PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DE E.F. SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO EM ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES
PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DE E.F. SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO EM ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES
Adalto Muniz
Carlos Augusto Nogueira Júnior
Deivid Santana de Magalhães
Gilmar da Silva
Michelle Souza
RESUMO
Esta Pesquisa teve como objeto de estudo, a percepção dos professores de educação física das escolas públicas e particulares em relação as condições de trabalho, facilidades e dificuldades encontradas nas escolas e sobre o nível de satisfação em suas escolas. A pesquisa pretendeu colocar um olhar científico sobre um assunto do senso comum e informar sobre dados relevantes para a profissão. Utilizamos como metodologia uma pesquisa com base quantitativa, realizando uma entrevista por questionário como instrumento de coleta de dados, que foram analisados e transformados em gráficos. Como resultado verificou-se que os professores de educação física nas escolas públicas se sentem menos satisfeitos com sua profissão do que os de escolas particulares, seja no âmbito financeiro ou motivacional.
ABSTRACT
The purpose of this study was to study the perception of teachers in public and private schools regarding the working conditions, facilities and difficulties found in schools and the level of satisfaction in their schools. The research was intended to help teachers change common sense concepts and report on data relevant to the profession. We used a quantitative based methodological research, using a questionnaire interview as a data collection instrument, which were analyzed and transformed into graphs. As a result, it has been found that public school teachers feel less satisfied with their profession than private school teachers, whether financially or motivationally.
Palavras - Chave: Professores, Escolas particulares, Escolas públicas, Condições, Dificuldades
INTRODUÇÃO
Ultimamente ao discutirmos informalmente as aulas de educação física nas escolas, o próprio senso comum afirma que os professores deixam os alunos livres para fazer o que eles bem entenderem, esse senso nos motivou a procurar saber por meio de pesquisa, utilizando também um comparativo das escolas públicas e particulares.
Mesmo que alguns professores se sintam realizados financeiramente, a impressão que fica é que os alunos não têm o ensino adequado nas aulas de educação física, onde os mesmos saem da escola sem adquirir ensinamentos importantes e necessários nessa fase escolar.
OBJETIVO
A intenção dessa pesquisa é investigar como são as condições de trabalho dos professores nas escolas públicas e particulares, fazer um levantamento das facilidades e dificuldades dos professores nas escolas e saber o nível de satisfação dos professores com o trabalho que vem sendo realizado.
REVISÃO LITERÁRIA
A educação física desde o século XX vem sendo usada como forma de melhorar a estética causando impactos sociais e sexuais. Na época da escravatura os brancos utilizavam a educação física como forma de manter-se saudáveis, porém não se misturavam com negros, devido a eugenia, pois para eles perdiam sua pureza genética.
passando por mudanças em seus conceitos, em 1906 as escolas de Minas Gerais iniciaram um movimento de reforma, que mudou a forma de aplicar a educação física nas escolas, sendo que o programa imposto falava claramente que as escolas deveriam se preocupar com o desenvolvimento físico dos futuros cidadãos. (VAGO,1999)
Nesse contexto ao passar dos anos o militarismo utilizou da educação física para a melhora dos seus soldados para guerra, onde viram que quanto mais treinassem, mais iriam ter resultados positivos, e isso significava ordem e progresso para o país.(A. A. Guimarães; F. C. Pellini; J. S. R. Araujo & J. M. Mazzini, 2001)
Nos anos 60, a educação física passou a ser considerada como forma de ensinar esportes e transformar os alunos em atletas, nas escolas as aulas de educação física eram formas de treino para que formassem e descobrissem novos atletas com potencial de competição, porém a LDB ( Leis de Diretrizes e Bases) criada na época não colocava a educação física como disciplina assim como as outras matérias e sim como atividade para complementar o ensino.(BRASIL,1961)
“Seu objetivo fundamental é a caracterização da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna (...) A educação física é sinônimo de desporto e este, sinônimo de verificação de performance” (Ghiraldelli Júnior, 1991, p.20).
