22/12/2017

Percepção da qualidade de vida e adoecimento psíquico de moradores das casas do estudante da FURG.

                                                                                                                            Fonseca, Mateus [1]

                                                                                                                             Silveira, da Rhandrea[2].

                   Mara Lucia Teixeira Brum[3]

                                              

 

 

Resumo:

A pesquisa teve como objetivo averiguar a ocorrência de adoecimentos psíquicos na vivência dos moradores das casas de estudantes (CEUs) da FURG, de acordo com a percepção dos mesmos. Por meio de um questionário semiaberto pôde-se relacionar diversas variáveis tanto quantitativas quanto qualitativas que influem diretamente e indiretamente no resultado obtido, como: perfil dos moradores, áreas do conhecimento em que estes estão vinculados, tempo de estadia, avaliação da estadia nas CEUs, ocorrência de problemas na convivência e especificidades desses, frequência da busca de ajuda profissional capacitada e a existência de sentimentos negativos relacionados a moradia. A relevância desse trabalho decorre da necessidade de uma maior compreensão das demandas advindas dos moradores das CEUs devido à escassez de pesquisas que abordem o tema nessa perspectiva. A pesquisa apontou que 43% dos entrevistados admitem sofrerem de adoecimento psíquico e não procuram ajuda profissional, sendo que a maior incidência esta entre as mulheres entrevistadas.

 

Introdução:

Tendo em vista a ampliação do ensino superior, que a partir da década de 90, começou a abrigar uma maior variedade de perfis discentes, incluindo estratos menos abastados da população, através de ações afirmativas. Emergiu um carecimento de políticas públicas que garantissem ao estudante uma permanência digna na universidade. ( cf. ANDRÉS, 2011).

            De acordo com um levantamento realizado pela FONAPRACE-Fórum Nacional de Pró – Reitores de Assuntos Comunitários e Acadêmicos, citado por ANDRÉS (2011), às demandas: transporte, alimentação e moradia, entram entre “os principais indicadores sociais de sobrevivência”. Especificamente, a moradia traz em si grande relevância no que concerne qualitativamente as condições de vida do estudante em suas novas vivências universitárias. Consoante a já referida pesquisa, aproximadamente 35% dos discentes deixam o meio familiar ao adentrarem o contexto universitário, necessitando assim de apoio nesse novo cenário.

            Conforme Bardagi e Hutz, (2009) a universidade pode criar mecanismos que possibilitem reconhecer problemáticas acadêmicas que permeiam “questões de carreira e bem-estar psicológico dos alunos” precocemente, e assim investir em estratégias preventivas a essas questões; todavia, entre diversas condições, uma postura de responsabilidade da universidade frente a estes aspectos influi na elaboração de estratégias de aprimoramento a qualidade de vida dos discentes.

Em contrapartida ao fato da preocupação com a saúde mental e a assistência formal ao estudante universitário brasileiro ter surgido há mais de 50 anos, “ainda é escasso o número de estudos epidemiológicos sobre a morbidade psiquiátrica em estudantes universitários, e a maioria dos estudos relacionados a esses problemas carece de rigor metodológico e estatístico”. ( cf. CERCHIARI et al, 2005).

Consoante a (psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais) temáticas  chave  da vida humana, como: sobrevivência, miséria, morte, entre outras; formam um espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica. Explorando o item sobrevivência, pode-se inferir que saúde mental, moradia e qualidade de vida estejam incluídos dentro deste tópico. Conforme Ministério da Saúde (2011) considera-se que existe uma relação estreita entre transtorno mental e a exploração da força de trabalho, as condições insalubres dos ambientes, o viver na linha da miséria, o alto índice de desemprego, as relações familiares, o estresse, a violência e a sexualidade mal resolvida como causas. Em consequência, é necessário ao estudante universitário carente de recursos sociais e econômicos o apoio efetivo de uma rede de instrumentos que impliquem numa permanência digna (na universidade) durante a trajetória acadêmica, a fim de evitarem assim, o possível adoecimento psíquico, evasão universitária.

