13/06/2018

Perfil Postural em Praticantes de Musculação

Andreza Araújo Santana, Anderson Penha, Elaine Cristina Paz, Frederico Sá de Almeida,Fernando Jesus, Ana Carolina Siqueira Zuntini

1 Discentes do Curso de Educação Física – UniÍtalo

2 Orientadora, Bacharel em Fisioterapia pelo UniÍtalo, Especialista em Anatomia Macroscópica pelo Centro Universitário São Camilo, Mestranda em Farmacologia e Fisiologia pela UNIFESP, Docente do Curso de Educação Física do UniÍtalo

RESUMO

Introdução:A avaliação postural é útil no diagnóstico do alinhamento dos segmentos corporais de um indivíduo e é amplamente utilizada pelos profissionais de saúde, podendo ser uma ferramenta para a avaliação e tratamento clínico e prescrição de atividade física. A postura corporal tem se tornado a cada dia um reflexo do estilo de vida adotado pela população. Problemas posturais originários na infância se tornam importantes e podem ser causados por traumatismos, fatores emocionais, socioculturais, hereditários e indumentários inadequados. Objetivo: analisar a postura de praticantes de musculação com o intuito de traçar um perfil postural dos praticantes dessa modalidade esportiva. Material e métodos:O método científico utilizado neste estudo foi pesquisa de campo quantitativa, descritiva, cujo público alvo foi de praticantes de musculação, de ambos os sexos.As coletas de dados foram realizadas em ambientes amplos e bem iluminados, a qualquer período do dia.O voluntário foi posicionado individualmente à frente do tripé onde as imagens digitais foram capturadas sem utilização de flash e zoom, na vista anterior, vista lateral direita, vista posterior e vista lateral esquerda. Resultados e discussão.As alterações posturais encontradas entre os participantes foram muito variadas, especialmente quando comparados os grupos entre si.), os valores encontrados para todos os grupos foram muito próximos, com diferenças significativas apenas para o ângulo do joelho, em vista lateral direita e entre os grupos iniciantes e avançados. Conclusão: Os praticantes de musculação apresentaram assimetrias posturais em todos as vistas analisadas. Não foi possível estabelecer um padrão postural específico ou uma relação direta entre o tempo de prática de musculação e a redução/acentuação das alterações posturais.

Palavras-chave: Alinhamento postural. Métodos de avaliação musculação. Prevenção postural.  

ABSTRACT

Introduction: Postural evaluation is useful in the diagnosis of the alignment of the body segments of an individual and is widely used by health professionals, and can be a tool for the evaluation and clinical treatment and prescription of physical activity. Body posture has become a reflection of the lifestyle adopted by the population. Postural problems originating in childhood become important and may be caused by trauma, emotional, sociocultural, hereditary, and inappropriate clothing. Objective: to analyze the posture of bodybuilders with the intention of tracing a postural profile of the practitioners of this sport modality. Material and methods: The scientific method used in this study was a quantitative field research, descriptive, whose target audience was bodybuilders, of both sexes. Data collection was performed in large, well-lit environments at any time of the day. The volunteer was positioned individually in front of the tripod where digital images were captured without flash and zoom, in the previous view, right side view, rear view and left side view. Results and discussion. The postural changes found among the participants were very varied, especially when compared to each other.), The values ​​found for all groups were very close, with significant differences only for the knee angle, in the right lateral view and between the groups beginners and advanced. Conclusion: Bodybuilders presented postural asymmetries in all analyzed views. It was not possible to establish a specific postural pattern or a direct relationship between the time of bodybuilding practice and the reduction / accentuation of the postural alterations.

Keywords: Postural alignment. Methods of evaluation bodybuilding. Postural prevention.

INTRODUÇÃO

A avaliação postural é útil no diagnóstico do alinhamento dos segmentos corporais de um indivíduo e é amplamente utilizada pelos profissionais de saúde, podendo ser uma ferramenta para a avaliação e tratamento clínico e prescrição de atividade física. Por meio do registro de fotografias de corpo inteiro do indivíduo em diferentes planos e determinação da posição relativa de referências anatômicas é possível determinar de forma quantitativa os possíveis desvios posturais por meio de ângulos articulares e distâncias (NORIEGA, 2012).  

