26/09/2016

PERFIL DOS INDIVÍDUOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL E DIABETES MELLITUS NO MUNICÍPIO DE MATIAS OLÍMPIO, PIAUÍ, BRASIL

PERFIL DOS INDIVÍDUOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL E DIABETES MELLITUS NO MUNICÍPIO DE MATIAS OLÍMPIO, PIAUÍ, BRASIL

PROFILE OF INDIVIDUALS WITH HYPERTENSION AND DIABETES MELLITUS IN MATIAS OLÍMPIO, PIAUÍ , BRAZIL

Jéssica Maria Aguiar de Oliveira[1]; Otacília Azevedo Pereira[2]; Augusto Everton Dias Castro[3]; Rosimeire Ferreira dos Santos[4]

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo caracterizar o perfil dos indivíduos com hipertensão arterial e diabetes mellitus no município de Matias Olímpio – PI. Trata-se de um estudo situacional, exploratório, de caráter transversal e quantitativo, desenvolvido no município de Matias Olímpio-PI. Participaram do estudo um total de 21 indivíduos, de ambos os sexos, atendidos pela Estratégia Saúde da Família, que participaram de encontros diários para a realização de atividades educativas e estímulo a hábitos saudáveis de vida, etapa esta que foi seguida da aplicação dos instrumentos de coletas de dados, para coleta de dados sociodemográficos, clínicos e de nível de atividade física. Observou-se a preponderância de indivíduos do sexo feminino (85,7%), na faixa etária de 61 a 70 anos (33,3%), casados (71,4%) e com nível de escolaridade fundamental (47,6%), apresentando sobrepeso (76,2%) e circunferência abdominal acima da faixa ideal (100%). A maioria dos sujeitos apresentou níveis de glicose pós-prandiais em valores abaixo dos 160mg/dl (76,2%). A maioria dos sujeitos relatou padrões de atividade suficientemente ativos (66,7%). A escolaridade apresentou correlação como o índice de massa corporal, bem como com o nível de atividade física praticado.

Palavras-chave: Atividade Motora. Hipertensão. Diabetes Mellitus.

ABSTRACT

This study aimed to to characterize the profile of individuals with hypertension and diabetes mellitus in the city of Matias Olimpio - PI. This is an situational, transversal, exploratory and quantitative study, developed in the city of Matias Olimpio –PI. The study included a total of 21 individuals of both sexes, attended by the Family Health Strategy, which participated in daily meetings for educational activities and encouraging healthy lifestyles. This meetings were followed by the application of the instruments for data collection, to collect demographic, clinical and physical activity data. There was a preponderance of females (85.7%), aged 61-70 years (33.3%), married (71.4%) and basic education level (47.6% ), presenting overweight (76.2%) and abdominal circumference above the optimum range (100%). Most subjects showed levels of postprandial glucose values below 160 mg / dl (76.2%). Most subjects reported sufficiently active activity patterns (66.7%). Schooling was correlated to body mass index, as well as the level of physical activity practiced.

Keywords: Motor Activity. Hypertension. Diabetes Mellitus.

INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são doenças multifatoriais que se desenvolvem no decorrer da vida e são de longa duração. Atualmente, elas são consideradas um sério problema de saúde pública, e já são responsáveis por 63% das mortes no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (2010).

Segundo Garnelo e Souza (2008), a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Melitus (DM) são agravos independentes e frequentemente sinérgicos cuja combinação redunda em grave comprometimento à saúde. O tratamento dessas doenças geralmente é de curso prolongado, onerando os pacientes, as famílias e os sistemas de saúde, já que frequentemente geram internações hospitalares, e tudo isso gera um impacto socioeconômico crescente.

O tratamento dessas doenças baseia-se em medidas não farmacológicas e farmacológicas. Dentre as medidas não farmacológicas, a atividade física regular é de suma importância e é recomendada aos pacientes, em razão de seus vários efeitos benéficos sobre o risco cardiovascular, controle metabólico e prevenção das complicações crônicas das doenças (FERNANDES et al, 2013).

