26/11/2017

PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O TREINAMENTO DO KUNG FU SANDA

PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O TREINAMENTO DO KUNG FU SANDA

 

*RAFAEL MADEIRA DA COSTA

**RICARDO LUCAS PACHECO

 

*Professor de Educação Física - município de São José, SC. Estudante do curso de Bacharel em Educacao Física na Universidade Federal de Santa Catarina. lattes.cnpq.br/8286392660470991. E-mail: rafaelmadeiradacosta@hotmail.com

 

**Professor Assistente IV da UFSC, SC. Possui Mestrado em Educação Física:. Também é membro do Núcleo de Cineantropometria e Desempenho Humano - NuCiDH do qual é o atual Coordenador. É integrante do Grupo de Pesquisa em Cineantropometria & Desempenho Humano (CNPq).

lattes.cnpq.br/9891719110300463. E-mail: ricardo.pacheco@ufsc.br

 

RESUMO

 

As lutas e as artes marciais de forma geral são praticas competitivas, como em todos os esportes de competição, a preparação é fundamental e diferenciada aos atletas que competem, exigindo cuidados especiais na elaboração do treinamento que é diferente do utilizado aos alunos que apenas frequentam os centros de artes marciais com outros objetivos que não sejam a competição. Ao nos depararmos com o empirismo dos professores de artes marciais e das lutas, onde muitas vezes não tiveram capacitação profissional adequada, notou-se a necessidade de uma verificação de conteúdos existentes sobre treinamento de lutas e especificamente do Kung Fu Sanda. Com os resultados obtidos, chegou-se a seguinte pergunta: que metodologia podemos utilizar para o treinamento de atletas desta modalidade?  Pensando nisso, o presente estudo teve como objetivo, propor uma metodologia de treinamento para atletas da modalidade de combate do kung fu conhecida como Sanda

 

Palavras-chave: Lutas. Preparação. Kung Fu. Sanda. Treinamento.

 

 

1 INTRODUÇÃO

             

As Lutas tomaram o imaginário popular em filmes, estão presentes nos jogos olímpicos, organizadas em federações e confederações, e nos últimos anos ganhou o gosto de grande parte da população através do vale tudo e mais recentemente as artes marciais mistas. É preciso compreender algumas possibilidades que as artes marciais podem proporcionar. Muitos são os conteúdos que podem ser explorados para o ensino nas aulas de Luta/Artes Marciais, podendo ser usado temas valorizados nas Lutas/Artes Marciais tais como valores morais e éticos, conhecer, respeitar e discutir a filosofia oriental e conhecer a origem das lutas pelo mundo. Os Países orientais são reconhecidos como povos culturalmente disciplinados, os valores morais são transmitidos de pai para filho ultrapassando gerações. As artes marciais costumavam ser usadas como ferramenta de transmissão desses valores de geração em geração descritos pela Confederação Brasileira de Kung Fu Wushu (CHIANTOU, 2017).

As Artes Marciais são práticas competitivas, populares e reconhecidas ferramentas na educação de crianças e jovens, possuindo diversos profissionais qualificados em centros de artes marciais e academias espalhados por todo o mundo (MOCARZEL, 2011). A preparação física de lutadores amadores é tradicionalmente feita de forma empírica, com exercícios específicos da modalidade, como chutes, socos e projeções, baseado no peso do próprio corpo e sem embasamento cientifico (GUIMARÃES, 2001). Hoje com todo o conhecimento resultante em pesquisas das mais variadas relacionadas ao treinamento físico, destacam-se experiências no Boxe. Bourne et al. (2002), revelam que a URSS influenciou o treinamento no ocidente nas décadas de 70 e 80 verificando a importância do treinamento de resistência com peso. O planejamento do treinamento é um processo gradativo que corresponde a uma etapa desse processo (AABERG, 2002).

Para se conseguir o melhor preparo, é que se faz necessário a identificação dos pontos principais para atingirmos o objetivo de planejar uma metodologia de treinamento para o Sanda, estes pontos dizem respeito a partes especificas que são utilizadas na luta, como velocidade, flexibilidade, condicionamento aeróbio, condicionamento anaeróbio e força. Del Vecchio e Maturana (2002), pontuam o uso de exercícios com pesos nos treinamentos de desportes de combate como sendo essenciais para o melhor desenvolvimento físico do atleta nos esportes de luta, tais como Jiu jitsu, Judô, Karatê e outros. Afirmam ainda que o treinamento sem planejamento pode viciar as fibras musculares de contração rápida, necessitando assim um planejamento específico para a execução de golpes que utilizam a explosão muscular através das fibras de contração rápida. Não se tem a pretensão neste estudo de avaliar os tipos de treinamento ou afirmar qual o mais adequado, mas com base nas principais características da luta, propor um treinamento que oriente os treinadores a planejar o treinamento com base em métodos conhecidos na literatura. No Brasil, as lutas não possuem tradição em treinamentos de força com pesos para a preparação física além do preconceito que muitos técnicos possuem em relação à prática de musculação (HIRATA; DEL VECCHIO, 2006).

