10/10/2016

PROFESSORES

Dênio Mágno da Cunha*

                Ela tem mais de 75 anos quando abre a porta. À sua frente surge alguém que ela não reconhece de imediato. Ele diz que fora seu aluno a mais de 50 anos. Estando de viagem por aquelas terras procurara saber onde encontrá-la. Ela recorda, ele recorda. Professora e aluno ligados no tempo. Ela fica sabendo o quando fora importante na vida dele, ao ensinar as primeiras letras. Começo do caminho entre aquele pequeno povoado e o mundo. Lembra dos estudos à luz de vela; das aulas extras na casa da professora que dobrava seu horário na casa, também escola, também pensão, referência. Os filhos, muitos, eram seus amigos, por onde andam? Passa a relembrar as diabruras do menino e a vida agitada de criança. Ela faz o café. Conversam. A tarde passa, ele precisa ir mas promete voltar outra hora. Se despedem. Ela fecha a porta, vai lavar as vasilhas. Zen.

               Ela tem muitos anos. Já aposentada, morando na capital, é regente do coral do edifício onde mora. Ficar parada, nunca! Faz o que gosta. Toca piano, ensaia o coral. É véspera de Natal, é preciso preparar as músicas que cantarão no hall, para todos os que quiserem ouvir. Embeleza-se. Pronta para a grande noite. Fora professora de música desde cedo na vida. Agora, vitimada pela artrite, tinha suas limitações. Mas a música, sua companheira não a abandonara. Para aliviar a tensão, toca ao piano antigos sucessos da mocidade, com certeza relembra as tantas apresentações, audições; os tantos alunos. É chegada a hora. Noite Feliz!!

               Discute-se muito e com razão, como ser professor no presente e no futuro. Fala-se em uma época de mudança, transição e na necessidade de inovar. Usa-se a inteligência racional aplicada à técnica para o descobrimento da solução.

Queremos saber,

O que vão fazer

Com as novas invenções

Queremos notícia mais séria

Sobre a descoberta da antimatéria

e suas implicações

Na emancipação do homem

Das grandes populações

Homens pobres das cidades

Das estepes dos sertões

Queremos saber,

Quando vamos ter

Raio laser mais barato

Queremos, de fato, um relato

Retrato mais sério do mistério da luz

Luz do disco voador

Pra iluminação do homem

Tão carente, sofredor

Tão perdido na distância

Da morada do senhor

Queremos saber,

Queremos viver

Confiantes no futuro

Por isso se faz necessário prever

Qual o itinerário da ilusão

A ilusão do poder

Pois se foi permitido ao homem

Tantas coisas conhecer

É melhor que todos saibam

O que pode acontecer

Queremos saber, queremos saber

Queremos saber, todos queremos saber (Gilberto Gil)

               Todos querem saber. Mas esquecem de incluir na equação o mais simples dos elementos, o mais belo dos gestos, dentre todos, simbolizado pela Criação de Adão, de Michelangelo.

               Professores, são tantos. Tantas as histórias de como conseguiram tocar com seu dedo as vidas de seus alunos.

               Minha homenagem através das histórias de minha avó e de minha mãe: professoras.

 

* Dênio Mágno da Cunha, professor em Carta Consulta, em Una-Unatec, Doutorando em História da Educação pela Universidade de Sorocaba. “Ah! Humanos. São engraçados, acham que a vida pode ser ensinada. A vida é aprendida. ” (The Walking man).

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