18/05/2016

O Sistema e a Omissão

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

 

            Sempre acreditei que os professores eram pessoas com uma forma de pensar diferenciada. Com mentes abertas e como pessoas instruídas, sem se deixarem alienar pelo sistema. Eram verdadeiros heróis de um povo que clama por heróis, de um povo que precisa de uma educação de qualidade como norte para verdadeiras mudanças.

            Acreditava na palavra isonomia, principalmente no meio da educação, pois estes mesmos professores, defensores da igualdade, exigiriam que ela se manifestasse, custasse o que fosse, visto que não se trataria de uma questão ideológica, mas de princípios e de caráter.

            Acreditava, e ainda acredito, embora muitos se corrompam com funções temporárias e salários exorbitantes em relação a classe educadora, não se deixaria perder esta paixão em ensinar, essa paixão pela educação e também por seus pares.

            Percebi que, como uma frase de um autor desconhecido pudesse fazer tanto sentido ao dizer que “o errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo e que o certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo”.

            No livro Filosofia da Educação, escrito por Thomas Ransom Giles (1983), o autor ressalta que o “processo educativo deve levar o educando a tomar consciência dos seus interesses e dispô-lo a lutar em defesa dos mesmos”, então, é levantada a seguinte dúvida: Como podemos querer que este processo se faça valer se nós educadores, que deveríamos ser o elo entre tal processo e educando, agimos de forma divergente ao que deveríamos acreditar e atuar?

            Realmente o homem se faz lobo do próprio homem, sábias palavras do filósofo Thomas Hobbes.

            Quando temos a chance de mudar a situação, ficamos omissos e nos acovardamos por conveniência e também comodismo, seguindo um viés contrário a verdadeira função da educação que é fazer com que nossos educandos, de acordo com Giles, deixem de ser alienados e alienantes para serem força de mudança e libertação do homem objeto e se tornar homem sujeito e protagônico.

            Não queremos perfeição no mundo, e como dizem, “se o mundo fosse perfeito, ele não seria perfeito”, ou seja, usando as palavras de Shakespeare para explicar, se as coisas fossem perfeitas não existiria aprendizado, e encontramo-nos em constante aprendizado.

            Cabe aqui, a aplicação de uma técnica utilizada na Gestão do Conhecimento que é storytelling. Essa técnica é muito utilizada por organizações que precisam motivar sua equipe, fazer um brainstorming. Essa técnica tem o intuito de contar histórias relevantes através de uma narrativa, por isso, aproveito então para fazer uso dela.

            Em uma cidadezinha, havia uma escola pública que era referência. Era uma das melhores escolas, com “melhores professores” e uma grande procura por pais para matricularem seus filhos nesta instituição, mas, muitos destes pais ficavam frustrados por não conseguirem colocar seus filhos nesta escola devido a uma extensa lista de espera e a lei de zoneamento, e quem conseguia, ficava feliz por ter sido “privilegiado”, afinal de contas, “os melhores professores” e melhores alunos, lá  estavam.

            Um dia, um aluno desta escola fez, filho de um personagem muito popular na cidade, fez uma coisa muito feia com outro integrante da mesma instituição, e o outro aluno, era muito especial em todos os sentidos, seja de inclusão, atenção, de inocência e pureza.

            O ato ato vil realizado pelo aluno, exigia no mínimo uma advertência, isso é, caso a gestão fosse realmente boa, tomaria uma providência fazendo com que este, pedisse desculpas a quem ele prejudicou e humilhou, e também, aos responsáveis do mesmo.

            Infelizmente essa escola foi omissa, perdeu a oportunidade fazer com que o infrator reparasse o erro, se é que haveria reparo, mas seria o mínimo a exigir de uma educando que está tendo o seu caráter e sua identidade formados.

            É sabido que a escola não forma caráter, ele deve ser trabalhado pela família, mas cabe a escola, auxiliar a família, o que acredito, teria dado certo nesta situação, todavia, a covardia da gestão dessa instituição e dos educadores que lá estavam, foi mais forte e simplesmente, deixaram as coisas como estavam, ou seja, sem sanção, sem advertência, sem aprendizado, e o presente refletirá o futuro deste jovem, pois a escola contribuiu com a formação de um delinquente para a sociedade.

            O autor desta ação, acreditará que tudo pode, inclusive humilhar seu próximo e fazer o que bem entender, só por ser filho de alguém com boas relações na pirâmide do poder.

            Apesar desta escola ter se calado e achado mais cômodo não fazerem nada, uma educadora que acredita na mudança que a educação implica, resolveu questionar, usando de sua empatia, pois somos educadores, somos pais, e não gostaríamos que este ato não repetisse com os demais ou até mesmo com nossos entes queridos

            Essa correta cidadã educadora teve como resposta da gestão escolar, que ela pertencia ao sistema e não podia ir contra ele.

            Isso remete o sistema como um órgão de vida própria, e nós que lutamos por um futuro melhor, passamos a ser vistos como um corpo estranho, um vírus.

            Nós somos o sistema, então, que façamos acontecer o que é correto e justo.

            Poderíamos relatar muitas outras narrativas explicando como este sistema é realmente falho, e as pessoas que lá são colocadas, entram em um comodismo e nada fazem para melhorar, limitando-se a uma falácia, iludibriando a sociedade e a comunidade escolar, sendo que esta última não tem valor algum para o sistema, é visto como peões em uma peça de xadrez.

            Fazem o que querem, quando querem para se perpetuarem no poder. Como dito no texto publicado por pela Revista Gestão Universitária em 21 ago de 2015, são os verdadeiros catadores de feijão (http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/a-educacao-e-os-catadores-de-feijao).

            Os Pioneiros da Educação fizeram um manifesto que criticava o sistema dual da educação, mas percebe-se que essa dualidade encontra-se na mesma escola. Um tem mais direito que o outro, ou seja, infelizmente estamos contribuindo com um Apartheid na mesma instituição, no qual um pode fazer qualquer coisa e outro não, e o sistema sempre omisso e olhando para o próprio bolso com um sorriso amarelo.

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