Há estudos que mostram que os idosos que participam de grupos de convivência realizando atividade física habitual, já eram considerados, em sua maioria, mais ativos (RECH; TOURINHO FILHO; MARTINS, 2012). Esse resultado demonstra a importância da sensibilização do público adulto e dos idosos que ainda tem esse hábito, por não achar importante ou não se sentirem estimulados.

Um grande desafio do profissional de saúde é conseguir a sensibilização do paciente quanto à importância e a adesão do tratamento, uma vez que muitos iniciam, todavia, interrompem ao perceberem o “controle” da doença acreditando não necessitar mais daquele tratamento.

Diante disso, o presente estudo tem o objetivo de caracterizar o perfil dos indivíduos com hipertensão arterial e diabetes mellitus no município de Matias Olímpio – PI, bem como estimar a prevalência de fatores de risco e nível de atividades físicas dentre os pacientes atendimentos pela Estratégia Saúde da Família nesse município.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo situacional, exploratório, de caráter transversal e quantitativo. Atualmente, o município de Matias Olímpio - PI conta com 05 equipes de Saúde da Família, dentre as quais 02 encontram-se na sede e 03 no interior. O trabalho foi realizado com as equipes localizadas na sede (ESF Alto Formoso e Centro de Saúde).

A população foi composta por clientes de ambos os sexos, cadastrados em uma das equipes da sede da ESF do município. A amostra foi selecionada por conveniência, respeitando como critério de exclusão não aceitar participar da pesquisa.

Conforme a estimativa do IBGE (2015), o município de Matias Olímpio conta com 10.718 mil habitantes. Atualmente, atendidos pelas 02 equipes de Saúde da Família (zona urbana), existem 409 hipertensos e 114 diabéticos cadastrados pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), conforme dados do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB). Obtivemos como amostra para este estudo um total de 21 indivíduos, que participaram de intervenção, de caráter educativo, no decorrer de 30 dias, acerca da prática de atividades físicas e hábitos de vida saudáveis, promovidas pelas pesquisadoras.

            Os clientes participantes da pesquisa foram esclarecidos sobre a metodologia de desenvolvimento, e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, aceitando as condições do estudo.

            Foram utilizados três instrumentos. O primeiro foi composto por questões envolvendo os dados sociodemográficos e antropométricos (idade, sexo, estado civil, cor, escolaridade, peso, altura, IMC, circunferência abdominal); o segundo, uma ficha para o preenchimento dos dados clínicos dos participantes (uso e frequencia de medicamentos anti-hipertensivos e anti-diabéticos, glicemia eventual, pressão arterial em repouso, hábitos alimentares), aplicado antes e após a intervenção; o terceiro, o Questionário Internacional de Atividade Física versão curta (IPAQ-curto), devidamente validado para o uso no Brasil por Matsudo et al. (2001).

            Os dados foram registrados e quantificados por meio de planilhas no aplicativo Microsoft Excel 2013, e, posteriormente, exportados e analisados por meio do programa SPSS (Statistical Package for Social Science) versão 20. Estatísticas descritivas foram utilizadas, bem como teste de correlação de Spearman para verificação de correlação entre as variáveis.

RESULTADOS

Atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa o total de 21 participantes. A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra segundo seus dados sociodemográficos: sexo, idade, estado civil, cor e escolaridade.  Quanto à idade, em virtude da grande divergência entre maior e menor, preferiu-se estabelecer intervalos de faixa etária.

 

Tabela 1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa segundo sexo, idade, estado civil, cor e escolaridade. Matias Olímpio, Piauí, Brasil, 2016.

 

Variáveis

Percentual

Sexo

Masculino

14,3%

Feminino

85,7%

Idade

30-40 anos

4,8%

41-50 anos

23,8%

51-60 anos

28,6%

61-70 anos

33,3%

71-80 anos

9,5%

Estado Civil

Solteiro

4,8%

Casado

71,4%

Separado/Divorciado

4,8%

Viúvo

19,0%

Cor

Branco

4,8%

Negro

19,0%

Pardo

76,2%

Mulato

0,0%

Amarelo de origem oriental

0,0%

Indígena

0,0%

Escolaridade

Ensino Superior

0,0%

Ensino Médio

14,3%

Ensino Fundamental

47,6%

Alfabetizado

38,1%

Sem escolaridade

0,0%

Fonte: Pesquisa direta.

