11/09/2019

Patriotismo Hipócrita

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            A verdadeira educação deve ser libertadora e levar o aluno a questionar, buscando a verdade de forma autônoma e desenvolvendo cada vez mais o seu discernimento.

            Apesar de muito questionado por alguns pseudoeducadores Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa publicado pela Paz e Terra em 1996 já era enfático ao ressaltar a importância da pesquisa.

            Ele afirmava em sua obra que ela é a base de um conhecimento sem manipulação, a pesquisa serve para que o educando possa constatar algo, e constatando ele poderá intervir, e intervindo se educará. A pesquisa serve para conhecer o que ainda não se conhece, e interessante perceber que mesmo na educação, as informações são manipuladas.

            Em uma educação institucionalizada é difícil fazer o aluno pensar por si mesmo. Ela prima levar o aluno a uma subalternidade e até mesmo a uma domesticação, e isso se dá mediante a coações, sejam elas de forma direta e/ou indireta.

            Aprendíamos nas escolas que as cores da Bandeira do Brasil tinha a sua representatividade na paz para o branco, para o amarelo as riquezas do país, o verde as matas e o azul o céu, todavia, poucos buscam a fundo o verdadeiro motivo de tais cores.

            Nunca nos ensinaram que o Brasil não foi colônia como muitos países das Américas foram, como no caso dos Estados Unidos foram da Inglaterra, etc.

            A colonização do Brasil aconteceu por fatores secundários, a verdade é que o objetivo dos portugueses em nossas terras era somente exploração. Extrair toda riqueza e pronto, entretanto, os planos mudaram e com isso a nossa história teve outros caminhos.

            As cores da bandeira brasileira não eram pelos motivos citados acima e ensinado por todas as escolas, elas tinham um motivo mais que os embutidos na cabeça do povo.

            O verde não tinha nenhuma ligação com nossa matas, e, aliás, se fosse hoje, principalmente depois do dia da queimada, nosso verde poderia ser muito bem substituído pelo cinza das queimas.

            O verde na verdade representa a família de Dom Pedro I, isto é, a cor da casa de Bragança, e como casaram Dom Pedro com uma arquiduquesa dona Leopoldina, o amarelo representava a cor da casa de Lorena. O circulo azul era a esfera armilar que é um instrumento de astronomia aplicado em navegação que consta de um modelo reduzido do cosmo, que também estava presente na bandeira portuguesa do Império e a frase Ordem e Progresso era um lema do positivismo[1] que é uma corrente filosófica que defende a idéia de que o conhecimento científico deve prevalecer como conhecimento verdadeiro, ou seja, as especulações teológicas e metafísicas não poderiam sobrepor nunca o conhecimento científico.

            Hoje temos representantes políticos que através de um falso patriotismo, denigrem-se a imagem do Brasil mundo afora e que, mesmo o nosso lema sendo ordem e progresso, colocam-se em descrédito toda pesquisa científica, pois para estes governantes, a ciência não é nada. Voltamos às especulações com falsos messias.

            Interessante perceber que o samba enredo da Mangueira, Escola Campeã de 2019, narra um pouco a história não contada em nossas escolas. O samba da G.R.E.S Estação Primeira da Mangueira (RJ) 2019, afirma que

"[...] Deixa eu te contar

A história que a história não conta

O avesso do mesmo lugar

[...]Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento

Tem sangue retinto pisado

Atrás do herói emoldurado

Mulheres, tamoios, mulatos

Eu quero um país que não está no retrato

 

            E realmente, a escola contou a história omitida e também manipulada por uma minoria que se diz patriota.

            O falso patriotismo esta tão enraizado que a tendência é fazer referência a fala "Brasil acima de tudo [...]". Se buscarmos na história omitida, perceberemos que tal fala converge com a mesma do nazismo que dizia "Deutschland über alles" que era o mesmo que "Alemanha acima de tudo".

            Observe que este patriotismo está criando um exército de fanáticos e intolerantes quanto a outras ideologias e com isso, a nossa democracia fica a margem, pois passa-se a imperar intolerância de credos, ideologias e atém mesmo a aversão a outras raças e culturas, ou seja, estamos alimentando com preconceito uma população rica nas diferenças que hoje se tornam verdadeiros xenófobos, por simplesmente não pensarem como é exigido por uma minoria.

            Nossa educação não explica a origem da palavra brasileiro. Porque as pessoas que moravam ou nasciam no Brasil eram conhecidos como brasileiros. Segundo Rodrigues (2017), o sufixo eiro é um sufixo formador de gentílicos, isto é, palavras que indicam procedência ou naturalidade, mas que no caso do Brasil, significava uma profissão, como mineiro, pedreiro, carpinteiro e porque não brasileiro.

            O brasileiro segundo Rodrigues (2017) era a pessoa que extraia o pau-brasil e eram "homens criminosos, banidos para o nosso país por Portugal, o adjetivo tinha significado pejorativo". Foi o Frei franciscano Vicente do Salvador que começou a usar o nome para as pessoas que nasciam no Brasil e assim procedeu o Frei ao escrever sua história da custódia franciscana no Brasil.

            Interessante perceber que brasileiro nada mais era que um extrativista que roubava as riquezas desta terra e assassinava seus nativos, e assim tem agido nossos representantes, continuam querendo acabar com os nativos e teimam em roubar nossas riquezas, através do extrativismo mineral e vegetal.

            Como afirmava Freire no livro supracitado acima, o professor não transfere conhecimento, ele cria possibilidades para que o educando tenha sua própria construção, o que é reforçado pela G.R.E.S Estação Primeira da Mangueira (RJ) 2019 e da Samba Mangueira na história que a história não conta.

            Falta aos nossos educandos a capacidade de discernimento e enquanto tivermos pessoas com este patriotismo hipócrita, teremos uma multidão de domesticados subalternos para difundir suas imbecilidades.

            Como dizia Romão em seu livro Pedagogia Dialógica, publicado pela Cortez em 2002, só seremos um educador libertador e emancipador, quando em conjunto com nossos alunos, oferecermos condições para que estes possam superar a curiosidade ingênua pela curiosidade epistemológica, fugindo da consciência intransitiva mágica para consciência transitiva crítica, ou seja, quando fizermos nossos educandos se tornarem verdadeiros agentes transformadores, isto é, desenvolver nestes um protagonismo cognoscente, pois á dizia Ernest Renan: "A estupidez humana é a única coisa que dá uma idéia do infinito".

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