Portanto, serão levantadas as informações contidas em artigos e livros que contribuem com o treinamento físico, a fim de organizar uma proposta metodológica de treinamento baseada nas possibilidades existentes dentre as principais características da luta, haja vista que o treinamento deve ser preocupação primaria para todos os atletas que procuram melhorar seu desempenho esportivo. No caso das lutas, golpes fortes e rápidos podem acabar com o combate antes do tempo determinado, isso ocorre quando o adversário é nocauteado (ROMANO, 2003). Vencer desta forma significa poupar energia para uma próxima luta. O treinamento com embasamento cientifico é um campo pouco explorado no Kung Fu Sanda, necessitando uma visão que relacione as possibilidades existentes de forma consistente para a preparação dos atletas. 

Feito este levantamento, a proposta metodológica do presente trabalho não é aprofundar-se em métodos específicos e tão pouco elaborar um método complexo, mas sim organizar o planejamento de forma generalizada, mas voltada as principais características de aptidão para a luta. Assim poderemos diferenciar treinamento aeróbio e treinamento de força entre outros exemplos e por que treina-los juntos ou separados? De forma geral o trabalho pretende servir de base para que treinadores e atletas possam utilizar a proposta metodológica, e a partir dela organizar seus programas de treinamento com as diferentes especificidades de cada lutador. Diante desses aspectos, o presente estudo pretende responder a seguinte pergunta: Como deveria ser o treinamento para lutadores de Kung Fu Sanda com o calendário de Santa Catarina?

 

1.1 OBJETIVO GERAL

 

Propor um método de treinamento para atletas de competição da luta Kung Fu Sanda.

 

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

  1. Conhecer as principais características e regras da luta.
  2. Verificar quais são as principais valências físicas a serem utilizadas.
  3. Definir metas para o treinamento com base no calendário de competição
  4. Estabelecer a periodização do treinamento

 

1.3 JUSTIFICATIVA

 

As lutas/artes marciais são ainda pouco exploradas no mundo da pesquisa acadêmica, principalmente no que se refere as possibilidades de métodos de treinamento voltados a competição, haja vista que o treinamento deve ser preocupação primaria para todos os atletas que procuram melhorar seu desempenho esportivo. Além da habilidade e da técnica, a preparação física é parte fundamental para o competidor, golpes fortes e rápidos podem acabar com o combate antes do tempo determinado, isso ocorre quando o adversário é nocauteado (ROMANO, 2003). Vencer desta forma significa poupar energia para uma próxima luta. Ao buscar no treinamento físico a condição ideal de preparo e condicionamento específicos para determinadas ações durante a luta, destaca-se a importância do planejamento dos treinamentos de lutadores, sobretudo os ciclos de treinamento, que em muitos locais ocorrem de forma empírica por serem baseados na tradição e na intuição dos antigos mestres.

Com o intuito de preparar o atleta para os desafios da luta onde a condição física pode ser a diferença entre vencer e perder, é que se faz necessário o estudo para um planejamento adequado do treinamento físico juntamente com as técnicas e estratégias para o combate a fim de alcançar a melhor performance possível. Entretanto, necessitam de uma avaliação dos objetivos para que de forma consistente, possamos destacar as diversas possibilidades das valências necessárias existentes nas lutas, a fim de chegarmos ao melhor planejamento da preparação física do atleta, justificando a importância do estudo para que nas ações pedagógicas futuras possam utilizar este conhecimento para elaboração de uma metodologia mais adequada utilizando os resultados obtidos para o planejamento de uma metodologia de treinamento.

 

2 REFERENCIAL TEÓRICO

           

Neste capítulo serão abordados os tópicos necessários para o entendimento do presente estudo, iniciando pelos aspectos relacionados ao conhecimento acerca desta modalidade de luta, em seguida abordando as principais valências físicas necessárias para o treinamento físico, passando pelas definições e conceitos sobre treinamento técnico e tático e concluindo com a periodização de treinamento.

 

2.1 CONHECENDO O KUNG FU SANDA

 

O termo Kung Fu popularizou-se no ocidente por intermédio do cinema, entre os atores mais famosos e responsáveis pela popularização encontra-se nomes como Bruce Lee, Jack Chan e Jet Li, sem esquecer da importância dos desenhos animados no processo de reconhecimento pelo ocidente. Na China, o termo Kung fu é mais conhecido como Wushu, cuja tradução literal significa “técnica marcial”. Ao longo do tempo, o Wushu veio a ter muitos nomes e significados. A origem da arte marcial chinesa remonta das técnicas de caça e das lutas. Foi conhecido como “jiji” (combate técnico) nas primeiras dinastias da China, e passou a se chamar de “wuyi” (arte marcial) entre os séculos II a.C. até o século XII. Apareceu pela primeira vez como “Wushu” (técnica marcial) num registro literário do século VI, possuindo maior conotação no meio militar. Na primeira metade do século XX foi chamado na China de técnica nacional (“guoshu”, que na ocasião, antes do aparecimento da ortografia adotada hoje, era transcrito como “kuoshu”) e de “kungfu” (cuja transcrição atual seria “gongfu”) que pode ser traduzido, a grosso modo, como “habilidade acumulada”. Com a Revolução de 1949 voltou a ser chamado de “Wushu” (CHIANTOU, 2017).

A origem do termo Sanda é mais recente, apesar de já existir a luta com as regras nos moldes atuais, em 1993, na Malásia ocorreu uma reunião para discutir e definir qual nomenclatura seria adotada para identificar melhor a modalidade de luta chinesa, e nesta ocasião foi determinado o Sanshou como a terminologia oficial para ser usada pela International Wushu Federation (IWUF). No ano 2010, houve uma nova discussão a respeito do mesmo tema. Desta vez a própria IWUF reconheceu que o termo que se enquadraria de forma mais apropriada para a modalidade era então o Sanda. Na prática, o Kung Fu Sanda nada mais é do que a forma de luta competitiva do Kung Fu, dado os inúmeros estilos de kung fu, regulamentar as regras de competição e as técnicas permitidas durante o combate, pode proporcionar aos atletas da modalidade uma luta mais clara e competitiva.