A postura corporal tem se tornado a cada dia um reflexo do estilo de vida adotado pela população. A orientação postural é um dos melhores recursos a ser adotado e deve enfatizar a biomecânica da coluna vertebral e o efeito que o meio ambiente exerce na postura dos indivíduos (CAMELO, 2015).

Problemas posturais originários na infância se tornam importantes e podem ser causados por traumatismos, fatores emocionais, socioculturais, hereditários e indumentários inadequados.  Do mesmo modo, quanto mais cedo for desenvolvido um trabalho preventivo de problemas posturais, menor será a chance do seu surgimento. Portanto, quanto mais precoce a detecção da alteração postural, melhores são as respostas terapêuticas e menos sombrio o prognóstico (CAMELO, 2015).

Segundo Ferreira (2016), a avaliação da postura corporal na posição ortostática tem sido vastamente empregada há décadas, tanto na clínica, quanto nas atividades de pesquisa científica sendo considerada um dos instrumentos básicos em todo o ciclo da saúde postural, do diagnóstico ao prognóstico, sendo de fundamental importância para o planejamento e acompanhamento de uma conduta terapêutica. As alterações posturais são mais comuns do que imaginamos e tem uma grande incidência, tanto em pessoas comuns como em atletas, podendo até levar a uma incapacidade funcional. Existem duas formas principais de avaliação postural: a forma qualitativa - que é mais utilizada e barata, onde é fundamentada na prática e na avaliação visual do terapeuta, e a forma quantitativa - que utiliza a fotogrametria como recurso, permitindo a avaliação por meio do computador.

Os praticantes de musculação apresentam características posturais individuais, podendo ter influências por anomalias que adquirem por meio de posturas mal condicionadas, dietas inadequadas, que causam obesidade ou outras anomalias influenciadas por estes fatores (BARONI, 2010).

O posicionamento corporal assumido no local define nossa postura em relação ao comando de movimento do corpo (gravidade) central o que nos mostra que para termos uma boa maneira de manter o corpo é preciso ter equilíbrio nos músculos com harmonia. A instabilidade adequa a postura do aluno e reestrutura os ligamentos em cadeia muscular. O posicionamento de movimentos estáticos equilibra os nossos esforços diariamente (MORAES, 2015).

Os materiais utilizados para examinar a postura dos alunos que estão inseridos na musculação são bem objetivos pois devem ser avaliados pelos profissionais responsáveis. Quem observa o aluno tem uma visão geral da postura e pertinentemente usa o tato e a visão, observado asporções anterior e posterior do tronco, além dos perfis direito e esquerdo (VILARTA, 2017).

O professor deve observar o aluno, não de forma isolada, porque o desequilíbrio de postura não se apresenta isoladamente.Contudo, quem observa estabelece critérios morfológicos e funcionais independente do plano analisado associando-o à força de atração mútua do corpo, sendo que conforme a linha reta os segmentos não compatíveis estão em desequilíbrio (SILVA, 2017). 

Conforme Basso (2009), essa avaliação feita pelo professor é muito importante e ele não pode deixar escapar nada. Os benefícios do alinhamento postural são evidenciados de formas objetivas e subjetivas, de forma que, quando repetidos, os métodos de avaliação sejam utilizados em treinos que visem propiciar o bom alinhamento postural.

Assim, o presente estudo tevepor objetivo analisar a postura de praticantes de musculação com o intuito de traçar um perfilpostural dos praticantes dessa modalidade esportiva.

MATERIAL E MÉTODOS

O método científico utilizado neste estudo foi pesquisa de campo quantitativa, descritiva, cujo público alvo foi de praticantes de musculação, de ambos os sexos. Participaram do estudo 66 voluntários 57 homens e 9 mulheres, com idade entre 20 e 35 anos, praticantes de musculação e que aceitaram participar do estudo.

Os voluntários receberam as explicações necessárias sobre o estudo a ser realizado. Todos os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contendo informações sobre o estudo, seu objetivo, recursos utilizados e sua importância.

As coletas de dados foram realizadas em ambientes amplos e bem iluminados, a qualquer período do dia. O voluntário ficou em posição ortostática e para registro das imagens foi utilizado um tripé para apoio da máquina fotográfica da marca Sony, na altura de 90 centímetros, colocado a três metros de distância do voluntário.