Em meio há inúmeras inquietações manifestadas durante a criação de um projeto para a disciplina de Estatística aplicada à Psicologia, o tema  “Percepção da qualidade de vida e adoecimento psíquico de moradores das casas do estudante” veio a tona e despertou um novo olhar para uma questão de suma importância na vivência acadêmica de muitos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande- FURG, nossos colegas. Após muita pesquisa e revisão teórica, surge a ideia de criar um questionário que abrangesse de maneira subjetiva a forma como os próprios moradores das casas do estudante universitário- CEUs da FURG percebem a sua vivência enquanto moradores, incluindo as temáticas qualidade de vida e adoecimento psíquico; e ainda, o quanto, essa vivência, influência suas vidas acadêmicas.

 

Metodologia:

A partir da criação de um questionário que abrangeu variáveis qualitativas e quantitativas num montante de 12 questões semi abertas, optou-se pelo método não-probabilístico de conveniência para a aplicação, já que o público foi restrito a áreas pontuais. As primeiras quatro questões procuravam obter o perfil dos entrevistados; da quinta a oitava questão os aspectos que envolvem a qualidade de vida dos estudantes foi interpelada; indagou-se -nas últimas questões- acerca da ocorrência de adoecimento psíquico, circunstâncias que na visão dos moradores prejudicavam a vivência, possíveis sintomáticas, bem como, a procura de ajuda profissional especializada. Houveram 50 respondentes.

A aplicação se deu nas residências estudantis, contatando-se e invitando-se moradores a participarem da pesquisa. Levou-se sempre em consideração os aspectos éticos da pesquisa, primeiramente explicando do que se tratava, qual o objetivo principal e sua finalidade, em seguida, lendo e entregando o termo de consentimento livre e esclarecido- TCLE e o questionário, caso o morador se disponibilizasse a participar. Realizada a etapa de levantamento de dados, utilizou-se a ferramenta Excel para organização e análise das informações coletadas.

Resultados e discussões:

Dentro dessa amostra composta por 50 respondentes, apresentaram-se 21 moradores do sexo feminino (48%) e 29 do sexo masculino (52% ), com idade média de 22 anos e 7 meses, sendo a idade máxima de 32 e a mínima de 18. Constatando-se uma diversidade de áreas de estudo, tendo números mais expressivos, acima de 8 alunos, a Engenharia, as Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e as Ciências Exatas. Já no que tange ao tempo de estadias nas CEUs, 50%  da amostra está na casa há mais de 2 anos e 5 meses.

            No que concerne a classificação da estadia na moradia, 48% dos respondentes assinalaram a opção “Boa”, 26% a “Regular”, 22% a “Ótima”, 2% a “Ruim” e 2% a “Péssima”. Entre 0 e 10, os entrevistados do sexo feminino apresentaram uma média de nível de solidão de 4.47 enquanto que os entrevistados do sexo masculino apresentaram a média aritmética de 3.03. Nas mesmas perspectivas, o nível de estresse das respondentes do sexo feminino é de 5,66 e do sexo masculino 5, 24. No que se trata de problemas que mais causam aborrecimento dentro das residências, em primeiro plano foi destacado a opção       “Problemas infraestruturais”, seguido de “Problemas de Relacionamento”, “Falta de Privacidade”, e “Outros”, conforme pode-se verificar no gráfico a seguir.



            De acordo como os dados levantados, 48% da amostra, correspondendo a 21 respondentes, assinalaram que já sofreram ou vivenciaram um ou mais transtornos psicológicos, dentre eles chama a atenção o fato de serem 14 respondentes do sexo feminino e apenas 7 indivíduos do sexo masculino, considerando-se o dado que dentro da amostra o número maior é de indivíduos masculinos. Entre os moradores que assinalaram afirmativamente o fato de se perceberem adoecidos psiquicamente, 33% apontaram já terem pensado em procurar ajuda psicológica, entretanto, a procura de fato não havia sido efetuada; 57% procuraram tratamento psicoterápico e, ainda, 10% afirmam não ter procurado, bem como, não terem pensado em procurar.