 

2.1.1 A origem da luta

 

Razões de ordem política e organização desportiva são as principais indícios para a criação desta luta, que surge da necessidade do Kuomitang (partido político Chinês), por volta de 1924 que decidiram dotar as tropas e soldados de elite com um método eficaz de combate real e defesa pessoal, então desenvolveu-se na Academia Militar Whampoa na região de Gangzhou (Cantão) uma profunda investigação dos mais eficazes sistemas de luta chinesa e dos então recentes métodos de desenvolvimento desportivo, acabando por originar um currículo estruturado e organizado, que permitiu instruir militares e não-militares na luta corpo a corpo de mãos vazias com uma forma objetiva e rápida. Este método foi essencialmente baseado nas técnicas clássicas de pernas e punhos dos sistemas tradicionais de Wushu, nos diferentes sistemas de Shuaijiao (métodos de projetar o oponente ao solo) e nos distintos métodos de Chin-Na (agarrar e imobilizar) que normalmente completa os mais importantes estilos de Kung Fu. Esta nova abordagem sintética do combate corpo a corpo acabaria por ser amplamente utilizada pelas elites militares como método de combate.

Como consequência da necessidade de dois atletas se medirem minimizando a possibilidade de saírem lesionados do confronto é que surgiu a forma esportiva. Este tipo de combate há muito se praticava de forma pública em cima de uma plataforma elevada, com um conjunto de regras mínimas que muitas vezes levavam à morte de um dos participantes. Tornaram-se famosas algumas competições ao longo da história, muitas delas patrocinadas pelo próprio Imperador.

Em 1928, o Instituto Central de Guoshu (estabelecido pelo Kuomitang na cidade de Nanjing e que em parceria com a Associação Atlética Jingwu formaram os dois principais institutos na promoção das artes marciais tradicionais chinesas), organizou uma competição nacional na cidade de Beijing assistida por proeminentes figuras militares. Nesta competição, assistida por mais de 400 inscritos dos mais variados sistemas e regiões de toda a China, resultaria um fato curioso que levantaria sérias questões sobre a segurança dos competidores. Como resultado das precárias regras estabelecidas para a competição, dois lutadores acabariam por morrer, tendo como resultado imediato a alteração das regras visando proteger os lutadores de contusões mais sérias e até a morte. Esta nova metodologia seria então adotada como novo método de competição, permitindo que dois atletas se confrontassem em cima de uma plataforma denominada Leitai, sem cordas e com uma zona de segurança com colchões em toda a volta. Mais tarde a IWUF adotaria este método de competição como forma de competição de combate do Wushu moderno conhecido como Sanda.

Na prática, o Kung Fu utiliza o corpo para realizar todos os tipos de ações necessárias para realizar habilidades de defesa e ataque, estas habilidades podem ser demonstradas e praticadas em treinamento de Kati que são as técnicas de luta organizadas e mescladas em sequência numa coreografia de movimentos e técnicas, elas também podem ser demonstradas em combate simulado para o aperfeiçoamento das técnicas sem que os envolvidos se machuquem. Chutes, socos, esquivas, segurar e agarrar, derrubar, imobilizar, são técnicas iniciais que servem de base para o planejamento do treinamento técnico do atleta.

 

2.1.3 Síntese das regras da competição

 

Segundo o regulamento de Wushu Sanda da CBKW, a luta acontece em rounds podendo ter no máximo três rounds e uma prorrogação de um minuto. Cada round tem a duração de 2 minutos por 1 minuto de intervalo para descanso, o vencedor de cada round é decidido por quatro árbitros laterais durante o intervalo e divulgado aos atletas, vencerá por critério de pontuação o atleta que vencer 2 rounds primeiro. No combate as partes válidas para a pontuação são cabeça tronco e as coxas, as técnicas devem estar adequadas segundo a CBKW em conformidade a International Wushu Federation (ITF), e, não é permitido bater na parte traseira do crânio, toda região do pescoço, genital e ataques contra as articulações, também não é permitido atacar com a cabeça, cotovelos, joelhos e contra as articulações. Os socos e giratórios de braços são permitidos e as imobilizações tem um tempo permitido de 3 segundos para aplicação de queda ou para clinch.

Outra forma de vencer é por intermédio do nocaute (KO), KO é quando o atleta é golpeado e cai sem condições de voltar a luta, e o knockdow é contabilizado com 3 pontos, ocorrendo dois knockdow do mesmo atleta no mesmo período ou round, da a vitória daquele round ao atleta adversário, três knockdow da a vitória. Quando ocorre o knockdow o arbitro central conta até oito como medida de proteção e caso o atleta não esteja em condições a contagem termina em dez com a vitória do adversário.

Chutes no tórax e cabeça valem 2 pontos, na coxa valem 1 ponto, sequência de socos valem 2 pontos e a queda limpa que é a queda aplicada onde apenas o derrubado vai ao solo vale 2 pontos, e 1 ponto quando os dois caem, mas quem aplicou a queda caia por cima do adversário, atletas infanto juvenil e juvenil não podem chutar a cabeça e também não é permitido sequencia de socos na cabeça, em caso de lesão ou impossibilidade do adversário lutar, o atleta é considerado vencedor (GUEDES et al. 2017).

