Realidade do Idoso no Brasil na Perspectiva da Saúde1
Realidade do Idoso no Brasil na Perspectiva da Saúde1
Tamires Moraes Ferreira2
Edilma Cotrim da Silva3
Resumo
O estudo reavalia as consequências sociais e, particularmente, da saúde, decorrentes da ampliação do número de idosos no Brasil em um curto período. Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 1998 e 2003. Conclui-se que a política pública brasileira, para o idoso, deveria priorizar a manutenção da capacidade funcional dos idosos, com acompanhamento das condições de saúde, com ações preventivas e diferenciadas de saúde e de educação, com cuidados qualificados e atenção múltipla e integral.
Palavras chaves: Idoso, saúde e perspectiva
Abstract
The study re-evaluates the social and particularly health, resulting from increasing the number of elderly in Brazil in a short period. We used data from the National Household Sample Survey, 1998 and 2003. We conclude that the Brazilian public policy for the elderly, should prioritize the maintenance of functional capacity of older people, with monitoring of health conditions, with different preventive and health and education, with skilled care and attention and multiple integral.
Keywords: Aging, health and outlook
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1. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem.
2. Graduandos em Enfermagem da Faculdade de Guanambi em 2012.1.
3. Orientadora do trabalho e professor assistente da Universidade do Estado da Bahia
Introdução
O estudo reavalia as consequências sociais e, particularmente, da saúde, decorrentes da ampliação do número de idosos no Brasil em um curto período. Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 1998 e 2003. Conclui-se que a política pública brasileira, para o idoso, deveria priorizar a manutenção da capacidade funcional dos idosos, com acompanhamento das condições de saúde, com ações preventivas e diferenciadas de saúde e de educação, com cuidados qualificados e atenção múltipla e integral.
Atualmente, chegar à velhice é uma realidade vigente mesmo nos países mais pobres. Ainda que a melhora substancial dos parâmetros de saúde das populações observada no século XX esteja longe de se distribuir de forma igual nos diferentes países e contextos socioeconômicos, envelhecer não é mais privilégio de poucos.
O envelhecimento populacional é uma realidade do mundo e, no Brasil, presenciamos isso de forma rápida, pois em 1980 o país era chamado de jovem e hoje estudos apontam para uma perspectiva onde há uma indicação que, em 2020, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, com um contingente superior a 30 milhões de pessoas. 1
Essa realidade torna-se muito preocupante pois é um momento delicado para gestores e dos sistemas de saúde, com repercussões para a sociedade como um todo, especialmente num contexto de acentuada desigualdade social, pobreza e fragilidade das instituições.
O cenário se torna mais complexo quando se observa que, simultaneamente à carência geral de recursos, há dois segmentos etários, idosos e jovens, demandando programas específicos e recursos públicos, bem como habilidade, criatividade gerencial e capacidade de inovação para administrar a escassez por parte dos gestores.
O Brasil hoje é um "jovem país de cabelos brancos". A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças crônicas e alguns com limitações funcionais. Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um cenário de mortalidade próprio de uma população jovem para um quadro de enfermidades complexas e onerosas, típica dos países longevos, caracterizado por doenças crônicas e múltiplas que perduram por anos, com exigência de cuidados constantes, medicação contínua e exames periódicos.
Realidade apresentada
Quando se pensa na elaboração de uma nova política de cuidado para o idoso baseada na qualidade de vida, é de extrema importância que se pense em seu funcionamento vital, isto é, a capacidade de se manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e autônoma. A maioria das doenças crônicas dos idosos tem seu principal fator de risco na própria idade. No entanto, esta longevidade não impede que o idoso possa conduzir sua própria vida de forma autônoma e decidir sobre seus interesses.
Segundo MINAYO (2000) Esse idoso, que mantém sua independência e autodeterminação, capacidade de o indivíduo poder exercer sua autonomia, deve ser considerado um idoso saudável, ainda que apresente uma ou mais doenças crônicas.
As diretrizes básicas da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa são bons exemplos das preocupações com a promoção do envelhecimento saudável, com a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, com a prevenção de doenças, com a recuperação da saúde dos que adoecem e com a reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida. Constituem diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa:
a) promoção do envelhecimento ativo e saudável; b) atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa; c) estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção; d) provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa; e) estímulo à participação e fortalecimento do controle social; f) formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa; g) divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS; h) promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa; e i) apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.
