10/08/2018

Oficinas com o Portal Ensino Médio EMdiálogo

 

Paulo Roberto Marques Segundo

Resumo: Este texto tem como objetivo compartilhar o desenvolvimento de oficinas com estudantes do Ensino Médio Público, a partir do Portal Ensino Médio EMdiálogo que, por sua vez, transformaram-se em caderno didático. O Portal Ensino Médio EMdiálogo é um espaço virtual voltado ao fomento de questões concernentes à juventude e à escola no Brasil disponibilizando, assim, produções textuais, audiovisuais dentre outras produções concernentes ao Ensino Médio Público Brasileiro. Nesse sentido, com este texto busca-se descrever as ações realizadas em uma escolas da região de Santa Maria tendo como referência as campanhas desenvolvidas no referido portal.

A escola onde desenvolveram-se as atividades descritas neste texto foi o Instituto Estadual Padre Caetano. O instituto Estadual Padre Caetano é uma escola urbana localizada em Santa Maria (RS) e que possui Ensino Regular Fundamental, Anos Finais, Meio Período; Ensino Regular Fundamental, Anos Iniciais, Meio Período e Ensino Médio Regular, Meio Período. A escola conta com atividades complementares para contemplar seus estudantes como, por exemplo: apoio Escolar em Letramento e Alfabetização; apoio Escolar em Matemática; Colégios com Banda Fanfarra e Percussão; Colégios com Canto Coral; Colégios com Capoeira; Colégios com Arte e Cultura; Colégios com Rádio Escolar; Colégios com Horta Escolar /Comunitária; Colégios com Ginástica e Tênis de Mesa e Colégios com outros Esportes. O Instituto conta, também, com o Atendimento Escolar Especializado (AEE) que desenvolvem cursos da Língua Escrita para alunos com Deficiências; Cursos de Uso da Informática Acessível; Cursos de Comunicação Alternativa e Aumentativa; Cursos para Autonomia na Escola; Cursos para Alunos com Deficiências; Cursos para o Desenvolvimento de Processos Mentais e Cursos de Capacitação em Orientação e Mobilidade. No que se refere à infraestrutura a escola comporta biblioteca; laboratório de informática; laboratório de ciências; quadra de esportes e sala de atendimento especial. O Instituto Padre Caetano possui internet banda larga e 24 computadores para uso dos estudantes.

As ações descritas neste texto fazem parte do Projeto Portal Ensino Médio Emdiálogo- Animando rede de Universidades com o Ensino Médio Inovador[1]. Para alcançarmos nossos objetivos previamente traçados contamos com a parceria de várias Escolas que compõem a 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8 CRE). No entanto, como já dito anteriormente, nos limitaremos a descrever as ações realizadas na Escola parceira do Projeto Emdiálogo, a saber: Instituto Estadual Padre Caetano.

 

Desenvolvimento:

Para adentrarmos no espaço escolar se fez necessário realizar uma discussão sobre a juventude brasileira e a relação com as mídias. No que comporta à categoria juventude a mesma vem ganhando destaque no Brasil desde as últimas décadas. Os esforços para compreender de forma mais condizente a juventude de hoje se mostra de suma importância, tanto para a criação, desenvolvimento e implementação de políticas voltadas para essa fase da vida, quanto para compreendermos como ocorre a relação entre juventude e cultura, juventude e identidade, juventude e tecnologias, juventude e trabalho, culturas juvenis e suas várias formas de vivenciar o espaço escolar.

Compreender a juventude brasileira no âmbito escolar, fazendo-se valer das mídias digitais, traz para o centro do debate a discussão sobre uma parcela significativa da população brasileira que paulatinamente adentra as escolas e consequentemente traz consigo peculiaridades que merecem atenção por parte daqueles que pesquisam no âmbito da educação. Portanto, se fez importante a abordagem , a partir do Projeto EMdiálogo, a juventude e suas múltiplas formas de existir no espaço escolar. Nesse sentido concordamos com Dayrell e Carrano (2003) quando afirmam que a juventude não pode ser encerrada em esquemas modulares tendentes à homogeneização. Para tentarmos escapar desses esquemas modulares, apontados pelos autores anteriormente citados, apostamos nos meios digitais (internet) para estabelecer um diálogo com os estudantes e as culturas juvenis.