 

Observa-se predominância do sexo feminino (85,7% dos sujeitos), na faixa etária de 61 a 70 anos (33,3%), casados (71,4%) e com nível de escolaridade fundamental (47,6%). 

A tabela 2 apresenta as variáveis clínicas: glicemia, pressão arterial, circunferência abdominal e índice de massa corporal (IMC). Os valores de glicemia e pressão arterial foram medidos durante a consulta de enfermagem. Em virtude da variedade de valores obtidos, optou-se por demonstrar os dados em blocos.

Tabela 2. Caracterização dos sujeitos da pesquisa segundo as variáveis clínicas glicemia e pressão arterial, pré-intervenção. Matias Olímpio, Piauí, Brasil, 2016.

 

Variáveis

Percentual

Glicemia (Pós-prandial)[5]

<160mg/dl

76,2%

<180mg/dl

4,8%

>180mg/dl

19,0%

Pressão Arterial[6]

Ótima

0,0%

Normal

28,6%

Limítrofe

23,8%

Hipertensão estágio 1

38,1%

Hipertensão estágio 2

9,5%

Hipertensão estágio 3

0,0%

Fonte: Pesquisa direta.

 

Por sua vez, a tabela 3 traz os resultados referentes à avaliação do IMC e do risco cardiovascular segundo a circunferência abdominal.

 

Tabela 3. Caracterização dos sujeitos da pesquisa segundo as variáveis clínicas IMC e Risco Cardiovascular segundo a circunferência abdominal. Matias Olímpio, Piauí, Brasil, 2016.

Variáveis

Percentual

IMC

Abaixo do peso

0,0%

Normal

9,5%

Sobrepreso

76,2%

Obesidade grau I

9,5%

Obesidade grau 2

0,0%

Obesidade grau 3

4,8%

Risco cardiovascular segundo circunferência abdominal

Faixa ideal[7]

0,0%

Risco aumentado[8]

14,3%

Risco muito aumentado[9]

85,7%

Fonte: Pesquisa direta.

 

Nota-se que a maioria dos sujeitos apresentou níveis de glicose pós-prandiais em valores abaixo dos 160mg/dl (76,2%). Em contrapartida, a maior parte dos indivíduos demonstrou níveis pressóricos correspondentes ao quadro de hipertensão estágio 1 (38,1%). Convém relatar que 95,2% dos sujeitos do estudo fazem uso de medicação antihipertensiva regular.

No tocante à avaliação do IMC, observa-se preponderância de sujeitos com sobrepeso (76,2%), aliado a um risco muito aumentado identificado pela medida da circunferência abdominal (85,7%).

Referente à aplicação do questionário IPAQ-curto, os resultados apresentam-se na tabela 4. Observa-se que a maioria dos sujeitos relatou padrões de atividade suficientemente ativos (66,7%).

 

Tabela 4. Descrição do padrão de atividade física dos participantes do estudo. Matias Olímpio, Piauí, Brasil, 2016.                                                                                                        

Variáveis

Percentual

Média (min)

Padrões de atividade

Sedentários[10]

0,0%

 

Insuficientemente ativos[11]

33,3%

 

Suficientemente ativos[12]

66,7%

 

Quantos dias fez caminhada na última semana

3

14,3%

 

4

19,0%

 

5

38,1%

 

6

28,6%

 

Quantas horas de caminhada/dia

 

42 min.

Quantos dias realizou atividades moderadas na última semana

3

23,8%

 

4

23,8%

 

5

33,3%

 

6

19,0%

 

Quantas horas de atividades moderadas/dia

 

41 min.

Quantos dias realizou atividades vigorosas na última semana

0

61,9%

 

1

4,8%

 

2

14,3%

 

3

4,8%

 

5

14,3%

 

Quantas horas de atividades vigorosas/dia

 

13 min.

Fonte: Pesquisa direta.

 

Tabela 5. Caracterização dos sujeitos da pesquisa segundo as variáveis clínicas glicemia e pressão arterial, pós-intervenção. Matias Olímpio, Piauí, Brasil, 2016.