 

2.2 PRINCIPAIS VALÊNCIAS FÍSICAS IDENTIFICADAS A SEREM TREINADAS PARA O MELHOR DESEMPENHO NO COMBATE.

 

O treinamento é o processo por meio do qual um atleta é preparado para o mais alto nível de desempenho possível (BOMPA; HAFF, 2008). Para o melhor aproveitamento do treinamento visando a evolução do atleta, é preciso conhecer algumas orientações iniciais como por exemplo as principais valências físicas utilizadas na luta. Identificando segundo Rufino e Darido (2012) que a luta é uma Prática corporal imprevisível, caracterizada por determinado estado de contato, que possibilita a duas ou mais pessoas se enfrentarem numa constante troca de ações ofensivas e/ou defensivas, regida por regras, com o objetivo mútuo sobre um alvo móvel personificado no oponente. Destacamos com base nas regras da modalidade utilizada na competição amadora, identificando as principais valências físicas encontradas para a execução dos movimentos permitidos na luta que são as mais importantes: força/resistência e potência, flexibilidade e resistência anaeróbia.

 

2.2.1 Força muscular

 

A força muscular é definida como a força máxima que pode ser gerada por um músculo ou grupo muscular ao desenvolver a força contrátil máxima contra uma resistência em uma única contração (POWERS; HOWLEY, 2009). Os diferentes tipos de força que produzimos tem relação direta com as vias energéticas, com a intensidade do estimulo e estão associadas à condição das pessoas realizarem ações motoras no dia a dia (ACSM, 2006), O desenvolvimento da força depende da especificidade da modalidade quanto ao tipo de interação da força com a resistência no caráter alático, anaeróbio lático ou aeróbio de manifestação da resistência de força em condições isotônicas ou isométricas. Segundo Platonov (2008), a força de resistência desempenha um papel excepcionalmente importante na obtenção de altos resultados em vários tipos de lutas, os lutadores utilizam preferencialmente os métodos concêntricos, excêntricos, isométrico e pliométrico para o melhor desempenho dos lutadores ao executarem os diferentes tipos de força ao agarrar, segurar e projetar o adversário ao solo durante a luta. Ao chutar, ao socar e ao se movimentar, essas ações dependem de uma fração da força ou da resistência muscular para a execução da tarefa alternada com potência muscular.

 

2.2.3 Flexibilidade

 

Assim como a resistência muscular, a flexibilidade é uma das qualidades físicas mais encontradas em programas de condicionamento físico, deixando claro a sua importância na realização ativa durante a prática de diversas modalidades de atividade física, preparadores físicos, técnicos, professores, cientistas, atletas e demais grupos envolvidos com o objetivo de melhor utilizar o corpo humano. Se reunirmos um representante de cada área, certamente dividiríamos as mais diversas opiniões a respeito da flexibilidade (DANTAS, 1999). No caso do Kung Fu Sanda, a amplitude da envergadura é essencial para que os golpes alcancem e pontuem sobre o adversário, além de movimentos de transição de clinch (imobilizar o braço do oponente ao agarrar como se estivesse abraçando) e o uso de técnicas de projeção ao solo que utilizam muita flexibilidade. A flexibilidade nas Lutas/Artes Marciais é de fundamental importância para a melhor execução dos movimentos de amplitude. Segundo Walker (2009) o sistema muscular precisa estar flexível para alcançar o melhor desempenho, e precisam constantemente de alongamento para não ocorrer o encurtamento, todavia a flexibilidade é determinada por vários fatores internos e externos. Por exemplo, idade, sexo, roupas, temperatura muscular, tendões e estrutura das articulações, estado de alongamento e relaxamento muscular; treinamento de alongamento; a concentração de líquido nos tecidos musculares, tendões e cartilagens, a superfície articular, lesões e a força muscular. Um dos benefícios mais importantes de uma metodologia de treinamento de flexibilidade é a possível promoção do relaxamento, ou seja, a suspensão da tensão muscular. Um músculo contraído obviamente requer mais energia que um músculo relaxado (ALTER, 1999).

 

2.2.4 Treinamento anaeróbio e aeróbio

 

Durante as lutas de Kung Fu Sanda que acontecem em rounds de 2 minutos, a predominância do sistema de produção de energia é a do sistema anaeróbio, isto porque o uso da força e velocidade são de maior utilização durante a luta. O sistema do fosfagênio é o principal sistema energético, pois é preponderante na execução das técnicas aplicadas em busca do KO. Geralmente as combinações de golpes e defesas não ultrapassam mais que quinze segundos de duração (KOSOWSKI, 2007). Todavia o sistema anaeróbio precisa ser trabalhado em conjunto com o aeróbio, Segundo Katsh e Mcardle (1996), o sistema aeróbio é utilizado predominantemente em atividades de longa duração realizados por mais de 3 a 4 minutos, então, apesar do sistema oxidativo não ser a principal via de produção de energia durante as lutas, ele é fundamental para a recuperação do lutador entre os combates e durante o treinamento logo após a realização de movimentos de força de potência, isto porque o acumulo de lactato quando a atividade praticada envolve esforços máximos, que necessitam ativar grande proporção de fibras de contração rápida, como no caso do Kung Fu Sanda, o treinamento aeróbico tem papel importante para a remoção do lactato produzido pelas fibras de contração rápida que por vezes é lançado em outras partes do corpo para ser utilizado no sistema oxidativo a fim de remover o lactato.

