PROFESSORES
Dênio Mágno da Cunha*
Ela tem mais de 75 anos quando abre a porta. À sua frente surge alguém que ela não reconhece de imediato. Ele diz que fora seu aluno a mais de 50 anos. Estando de viagem por aquelas terras procurara saber onde encontrá-la. Ela recorda, ele recorda. Professora e aluno ligados no tempo. Ela fica sabendo o quando fora importante na vida dele, ao ensinar as primeiras letras. Começo do caminho entre aquele pequeno povoado e o mundo. Lembra dos estudos à luz de vela; das aulas extras na casa da professora que dobrava seu horário na casa, também escola, também pensão, referência. Os filhos, muitos, eram seus amigos, por onde andam? Passa a relembrar as diabruras do menino e a vida agitada de criança. Ela faz o café. Conversam. A tarde passa, ele precisa ir mas promete voltar outra hora. Se despedem. Ela fecha a porta, vai lavar as vasilhas. Zen.
Ela tem muitos anos. Já aposentada, morando na capital, é regente do coral do edifício onde mora. Ficar parada, nunca! Faz o que gosta. Toca piano, ensaia o coral. É véspera de Natal, é preciso preparar as músicas que cantarão no hall, para todos os que quiserem ouvir. Embeleza-se. Pronta para a grande noite. Fora professora de música desde cedo na vida. Agora, vitimada pela artrite, tinha suas limitações. Mas a música, sua companheira não a abandonara. Para aliviar a tensão, toca ao piano antigos sucessos da mocidade, com certeza relembra as tantas apresentações, audições; os tantos alunos. É chegada a hora. Noite Feliz!!
Discute-se muito e com razão, como ser professor no presente e no futuro. Fala-se em uma época de mudança, transição e na necessidade de inovar. Usa-se a inteligência racional aplicada à técnica para o descobrimento da solução.
Queremos saber,
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
e suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes dos sertões
Queremos saber,
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos, de fato, um relato
Retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do senhor
Queremos saber,
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário prever
Qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber
Queremos saber, todos queremos saber (Gilberto Gil)
Todos querem saber. Mas esquecem de incluir na equação o mais simples dos elementos, o mais belo dos gestos, dentre todos, simbolizado pela Criação de Adão, de Michelangelo.
Professores, são tantos. Tantas as histórias de como conseguiram tocar com seu dedo as vidas de seus alunos.
Minha homenagem através das histórias de minha avó e de minha mãe: professoras.
* Dênio Mágno da Cunha, professor em Carta Consulta, em Una-Unatec, Doutorando em História da Educação pela Universidade de Sorocaba. “Ah! Humanos. São engraçados, acham que a vida pode ser ensinada. A vida é aprendida. ” (The Walking man).