Com a reformulação na LDB, ocorrida em 1971 (lei no 5.692, de 11 de agosto de 1971), a obrigatoriedade da Educação Física foi ampliada a todos os níveis e ramos de escolarização, mas, ainda, com a intenção de preparação física de trabalhadores. Isto se evidencia com as opções de facultabilidade apresentadas pela lei: estudar em período noturno e trabalhar mais de 6 horas diárias; ter mais de 30 anos de idade; estar prestando serviço militar; estar fisicamente incapacitado”
Novas Mudanças na LDB
Em 1996, as mudanças na LDB deixaram a educação física como uma matéria curricular, onde a disciplina teria que ter bases teóricas, didáticas e culturais, e poderia reprovar como qualquer outra matéria, com exceção aos alunos do período noturno, que a era facultativa, poucas escolas aderiram a educação física nesse período. (BRASIL,1996)
Segundo Darido (2002), 20% dos alunos do ensino médio pedem dispensas da aula de educação física, fato que é ligado a 33% dos professores não motivarem seus alunos a fazerem as aulas ministradas por eles.
Devido ao fato do “esgotamento” de alguns professores, as aulas ministradas por eles caíram de desempenho e nessas aulas começaram a surgir as diferenças de gêneros, os meninos utilizavam a quadra principal para jogar futsal, as meninas utilizavam a quadra menor ou um outro espaço para jogar vôlei e ainda ficava um outro grupo onde apenas ficava aproveitando o espaço para ficar conversando sem fazer nenhuma atividade física, e isso cada vez mais foi banalizando a disciplina de educação física em algumas escolas.(SANTINI, 2001)
Educação Fìsica Nos dias atuais
Nos dias atuais está em discussão, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), onde uma das principais pautas é a opção de deixar facultativa a disciplina de educação física no ensino médio, pois a educação física escolar, entra no conjunto de linguagens, juntamente com língua portuguesa, língua estrangeira moderna e Artes, com o intuito de trabalhar esse conjunto de forma interligada. (T.A.P. Martinelli,2016)
Escolas Públicas X Escolas Particulares
Em nossa revisão digital não encontramos assuntos sobre a educação física em escolas particulares, o que nos deixou mais curiosos em saber sobre a metodologia dos professores, sobre suas motivações, satisfações e expectativas.
Conseguimos alguns relatos informais de ex-alunos de escolas particulares, onde em algumas escolas os professores deixavam os alunos livres, ou dividiam as aulas com os meninos jogando futsal, e as meninas handebol, e nos surgiu a dúvida, se realmente a informação procede.
Santini (2005) trata muitos problemas motivacionais dos professores como síndrome do esgotamento profissional, e demonstra seus argumentos em sete aspectos, são eles.
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Formação acadêmica insuficiente para enfrentar os problemas escolares.
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Implantação de inovações e projetos políticos pedagógicos, que interfere na autonomia dos professores.
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A multiplicidade de papéis sociais dos professores ambiente de violência urbana que enfrentam os alunos em suas casas e nos arredores das escolas.
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Conflitos com colegas de trabalho.
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Condições de trabalho adversas ao exercício físico.
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A dificuldade de lidar com as críticas de diretores e pais.
Ana Archangelo Guimarães (2001) em sua pesquisa, constatou que os professores de educação física não estão sendo mais espelhos de bons exemplos para os alunos, e para suprir esse exemplos os alunos olham para os próprios colegas.
Metodologia
Realizamos uma pesquisa de campo baseada em Gerhardt (2009) que salienta que a entrevista semi-estruturada permite que, por meio do diálogo e de sua flexibilidade, apareçam contribuições do participante a partir das quais novas questões podem ser formuladas, de modo a se estabelecer uma visão mais ampla do problema em estudo.
Entrevistando 9 professores de escolas públicas e 9 professores de escolas particulares, buscando fazer comparativo em 7 questões, para assim concluirmos as diferenças e eventuais dificuldades entre as 2 redes de ensino.
Cada pergunta foi elaborada com o intuito de saber um objetivo específico, abaixo as perguntas e seus motivos:
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“Qual espaço utiliza para as aulas práticas”, onde mostra se as formas que a educação física aplicada na escola em tempos anteriores, influenciou a formar novos professores.
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“Existem espaços adequados para da aula em dia de chuva”, onde o professor vai falar se ele percebe que a matéria que ele aplica tem a mesma importância com outras matérias como português e matemática.
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“Tem Facilidade em falar com a diretoria da escola”, que nos mostra se a formação na faculdade mostra a realidade das escolas.