 

2.3 TREINAMENTO TÉCNICO

 

A técnica é a junção de todos os padrões de movimento, habilidades e elementos necessários a pratica do esporte, e pode ser considerada como a maneira de executar uma habilidade, por isso não basta apenas estar bem preparado fisicamente, mas os movimentos devem estar bem executados, atletas devem continuamente se esforçar por estabelecer perfeição de modo a criar padrões de movimento mais eficientes (BOMPA; HAFF, 2012). A prática mostra segundo Weineck (2003) que o desenvolvimento técnico é negligenciado em função do desenvolvimento físico do atleta, mas quando se tem a melhor aptidão física possível, recorre-se a técnica para a obtenção do aumento adicional do desempenho por essa razão o treinamento técnico representa uma possibilidade para a melhoria do desempenho num momento posterior. Em esportes como as lutas, a técnica é muito importante, por permitir maior mobilização da capacidade de solucionar situações decisivas e a técnica também contribui muito para a economia de energia.

O Kung Fu Sanda assim como a maioria das lutas, possuem técnicas específicas de defesa e ataque que combinadas dificultam para o adversário se sobressair no combate,  as técnicas mais utilizadas são: antecipação - neutralização em forma de ataque sobre a investida do adversário, chute circular - técnica de perna executada com a canela; chute frontal - técnica de chute com a perna que está atrás executada em linha reta de baixo para cima; combinações - são técnicas que proporcionam um fim estratégico de forma subsequente; cruzado - técnica de mão executada de forma circular de fora para dentro numa linha horizontal; direto - técnica de soco em linha reta que combina com a base que está atrás; doublé leg. - projeção de duas pernas.; escora frontal - neutralização ou inibição de possível ataque do oponente com técnica de chute executada com a perna que está na frente em linha reta; escora lateral - neutralização ou inibição de possível ataque do oponente com técnica de esquivas - são métodos de defesas para escapar de investidas retas realizadas, gancho - chute com a perna que está na frente com o calcanhar na linha lateral da cabeça; jab - técnica de soco em linha reta que combina com a base que está na frente; martelo - chute de cima para baixo com o calcanhar com a perna que está atrás; pendulo - fuga sob os membros superiores do adversário, saindo de um golpe projeções - são técnicas que são realizas com o arremesso do oponente ao solo; rodado - técnica executada com rotação do corpo que pode ser realizada envolvendo tanto membros superiores quanto inferiores; single leg. - Projeção de uma perna; swing - técnica de mão realizada de forma circular e obliqua de cima para baixo e de fora para dentro, que combina com a base que está atrás; upe - técnica de soco executada em forma de gancho de baixo para cima, trama - técnica executada com a panturrilha. Todos os golpes de socos e chutes necessitam de potência e precisão, mas o diferencial está na correta e otimizada aplicação das técnicas.

 

2.4 TREINAMENTO TÁTICO

 

Em geral a tática refere-se a estratégia do atleta face as regras da competição e seu domínio para a utilização em determinadas situações para que se alcance a vantagem ou a vitória e só é executável se for baseada dentro das condições técnicas que o atleta possui, no condicionamento e na capacidade de resolução de problemas do lutador. Por tática desportiva, devemos compreender os meios usados para reunir e concretizar ações motoras responsáveis por uma atividade competitiva eficaz, de acordo com objetivos predefinidos (PLATINO, 2004). Durante a preparação tática deve-se atentar ao desenvolvimento da capacidade de coordenação das capacidades de superar dificuldades, tomar decisões, manter impulsos e emoções sob controle, superar perigos e problemas, superar possíveis fracassos e a capacidade de manter a concentração por um período prolongado e de estresse (SONNENSCHEIN, 1987). Quando o adversário soca, chuta ou tenta uma projeção ao solo, é preciso superar este problema por meio de um contra-ataque, um movimento, algo que anule ou enfraqueça o ataque do adversário, e se possível com esta ação ganhar alguma vantagem durante a resposta a resolução do problema.

 

2.5 PERIODIZAÇÃO

 

Salo e Riewald (2008) definem periodização como um processo cientifico e sistemático do planejamento de uma temporada de treinamentos em função de uma competição, dividindo-o em diversas fases, podendo ser entendida como uma divisão organizada do período de treino, seja ele anual ou semestral, para prepará-lo para alcançar objetivos previamente estabelecidos e obter os melhores resultados no período de competição. Cada atleta deve ter sua planilha específica de cargas, séries e repetições, sendo necessário sempre respeitar a individualidade do atleta para dentro de suas capacidades, otimizar o maior ganho possível sem incorrer em destreinamento ou até mesmo lesões. Segundo Barbanti (2004) a palavra ‘periodização’ é relativamente recente dentro da esfera dos desportos, pois a sua concepção dentro do treinamento esportivo foi inicialmente descrita pelo prof. Matveev por volta de 1965. Periodização, portanto, é a organização de um modelo de treinamento em unidades dividindo um período de tempo determinado, como, por exemplo, 10 semanas, e, nesse período de tempo, variar o tipo de estímulo induzido ao objetivo pré-estabelecido para o treinamento. Desse modo, dentro de 10 semanas, haverá semanas com maior ênfase para força isométrica, semanas para explosão, semanas de sobrecarga, semanas de preparação técnica e tática entre outros objetivos pré-estabelecidos pelo treinador.

