Os Estágios Curriculares Supervisionados de Educação Física em Dia De Chuva: Um Estudo de Caso na Licenciatura do CEFD/UFSM*
Cassiano Telles [1]
Hugo Norberto Krug [2[
RESUMO
Este estudo objetivou analisar o dia de chuva enquanto um desafio para as aulas práticas de Educação Física Escolar durante a realização dos Estágios Curriculares Supervisionados (ECS) I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A metodologia empregada nesta investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário com perguntas abertas. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram vinte (20) acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental). Concluímos que para a quase totalidade dos acadêmicos estudados não existiram dificuldades para a realização das aulas em dia de chuva, não existiram interferências do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares nas aulas e não existiram mudanças comportamentais dos alunos nas aulas em dia de chuva. Desta forma, o dia de chuva não é um problema para o desenvolvimento das aulas de Educação Física nos ECS I, II e III do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.
Palavras-chave: Educação Física; Formação de Professores; Formação Inicial; Estágio Curricular Supervisionado; Dia de Chuva.
*Artigo elaborado a partir do projeto de pesquisa denominado “O Estágio Curricular Supervisionado na formação inicial de professores de Educação Física: um estudo de caso na Licenciatura do CEFD/UFSM”.
AS CONSIDERAÇÕES INICIAIS DA INVESTIGAÇÃO
O campo de estudos da Educação Física (EF) voltados para a escola vem, nas últimas décadas, buscando dar respostas mais claras e objetivas para a prática docente dos profissionais de EF. Quando se pensa no objeto da EF, pensa-se em um saber específico, saber próprio, ou melhor, uma tarefa pedagógica própria, cuja transmissão e realização é atribuída a diversas condições e interferências que tanto podem ser climáticas quanto físicas e materiais, o qual chamamos de espaço pedagógico da EF.
Neste estudo, focamos as condições climáticas enfrentadas pelo profissional de EF, mais especificamente os dias de chuva. E, nesse sentido, lembramos que, segundo Pedreira (2000), na história da humanidade os homens sempre sofreram influências do meio ambiente em que vivem. Dessa forma, é coerente considerarmos que as aulas de Educação Física na escola também sofram influências deste meio ambiente.
Assim, conforme Azevedo (1995), frequentemente, constata-se a existência nas aulas de Educação Física nas escolas, problemas de origem ambiental, como por exemplo, a chuva, que inviabiliza a prática dessa disciplina de forma continuada e prazerosa.
Já Conceição et al. (2004) constataram em investigação realizada que em 79,4% das escolas estudadas (27 de 34) das redes de ensino municipal, estadual e particular da cidade de Santa Maria (RS) existiu a ocorrência de fatores ambientais que atrapalharam as aulas de Educação Física, sendo a chuva em 41,2% das escolas (14 de 34).
E, é neste contexto que citamos Simon; Cardoso e Domingues (2008) que chamam à atenção para a seguinte cena:
“Você é um professor de Educação Física, e prepara suas aulas rotineiramente de acordo com as suas possibilidades materiais, físicas e público-alvo. Você prepara a sua aula pensando no campo de areia, ou utilizando o espaço da quadra esportiva, então quando acorda pela manhã, percebe que está chovendo. O que fazer agora? E a aula planejada para o espaço aberto? Adaptar para algum espaço coberto? Improvisar com atividades na sala de aula (p.347)”?
Compreendemos que os saberes docentes necessários para a resposta destas perguntas são encontrados dentro de um contexto de trabalho docente, ou seja, construído em função de situações encontradas no dia-a-dia do professor. Entretanto, ao transportarmos estas mesmas questões para o período de formação inicial do professor, encontraremos a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado (ECS) no curso de Licenciatura como uma situação de pré-atuação profissional de vital importância para o aprendizado docente, pois a relação específica dos conhecimentos adquiridos no estágio com a atuação profissional, contribui para a formação acadêmica, entendendo que os conhecimentos teóricos são os saberes básicos para a atuação profissional.
A partir desta compreensão que a ação do estágio ganha sentido e validade, portanto esse se torna uma ferramenta importante, que interliga diretamente o acadêmico ao trabalho, trabalho esse, que antecede a atuação profissional, resolvendo, muitas vezes, os problemas de ordem pedagógica (como o dia de chuva). Esse paradigma é fundamental porque ele (ECS) poderá ajudar a determinar as ações que o estagiário irá realizar nos dias de chuva dando sentido assim ao nosso estudo, que objetivou: analisar o dia de chuva enquanto um desafio para as aulas práticas de Educação Física Escolar durante a realização dos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Para facilitar o atingimento do objetivo geral esse foi desmembrado nos objetivos específicos a seguir: 1) Identificar a existência ou não de dificuldades para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva e seus motivos na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM em situação de ECS; 2) Identificar a existência ou não de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares na Educação Física e seus motivos na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM em situação de ECS; e, 3) Identificar a existência ou não de mudanças comportamentais dos alunos nas aulas de Educação Física nos dias de chuva e seus motivos na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM em situação de ECS.
