08/06/2015

Pentágono da Educação

            Uma educação deve sempre implicar em um devir, ou seja, uma transformação que tire o sujeito de um estado néscio e o transforme em um ser pensante, atuante e  protagônico de sua própria vida.

            Para que essa educação seja realmente transformadora, faz-se mister perceber que a mesma deverá ter cinco lados iguais, em uma forma geométrica, ela poderia ser representada por um pentágono.

            Um pentágono é um polígono com 5 lados iguais e metaforicamente comparando com uma educação de qualidade, estes lados podem ser representados pela Ciência, Cultura, Tecnologia, Desenvolvimento Social e Humanismo.

            A Ciência deverá ser trabalhada a parte em que o aluno busca sanar suas curiosidades, pois a mesma deverá afastá-lo de ideias e opiniões duvidosas, preconcebidas e manipuladoras, fazendo com que este submeta a informação e/ou conhecimento ao crivo da crítica.

            O ato de pesquisar faz com que o aluno construa o seus próprios conhecimentos, o que reforça as falas de Freire (1996) quando afirma que não há pesquisa sem ensino e nem ensino sem pesquisa, pois a pesquisa é para contatar algo, e contatando vem a intervenção, intervindo a pessoa educam e ao mesmo tempo são educadas.

            Para o referido autor, a pesquisa nos leva a conhecer o que não conhecemos, e infelizmente, ela não tem sido uma prática comum em nossas escolas, e quando se faz uso dessa prática, simplesmente não existe a pesquisa em si, existe apenas um fomento ao plágio, a uma apropriação indevida de um saber que sequer foi trabalhado com o aluno. Para Romão (2002) aprender é participar da pesquisa e do processo de construção do conhecimento, e com o plágio, não se constrói conhecimento algum.

            A parte da Cultura deverá convergir também  para as características dos processos, modalidades e disposições que conduzem ao erro da ilusão para que o educando consiga se livrar deste engessamento. É salientado por Rios (1993) que educação é transmissão de cultura, pois é salutar percebermos que o ato de educar perpassa ao fenômeno histórico e social, e Teixeira (2010) complementa dizendo que também é um fenômeno humano e cultural. o que é reforçado por Tomazi (1997) quando aduz que podemos entender cultura como modo de pensar, sentir e agir.

            Dito isso, faz-se imperioso percebermos e trabalharmos o aluno como um ser sociocultural, respeitando o seu valor e sua cultura, pois é através dela que nos tornamos humanos, visto que para Morin (2002, p. 52) se o homem dispusesse plenamente de sua cultura, poderia ser considerado um primata do mais baixo nível. Para o autor, “a cultura acumula em si o que é conservado, transmitido, aprendido, e comporta normas e princípios de aquisição”. Nela estão inseridas nossas transmissões de valores, conhecimentos e morais.

            Não se pode despir a educação da cultura, porque o aluno é percebido como um sujeito sociocultural, sendo respeitado o seu valor e sua cultura, porque um país muda pela sua cultura e pelas suas propostas de humanidade.

            Temos como alicerce da tecnologia, o conhecimento. A tecnologia de acordo com Chinoy (2006) é vista não apenas como instrumentos e/ou novas técnicas, mas  também como habilidades acumuladas necessárias à utilização de quaisquer instrumentos disponíveis. De nada adianta a tecnologia se não houver perícia do ser humano a manejá-la. Para Castells (1999) a tecnologia não determina a sociedade, e esta tampouco escreve o curso das transformações tecnológicas. Para o autor, existe uma interação dialética entre sociedade e tecnologia, isso porque a tecnologia apenas incorpora a sociedade e a sociedade utiliza desta tecnologia. Contudo, cabe-nos perceber que a tecnologia nos permite uma melhor flexibilização e um instrumento para apoiar melhor a criação de um valor. Neste caso, temos a cultura e a tecnologia como vetores para uma sociedade mais globalizada.

            Dando continuidade ao pentágono da Educação, temos também o Desenvolvimento Social que educação deverá alavancar. Para isso, é importante ressaltar que não existe um desenvolvimento implicado pela educação que não altere positivamente o capital social.

            Para acontecer o desenvolvimento social, é importante que todos os componentes da sociedade sejam beneficiados. Um crescimento econômico não implica em um desenvolvimento social. Uma das funções do desenvolvimento social está na erradicação e/ou redução das disparidades regionais e sociais, fazendo com que a sociedade seja mais igualitária, ou seja, as pessoas precisam ter as mesmas oportunidades de crescimento.

            Fechando o pentágono, temos  no Humanismo outra função elementar a ser desenvolvida pela educação. De acordo com Delors (2001), a educação deve desenvolver este humanismo embasado em uma ética essencial e dedicado ao conhecimento das culturas e dos valores espirituais das diferentes civilizações, e o respeito mútuo por estas religiosidades ou diferenças de opiniões ou ideologias, edificando assim um mundo mais solidário. Isso porque estamos na era do conhecimento.

            De acordo com Terra (2001) a principal qualidade dos trabalhadores do conhecimento é o humanismo, ou seja, nós educadores temos o dever de trabalhar este humanismo em nossos educandos, ajudando e trabalhando seu caráter e seus valores, transformando-os em homens de bem.

            Caso consigamos mesmo fechar este polígono de cinco lados iguais (pentágono), teremos então uma educação promissora e norteadora que fará este país desenvolver e se transformar realmente em uma pátria amada e idolatrada.

 

 

Referências

 

CASTELLS, Manuel.  A Sociedade em Rede. Tradução: Roneide Venâncio Majer; 6 ed., São Paulo, Paz e Terra, 1999 (p. 39 – 120).

CHINOY, Ely. Sociedade: Uma introdução à sociologia São Paulo: Cultrix 2006

DELORS, Jacques.  Educação: Um Tesouro a Descobrir. 6 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2001, “Relatório para UNESCO da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI”.  p. 1 a 117

FREIRE, Paulo.  Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

MORIN, Edgar, José Eustáquio.  Pedagogia Dialógica.. 5 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.RIOS, Terezinha Azerêdo.  Ética e Competência. São Paulo: Cortez; 1993.

ROMÃO, José Eustáquio.  Pedagogia Dialógica.. São Paulo: Cortez editora, 2002.

TERRA, José Cláudio Cyrineu.  Gestão do Conhecimento: O Grande Desafio Empresarial: Uma abordagem baseada no aprendizado e na criatividade. São Paulo: Negócios Editora, 4a Reedição, 2001.

TEIXEIRA, Adla Betsaida Martins organizadora. Temas atuais em Didática. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

TOMAZI, Nelson Dacio.  Sociologia da Educação. São Paulo: Atual, 1997.

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