10/05/2016

REFERÊNCIAS

Dênio Mágno da Cunha*

Volta e meia, todos os dias, a toda hora e cada vez mais, me compreendo como um ser histórico. O que gera uma série de interpretações.

Um sujeito que faz a sua própria história e age na mudança de seus rumos na vida, pelo pouco que conheço da teoria social, é um ser histórico, um agente da mudança histórica; quando passamos a ter lembranças de algo acontecido, tendo histórias para contar, somos históricos; ao valorizarmos os aspectos do passado daquilo que nos rodeia – país, planeta, mundo – estamos sendo históricos. E por aí vai. Podemos dizer então: mesmo sem perceber, somos antes de tudo, históricos e historiadores.

Essa abordagem ganha mais sentido quando somos professores e alunos.

Tenho o hábito de fotografar meus alunos ao fazerem provas. Esses momentos, passado uma semana, já ganham contorno de memória, vira história. E eles, que acham engraçado um professor tirar fotos de um momento tão comum, percebem o quanto é importante essa postura de preservação do instante. Inicia ali o movimento da preservação da história nacional. Alguém, no futuro, olhará a foto de uma turma fazendo prova e poderá dizer: olha que bacana! Percebe como eles seguravam as cabeças quando faziam provas?

O motivo dessas observações (e inspiração) veio de uma de minhas alunas. Fugindo do lugar comum dos e-mails que recebo, ela me enviou o seguinte texto, transcrito na íntegra e sob autorização:

Nossa professor! Estou chorando ao fazer seu trabalho, é emocionante conhecer a história de pessoas que arriscaram tudo e foram atrás de seus sonhos, especialmente porque é o que estou fazendo no momento também. (Priscilla Andrade, Curso de Estética e Cosmética, Una Barro Preto)

Ela fazia referência a pesquisa sobre figuras históricas da Estética e Cosmética: Helena Rubinstein, Max Factor, Florence Natingale e Heloisa Assis.

Essa manifestação foi um alerta para o erro que podemos cometer ao relevar a História a um lugar perdido no passado. Ao contrário, como pode ser observado, a história não é passado, é presente - deve ser cada vez mais presente -, dando a nossos alunos (tão desmemoriados, tão ignorantes quanto a seu passado), a referência que necessitam para se identificarem com o momento em que estão vivendo.

O significado desta postura a favor da História, ciência, é a multiplicação do conhecimento, da capacidade argumentativa, da valorização profissional e pessoal de nossos alunos como sujeitos históricos.

Quando Priscilla percebe-se identificada com o esforço dispendido por Helena, Max, Florence e Heloisa, ela constrói a sua própria referência profissional, torna-se um ser possuidor de consciência do papel que tem no mundo. Isto vale para qualquer aluno, de qualquer outra área do conhecimento. Algumas, como a Medicina, a Arquitetura, a Pedagogia, já consagradas pela valorização que dão a sua história.

Ao final, a pergunta sobre o quanto os professores e alunos valorizam a História em sala de aula. Tenho certeza (palavrinha complicada) que a qualidade da aplicação do conhecimento, o interesse pelos estudos e a consciência profissional sofrerão variação positiva, tanto mais se traga para o presente aquilo que era relegado ao passado.

Agradeço a Priscilla pelo movimento tão raro de demonstrar o sentimento que a educação e o conhecimento desperta em nós. Raridade, raridade, raridade. Momento histórico.

* Professor: MBA Carta Consulta. Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba.

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