Justificou-se a importância da realização desta investigação ao considerarmos a afirmação de Simon; Cardoso e Domingues (2008) de que praticamente não existem estudos na literatura que se reportem sobre as dificuldades ambientais que interferem nas aulas de Educação Física na escola, mais particularmente sobre dias de chuva.
OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO
A metodologia empregada nesta investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa.
Conforme Triviños (1987, p.125), a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica “surge como forte reação contrária ao enfoque positivista nas ciências sociais”, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a realidade social como uma construção humana. O autor explica que na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.
Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p.58) “a descrição não se fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e nem num trabalho que se realiza na subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são considerados importantes”.
Já, segundo Lüdke e André (1986, p.18) o estudo de caso enfatiza “a interpretação em contexto”. Godoy (1995, p.35) coloca que
o estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.
De acordo com Goode e Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes estas semelhanças com outros casos ou situações.
O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com perguntas abertas, que foi respondido por vinte (20) acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental). Optamos pelo ECS III por este ser o último estágio dos acadêmicos e, portanto, significando a última experiência com a escola na grade curricular do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. A escolha dos participantes aconteceu de forma espontânea, em que a disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante. A identidade dos participantes foi preservada.
A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida alguma, o questionário [...], de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. Já Cervo e Bervian (1996) relatam que o questionário representa a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita buscar de forma mais objetiva o que realmente se deseja atingir. Consideram ainda o questionário um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.
Pergunta aberta “destina-se a obter uma resposta livre” (CERVO; BERVIAN, 1996, p.138).
As questões norteadoras que compuseram o questionário estavam relacionadas com os objetivos específicos desta investigação.
A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como um
conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Godoy (1995, p.23) diz que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”.
Para Bardin (1977) a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise – que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, a definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, a leitura de documentos, a caracterização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos.
OS RESULTADOS E AS DISCUSSÕES DA INVESTIGAÇÃO
Os resultados e as discussões desta investigação foram explicitados e orientados pelos objetivos específicos.
A existência ou não de dificuldades para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva e seus motivos na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM em situação de Estágio Curricular Supervisionado
A quase totalidade dos acadêmicos estudados declarou que ‘não existiram dificuldades’ para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva. Foram dezoito acadêmicos no ECS I, dezessete acadêmicos no ECS II e dezenove acadêmicos no ECS III. Esse fato contraria o constatado por Krug (2011) que em seu estudo intitulado “Os problemas/dificuldades na prática pedagógica nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” de que as intempéries do tempo é um dos problemas/dificuldades na prática pedagógica dos acadêmicos/estagiários.
Neste sentido, os acadêmicos estudados elencaram os seguintes ‘motivos da não existência de dificuldades’ para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva:
A) No ECS I (Ensino Médio): 1º) ‘A regra da escola era não ter aula quando chovia’ (Sete citações); 2º) ‘A escola tinha ginásio’ (Seis citações); 3º) ‘A escola tinha sala de ginástica’ (Três citações); e, 4º) ‘A escola tinha quadra coberta’ (Duas citações);
B) No ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental): 1º) ‘A regra da escola era não ter aula quando chovia’ (Seis citações); 2º) ‘A escola tinha ginásio’ (Cinco citações); 3º) ‘A escola tinha quadra coberta’ (Quatro citações); e, 4º) ‘O acadêmico tinha planejamento específico para sala de aula quando chovia’ (Duas citações); e,
C) No ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental): 1º) ‘O acadêmico tinha planejamento específico para sala de aula quando chovia’ (Quinze citações); 2º) ‘A escola tinha quadra coberta’ (Três citações); e, 3º) ‘A escola tinha ginásio’ (Uma citação).
