Paradoxo do Pinóquio

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

            A mentiras e/ou ficções são capacidades oriundas do ser humano, e tal afirmação é corroborada por Harari em seu livro intitulado 21 lições para o século 21, publicado pela Companhia das Letras em 2018, ao esclarecer que Homo Sapiens conquistou o planeta graças e acima de tudo a estas ficções e/ou mentiras.

            Para o autor, quanto mais pessoas acreditarem nestas ficções, mais poderão ser manipulados, obedecendo as mesmas leis e cooperando de forma efetiva.

            Harari é metafórico ou afirmar que "uma vez mentira, sempre verdade" e cita exemplo de joseph Goebbels, o maestro da propaganda nazista, que foi visto como mago da mídia moderna. Segundo este mago, "uma mentira dita uma vez continua uma mentira, mas uma mentira dita mil vezes torna-se verdade".

            A mentira é mais forte na área política, o que é aduzido Harari ao relatar que verdade e poder caminham juntos por apenas certo ponto, e que cedo ou tarde, cada um terá um caminho diferente. Interessante é a sua fala enfática ao esclarecer que se você quer poder, então terá que disseminar mentiras, e se você quiser saber a verdade, terá que abrir mão do poder.

            Harari vai além quando deixa claro que nenhum político diz a verdade, e disso nós brasileiros sabemos muito bem, aliás, são estas mentiras que dão votos a eles e os fazem se perpetuarem no poder.

            Nietzsche em seu livro Humano, demasiado humano: Un libro para espíritus libres, publicado pela A. L. Mateos, S. A  em 1993. O filósofo já começa afirmando que a moral é uma mentira necessária, e dá continuidade ao afirmar que os homens falam a verdade, em primeiro lugar porque há um Deus que proíbe mentir, bem como de ser mais fácil dizer a verdade a mentira, já que quem mente exige deste uma invenção, dissimulação e memória, já que para sustentar esta mentira, muitas outras terão que ser inventadas. Vale lembrar que para o filósofo a dissimulação é uma mentira.

            Obviamente que a mentira também se faz importante, e é comumente utilizada por nós inclusive para uma melhor socialização, a isto denominamos mentiras sociais.

            A mentira social é a recorrência de uma inverdade, não com o intuito de manipulação do outro, mas para o bom convívio social, evitando assim conflitos e/ou constrangimentos, desde que não se torne uma mitomania, que é uma mentira obsessiva compulsiva.

            A mentira social algumas vezes é usada proteger o outro, o maior problema está em sua manipulação para o poder, através de uma pedagogia cínica, muito advertido por Souza em seu livro,. Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007. Segundo o autor, toda pedagogia cínica é consciente de si como manipuladora, usa da mentira ou passa tempo fútil, já que o ensinar verdadeiro implica em coisas verdadeiramente úteis e válidas a nossos próprios olhos

            Assim sendo, que as mentiras sejam para a boa socialização e que nossos educandos tenham discernimento para perceberem o que é mentira e o que é verdade, e isso só será descoberto quando fomentarmos nestes a curiosidade para a pesquisa e a autonomia para a busca de seu próprio conhecimento.

            Assim, podemos perceber realmente o paradoxo do Pinóquio quando afirma que "meu nariz vai crescer" e isso nos remete realmente a nossos políticos que vivem de mentiras.