 

Variáveis

       Percentual

Glicemia Eventual

<160mg/dl

76,2%

<180mg/dl

4,8%

>180mg/dl

19,0%

Pressão Arterial em Repouso

Ótima

23,8%

Normal

23,8%

Limítrofe

9,5%

Hipertensão estágio 1

33,3%

Hipertensão estágio 2

9,5%

Hipertensão estágio 3

0,0%

Fonte: Pesquisa direta.

           

            Na investigação pós-intervenção, notou-se que a proporção dos indivíduos com níveis de glicose abaixo <160mg/dl manteve-se a mesma, quando comparado à medição pré-intervenção (76,2%), bem como os demais resultados desta variável. No tocante à pressão arterial, observa-se que 23,8% apresentaram pressão ótima e, quando somados à variável “Normal”, resultam em quase metade dos sujeitos (47,6%).

 

DISCUSSÃO

As doenças crônicas não transmissíveis são a principal causa de mortalidade no mundo. Apesar de seu vasto espectro, as duas patologias abordadas nesta pesquisa emergem como grandes responsáveis pela elevação do custo médico-social, em especial em virtude suas complicações, em especial no que se refere a doenças cardiovasculares (SILVA et al., 2006).

            Dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de ambas as doenças, encontra-se claro na literatura a relação entre sobrepeso/obesidade e o desencadeamento do quadro patológico. Estudo desenvolvido por Siviero, Scatena e Costa Junior (2005) identificou a presença de excesso de peso em 75,4% dos seus sujeitos, enquanto Sturmer et al. (2006) identificou esse quadro em 65,5% dos indivíduos. O presente estudo, em coerência aos dados apresentados neste parágrafo, observou que, dentre os sujeitos participantes, 90,5% apresentavam peso acima do ideal, corroborando a premissa de que este é um fator de risco importante e observável na prática clínica.

            Importante se faz expor um achado presente nesta pesquisa, ainda referente á questão de peso corporal: identificou-se correlação positiva (r=0,3) entre as variáveis escolaridade e IMC, de modo que, quanto menor a escolaridade, é mais provável um nível maior de massa corporal. Esta informação coaduna-se com aquela encontrada em outros estudos, apontando para o impacto benéfico da escolaridade na melhora do quadro de saúde (FONSECA et al., 2006; RODRIGUES; SILVEIRA, 2015).

            Outro importante fator de risco, e que é relevante observar para fins de elucidação, é a idade. Diversos estudos já o apontaram como importante desencadeador da hipertensão (PIRES; MUSSI, 2008; JARDIM et al., 2007), bem como diabetes (SBD, 2015). A presença, nesta pesquisa, de uma maioria de indivíduos com mais de 50 anos, pode ser explicada pela maior incidência das doenças crônicas e suas complicações conforme se avança nas etapas da vida, sendo que indivíduos mais jovens representam uma menor fatia populacional daqueles que vivem com estas enfermidades.

Em nossa pesquisa, observamos que a idade apresentou correlação importante com outras variáveis, a saber: escolaridade (r=0,5), indicando que indivíduos mais jovens apresentam maior grau instrucional quando comparados aos mais velhos, bem como IMC (r=0,5), do qual se pode observar que indivíduos mais jovens apresentaram índices de massa corporal maior do que os mais velhos. Essa informação vai ao encontro do que apontam Burr e Phillips (1984), de que o IMC diminui com a idade, após os 70 anos.

            Quanto à variável sexo, observou-se notável superioridade da presença de mulheres nas atividades, despontando com 85,7% da participação no estudo. Acreditamos que este resultado se dê a dois fatores: o primeiro, diz respeito à maior presença feminina nos serviços de saúde, vez que as mulheres costumam primar pelos cuidados com a própria saúde e da família com maior frequencia que a população masculina (CAROLINO et al., 2008); segundo, pela maior prevalência de  diabetes mellitus em mulheres (BRASIL, 2004).

            No que se refere à cor, não foi observado nesta pesquisa nenhuma correlação significativa entre raça e níveis maiores ou menores de pressão arterial ou glicemia, ao contrário do que se observa em alguns outros estudos (COSTA et al., 2010; LESSA; FONSECA, 1997). Isso pode ter ocorrido em virtude da quantidade de sujeitos desta pesquisa, ou ainda (e mais provável) em virtude da miscigenação da população nacional, em especial a nordestina, o que torna complexo este tipo de predição.

