24/11/2020

Racismo Culposo

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Assim como nefastamente contra as mulheres foi cunhado o termo estupro não culposo, podemos perceber que também pode-se cunhar o termo racismo não culposo.

            Tal eufemismo pode ser usado para ressaltar que no Brasil não existe racismo, como foi dito por um de nossos representantes políticos

Beto Freitas foi vítima de ato insano e que representa a mais pura falta de humanismo.

A morte deste cidadão, pais de família, filho, amigo, esposo, representa a morte de muitos assim. Tal ato apresentou-se a personificação de uma elite mentirosa a impor falácias que não cabem a nossos cidadãos.

Em um discurso mentiroso ouve-se a frase "sou daltônico, todos têm a mesma cor", frase esta que representa a mais pura hipocrisia, já que da mesma boca, tempos atrás, ouve-se como resposta sobre o filho namorar uma mulher negra, o seguinte:  "Não corro o risco de ter uma nora negra porque meus filhos foram bem educados"

O racismo é cruel, pois dizima vidas, sonhos e dignidades e não é representado somente com os negros, mas também com nossos índios.

Realmente o Brasil não é racista, porque seria inconcebível ser racista em um país tão rico em cores, raças, culturas e crenças.

É um absurdo ouvir de um parlamentar que foi  presidente da comissão de Direitos Humanos e Minorias a fala de que “Não tenho nenhum tipo de preconceito. Na minha secretaria, vou atender negros e gays como se fosse qualquer pessoa normal”, não tem aí nenhum racismo, ou de um outro político a fala “os negros já estão quase brancos, estão saindo com loira, estão comendo em restaurantes…”

Enfim, o Brasil precisa reconhecer que sim, existe muito racismo em nosso país e o pior ainda, existe racismo até entre instituições negras com representantes negros que querem impor até um selo não racista[1].

Quando as escolas ensinarem a seus alunos que fazemos parte de um país multirracial e cultural e que é inadmissível qualquer comportamento racista, teremos uma forma de fazer valer a justiça social, valorizando assim as diferenças e produzindo uma equidade.

No Brasil não existe o racismo, mas é um país que ocupa a 141ª colocação no ranking da igualdade feito pelo Banco Mundial, na frente de apenas 13 países. 

O descaso com os negros e índios é ressaltado pela assimetria entre as escolarizações o que é refletido na diferença social.

Em um pais declarado sem racismo, a média mensal de salários mínimos dos brancos é de 3,4, a dos "pretos e pardos" é de apenas 1,8.

No Brasil realmente não era para ter racismo, desde que fizesse valer a Constituição Federal de 1988, dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos já que consta no Art. 5.º que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza".

A diferença social é tão gritante que em 10% da população com os maiores rendimentos no Brasil, 8 a cada 10 são brancos, em contrapartida, os 10% mais pobres tem o valor invertido, ou seja, 8 a cada 10 são negros.

Realmente o Brasil é um país que não tem racismo, os políticos não são corruptos, a educação pública é de qualidade e a saúde pública é representada pela qualidade e presteza.

Por isso precisamos trabalhar mais e melhor a educação, para que pessoas assim não nos representem e para que um ida, o parágrafo anterior não seja um sarcasmo e sim uma realidade.

 

[1] Para informações vide http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/selo-nao-racista

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×