Do ponto de vista de saúde pública, este conceito é o mais adequado para se estruturar e viabilizar uma política de atenção à saúde do idoso. Portanto, todas as iniciativas de promoção de saúde, de assistência e de reabilitação em saúde devem ter como meta aprimorar, manter ou recuperar a capacidade funcional do indivíduo pelo maior tempo possível, valorizar a autonomia e a independência física e mental, excedendo um simples diagnóstico e tratamento de doenças específicas.
A dependência, física ou mental, é um fator de risco importante para mortalidade, mais até do que as próprias doenças que levaram à dependência, uma vez que nem toda pessoa doente se torna dependente. Assim, devem ser estabelecidas novas prioridades e ações de saúde que deverão nortear as políticas de saúde contemporânea. (CARVALHO. 2002. Pg56)
O envelhecimento da população não pode ser uma preocupação individual. Promover o bem-estar dos idosos é mais que uma tarefa do Estado. É o reconhecimento de toda a sociedade àqueles que contribuíram e ainda contribuem para a construção deste País.
Legalmente encontramos um país com sua população idosa bastante amparada, mas os dados estatísticos tem demonstrado que a prática do cotidiano difere muito das obrigatoriedades da Lei.
O guia “Idoso – Cidadão Brasileiro” reúne as principais ações e programas que são mantidos, patrocinados ou apoiados pelo Governo Federal, direcionados à pessoa idosa. Muitas dessas ações atendem ao que é previsto no Estatuto do Idoso. Não muito distante dos nossos olhos percebemos tratamentos desumanizados para com estes.
Os estudos traçam um perfil dos idosos brasileiros e mostram que eles convivem com medo de violências, falta de assistência médica e de hospitais e poucas atividades de lazer, além da preocupação com recursos financeiros baixos (PNAD pg: 11,18,19).
É somado a isso a o preconceito e o desrespeito aos cidadãos da terceira idade.
Diante do apresentado fica evidente a necessidade de uma urgência nos tratamentos dispensados à pessoa idosa. As propostas em voga se mostram ineficientes e de alto custo. Cabe portanto um novo redimensionamento nos novos métodos de planejamento e gerência, pois a prestação dos cuidados pedem novas formas com propostas de ações diferenciadas, de modo que a logística do idoso ganhe eficiência e este possa usufruir da sua velhice.
No Brasil, os esforços ainda são pontuais e desarticulados. Recentemente, o Ministério da Saúde incluiu a saúde do idoso como item prioritário na agenda de saúde do País, promulgando uma nova política nacional de saúde da pessoa idosa que objetiva, no âmbito do SUS, garantir atenção integral à Saúde da população idosa, enfatizando o envelhecimento saudável e ativo baseada no paradigma da capacidade funcional, abordada de maneira multidimensional. (MINAYO (2000 p.65)
Estatisticamente os Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD (IBGE 2009) mostra que o efeito prático ainda não foi observado. O peso assistencial ainda é preponderante e o notável grau de desarticulação dentro do sistema de saúde dificulta a operacionalização de qualquer lógica baseada em uma avaliação capaz de abranger os múltiplos aspectos da vida do idoso
O termo multidimensional aparece através da Organização Mundial de Saúde (OMS), com o nome de "Envelhecimento ativo: Este documento tornou-se um manual necessário para elaboração de políticas interventivas." Cumprir o proposto no texto é um grande desafio para a humanidade presente e futura.
A OMS recomenda que políticas de saúde na área de envelhecimento levem em consideração os determinantes de saúde ao longo de todo o curso de vida (sociais, econômicos, comportamentais, pessoais, culturais, além do ambiente físico e acesso a serviços), com particular ênfase sobre as questões de gênero e as desigualdades sociais.
Diante dessa assertiva fica claro que é imprescindível uma reestruturação dos sistemas de atendimento à pessoa idosa.
Para tanto há de se pensar um modelo de atenção à saúde do idoso que pretenda apresentar efetividade e eficiência. Tornando necessário aplicar todos os níveis da prevenção e possuir uma forma ampliada de ações de educação, de promoção à saúde, de prevenção de doenças evitáveis, de retardamento de moléstia e de reabilitação de agravos. Deste modo, deve existir uma intervenção que esteja incluída a possibilidade de tratamento de patologias não geriátricas tendo um foco futuro que é o cuidado geriátrico.
Políticas de promoção e prevenção de saúde têm provado efetividade em todo o mundo. Estudos internacionais mais recentes confirmam estas tendências e apontam uma redução na disfuncionalidade entre os idosos. Temos, assim, um cenário de uma população idosa mais saudável, a despeito das conseqüências que o processo de envelhecimento da população acarreta no que diz respeito ao aumento das doenças crônicas e à maior necessidade de atendimento de saúde da população que envelhece e que vive, cada vez mais, até idades mais avançadas (CARVALHO 2002. PG.43).