            Entretanto, ainda que a raça não tenha gerado resultados distintos quando nos referimos aos níveis de pressão e glicemia, observamos que se apresenta correlacionada com o critério escolaridade (r=0,4) e também IMC (r=0,3), que são fatores que, conhecidamente, influenciam no desenvolvimento ou complicação destas patologias (PASSOS; ASSIS; BARRETO, 2006).

            A circunferência abdominal também emerge como fator de risco para o surgimento ou complicação destas patologias, em virtude de indicar a distribuição da gordura corporal, e associar-se à ocorrência de doenças metabólicas e cardiovasculares (ROSS et al., 2007). Estudos como o de Hasselmann et al. (2008) e de Sarno e Monteiro (2007) denotam a importância relativa a essa mensuração, e validam os resultados da nossa pesquisa, em que nenhum dos sujeitos apresentou circunferência abdominal dentro da faixa ideal. Além disto, observamos também correlação entre esta variável e o IMC (r=0,5), alertando para que, com frequencia, ambas apresentam-se em concomitância.

            Além dos fatores de risco até o momento discutidos, o sedentarismo aparece não só como um importante preditor no desenvolvimento dos mais variados quadros crônico-patológicos, como também como um mal que pode só pode ser combatido por meio de um método não-farmacológico, que é a atividade física. O estabelecimento de uma rotina de exercícios físicos é útil tanto na prevenção quanto na reabilitação de doenças cardiovasculares, eficaz na redução do peso corporal e dos níveis de glicose, além de influenciar positivamente em outros fatores de risco (SIQUEIRA et al., 2008).

            Em relação aos resultados obtidos neste estudo, identificamos que nenhum dos sujeitos informou, por meio do questionário IPAQ-curto, dados que pudessem classificá-los como sedentários. Potencialmente, isso é resultado das atividades desenvolvidas durante as consultas médicas e de enfermagem, o estímulo às atividades físicas realizados pelos profissionais que atendem essa população e pela própria característica da amostra que se voluntariou a participar do projeto.

            O nível de atividade física percebido nesta pesquisa não apresentou uma correlação tão significativa com os níveis de pressão arterial, porém relacionou-se positivamente com a variável glicemia, em oposição ao que foi identificado no estudo de Martins et al. (2009), no qual identificou que maiores níveis de atividade física impactam perceptivelmente nos níveis pressóricos.

            Porém, houve uma correlação significativa entre os níveis de atividade física e a escolaridade dos sujeitos (r=0,69), apontando para o fato de que os indivíduos com maior escolarização relataram maiores índices de exercício físico, o que aponta para a mesma direção do estudo de Zanchetta et al. (2012). No que se refere à variável sexo, não houve distinção, no nosso estudo.

            Outra variável que apresentou uma correlação com o nível de atividade física foi a circunferência abdominal, apontando para o fato de que os sujeitos que mais praticam atividades físicas durante a semana tendem a apresentar menores valores na medida da cintura. Isso ocorre em virtude de que as atividades físicas, preponderantemente aeróbicas, são úteis na redução da gordura corporal (FERNANDEZ et al., 2004).

            Além disto, convém explicitar a diferença na intensidade das atividades físicas realizadas e seu impacto na redução dos níveis de pressão e glicemia. O tipo de atividade física que mais diminuiu os níveis pressóricos foi a moderada (r=0,3), conforme apontou estudo de Medina et al. (2010), enquanto não houve diferença significativa entre as atividades de caminhada e atividades vigorosas. As atividades moderadas também refletiram maior diferença na medida da circunferência abdominal. Os níveis de glicemia não apresentaram distinção nas diferentes intensidades dos exercícios.

Trazendo à tona os dados comparativos dos momentos pré e pós intervenção, observam-se dados importantes, em especial no que se refere aos pacientes hipertensos. Enquanto que nas aferições pré-intervenção não se observou nenhum sujeito com nível pressórico “Ótimo”, as medições pós-intervenção apontam para uma parcela significativa de indivíduos que obtiveram tal resultado (23,8%), caracterizando, desta maneira, uma redução do quantitativo de indivíduos com nível pressórico limítrofe ou hipertenso.