Com tal intuito de estabelecer um diálogo com os jovens através das atividades realizadas com o Projeto Emdiálogo, destacamos uma maior ênfase na divulgação das campanhas que ocorreram periodicamente no Portal Emdiálo[2], a saber: Minha escola em 2013, Questões da juventude e Qual é o seu cartaz. As realizações das oficinas na escola Estadual Padre Caetano tiveram como ponto unificador as já referidas campanhas no Portal Emdiálo, visto que, um dos objetivos das oficinas era de justamente relacionar as campanhas do Portal Emdiálo e as atividades nas escolas. Assim esperava-se como resultado formas diferenciadas de experiências de ensino e aprendizagem no ensino médio, a partir das mídias digitais.

O diálogo estabelecido nos termos das mídias, sobretudo as digitais, se fazem importantes na medida em que somando-se aos já tradicionais meios midiáticos como a televisão, agora a internet entra nessa disputa pela atenção dos jovens. Nos estudos de Rizzini (2005) encontramos as influências que as mídias, sobretudo as tradicionais, ainda mantem nos lares brasileiros. Pensando pelo viés das influências das mídias no Brasil, buscamos compreender os meios digitais como meios de condução das problematizações do âmbito escolar.

Levando em consideração o anteriormente dito, as atividades descritas aqui buscam explicitar práticas que exemplificam, de forma resumida, os processos realizados entre os anos de 2012 a 2015.

Objetivos:

Geral,  

  • Compreender a relação entre cultura escolar e cultura juvenil;

Específico,

  • Analisar os modos pelos quais os estudantes vivenciam suas juventudes no âmbito escolar;
  • Produzir oficinas reflexivas sobre juventude e escola no âmbito escolar, a partir das campanhas do Portal Ensino Médio Emdiálogo; 

Materiais: questionário, cartolina, canetas atômicas, câmera fotográfica e filmadora.  

Metodologia:

Com a incumbência de colocarmos em prática um projeto de envergadura de nível nacional (com ações tanto de âmbito virtual, quanto prático) se fez importante pensarmos alguns passos prévios para que pudéssemos desenvolver nossos objetivos. Entretanto, entendemos a noção de método não tanto em garantir um fim almejado, mas sim no sentido de possibilitar um processo significativo. Inspirados pela ideia que leva o nome do projeto Portal Emdiálogo, ou seja, o diálogo, pensamos em passos mínimos que dessem ênfase no diálogo entre os participantes das atividades. Com uma inspiração de matriz dialética, nossas atividades consistiram na base do diálogo, troca de ideias e sobretudo na possibilidade de mudança dos envolvidos no processo. A dialética, segundo Konder (2008), na Grécia antiga era compreendida como a arte do diálogo, no entanto essa mesma arte passou a ser entendida como o exercício de demonstração de uma determinada posição, por meio de argumentação, capaz de definir os termos de um debate.

Levando em conta as considerações de Konder (2008) com relação às origens da dialética, nossas atividades primaram pelo exercício do diálogo onde os participantes das oficinas, tanto bolsistas quanto estudantes, eram convidados à se posicionarem diante de questões desenvolvidas nas oficinas. Desse modo as oficinas ofereciam aos participantes a oportunidade de colocarem-se na posição de experienciar a troca de saberes entre os envolvidos na atividade. Tomando tal metodologia como inspiração a oficina ocorreu nos seguintes passos:

Lembramos que as oficinas realizaram-se com um universo de 54 estudantes das turmas de 1º, 2º e 3º anos do Instituto Estadual Padre Caetano, turno manhã. Iniciamos a oficina “Qual é o seu cartaz?” com os estudantes contextualizando as manifestações ocorridas no mês de julho de 2013. Tais manifestações reivindicavam a redução da tarifa do transporte público no Estado de São Paulo. Com o advento dessas manifestações criaram-se grupos como o Movimento Passe Livre (MPL) que emergiram com grande notoriedade no cenário nacional. A peculiaridade desses grupos encontrava-se no número significativo de jovens que aderiram às suas pautas. Após o momento de contextualização sobre as manifestações, bem como o diálogo sobre as causas e principais reivindicações desse movimento procedemos da seguinte maneira,

Primeiramente buscamos estabelecer um diálogo entre os dinamizadores das oficinas e os estudantes a respeito de três perguntas centrais da atividade, a saber: se você tivesse que se manifestar se manifestaria sobre o quê? Como seria seu cartaz de manifestação?

