06/08/2015

Paradoxo da Educação

            A educação sempre foi vista como chave mestra para abrir as portas da transformação, portas estas que levariam o homem ignorante por natureza a uma criticidade e evolução. Criticidade que irá inserir o cidadão em uma busca constante da verdade, fazendo com que o mesmo forme opiniões, e não as aceite de néscios manipuladores, se deixando alienar, isso porque a verdadeira educação implica em um constante devir, e jamais oculta a verdade fazendo prevalecer a dominação de uma minoria elitizada que representa o câncer da sociedade.

            A educação fomenta a liberdade, a emancipação e a busca de novos horizontes, fazendo com que o indivíduo fique mais consciente de suas raízes e culturas, mas para que isso possa realmente acontecer, este cidadão precisará de um profissional que abrace a causa e que tenha uma formação multi/inter/transdisciplinar, e este trabalhador tão bem conceituado, embora desvalorizado por esta elite, é denominado professor.

            O professor, que além de saber bem seu conteúdo ministrado, tem que entender de antropologia, assistência social, sociologia, filosofia, psicologia, pedagogia, psicopedagogia e também política.

            Política? Para que falarmos de política em uma sala de aula? Idiotas pensam que falar sobre política é ser partidário, defender ideologias A ou B, votar em políticos C ou D. Falar de política é falar sobre Estado, Nação, Cidadania, Comunidade, Coletividade, Poder, Equidade, Igualdade, Respeito, Caráter, Justiça e tudo aquilo que está relacionado a Pólis, ou seja, Cidade-Estado. Para resumir, Aristóteles afirmava que “o homem é naturalmente um animal político”. Não temos como fugir da política, pois ela está em tudo.

            E como se já não bastasse, o Estado oferecer uma educação fragilizada e alienante a seus cidadãos, temos que engolir políticos que deveriam defender a vontade e/ou o bem comum do povo, dizendo e/ou fazendo estultices como um certo deputado federal que propôs em seu projeto não poder falar sobre política. Para este representante do povo, é importante manter a massa de manobra no controle. Para ele, o professor que falar sobre política em uma sala de aula deverá ser multado ou receber uma pena de três meses a um ano de detenção, com possibilidade de aumento de punição. Este defensor do povo, quer na verdade vê-lo totalmente alienado para que se continue a perpetuação de sua tirania e corrupção de outros mais. (para informação quanto ao projeto, vide: http://www.portalmetropole.com/2015/08/projeto-preve-3-anos-de-prisao-para.html ).

            Isso implica em dizer que estamos em um paradoxo em relação a educação. Algo que deveria libertar o povo, acabará deixando-o mais dependente e alienado de seus governantes conspurcados.

            Estamos voltando ao AI5 – Ato Institucional Nº 5, que simplesmente além de muitas arbitrariedades incluía também a proibição de atividades ou manifestação sobre assuntos de natureza política. Para muitos, este ato foi o mais duro golpe da ditadura militar, pois ele foi a luz verde para tortura, foi a época da “linha dura” contra tudo e todos, foram anos de chumbo, que refletiram também na educação e cultura através da censura prévia para jornais, revistas, livros, músicas, peças de teatros, novelas e tudo aquilo que o povo tivesse acesso e que pudesse ferir a “moral” e os “bons costumes”.

            Aprovando o projeto deste deputado federal, não poderemos em momento algum, trabalhar conceitos como Teoria Política, Pensamento Social, Cidadania, Controle Social, Ética, Violência dentre outros que envolva poder político. E também não trabalharíamos grandes pensadores e/ou obras como Maquiavel (o Príncipe), Martinho Lutero, Thomas Hobbes com o (Leviatã), John Locke, Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau (O Contrato Social), Friedrich Nietzsche dentre outros.

            Será que teremos que nos remeter a “pensadores” que mandam beijinho no ombro?

            Como educadores precisamos fazer com que nossos alunos peguem amor pela leitura, pelo saber, pela ético do trabalho e pela política. Não podemos ser omissos quanto a nossa verdadeira função.

            Aranha (1996) destaca três aspectos de suma importância na formação de um educador que são: Qualificação, Formação Pedagógica e Formação Ética e Política, e o projeto do deputado acima, iria ferir estes aspectos na formação do profissional em educação.

            Não podemos ser coniventes e oferecer a nossos educandos uma domesticação subalterna. Precisamos fugir a criação do pensamento fragmentado e partir para uma educação transformadora da sociedade, fazendo com que o educando produza seu próprio conhecimento e se transforme em um ser crítico e atuante, pois a função da educação não é padronizar homens e tampouco adestrá-los.

            Temos que, de acordo com Demo (2000), desenvolver em nossos alunos um saber pensar que combina com cidadania emancipada, aquela que sabe o que quer, por que quer e como quer. Tais falas convergem com os ideais pregados por Freire (1996, p. 20) quando aduz que precisamos desenvolver a presença em nossos educandos, “presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe”. Isso tudo é função da educação e cabe ao profissional desenvolver em seus educandos, mas o que não acontecerá caso as imbecilidades sugeridas por pseudo-políticos forem acatadas.

            Freire foi um inimigo público em época da ditadura, pois para ele era importante criar homens contextualizados em sua própria História. Tais homens deveriam ser protagonistas de sua libertação e desenvolvimento, para ele cabe a nós educadores fazermos com que nossos alunos saiam da “consciência intransitiva mágica” pela “consciência transitiva crítica” e desenvolver criticidade em nossos educandos é fazer com que estes tenham profundidade na análise de problemas, percebam a mutação da realidade, substituam explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade, tente sempre se livrar de preconceitos, e repele posições quietistas, posições estas que querem empurrar a nossa educação fragilizada.

            Precisamos fazer valer a educação em sua origem no educere (latim) que significa “extrair, tirar, desenvolver, ou seja, extrair a essência boa do ser humano, e tirar as vicitudes que o levam a cair” e desenvolver um homem de personalidade, de caráter, de justiça e de amor, sem abrir mão de sua criticidade e protagonismo.

 

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.  Filosofia da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1996.

DEMO, Pedro.  Saber Pensar. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000 – (Guia da Escola Cidadã; v. 6)

FREIRE, Paulo.  Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

TAVARES, Wolmer Ricardo. Docência, um Momento Reflexivo. São Paulo: Ícone, 2007.

 

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