No que diz respeito à procura de atendimento psicológico, dentre as opções “ sim”, “não” e “já pensei”, os moradores apresentaram dados expressivos. 64% da amostra afirmou não ter buscado psicoterapia, sendo que 22% declara já ter pensado em fazer psicoterapia; 36% declarou ter procurado por psicoterapia, compondo-se majoritariamente por mulheres. Conforme mostra o gráfico abaixo:

            Ressalta-se ainda que 8 respondentes marcaram mais de uma alternativa. O maior número de relatos de ocorrência centrou-se entre transtorno de ansiedade e depressão. Alguns respondentes também assinalaram a ocorrência de TOC e  Pânico, assim como outros (ansiedade, crise de raiva, frustração).

A questão número onze, pedia o preenchimento de uma escala de sentimentos negativos recorrentes, em que A estava para o mais preponderante e E para o menos, no que competia a cinco sentimentos por nós apresentados: tristeza, ansiedade, nervosismo, angústia, e paranoia. Os sentimentos que mais foram destacados como mais recorrentes foram ansiedade e nervosismo, ficando por menos recorrente paranoia e angústia.

            Por fim, para encerrar a pesquisa, perguntou-se se o fato de morar na CEU influenciava negativamente o rendimento universitário do respondente, dentre as opções havia “Totalmente”, “Muito”, “Regular”, “Pouco” e “Nada”. Apenas 28% dos moradores apontaram que não ocorre nada de influência negativa, 18% assinalaram a opção “Regular”, enquanto que os demais apontam algum nível de influência não positiva.

Ademais, é interessante observar que 50% dos respondentes sente que o fato de residir na CEU prejudica o rendimento universitário, variando de uma influência muito negativa a pouco negativa.

 

Considerações finais:

Em vista de ser um resultado parcial, advindo de uma amostra pequena, as inferências tornam-se inconclusivas e não aplicáveis. Todavia, mais questionamentos surgem em torno de alguns temas que permeiam o cotidiano do discente morador das CEUs. O porquê da grande incidência de percepção de adoecimentos psíquicos por parte das pessoas do sexo feminino nas CEUs; a causa de 43% das pessoas que afirmaram sofrer com adoecimento psíquico não procurarem auxílio psicoterápico; as circunstâncias pelas quais metade dos entrevistados assinalam que o fato de morarem nas CEUs prejudica o rendimento universitário; são questionamentos emergidos durante a construção deste trabalho que podem proporcionar temáticas à novas pesquisas, bem como, uma transformação positiva na qualidade de vida dos moradores das CEUs, através de intervenções embasadas em conhecimento científico.

 

Referências:

ANDRÉS, Aparecida. Aspectos da Assistência Estudantil nas Universidades Brasileiras. Estudo. Câmara dos deputados, 2011. Acessado em: http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos-e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tema11/2011_4354.pdf

BARDAGI, Marucia P. e HUTZ, Claudio S. “Não havia outra saída”: percepções de alunos evadidos sobre o abandono do curso superior. 2009.  Psico-USF, v. 14, n. 1, p. 95-105.

BRASIL. Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno: saúde mental Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. 2. ed.,  - Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

CERCHIARI, Ednéia A.N.,CAETANO, Dorgival e FACCENDA, Odival. Utilização do Serviço de Saúde Mental em uma universidade pública. Psicologia Ciência e Profissão, 2005, 25 (2), 252-265.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2. ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.

PINTO,S.Samá; DA SILVA,C.Silva. Estatística. Vol.I. Porto Alegre: A autora, 2013.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1] Discente do curso de Psicologia / FURG . e-mail: mateusmorelf@gmail.com

[2] Discente do curso de Psicologia / FURG . 

[3] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE/UFPel, Mestre em educação –UFPEL (2014); Especialista em Psicopedagogia Institucional pela UCB (2005) Especialista em Educação Infantil pela UCB (2004). Graduada em Pedagogia – FURG (1998), professora pesquisadora curso de Pedagogia EAD/UFPel ./ Pedagoga – Universidade Federal do Rio Grande – FURG . e-mail: marabrum@gmail.com

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