Em um segundo momento, o objetivo central da oficina foi realizar a relação entre as manifestações das ruas com as possíveis reivindicações dos jovens e sua realidade escolar.

Para pôr em prática este estágio do processo realizamos uma divisão da turma em grupos para responderem as questões previamente discutidas. Cada grupo tinha a liberdade de responder as questões que melhor expressasse seus anseios e expectativas. As perguntas, tanto poderiam ser debatidas em um diálogo como, também, escritas em pequenos textos. O importante era o diálogo e a troca de ideias entre os participantes da oficina.

No momento da finalização da oficina um dos grupos era convidado a posicionar-se à frente da sala e expor suas concepções quanto às questões abordadas, a saber: sobre o que você se manifestaria? Qual é o seu cartaz? A partir da exposição dialogada, tanto com os bolsistas do projeto, quanto com os estudantes, nessa fase da oficina ocorria novamente outro diálogo com o grupo em sua totalidade.

A produção de cartazes por parte dos jovens variou entre temas como, por exemplo: bolsa estudante, temas relativos à educação, melhoria estrutural da escola e questões de gênero, dentre outros aspectos.

Com tal inspiração metodológica, mesmo que em suas características originárias (lembrando os antigos diálogos socráticos), buscávamos estabelecer uma relação de troca entre os presentes na atividade. A inspiração metodológica na dialética nos traz alguns pontos interessantes, como por exemplo: uma das características de tal metodologia é a superação das fases em que os indivíduos se encontram ao iniciar um diálogo. Portanto, aprendíamos algo com os estudantes e em contrapartida os estudantes tinham a possibilidade de aprender algo conosco.

 Conclusão:  

Depois de vários encontros com os estudantes e de participar um pouco da rotina da escola se faz necessário refletir sobre o que pudemos aprender com os jovens. Este é o momento em que imprimimos nosso registro sobre nossas experiências com as práticas realizadas. Digamos que seja o momento metodológico que percebemos que nos modificamos com as experiências vividas na Escola Estadual Padre Caetano. Deste modo nos colocamos a repensar a categoria juventude no Brasil. A juventude brasileira muitas vezes é retratada como despolitizada, no entanto,  após o fenômeno das manifestações de junho de 2013, algumas considerações podem ser realizadas. Apesar de uma das características das manifestações ter sido a ausência de bandeiras partidárias, será que isso nos leva a concluir que as manifestações foram fruto de movimentos apolíticos? Segundo Renato Janine Ribeiro (2004, p.19), “hoje a juventude está em alta, e a política em baixa”. Há uma descrença e uma desconfiança em relação à política no Brasil devido ao fato de que políticos não capazes de cumprir suas promessas.

As oficinas realizadas no Instituto Estadual Padre Caetano tinham como premissa básica ouvir e fomentar os dizeres dos jovens sobre suas próprias condições em um âmbito escolar. Nossas práticas juntamente com os estudantes evidenciaram as dificuldades vividas pelos jovens dentro da escola e assim deixaram transparecer as várias facetas de se vivenciar a juventude na escola. Um episódio que ilustra este caso foi a confecção de um cartaz que chamou nossa atenção; o conteúdo do cartaz tratava sobre o respeito às diferenças. Em conversa com o estudante autor do cartaz, ele esclareceu as razões de sua manifestação, a saber, tratava-se de um estudante gay que exigia o direito de usar o banheiro feminino nas escolas. Esse caso em particular demonstra as questões que emergem relacionadas com discriminação, sejam elas racial ou por homofobia, mas que ocorrem as escolas. Os jovens com os quais trabalhamos tinham algo a dizer ou algo a se manifestar. O importante é estarmos atentos às mudanças de participação da juventude com relação à política e as razões pelas quais essa forma de participação está mudando.

A forma tradicional de participação política parece cada vez menos usual e a energia da juventude parece estar voltada para outras vertentes, não menos politizadas, como por exemplo: ongs, movimentos em defesa da igualdade racial, grupos religiosos, grupos em defesa do meio ambiente e movimentos LGBT.

