53) “Se desejamos formar seres criativos, críticos e aptos para tomar decisões, um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil (...)”. Não podemos nos contentar com um ambiente empobrecido, mas, rico de possibilidades com situações diversificadas e variadas. A escola precisa abrir espaços para outros elementos da cultura, que condiciona o saber a um fazer. A autora ressalta ainda que “a falta de qualidade das instituições infantis redunda na seleção inadequada de aspectos da cultura relacionados com o saber instituído da escola elementar, (...) ocasionando a separação entre escola e a cultura”.

As atividades lúdicas contribuem significativamente na construção do conhecimento, por isso não podemos isolar as crianças em suas carteiras, devemos incentivá-las ao trabalho em grupo, à busca de soluções coletivas, troca de idéias, onde a cooperação seja o mais importante.

É nesta fase que a figura do professor assume papel importante, porque se tratando das crianças pequenas, na maioria das vezes, não ultrapassam o período do egocentrismo, fase que o mundo gira ao seu redor, ou seja, tudo está centrado nela.

 A criança só consegue ver as coisas, a princípio, a partir do seu ponto de vista. É difícil compreender o ponto de vista dos demais companheiros do grupo. É interessante o professor provocar a participação coletiva e desafiar o aluno na busca de encaminhamentos e resoluções de problemas, despertar e incentivar o espírito de companheirismo, só assim a criança assume e compreende sua posição como membro social. Também quando a criança tem oportunidade de falar, movimentar sugerir e não fica só aguardando ordens a serem cumpridas sem questionamentos, elas constroem o conceito de autonomia. Incentivar e desafiar as crianças criando um ambiente propício para o desenvolvimento do pensamento crítico e a tomada de decisão a respeito de grupo social.

 O ser humano se difere dos animais devido à capacidade de se relacionar com diferentes parceiros, com eles comunicar-se por meio de diferentes linguagens, para criar e tomar decisões.

Segundo Oliveira (2002, p.210) 

(...) as interações sociais com seus pares de idade pode ajudar as crianças a controlar seus impulsos ao participarem no grupo infantil: internalizar regras, adaptando seu comportamento a sistema de controle e sanções, ser sensível a ponto de vista do outro e saber cooperar e desenvolver uma variedade de formas de comunicação para compreender sentimentos e conflitos e alcançar satisfação emocional. Isso inclui a criação de uma atmosfera afetiva de estabelecimento de relações diversificadas, na qual a aceitação de  cada pessoa seja objeto de atenção.

As ampliações da minha visão e dos meus conhecimentos fizeram-me perceber que não basta selecionar conteúdos, é necessário reflexão, pesquisa, aprofundamento e compreensão dos processos de desenvolvimento. Assim novos conhecimentos modificam outros anteriormente construídos, possibilitando um leque de significações que valorizam caminhos mais promissores na tarefa de ensinar.

Na educação das crianças, não basta selecionar conteúdos de aprendizado é necessário reflexão sobre como os mesmos serão trabalhados. Partindo sempre dos conhecimentos que a criança possui e valorizando-os, assegurando a aquisição de novos. Mostrar para as crianças, que os conteúdos não são verdades absolutas, mas podemos construir outros por meio da interação. É bom lembrar que existem etapas a serem cumpridas, mas nada impede o professor de mudar a ordem de apreciação destes, de acordo com interesse da sala.

O novo contexto educacional requer estruturas curriculares abertas e flexíveis. Assim o conhecimento pode quebrar estruturas hierárquicas imutáveis, fugindo da mesmice e atos mecânicos criando propostas para enriquecer oportunizando o desenvolvimento.

Embora muitos educadores percebam a importância do brincar, é difícil para professores envolvidos na organização cotidiana da aprendizagem infantil, extrair algo diferente, no qual o “brincar” é freqüentemente negado.

As crianças podem participar de brincadeiras e jogos, só depois de terminarem seu “trabalho”. O tempo gasto brincando com as crianças são sempre menores do que o tempo gasto para realizar outras atividades, como ler, escrever, colorir, recortar, etc. Muitas vezes os adultos acabam deixando de valorizar o processo de conquista, em prol do resultado esquecendo como é importante aprender brincando e também como é tediosa a aprendizagem sem brincadeira.

 Na idade pré-escolar, também surgem os desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos. Então a criança para resolvê-los envolve-se num mundo imaginário, onde os seus desejos podem ser realizados. A situação imaginária é a primeira manifestação de emancipação da criança em relação às restrições situacionais. Ela vive num mundo de fantasia, encantamento, sonhos, alegrias onde a realidade e faz-de-conta se confundem.

Huizinga (apud Lima,2008, s.p) esclarece, “... não que a brincadeira infantil deixe de ser séria, mas quando a criança brinca, ela o faz de modo compenetrado”. Por isso é necessário que o professor/educador fique atento, para oferecer possibilidades de aulas “recheadas” de atividades lúdicas. Permitindo assim à criança, a oportunidade de provar a sua superioridade, incorporando novos conhecimentos e atitudes.

 Quando a criança é estimulada ela terá maiores oportunidades de ampliação de opinião, também sentirá à vontade para arriscar-se e buscar soluções. O professor precisa entender também que cada criança é um ser único, que nunca uma criança de três anos é igual à outra da mesma idade, nem essas duas serão fiéis a descrição encontrada nos livros ou manuais de brinquedos. O que significa que brinquedos e brincadeiras ótimos para uns podem ser péssimos para outros.

 Cabe ao educador propor atividade construtiva, um ambiente facilitador e propício à aprendizagem. E esta por sua vez não acontece igualmente para todos da mesma forma. Nesse sentido, o professor precisa planejar atividades de maneiras diferentes para conseguir resultados que atendam a todos os alunos de forma homogênea.

 Portanto, o processo de formação vivenciado por mim confirma o que sabiamente nosso grande educador Paulo Freire postulou no interior de suas obras, ou seja: o conhecimento não é algo pronto e acabado requer constante mudança. Exige avaliação, reflexão e um olhar sensível para delinear uma proposta pedagógica significante que vai além de conteúdos e métodos.

Busco categorizar o lugar do brincar na aprendizagem uma vez que é muito relevante e, o educador/ professor precisa conhecer as teorias para valorizá-lo enquanto recurso necessário para domínio de competências consideradas básicas.

Este estudo me proporcionou perceber que as escolas infantis deveriam entender mais de brinquedos e brincadeiras para encorajar a criança a descobrir, inventar e arriscar ao invés de dar conceitos prontos. Respeitando é claro a maturidade a individualidade de cada um.

REFERÊNCIAS

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