31/10/2016

PARA ONDE VAMOS?

Dênio Mágno da Cunha*

               Saber para onde vamos é um dos mais úteis conhecimentos que podemos ter sobre nós mesmos, situado logo abaixo de sabermos quem somos. Estes temas fundamentais estiveram presentes nos meus pensamentos por vários motivos nesta última semana de outubro, sendo o principal deles, a expansão das posições políticas características da década de 1960.

               Estávamos recentemente (socialmente, economicamente e culturalmente), seguindo em direção à valorização das nossas diferenças, à melhor qualidade dos investimentos, ampliando a inclusão, construindo uma filosofia de vida voltada para um acordo social político mais moderno, acomodando de forma mais justa as nossas disparidades econômicas e sociais. Não repentinamente, pois declarado a mais de um ano, começamos a perceber que não era bem assim: estávamos vivendo uma bolha de otimismo, fabricada com fins eleitoreiros e de perpetuação no poder.

               Entramos na chamada “judicialização da política”, quando os processos e decisões políticas são influenciadas por elementos e ações vinda do poder judiciário. Paramos de ser políticos para sermos réus ou algozes; inocentes ou culpados; petralhas ou coxinhas.

               A exposição das falcatruas e negociatas entre governo e iniciativa privada, abriram as portas para a derrubada do governo que se iniciara em 2003 – Lula e sua sucessora -. Assume o comando do governo as antigas figuras políticas, de vida longa nos bastidores de Brasília. Rompe-se a frágil estrutura deteriorada pelos interesses escusos, de natureza pessoal. O projeto de governo, havendo, desaparece. Cria-se uma zona de insegurança, semelhante a um terreno pantanoso, que a cada dia faz afogar ou sucumbir a confiança política. O país, a sociedade de modo geral, perde a referência: não sabe quais os caminhos serão seguidos, perde a noção de futuro a médio e longo prazo.

               A consequência imediata da derrocada do projeto político de “esquerda”[1] é o crescimento do pensamento conservador da chamada “direita”.  Expressões desaparecidas no tempo retornam ao cotidiano - “comunistas devem ser destruídos porque comem criancinhas”, entre elas. É a velha “direita” aproveitando-se da situação para reavivar velhos fantasmas nas mentes medrosas daqueles que apoiaram o golpe de 1964 e a ditadura que a ele se seguiu. Dejà vu na geração de 1968.

               A primeira grande intervenção do governo não é a comunicação com a sociedade e a apresentação de seu projeto, mesmo de curto prazo. É a imediata proposta de redução dos investimentos sociais – saúde, educação, previdência – transformados em “gastos públicos”. O foco passa a ser a geração de recursos financeiros para recomposição do caixa do governo. A limitação orçamentária é votada para uma duração de 20 anos, mesmo que o governo seja de apenas três anos.

               Nos setores afetados, estudantes, poucos, muito poucos, manifestam a sua indignação; professores? quase nenhum. Proprietários de empresas da área? Nenhum. A mesma situação repetida na saúde. Na previdência, o suspense. Proporcionalmente a seu impacto na sociedade, a manifestação contrária é pífia. Políticos receosos de perderem seus privilégios, negociam suas posições na hora de votaram a favor ou contra o governo.  O velho esquema do “toma lá, dá cá” retorna, mesmo que destituído de sua face econômica, trocada agora pela manutenção de privilégio e do “emprego como político”. A oposição não existe. A esquerda acuada; o centro esperando para ver se consegue sobras ou a vitória nas próximas eleições majoritárias.

               Este o quadro que coloca a sociedade diante do “não saber para onde ir” e “não saber mais quem é”.

               A situação macro, atinge o microuniverso. Nas eleições municipais, avanço da “direita”, encolhimento da “esquerda”, manutenção do “centro” orgânico.

               Evitando desvirtuas excessivamente os fundamentos desta coluna é preciso dizer: a educação no país vem sofrendo e sofrerá mais ainda com esta falta de projeto político e, com a ausência de uma política de melhoria das condições para que educação dê o avanço esperado nos acordos internacionais firmados anteriormente. Por pior que se revelasse as condições sobre as quais o país era governado, havia a direção. Agora não há mais.

               Reitores, professores, pesquisadores, estudantes das instituições educacionais nas três esferas governamentais estão perdidos sem saberem para onde caminhará a educação; qual a política ou políticas serão seguidas; qual o objetivo (?).

               No ensino privado, a crise econômica e a redução nos investimentos do estado na inclusão, jogam por terra planos de expansão ou de investimento na melhoria da estrutura acadêmica. O desemprego e a desmobilização dos esforços desenvolvidos são a tônica geral.

               E o aluno?

               Destituído do hábito de planejar sua trajetória acadêmica; sem financiamento disponível; o elo mais frágil da corrente educacional, passa também a preocupar-se com a sobrevivência, deixando de lado o principal: sua formação. Não tem a mínima segurança quanto as condições de continuidade dos estudos ou estuda apenas o indispensável para vencer a etapa do momento, como de resto faz todos os outros setores da sociedade.

               Otimista, vejo um alento nesta confusa situação. A despeito do quadro descrito até este momento, a sociedade brasileira nunca foi, de fato, dependente das decisões de Brasília, ajustando-se aos sacrifícios impostos pelos governos autocentrados. Isto é traduzido pelo dinamismo oposicionista, manifesto no “cuidar de si mesmo”, ignorando por vezes as consequências das políticas equivocadas. A esse movimento chamo de esperança com ação: enquanto espera as coisas melhorarem, vai-se virando com o que tem.

               É este dinamismo que fará com que, mais uma vez, saíamos desta crise: a mais complexa já vivida pelo brasileiro pois envolta na névoa do não saber para onde se está caminhando. Infelizmente, agravada por uma completa desconfiança na sua representatividade política – nos três níveis de poder -, que faz com que não haja mais identidade com um projeto de futuro.

               Momento frágil, propício ao ressurgimento e crescimento do discurso conservador da ultradireita. Que a história não se repita!

* Dênio Mágno da Cunha, professor em Carta Consulta, em Una-Unatec, Doutorando em História da Educação pela Universidade de Sorocaba. É otimista e acredita na fé e no poder de resistência do povo brasileiro.

 


[1] Utiliza-se este conceito com o objetivo didático.

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