Cada objetivo estabelecido determinará a fase de treinamento a ser cumprida, um Macrociclo é uma fase que pode durar de 2 a 7 semanas e também pode conter de 2 a 7 microciclos que são usados para planejar o futuro imediato, ao passo que o Macrociclo projeta a estrutura de uma metodologia de treinamento com várias semanas em adiantamento. Portanto, pode-se dizer que o Macrociclo é a estrutura geral do treinamento e o microciclo seria o método usado para desenvolver e alcançar o objetivo determinado a ser alcançado.

 

3 MÉTODO DA PESQUISA

 

            Este é um trabalho de pesquisa bibliográfica, e, portanto, desenvolveu-se com o intuito de explicar o problema através do estudo de publicações científicas em artigos, livros e obras do gênero. No presente trabalho, a pesquisa bibliográfica serviu como fonte de conhecimento para o levantamento de material que possibilitasse a construção e planejamento de uma metodologia de treinamento para lutadores de Kung Fu Sanda.

As bases de dados utilizadas para pesquisa foram:

  1. Atheneu  - <https://atheneu.com.br/#JumPos>
  2. Lilacs - <http://lilacs.bvsalud.org>
  3. Google - <https://scholar.google.com.br>
  4. Portal de periódicos da capes - <http://www.periodicos.capes.gov.br>
  5. SciELO - <http://www.scielo.br>

Para o levantamento do material de estudo foi realizada pesquisa de literatura tendo-se como palavras-chave: Kung Fu – Sanshou – Sanda – Boxe Chinês - Treinamento - Treinamento desportivo - Treinamento de força - Periodização do treinamento – Treinamento de força explosiva, além de pesquisa em livros e documentos públicos da Confederação Brasileira de Kung Fu Wushu.

 

4 PROPOSTA METODOLÓGICA DE TREINAMENTO PARA ATLETAS DE KUNG FU SANDA

 

A presente pesquisa chegou a formulação de uma proposta metodológica de treinamento por intermédio do estudo de artigos e autores aqui citados, e, com os resultados encontrados, pretendeu-se elucidar a importância de uma metodologia que oriente treinadores no planejamento do treinamento para atletas da modalidade de Kung Fu Sanda. Não foi aqui descrito os métodos utilizados nos microciclos, como número de séries, quantidade de repetições, técnicas a serem treinadas e quais táticas explorar no treinamento por entender a importância da individualidade biológica e os objetivos que cada treinador pretende alcançar a respeito de técnicas e táticas, influenciando diretamente nos exercícios específicos do treinamento. Por isso o programa proposto pretende periodizar as fases do treinamento baseada na adaptação de conceitos conhecidos na literatura para a montagem de uma periodização anual. Esta periodização tem o intuito de organizar as etapas a serem cumpridas no treinamento deixando a cargo dos treinadores quais métodos utilizar.

Dado a necessidade do levantamento do cronograma de competições, usaremos de exemplo o estado de Santa Catarina que prevê o campeonato estadual para alcançar a vaga que dará direito a participar do campeonato nacional, e supondo que o atleta conquiste a vaga para o campeonato nacional, a estrutura do treinamento descrita aqui é o do ciclo anual, este ciclo está subdividido em fases de aquisição, manutenção e perda da forma esportiva que corresponderá ao período de treinamento geral, período de adaptação, período preparatório, período de competição e período de transição ou recuperação respectivamente, para tanto utilizou-se os princípios da periodização dupla. A periodização dupla consiste em alcançar dois picos altos (WEINECK, 2003) para neste caso alcançar o planejamento das duas competições principais no calendário dos atletas para 2017. O treinamento será portanto, subdivido em 2 fases ou ciclos que podem se repetir 2 a 3 vezes no ano, as referidas fases são respectivamente o período preparatório, onde o objetivo é a boa forma do atleta, seguido do período de competição que objetiva o desempenho adicional da forma esportiva ou a otimização das valências físicas, técnicas e estratégias para a competição, e por fim o período de transição que abarca a recuperação e regeneração ativa das condições físicas e da perda da forma esportiva.

Seguindo o proposto por Weineck (2003) e adaptado com o proposto por Bompa e Haff (2012), utilizaremos a montagem do ciclo anual em oito períodos ou macrociclos onde os quatro primeiros macrociclos serão apresentados no quadro 1, e em tese, semelhante aos quatro macrociclos finais:

 

  1. Treinamento geral: Esta fase é caracterizada pelos exercícios inespecíficos que contribuem para o desenvolvimento físico geral do atleta, estes exercícios desenvolvem força, flexibilidade, mobilidade, aptidão aeróbia e capacidade anaeróbia. Esta fase irá assentar as bases para o treinamento posterior e tem foco no desenvolvimento multilateral do atleta (BOMPA; HAFF, 2012).
  2. Adaptação: Esta fase de treinamento é caracterizada por expor estímulos estressores de volume (quantidade) e intensidade (qualidade) variados. O objetivo é aumentar progressivamente e sistematicamente a intensidade, o volume de carga e a frequência do treinamento (BOMPA; HAFF, 2012).
  3. Período preparatório: Durante 6 semanas, todos os elementos de capacidade motora serão trabalhados em subfases de forma geral e específica (WEINECK, 2003).
  4. Período de competição: Nas 6 semanas estabelecidas para este período, o treinamento irá visar os métodos escolhidos pelo treinador, voltados a capacidade anaeróbia de força de alta intensidade (com método de sobrecarga) visando o desempenho máximo (WEINECK, 2003).