Os voluntários utilizaram vestimentas adequadas para visualização dos pontos anatômicos. Para a marcação destes, foram utilizadas bolas de isopor de 15 mm, afixadas com fita dupla face e distribuídas em pontos do corpo, sendo eles:

- Glabela

- Trago direito – esquerdo

- Mento

- Acrômio direito – esquerdo

- Epicôndilo lateral direito – esquerdo

- Ponto médio entre o processo estiloide do radio e a cabeça da ulna direito – esquerdo

- Espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) direito – esquerdo

- Trocanter maior do fêmur direito – esquerdo

- Linha articular do joelho direito – esquerdo

- Ponto medial da patela direito – esquerdo

- Tuberosidade da tíbia direito – esquerdo

- Maléolo lateral – direito – esquerdo

- Maléolo medial direito – esquerdo

- Ponto entre a cabeça do 2° e 3° metatarso direito – esquerdo

- Processo espinhoso T1

- Processo espinhoso T12

- Espinha ilíaca póstero-superior (EIPS) direito – esquerdo

- Ponto sobre o tendão calcâneoentre os dois maléolos direito – esquerdo

- Ângulo inferior da escápula direito – esquerdo

O voluntário foi posicionado individualmente à frente do tripé onde as imagens digitais foram capturadas sem utilização de flash e zoom, na vista anterior, vista lateral direita, vista posterior e vista lateral esquerda. Para cada vista, foi capturada uma única imagem. As imagens foram analisadas em notebook Samsung onde foi instalado o Software SAPO® versão 0.68.

Para efeito de análise dos resultados, os voluntários foram divididos em três grupos – iniciantes, intermediários e avançados – de acordo com o tempo de prática de musculação. Após coleta dos dados, os resultados foram submetidos à análise estatística, aplicando-se análise de variância (ANOVA) two-way, utilizando-se o software GraphPad Prism 7.0. Foram considerados significativos os valores de p < 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As alterações posturais encontradas entre os participantes foram muito variadas, especialmente quando comparados os grupos entre si. Para os parâmetros avaliados na vista anterior (figura 1), aqueles relacionados aos alinhamentos pareceram ter sua assimetria acentuada conforme maior a experiência do praticante. Em contrapartida, os valores angulares não mostraram um padrão de variação, encontrando-se diferenças significativas apenas para o ângulo Q esquerdo, entre os grupos iniciantes e avançados, sendo maiores os ângulos entre os que praticam musculação há mais tempo.

Figura 1. Parâmetros analisados na vista anterior. Diferenças de membros e alinhamentos apresentados em centímetros (cm) e ângulos apresentados em graus. Análise estatística realizada pelo teste de ANOVA two-way, * p < 0,05.

Quando analisadas as vistas em perfil (figuras 2 e 3), os valores encontrados para todos os grupos foram muito próximos, com diferenças significativas apenas para o ângulo do joelho, em vista lateral direita e entre os grupos iniciantes e avançados. Interessante notar que, para todos os grupos, os ângulos dos joelhos estão abaixo dos 10 graus, em ambos os perfis, assim como os ângulos do tornozelo estão abaixo de 90 graus, o que mostra que os praticantes, de forma geral, não apresentam encurtamentos na musculatura posterior dos membros inferiores. Ainda, o ângulo do tornozelo abaixo de 90 graus também pode indicar maior deslocamento anterior do centro de gravidade.

Figura 2. Parâmetros analisados na vista lateral direita. Diferenças de membros e alinhamentos apresentados em centímetros (cm) e ângulos apresentados em graus. Análise estatística realizada pelo teste de ANOVA two-way, * p < 0,05.


Figura 3. Parâmetros analisados na vista lateral esquerda. Diferenças de membros e alinhamentos apresentados em centímetros (cm) e ângulos apresentados em graus. Análise estatística realizada pelo teste de ANOVA two-way, * p < 0,05.