De acordo com documentações estudadas, desde 1998, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem, a cada cinco anos, incluindo o Suplemento de Saúde na PNAD. A amostra desta pesquisa foi traçada para ser representativa da população brasileira e se constitui na mais ampla fonte de informação de saúde disponível no País. As amostras referentes aos anos 1998 e 2003 foram compostas, respectivamente, por 28.943 e 35.042 pessoas de 60 anos ou mais.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD
De acordo com CARVALHO (2002. Pg.75) Muitos idosos apresentam múltiplos problemas coexistentes e freqüentemente procuram inúmeros especialistas, sobrecarregando o sistema de saúde. Além de aumentar o custo da assistência.
Para evitar o excesso de consultas desnecessárias nos serviços de saúde é preciso, portanto, organizar uma estrutura distinta daquelas existentes para as demais faixas etárias.
Um outro grande problema do modelo assistencial são a insuficiente identificação e a precária captação da clientela, que deveriam seguir o critério da severidade.A falta de um sistema estruturado faz com que, em geral, o primeiro atendimento ocorra em estágio avançado de uma patologia, o que aumenta os custos e reduz as possibilidades de um prognóstico melhor.
Outra questão está na abordagem médica tradicional, focada em uma queixa principal. O hábito de reunir todos os sintomas e sinais em um único diagnóstico certamente não se aplica aos idosos, que geralmente apresentam doenças crônicas e múltiplas.
Os dados da PNAD mostram que o número de consultas se amplia (Figura 1) à medida que a população envelhece e os idosos possuem mais doenças crônicas. Mais consultas levam a maior consumo de medicamentos, mais realização de exames complementares e maior hospitalização. A grande diferença é que as doenças da faixa jovem são agudas e, portanto, de custo menor, enquanto as dos idosos são crônicas e de alto custo.
De acordo com o levantamento da PNAD sobre a saúde da população idosa no Brasil é possível afirmar que houve, entre o período de 1998 e 2003, um quadro melhor apresentado das condições de saúde das pessoas a partir de 60 anos.
Mudança justificada por melhoria da tecnologia médica, maior acesso aos serviços de saúde, mudanças comportamentais, aumento do nível educacional e do status socioeconômico dos idosos, consequência dos programas sociais de transferência de renda focados nos mais pobres, como a ampliação do programa Bolsa Família, a aposentadoria rural e o aumento do valor do salário mínimo entre outros.
Confirmando isso é possível visualizar mediante as informações da PNAD, elas mostram uma redução drástica na proporção de idosos nos grupos de renda mais baixa, que era de 21,5%, em 1993, entre os idosos com renda familiar de até meio salário mínimo per capita, para 12,5% em 2003.
Cabe destacar e desmistificar frente as pesquisas da PNAD também, a idéia de insatisfação dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao avaliar o atendimento recebido, a maioria dos idosos aprova o serviço prestado, e apenas 2,9%, no ano de 1998, e 3%, em 2003, acham o seu funcionamento ruim ou muito ruim (Figura 2).
Considerações Finais
Diante dos dados ofertados da PNAD é esperado que sirvam para estimular o setor saúde a efetivar um planejamento mais contemporâneos, que oferecessem maior possibilidades e de custo mais adequado do os apresentados nos modelos atuais.
Tornando evidente que é grande o contingente de pessoas idosas não fragilizadas, com boas condições de saúde, a maioria em idade mais avançada e com renda, em média, superior ao conjunto da população, seria possível pensar uma ação objetivando a manutenção da capacidade funcional, em programas de prevenção, detecção precoce de doenças, no controle das doenças crônicas, no sistema do médico de família, entre outras.
A busca deve ser no sentido de desenvolver estratégias que visem adiar a morte ao máximo possível, retardando a evolução das doenças, a fim de levar a vida para o limite mais próximo possível do máximo da existência da espécie humana, mas com qualidade de vida, com autonomia e independência, ou seja, com capacidade funcional.
Referências Bibliográficas
bvsms.saude.gov.br. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.
Carvalho JAM, Garcia RA. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico. Cad Saude Publica 2002.
LIMA, Manolita Correia. A Engenharia da Produção Acadêmica. São Paulo: Unidas, 1997.
MINAYO Maria Cecília de Souza. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciênc. saúde coletiva vol.5 no.1 Rio de Janeiro 2000
portal.saude.gov.br . PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006.
www.ibge.gov.br – Acessado em 10 de maio de 2012 as 14.0hs