   Quadro 1 - Primeira fase da proposta metodológica anual

             Fonte: o autor, com base em BOMPA; HAFF (2012), Platonov (2008) e Weineck (2003).

 

O quadro 2, mostra os macrociclos de 5 a 8:

 

  1. Período de recuperação: Durante o período de 6 semanas que correspondem a fase de recuperação, ocorrerá perda de preparo físico, isto porque nesta fase há redução da intensidade do treinamento e por isso a recuperação deve ser ativa e estimulada através de outros esportes que promovam o equilíbrio entre a queda muito intensa do desempenho e a manutenção do preparo físico, por isso por exemplo, tenta-se incluir jogos mais amenos que o usual, como a inclusão do futebol no treinamento para que o estimulo lúdico promova um menor estresse durante a recuperação do atleta. Cada período ou macrociclo será organizado em microciclos específicos para cada etapa de treinamento (WEINECK, 2003).
  2. Período preparatório II: A segunda fase preparatória é mais curta que a primeira durando aproximadamente 1 mês, com uma subfase geral muito curta, e a maior parte do treinamento sendo executada na subfase preparatória específica (WEINECK, 2003).
  3. Período de competição II: Mais longa que a primeira fase de competição, cerca de 3 meses, esta pretende levar o atleta a um pico mais alto de desempenho (WEINECK, 2003).
  4. Período de recuperação II: Tem uma duração de aproximadamente 1 meses e meio e tem o intuito de recuperar o atleta. Esta fase se liga ao próximo plano anual (WEINECK, 2003).

 

  Quadro 2 - segunda fase da proposta metodológica anual

 Fonte: o autor, com base em BOMPA; HAFF (2012), Platonov (2008) e Weineck (2003).

 

            Cada fase foi dividida em microciclos que são as menores unidades do processo de periodização. Os microciclos são caracterizados pelas sessões de treinamento e podem ser variáveis em período de acordo com a quantidade de sessões totais, normalmente totalizando entre 1 a 4 semanas de treinamento, variando de acordo com a capacidade a ser trabalhada. Os objetivos a curto prazo são conquistados de microciclo á microciclo, como a melhora em alguma técnica mais simples, correção de posicionamento, melhora da capacidade física entre outros. O ajuste da intensidade e volume de treinamento é fundamental nessa fase para se alcançar os resultados esperados sem que haja contratempos (WEINECK, 2003). O quadro 3 é um exemplo de microciclo da fase preparatória, e caracteriza-se pela integração de múltiplos fatores de treinamento, neste exemplo as sessões são divididas em 3 horários durante o dia, e cada horário tem um objetivo diferente do outro.

            A fase de treinamento físico geral irá compreender os meses de janeiro e parte de fevereiro, e tem o objetivo de melhorar a capacidade do trabalho exercido pelo atleta em função das adaptações fisiológicas que buscam preparar o individuo para o aumento de cargas futuras, visando o desenvolvimento de todos os componentes de aptidão física.

            Em seguida nos meses de fevereiro e março, o período que compreende o treinamento será o de adaptação e este período visa preparar o atleta para as mudanças fisiológicas e os padrões necessários de movimento além dos grupos musculares necessários as atividades especificas da luta (BOMPA; HAFF, 2012).

A fase preparatória (base) compreende no planejamento os meses de fevereiro e março e é uma das mais importantes do plano anual, ela estabelece a base física do atleta e a técnica sobre a qual a fase competitiva é desenvolvida. As adaptações resultantes desta fase permitirão ao atleta tolerar o aumento da intensidade do treinamento que ocorre na fase competitiva. A fase preparatória esta subdividida em duas subfases, e a primeira subfase tem os objetivos de melhorar a capacidade física geral, as capacidades motoras exigidas pelo esporte, melhorar a técnica, familiarizar o atleta com a estratégia básica e ensinar a teoria e metodologia do treinamento especifico do esporte. Nesta fase os microciclos devem trabalhar o volume de treinamento, mas pode sim ter treinamento intensivo realizado nesta fase, entretanto não deverá exceder 40% da quantidade total de treinamento.

Na segunda parte da fase preparatória ocorrerá a transição da ênfase em preparação física para a parte em ênfase em competição. Dando ênfase as atividades especificas da luta e o trabalho total diminui em volume, mas aumenta a intensidade dando atenção aos aspectos relacionados as habilidades e aos elementos técnicos do esporte. É interessante manter um foco secundário de 20% do treinamento para exercícios que contribuam para o desenvolvimento multilateral do atleta (BOMPA; HAFF, 2012).