A Avaliação Postural na Musculação tem o intuito de prevenir e mais adiante corrigir possíveis alterações posturais existentes. Consiste em determinar e registrar, se possível por meio de fotografias, os desvios posturais ou atitudes posturais erradas dos indivíduos. Torna-se importante averiguar as propriedades mecânicas dos músculos, pois existem diferenças nas formas como tais devem ser trabalhadas para se alcançar uma melhora postural.

Sendo assim a prática da musculação favorece o fortalecimento da musculatura, quando trabalhado corretamente, podendo auxiliar no alinhamento postural. A boa postura é a base para qualquer técnica de exercício. Se os exercícios começam a partir de uma postura inadequada consequentemente são menos efetivos e o indivíduo é mais propenso a sofrer alterações em sua postura. O desequilíbrio de força muscular pode proporcionar um desequilíbrio de tensão dos músculos ao redor da articulação, podendo provocar um deslocamento para fora do alinhamento normal da postura. Para se obter uma boa postura tudo dependerá de como a pessoa vai se exercitar, dos exercícios escolhidos, para não adquirir uma postura incorreta.

Embora o objetivo principal do presente estudo fosse estabelecer um padrão postural específico entre praticantes de musculação, a grande variabilidade das assimetrias encontradas não tornou possível estabelecer tal relação. Como não foram selecionados participantes que fizessem uma rotina de exercícios similar, e também não foram descritos os treinos dos participantes desta pesquisa, é possível que a variação seja decorrente das diferenças entre os treinos. Dessa forma, em pesquisas futuras a seleção de praticantes com treinos parecidos poderá contribuir para elucidar se, de fato, não existe um padrão postural específico para praticantes de musculação.

CONCLUSÃO

Os praticantes de musculação apresentaram assimetrias posturais em todos as vistas analisadas. Não foi possível estabelecer um padrão postural específico ou uma relação direta entre o tempo de prática de musculação e a redução/acentuação das alterações posturais.

REFERÊNCIAS

BARONI, Bruno Manfredini et al. Prevalência de alterações posturais em praticantes de musculação. Fisioter. Mov.Curitiba, 23(1): 129-139, 2010.

BASSO, Débora Bonesso Andriollo et al. Atividade muscular, alinhamento corporal e avaliação clínica de indivíduos com disfunções temporomandibulares e com desvios posturais antes e após reeducação postural global (RPG). 2009.

CAMELO, Edyla Maria Porto de Freitas et al. Use of softwares for posture assessment: integrative review. Coluna/columna, são Paulo, 14(3):230-235, 2015.  

FARINHA, Keith Oliveira; ALMEIDA, Mayara Santos; TRIPPO, Karen Valadares. Avaliação da qualidade de vida de docentes fisioterapeutas da cidade do Salvador/Bahia. Revista Pesquisa em Fisioterapia, 3(1), 2013.

FERREIRA, Letícia Goulart et al. A influência da postura corporal nos parâmetros do sistema de oscilometria de impulso em crianças. Acta fisiátrica, 22(4,):186-191, 2016.

LOPES, Alexandra de Fátima Guedes. " Educação para o Desporto-Interesse Médico-Legal". 2011.

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NORIEGA, Carlos Enrique López. Desenvolvimento de um programa computacional para avaliação postural de código aberto e gratuito. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 2012.

NUNES, Patrícia da Rosa. Aspectos de condições de vida e prevalência de alterações posturais dos acadêmicos de fisioterapia da universidade do sul de santa Catarina Unisul, campus tubarão. 2006.

SAFONS, Marisete Peralta; PEREIRA, Márcio de Moura. Princípios metodológicos da atividade física para idosos. Brasília: CREF/DF-FEF/UnB/GEPAFI, 2007.

SILVA, Luís Fernando de Madureira Ferrás et al. O treino funcional no desenvolvimento da aptidão física dos alunos do ensino básico e secundário. Dissertação de Mestrado.2017.

VIEIRA, Adriane et al. Efeitos de um Programa de Educação Postural para escolares do terceiro ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual de Porto Alegre (RS). Fisioterapia e pesquisa, 22(3): 239-245, 2015.

VIEL, Greice de Barba. Subsídios norteadores para uma prática educacional da consciência corporal e postural de alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. 2015.

VILARTA, Roberto; GUTIERREZ, Gustavo Luís. A Promoção da Saúde e a Política Nacional de Saúde. 62p. 2017.

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