Pela análise dos motivos dos acadêmicos não terem dificuldades para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva nos ECS I, II e III observamos que destacaram-se duas situações distintas:
1ª) A maioria dos acadêmicos nos três ECS (I-II-III) não teve dificuldades com o dia de chuva porque a escola possuía local adequado (coberto) para a realização das aulas de Educação Física. A respeito desse fato citamos Conceição et al. (2004) que em estudo sobre o “Os aspectos ambientais, físicos e materiais da Educação Física no ensino fundamental em Santa Maria (RS)” constataram a existência de uma pequena parcela (9,3%) de escolas públicas (estadual e municipal) com ginásio de esportes, quadra coberta e sala de ginástica para o desenvolvimento das aulas. Entretanto, é sabido que todas as escolas possuem salas de aula, e, isso, utilizar a sala de aula foi a solução encontrada pelos acadêmicos estudados para os dias de chuva; e,
2ª) A minoria dos acadêmicos nos três ECS (I-II-III) não teve dificuldades porque pela regra da escola não acontecia aula de Educação Física em dias de chuva. Fundamentamos esse fato em Krug (2010a) que em estudo intitulado “A estruturação organizacional da Educação Física nas escolas com Estágio Curricular Supervisionado I-II-III da Licenciatura do CEFD/UFSM: um diagnóstico da realidade dos acadêmicos-estagiários” que constatou que na minoria das escolas com ECS I e II não ocorrem aulas de Educação Física em dias de chuva e nas escolas com ECS III sempre ocorrem aulas nos dias de chuva.
Entretanto, poucos acadêmicos estudados manifestaram que ‘sim, isto é, que existiram dificuldades’ para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva. Foram dois acadêmicos no ECS I, três acadêmicos no ECS II e somente um acadêmico no ECS III. Esse fato está em concordância com o constatado por Silva e Krug (2005) que no estudo denominado “A Educação Física Escolar no ensino fundamental na região central do RS: aspectos ambientais, físicos e materiais” de que a chuva atrapalha a realização das aulas de Educação Física nas escolas.
Neste sentido, os acadêmicos estudados elencaram os seguintes ‘motivos da existência de dificuldades’ para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva:
A) No ECS I (Ensino Médio): 1º) ‘A falta de local adequado para a realização da aula de Educação Física em dias de chuva’ (Duas citações);
B) No ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental): 1º) ‘A falta de local adequado para a realização da aula de Educação Física em dias de chuva’ (Três citações); e,
C) No ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental): 1º) ‘A falta de local adequado para a realização da aula de Educação Física em dias de chuva’ (Uma citação).
Pela análise dos motivos dos acadêmicos terem dificuldades para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva nos ECS I, II e III observamos que todos manifestaram que essas dificuldades foram originadas pela falta de local adequado para as aulas de Educação Física em dias de chuva. Fundamentamos esse fato em Simon; Cardoso e Domingues (2008) que destacam que a Educação Física possui características próprias, bem diferentes de todas as outras disciplinas escolares, ela necessita, ela necessita de espaço e materiais diferenciados, os quais não fazem parte do cotidiano das escolas brasileiras.
A existência ou não de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares na Educação Física e seus motivos na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM em situação de Estágio Curricular Supervisionado
A quase totalidade dos acadêmicos estudados declarou que ‘não existiram interferências do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares’ nas aulas de Educação Física. Foram dezoito acadêmicos no ECS I, dezessete acadêmicos no ECS II e dezenove acadêmicos no ECS III. Esse fato está em discordância com o estudo de Krug (2011) denominado “Os problemas/dificuldades na prática pedagógica nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” que constatou a existência de resistência dos alunos às atividades propostas para as aulas, em todos os ECS (I-II-III), independentemente ser em dia de chuva ou não.
Os acadêmicos estudados elencaram os seguintes ‘motivos da não interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares’ nas aulas de Educação Física:
A) No ECS I (Ensino Médio): 1º) ‘Não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica)’ (Dezoito citações);
B) No ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental): 1º) ‘Não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica)’ (Dezessete citações); e,
C) No ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental): 1º) ‘Tinha planejamento específico para a realização da aula de Educação Física em dias de chuva’ (Dezenove citações).
Pela análise dos motivos da não interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares observamos que destacaram-se duas situações distintas:
1ª) A maioria dos acadêmicos, isto é nos ECS I e II o motivo da não interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares porque não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica). A respeito desses motivos citamos Krug (2012) que no estudo intitulado “Os dilemas do Estágio Curricular Supervisionado na percepção dos acadêmicos-estagiários da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” constatou que não ter aula da disciplina de educação Física da escola em dias de chuva é um dos dilemas do ECS, bem como mencionamos Conceição et al. (2004) que no estudo sobre o “Os aspectos ambientais, físicos e materiais da Educação Física no ensino fundamental em Santa Maria (RS)” constataram a existência de uma pequena parcela (9,3%) de escolas públicas (estadual e municipal) com ginásio de esportes, quadra coberta e sala de ginástica para o desenvolvimento das aulas; e,
2ª) A minoria dos acadêmicos, isto é no ECS III o motivo da não interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares porque tinham planejamento específico para a realização da aula de Educação Física em dias de chuva para qualquer local, principalmente na sala de aula. Este fato contraria o mencionado por Krug (2011) que em estudo nomeado “Os problemas/dificuldades na prática pedagógica nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” constatou que a dificuldade do acadêmico no planejamento das aulas é um problema para o estagiário, e, principalmente, para os dias de chuva.