            A fase competitiva vai dar ênfase ao aperfeiçoamento de todos os fatores do treinamento como a melhoria das capacidades biomotoras especificas da luta, aperfeiçoamento e consolidação da técnica, elevação do desempenho ao nível mais alto de preparação, aperfeiçoamento de táticas e técnicas, ganho de experiência competitiva e manutenção do condicionamento físico especifico do esporte. Nesta fase, 90% da fase de treinamento deve dar ênfase ao treinamento ao treinamento especifico da luta (BOMPA; HAFF, 2012). Para Bompa e Haff (2012) esportes dominados por velocidade, potência e força máxima, a intensidade pode aumentar muito enquanto o volume de treinamento é progressivamente diminuído. Dividir a fase competitiva em duas subfases, uma principal e outra de estabilização e polimento, esta ultima ira estimular uma supercompensação do desempenho que aumentará o desempenho potencial do atleta durante a competição. Esta subfase irá durar 14 dias, a literatura contemporânea sugere que se diminua o volume e se mantenha a intensidade e manutenção do volume. Nesses últimos 14 dias, somente um pico de intensidade e volume deverão ser mantidos, visando reduzir a fadiga e o estresse enquanto se mantem o preparo e se mantem as adaptações fisiológicas estabelecidas (BOMPA; HAFF, 2012). Nesses 14 dias, Bompa e Haff (2012) sugerem dois microciclos, um precedente a competição e outro visando a competição principal. Na segunda feira e terça feira da primeira semana, a intensidade não ultrapassará os 65% de intensidade e 55% de volume, aumentando para 70% e 60% respectivamente na quarta feira, diminuindo na quinta feira para 50% e 40% e aumentando na sexta feira a intensidade para 70% novamente sem mexer no volume treinado na quinta feira. No sábado volume e intensidade não ultrapassarão os 50%, mas no domingo ocorrerá o pico de treinamento onde volume e intensidade deverão estar em 100%. Na ultima semana então iniciaremos o polimento do atleta visando diminuir o estresse fisiológico caracterizado pela redução da carga do treinamento antes da competição. Na segunda feira o microciclo deverá seguir com um treino de 50% para intensidade e volume, na terça feira o treino de intensidade aumenta para 65%, mas o volume diminui para 40%, passando a 50 e 30% respectivamente na quarta feira, 40% e 30% na quinta feira e 30 e 20% na sexta feira (no caso de a competição ocorrer no sábado e domingo onde se espera do atleta o uso dos 100% de suas capacidades.

Nos últimos 3 a 7 dias que antecedem a competição chamamos de período de polimento. Durante essa fase os aspectos trabalhados darão mais importância a preparação dos aspectos táticos com as informações mais recentes a respeito dos adversários visando especificamente as estratégias a serem utilizadas na competição.

            Após períodos longos de treinamento e preparação, fadiga fisiológica pode se acumular, é necessário então um período de transição para ligar planos de treinamento anual de ciclo duplo, este período irá preparar o atleta para a fase preparatória através da recuperação completa, algumas vezes essa fase é chamada de férias, irá ajudar na recuperação biológica, mantendo um nível aceitável de preparação física geral (40% - 50% da fase competitiva). Nesta fase o treinamento deverá ter todos os fatores controlados com a carga reduzida e centrada no treinamento geral do atleta. Esta fase deve durar entre 2 a 4 semanas, aqui utilizaremos 2 semanas devido a proximidade para a segunda competição anual. Sob condições normais a fase de transição não deverá ultrapassar 6 semanas e não podemos confundir com férias.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Nos últimos tempos o treinamento desportivo passou por importantes mudanças que contribuíram para melhorar os resultados obtidos pelos atletas que se submeteram a treinamentos baseados no conhecimento cientifico esportivo, os atuais métodos de treinamento seguem protocolos e organizações estruturais voltadas a manipulação de variáveis para se evitar atingir um platô bem antes do potencial individual ter sido alcançado pelo atleta. Ao considerar o estudo bibliográfico realizado em torno do Kung Fu Sanda, verifica-se que a literatura especializada na área específica é muito escassa e a mesma não permite concluir de forma decisiva qual o melhor método para o planejamento do treinamento para atletas do Sanda. No entanto é possível responder a esta pergunta utilizando estudos com modalidades de características similares em valências físicas, técnicas e táticas da luta. Por assim dizer, as tendências organizacionais de outras modalidades e de metodologias de treinamento genéricas podem ser adaptadas a preparação do lutador de Sanda. De forma geral, os ciclos e toda a periodização do treinamento pode ser planejado através dos estudos existentes na literatura, o seu conteúdo teórico é suficiente para nortear todo o processo de organização do treinamento em diversos tipos de lutas e não é diferente quando tratamos do Kung Fu Sanda. Entretanto, os microciclos técnicos e táticos precisam de estudos específicos com a modalidade, ficando claro que a pouca literatura sugere comparações com Boxe, Judô e Muai Thai a fim de nortear o trabalho com esportes que possuam proximidade em suas características especificas no intuito de formalizar o uso de conhecimentos científicos para o treinamento dos atletas.

            Apesar de o estudo se manter na preparação referente a performance física, outros fatores devem fazer parte do ciclo até a competição para que se alcance o máximo de sucesso na jornada de treinamentos. A saber, é de suma importância o trabalho psicológico, apoio médico e acompanhamento nutricional. Os mesmos ficaram de fora da metodologia proposta por não ser alvo dos profissionais da educação física, sendo elas, áreas especificas que devem ser estudadas e planejadas pelos profissionais e adequadas pelos mesmos.

Espera-se com a contribuição deste estudo, mostrar a importância da organização metodológica do treinamento aos treinadores do Kung Fu Sanda. Incentivando e desafiando aos mestres e treinadores a serem menos empíricos em seu planejamento e que possam pensar de forma cientifica em suas práticas diárias de treinamento.

 

REFERÊNCIAS

 

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