            Esta informação supra ressalta os resultados trazidos por Nogueira et al. (2012), colocando atividade física como importante aliada não-farmacológica no controle e manejo da hipertensão arterial, especialmente quando alia atividades aeróbicas leves, como caminhada, a atividades moderadas, vindo a corroborar o que encontramos na aplicação do questionário Ipaq-curto, cujos dados estão disponíveis na tabela 4.

 

CONCLUSÃO

A caracterização do perfil sociodemográfico dos participantes permitiu identificar uma maioria composta por mulheres, idosas, casadas e com escolaridade de nível fundamental, que é consoante ao cenário preponderante de atendimento nas unidades da Estratégia Saúde da Família em todo o país, porém que, não necessariamente, reflete a realidade epidemiológica e social. A presença minoritária de homens e indivíduos em idade ativa denota uma preocupação já conhecida nos serviços, decorrente da pequena adesão desses grupos em estratégias de promoção e prevenção da saúde.

Observamos que a escolaridade desponta como uma das variáveis que mais influenciam no quadro geral de saúde dos indivíduos, bem como em seu nível de atividade física. Esse resultado determina a urgência uma ação intersetorial, que, embora ultrapasse as competências originárias dos profissionais que os atendem, reforça a necessidade e importância de práticas de educação em saúde.

Quanto aos padrões de atividade física, no qual pudemos identificar relatos majoritários hábitos de vida não sedentários, bem como demais inferências estatísticas, reconhecemos as limitações desta pesquisa diante da quantidade de sujeitos e da realidade específica do município e dos indivíduos participantes, fatores estes que podem ter influenciado sobre o resultado final do estudo.

Ao observamos um comparativo dos dados pré e pós-intervenção, identificamos que não houve diferença quando observada a variável glicemia. Em contrapartida, a intervenção se mostrou bastante benéfica ao reduzir consideravelmente os níveis pressóricos dos sujeitos participantes, de modo que uma parcela significativa dos indivíduos obteve melhora.

Esta pesquisa ajudou a construir saberes que podem servir de subsídio para uma assistência mais eficaz à população, por meio do estímulo ao autocuidado, a busca por maiores conhecimentos, estímulo à prática de atividade física e atenção constante aos fatores de risco que podem incidir positiva ou negativamente no desenvolvimento ou complicação destas doenças.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. Avaliação do plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 

BURR, M. L.; PHILLIPS, K. M. Anthropometric norms in the elderly. Br J Nur., v. 51, n. 2, p. 165-9, 1984.

FONSECA, M. J. M. et al . Associações entre escolaridade, renda e Índice de Massa Corporal em funcionários de uma universidade no Rio de Janeiro, Brasil: estudo Pró-Saúde. Cad. Saúde Pública, v. 22, n. 11, p. 2359-2367, 2006.

GARNELO, L; SOUZA, M.L.P. "É muito dificultoso!": etnografia dos cuidados a pacientes com hipertensão e/ou diabetes na atenção básica, em Manaus, Amazonas, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.24, n.1, p. 91-99, 2008.

HASSELMANN, M. H. et al. Associação entre circunferência abdominal e hipertensão arterial em mulheres: Estudo Pró-Saúde. Cad. Saúde Pública, v. 24, n. 5, p. 1187-1191, 2008. 

JARDIM, P. C. B. V.; et al. Hipertensão Arterial e alguns fatores de risco em uma capital brasileira. Arq. Bras. Cardiol, v. 88, n. 4, p. 452-457, 2007.

LESSA, I.; FONSECA, J. Raça, aderência ao tratamento e/ou consultas e controle da hipertensão arterial. Arq. Bras. Cardiol., v. 68, n. 6, p. 443-449, 1997.

MATSUDO S. M. et al. Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev. Bras. Ativ. Saúde, Rio Grande do Sul, v. 2, n. 6, p. 5-12, 2001.

MEDINA, F. L. et al. Atividade física: impacto sobre a pressão arterial. Rev Bras Hipertens, v. 17, n. 2, p. 103-106, 2010.