Entretanto, poucos acadêmicos estudados manifestaram que ‘sim, isto é, que existiram interferências do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares’ nas aulas de Educação Física. Foram dois acadêmicos no ECS I, três acadêmicos no ECS II e somente um acadêmico no ECS III. Esse fato pode ser corroborado por Menezes Filho (2002) que destaca que a Educação Física Escolar está condicionada a diversos fatores e as condições climáticas é um deles.
Os acadêmicos estudados elencaram os seguintes ‘motivos da existência de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares’ nas aulas de Educação Física:
A) No ECS I (Ensino Médio): 1º) ‘Os alunos não participavam da aula porque era na sala de ginástica’ (Duas citações);
B) No ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental): 1º) ‘Os alunos não participavam da aula porque era na sala de aula’ (Três citações); e,
C) No ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental): 1º) ‘A agitação dos alunos pelo espaço reduzido da sala de aula’ (Uma citação).
Pela análise dos motivos da existência de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares observamos que destacaram-se duas situações distintas:
1ª) A maioria dos acadêmicos, isto é nos ECS I e II o motivo da existência de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares foi que os alunos não participavam da aula porque esta era na sala de ginástica ou na sala de aula; e,
2ª) A minoria dos acadêmicos, isto é no ECS III o motivo da existência de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares foi pela agitação dos alunos pelo espaço reduzido da sala de aula.
Estas duas situações estão em consonância com o destacado por Krug (2011) no estudo “Os problemas/dificuldades na prática pedagógica nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em educação Física do CEFD/UFSM” que constatou que a resistência dos alunos ao conteúdo a ser desenvolvido e ao local da aula é um dos problemas/dificuldades enfrentados pelos acadêmicos durante os ECS I-II-III.
A existência ou não de mudanças comportamentais dos alunos nas aulas de Educação Física nos dias de chuva e seus motivos na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM em situação de Estágio Curricular Supervisionado
A quase totalidade dos acadêmicos estudados declarou que ‘não existiram mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva’ nas aulas de Educação Física. Foram dezoito acadêmicos no ECS I, dezessete acadêmicos no ECS II e dezenove acadêmicos no ECS III. Esse fato está em discordância com o estudo intitulado “Os problemas/dificuldades na prática pedagógica nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” de Krug (2011) que constatou a existência de comportamentos inadequados dos alunos, principalmente em dias de chuva (quando ocorria a aula nessa situação), tais como: indisciplina e agitação.
Os acadêmicos estudados elencaram os seguintes ‘motivos da não existência de mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva’ nas aulas de Educação Física:
A) No ECS I (Ensino Médio): 1º) ‘Não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica)’ (Dezoito citações);
B) No ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental): 1º) ‘Não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica)’ (Dezessete citações); e,
C) No ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental): 1º) ‘Tinha planejamento específico para a sala de aula’ (Dezenove citações).
Pela análise dos motivos da não existiram mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva nas aulas de Educação Física observamos que destacaram-se duas situações distintas:
1ª) A maioria dos acadêmicos, isto é nos ECS I e II o motivo da não existiram mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva nas aulas de Educação Física foi que não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica). Esses fatos são destacadas no estudo de Krug (2011); e,
2ª) A minoria dos acadêmicos, isto é no ECS III o motivo da não existência de mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva’ nas aulas de Educação Física foi porque o estagiário tinha planejamento específico para a sala de aula. Esse fato está em consonância com o estudo de Krug (2010b) nomeado “O planejamento, o desempenho e as contribuições deixadas aos escolares no Estágio Curricular Supervisionado na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” que constataram que a preparação antecipada do planejamento das aulas é uma das preocupações dos estagiários para conseguirem desempenhar um bom trabalho com os alunos no andamento das aulas. Também destaca que os acadêmicos se preocupam com o comportamento dos seus alunos procurando sempre controlar as situações comportamentais surgidas.