Projetos como o Portal Ensino Médio EMdiálogo – Articulando Redes de Universidades com o Ensino Médio Inovador se tornam relevantes na medida em que um dos objetivos visava compreender as mudanças da juventude e suas consequências na vida escolar. A busca pelo reconhecimento das diversidades é um dos pontos chaves para entendermos os movimentos que ocorrem no interior das escolas atualmente. Podemos dizer que as oficinas foram uma tentativa, em escala reduzida, de aprofundarmos nosso olhar sobre os sujeitos que se produzem nas escolas. Torna-se importante levar em consideração que as respostas para as problematizações não se encontram somente nos jovens, pois considerar a juventude como portadora da razão e, em contra partida, encararmos aqueles que já não encontram mais nessa etapa da vida (adultos) como aqueles que não tem nada a dizer, não é uma via razoável. O diálogo constante entre a novidade e o passado, estimular o diálogo entre gerações se mostram importantes nesse processo.

Assim, de maneira breve, tentamos demonstrar como refletimos nossa prática ao longo de 2013, onde propusemos uma interpretação, dentre tantas outras possíveis de serem realizadas, sobre juventude e mídias, juventude e política e a juventude por si mesma. Por um lado abordamos alguns aspectos que pensamos relevantes a ponto de serem trazidos nesse texto, por outro o caminho trilhado nessa escola e as experiências vividas com os jovens vão além do que qualquer metodologia possa esperar. Foi um processo de escuta inicial, pois por mais que as escolas sejam todas parecidas entre si, a singularidade, a diversidade, os espaços e os tempos aonde os sujeitos vão se construindo são diferentes.

Por fim, cabe o registrarmos nossos agradecimentos aos estudantes com os quais trabalhamos e tivemos a oportunidade de desenvolver tal projeto durante o ano de 2013. Deixamos aqui, também, nossos agradecimentos aos professores, direção, colegas bolsistas e à comunidade escolar que se mostraram solícitos em nossas eventuais necessidades nas atividades desenvolvidas na escola.

 

Bibliografia:

 

DAYRELL, J.; CARRANO, P. Jovens no Brasil: difíceis travessias de fim de século e promessas de um outro mundo. Revista Jóvenes del Centro de Investigaciones y Estudos sobre Juventud. México: CIEJUVIMJ, 2003, p.1-26. Disponível em: www.emdialogo.uff.br/sites/default/files/JOVENS_BRASIL_MEXICO.pdf

RIBEIRO, J.R. Política e Juventude: o que fica da energia: In: NOVAIS, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs). Juventude e Sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

RIZZINI, I. et al. Adolescentes brasileiros, mídias e novas tecnologias. Alceu. Revista do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, Rio de Janeiro, n.11, p.41-63.2005. 

KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2008

 

 


[1] O projeto tinha como objetivo: promover a capacitação de professores da rede pública estadual participantes do Programa Ensino Médio Inovador visando a formação continuada dos mesmos Envolver na referida capacitação estudantes de graduação do Programa Nacional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) da universidade e atuantes nas escolas públicas de Ensino Médio. Desenvolver oficinas com estudantes do Ensino Médio para a produção de conteúdos para o Portal EMdiálogo. Especial foi dada às denominadas mídias criativas em formatos digitais e ao público de estudantes das escolas que integram o Programa Ensino Inovador. Nesse sentido buscou-se favorecer a aproximação de profissionais, grupos e movimentos científicos, sociais, culturais, políticos e artísticos capazes de ampliar quantitativa e qualitativamente a oferta de comunidades e conteúdos temáticos disponíveis para a utilização e interação dos estudantes e professores das escolas públicas de Ensino Médio.

[2] O Portal Emdiálogo é um espaço virtual voltado ao fomento de questões concernentes à juventude e à escola no Brasil. O Portal Emdiálogo disponibiliza artigos sobre o Ensino Médio no Brasil, bem como ações realizadas nas escolas tendo como referência as campanhas desenvolvidas no referido portal. Com uma proposta diferenciada na forma de comunicação com a juventude, O Portal Emdiálogo compõe-se em comunidades com variadas temáticas. Link para acesso: http://www.emdialogo.uff.br/ 

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