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“Tem Facilidade no convívio com os alunos”, onde eles poderão nos mostrar os prós e contras de das aula em escola
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“está satisfeito com o salário que recebe”, saber se existe essa intenção.
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“Se sente valorizado como professor na sua escola”, onde eles vão citar qual a maior dificuldade do professor em uma escola.
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“Qual a carga horária na escola”, Na qual faremos um comparativo entre tempo e qualidade de trabalho
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“Qual o nível de satisfação como professor”
RESULTADOS
Condições de Trabalho
Para a pergunta “A”, os professores tiveram que responder quais o locais que eles utilizam para dar aulas, identificamos que tanto na escola pública quanto na escola particular, os professores têm maior preferência em utilizar a quadra para suas aulas.
Na Questão “B”, perguntamos em caso de chuva, ele teriam outro lugar para dar suas aulas práticas em suas escola.
Nos chamou a atenção o fato de todos os 28,6% dos professores que responderam que não tem, são de escolas públicas.
Facilidade e Dificuldades
Perguntamos aos professores, se eles tem fácil acesso a diretoria, para resolver seus problemas, e a imensa maioria, respondeu que os diretores da escola estão sempre em fácil comunicação.
Uma das perguntas que mais gerou ansiedade em saber, era da comunicação aluno - professor, pois pela revisão literária acreditamos que uma parte maior de professores teria dificuldades com seus alunos, porém esse resultado nos surpreendeu, mostrando que a grande maioria tem facilidade na comunicação com seus alunos.
Nível de Satisfação
Perguntamos se os professores se sentem valorizados na escolas, e o que nos chamou a atenção foi o resultado ser o inverso na escolas públicas e particulares.
Enquanto na escolas públicas 89% dos professores não se sentem valorizados, nas escolas particulares os mesmos 89% se sentem valorizados pela suas escolas
Olhando pelo fator financeiro, também nos chama a atenção o quanto a maioria dos professores das escolas públicas não estão satisfeitos com o salário recebido, onde na escolas particulares, 77% dos professores se sentem satisfeitos com o que recebem.
Por fim, perguntamos aos professores qual o nível de satisfação com o seu serviço em 3 escalas: Pouco satisfeito, Satisfeito ou Muito Satisfeito.
Os únicos professores a assinalar que estavam pouco satisfeito com o trabalho, foram professores de escolas públicas, já 66% dos professores de escolas particulares se declaram muitos satisfeitos.
DISCUSSÃO
A nossa discussão se inicia pelo senso comum, que ao falar de professores em escola dizem que o professor recebe bem para não fazer nada, Santini (2001) afirma que os professores não estão satisfeitos e como não conseguem colocar seus planos de aula em prática acabam se desmotivando.
A nossa pesquisa aponta que os professores têm em sua grande maioria facilidade ao falar com os alunos, e a grande parte dos professores se sentem satisfeitos com sua profissão, contrariando o comentado a cima.
Silva (2011) Afirma que 66,6% dos professores de educação física não estão satisfeitos com seus salários, na nossa pesquisa os resultado dos professores da escolas públicas se aproxima a esse apontando que 89% não estão satisfeitos, porém nas escolas particulares apenas 22% dizem que não estão satisfeitos com seus salários.
A pesquisa de Silva (2011) aponta que 83% dos professores não tem lugar para da aula em dias de chuvas, porém em nossa pesquisa 71,4% diz que possuem lugar para da aulas em dias de chuva, porém o que eleva esse índice são os professores de escolas particulares que são quase unânimes nessa resposta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com nossa pesquisa realizada com professores das escolas públicas e particulares, podemos afirmar que os professores de escolas particulares se sentem mais satisfeitos na sua profissão do que os professores de escolas públicas, fato que se dá pela maior estrutura dada pela suas escolas.
A grande maioria dos professores das escolas particulares tem outros lugares para da aula em dia de chuva, os professores das escolas públicas não tem, também os professores das escolas particulares se sentem mais satisfeitos com o salário que recebem do que os professores das escolas públicas, isso pode influenciar na satisfação com o trabalho.
Ambos os lugares sentem facilidade em falar com os diretores e alunos de suas unidades, porém os professores das escolas públicas são praticamente unânimes ao falar que não são valorizados em suas escolas, já nas escolas particulares o quadro muda e os professores se sentem valorizados em sua escolas.
REFERÊNCIAS:
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