Entretanto, poucos acadêmicos estudados manifestaram que ‘sim, isto é, que existiram mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva’ nas aulas de Educação Física. Foram dois acadêmicos no ECS I, três acadêmicos no ECS II e somente um acadêmico no ECS III.
A) No ECS I (Ensino Médio): 1º) ‘A indisciplina dos alunos’ (Duas citações);
B) No ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental): 1º) ‘A indisciplina dos alunos’ (Três citações); e,
C) No ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental): 1º) ‘A indisciplina dos alunos’ (Uma citação).
Pela análise dos motivos da existência de mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva observamos que a indisciplina dos alunos foi o citado pelos acadêmicos. Esse fato da ocorrência da indisciplina dos alunos pode ser corroborado por diversos estudos ligados ao ECS, tais como: Marques e Krug (2010); Krug (2011) e Krug (2012).
CONCLUSÃO: UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO SOBRE A INVESTIGAÇÃO
Pela análise das informações obtidas concluímos que:
1) Quanto à existência ou não de dificuldades para a realização das aulas de Educação Física em dias de chuva e seus motivos - Para a quase totalidade (ECS I=18; ECS II=17; ECS III=19) dos acadêmicos estudados não existiram dificuldades para a realização das aulas em dias de chuva, sendo que os motivos para tal acontecimento mostraram duas situações: 1ª) A maioria dos acadêmicos nos três ECS (I-II-III) não teve dificuldades com o dia de chuva porque a escola possuía local adequado (coberto) para a realização das aulas de Educação Física; e, 2ª) A minoria dos acadêmicos nos três ECS (I-II-III) não teve dificuldades porque pela regra da escola não acontecia aula de Educação Física em dias de chuva.
2) Quanto à existência ou não de interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares na Educação Física e seus motivos - Para a quase totalidade (ECS I=18; ECS II=17; ECS III=19) dos acadêmicos estudados não existiram interferências do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares nas aulas de Educação Física, sendo que os motivos para tal acontecimento mostraram duas situações: 1ª) A maioria dos acadêmicos, isto é nos ECS I e II o motivo da não interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares porque não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica); e, 2ª) A minoria dos acadêmicos, isto é no ECS III o motivo da não interferência do dia de chuva na aplicação dos conteúdos escolares porque tinham planejamento específico para a realização da aula de Educação Física em dias de chuva para qualquer local, principalmente na sala de aula.
3) Quanto à existência ou não de mudanças comportamentais dos alunos nas aulas de Educação Física nos dias de chuva e seus motivos - Para a quase totalidade (ECS I=18; ECS II=17; ECS III=19) dos acadêmicos estudados não existiram mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva nas aulas de Educação Física, sendo que os motivos para tal acontecimento mostraram duas situações: 1ª) A maioria dos acadêmicos, isto é nos ECS I e II o motivo da não existiram mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva nas aulas de Educação Física foi que não tinha aula quando chovia, ou a aula era desenvolvida em local apropriado (ginásio, quadra coberta ou sala de ginástica); e, 2ª) A minoria dos acadêmicos, isto é no ECS III o motivo da não existência de mudanças comportamentais dos alunos nos dias de chuva nas aulas de Educação Física foi porque o estagiário tinha planejamento específico para a sala de aula.
Desta forma, concluímos que o dia de chuva não é um problema para o desenvolvimento das aulas de Educação Física nos ECS I, II e III do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.
Esta conclusão pode ser fundamentada por Simon; Cardoso e Domingues (2008) que destacam que o dia de chuva não é um problema para todos, mas mudanças são necessárias para adequar as aulas, pois os espaços escolares limitam a Educação Física nessa condição. Superar o (como um problema) dia de chuva depende da melhoria na infra-estrutura e professores com disposição para elaborar estratégias para a chuva passar de empecilho à possibilidade de conteúdo.
Entretanto, parece pertinente destacar o mencionado por Menezes Filho (2002) que afirma que o ensino da Educação Física Escolar apresenta-se condicionado a vários fatores que vão desde a disponibilidade de espaço físico, condições climáticas, materiais, horários das aulas, número de alunos e indo até o planejamento escolar, onde constam as orientações filosóficas, pedagógicas e metodológicas.
Para finalizar, recomendamos a realização de investigações mais aprofundadas sobre a formação inicial dos professores de Educação Física e em particular sobre o Estágio Curricular Supervisionado, pois esse momento é muito importante para uma formação de qualidade.
REFERÊNCIAS
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[1] Cassiano Telles - Mestrando em Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: telleshz@yahoo.com.br
[2] Hugo Norberto Krug - Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: hnkrug@bol.com.br