NOGUEIRA, I. C. et al . Efeitos do exercício físico no controle da hipertensão arterial em idosos: uma revisão sistemática. Rev. bras. geriatr. gerontol.,  Rio de Janeiro ,  v. 15, n. 3, p. 587-601, 2012.

PEIXOTO, M. R. G. et al . Circunferência da cintura e índice de massa corporal como preditores da hipertensão arterial. Arq. Bras. Cardiol., v. 87, n. 4, p. 462-470,  2006.

PIRES, C. G. S.; MUSSI, F. C. Crenças em saúde para o controle da hipertensão arterial. Cien Saude Colet, v. 13, n. 2, p. 2257-2267, 2008.

RECH, V.; TOURINHO FILHO, H.; MARTINS, M. M. Perfil do nível de atividade física de idosos hipertensos e diabéticos. RBCEH, v.9, n.3, p.395-404, 2012.

RODRIGUES, A. P. S.; SILVEIRA, E. A. Correlação e associação de renda e escolaridade com condições de saúde e nutrição em obesos graves. Ciênc. saúde coletiva, v. 20, n. 1, p. 165-174, 2015. 

SARNO, F.; MONTEIRO, C. A. Importância relativa do Índice de Massa Corporal e da circunferência abdominal na predição da hipertensão arterial. Rev. Saúde Pública, v. 41, n. 5, p. 788-796,  2007.

SILVA, T. R. et al . Controle de diabetes Mellitus e hipertensão arterial com grupos de intervenção educacional e terapêutica em seguimento ambulatorial de uma Unidade Básica de Saúde. Saude soc., v. 15, n. 3, p. 180-189, 2006.

SIVIERO, I. M. P. S.; SCATENA, M. C. M.; COSTA JUNIOR, M. L. Fatores de risco numa população de infartados. Rev Enferm UERJ, v. 13, n. 3, p. 319-24, 2005.

SOCIEDADE BRASILEIR DE DIABETES – SBD. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2014-2015. São Paulo: AC Farmacêutica, 2015.

STURMER, G. O manejo não medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica no Sul do Brasil. Cad Saúde Pública, v. 22, n. 8, p. 1727-37, 2006.

VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq. Bras. Cardiol. 2010, v.95, supl1, p.1-51. 

VIEBIG, R. F. et al. Atividade física de adultos de São Paulo: divergências entre resultados do questionário IPAQ-8 e os testes de esforço. EFDeportes, v. 13, n. 21, 2008.

WHO 2010. Global recommendations on physical activity for health. Geneva: World Health Organization, 2010.

ZANCHETTA, L. M. et al . Inatividade física e fatores associados em adultos, São Paulo, Brasil. Rev. bras. epidemiol.,  v. 13, n. 3, p. 387-399, 2010.

 


[1] Enfermeira. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal do Piauí.

[2] Enfermeira. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal do Piauí.

[3] Enfermeiro. Mestrando em Educação pela Universidad Internacional Iberoamericana.

[4] Farmacêutica. Doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos pela Universidade Federal da Paraíba. Professora Adjunto II da Universidade Federal do Piauí.

[5] A glicemia foi medida segundo parâmetros de Automonitoramento Glicêmico Domiciliar (AMG). Os valores de referência utilizados foram estabelecidos conforme as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) para medição pós-prandial, considerando-se os valores ideais aqueles abaixo de 160 mg/dl e toleráveis até 180 mg/dl (SBD, 2015).

[6] A pressão arterial foi medida conforme procedimentos descritos nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Hipertensão (2010) para medidas em consultório. Os blocos estabelecidos também estão de acordo com esta mesma diretriz.

[7] <80cm para mulheres e <94cm para homens (PEIXOTO et al., 2006).

[8] 80-88cm para mulheres e 94-102cm para homens (PEIXOTO et al., 2006).

[9] >88cm para mulheres e >102cm para homens (PEIXOTO et al., 2006).

[10] Realizam menos de 10 minutos diários de atividade física (VIEBIG et al., 2008).

[11] Realizam menos de 150 minutos semanais de atividade física, ou realizam atividade em menos de 5 dias na semana física (VIEBIG et al., 2008).

[12] Realizam ao menos 150 minutos semanais de atividade física, distribuídos em 5 ou mais dias na semana física (VIEBIG et al., 2008).

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×