REPROVAÇÃO.
Dênio Mágno da Cunha*
Final de semestre. Uma professora amiga diz que essa é a época do “choro e do ranger de dentes”, do sofrimento. Não deveria ser. Durante o semestre, desde seu início, a questão central é a capacidade e o nível de aprendizagem do aluno: os resultados alcançados em termos de pontuação.
Se o acompanhamento feito pelo aluno e pelo professor apontam para resultados negativos, há de se buscar uma forma de melhoria. Porque os resultados não estão sendo aqueles esperados/desejados? Qual a forma adequada para que a lacuna do conhecimento seja preenchida? Alunos que se preocupam em responder estas perguntas, conseguem se recuperar e com certeza terão o apoio do professor.
Infelizmente a postura proativa em busca da recuperação do conhecimento perdido ou não adquirido, nem sempre acontece. Existe uma expectativa que os resultados melhorem por si só, havendo naturalmente uma recuperação nas próximas avaliações. Há uma postergação de frustração.
Quando este resultado não vem: acontece o “choro e o ranger de dentes”. Concluo que o motivo principal para a situação de reprovação é a má gestão do aprendizado por parte do interessado maior.
Falo desta forma porque o professor embora seja responsável pelo desempenho de seu aluno, nem sempre tem condições de oferecer um programa de recuperação especial, individualizado. Como diz uma outra professora a seus alunos: “sou responsável por 50% do esforço de seu aprendizado, você é responsável pelos outros 50%”.
Falando da minha história como professor, os casos de alunos meus que foram reprovados foram todos ocasionados por essa má administração. Numa situação recente, o aluno havia faltado às aulas de forma excessiva; os resultados da primeira avaliação haviam sido abaixo da média; durante o semestre não houve ação proativa em busca da recuperação da aprendizagem. Na prova especial, aquela segunda chance dada para ver se houve (de repente) uma recuperação da aprendizagem, esse aluno conseguiu alcançar os mesmos resultados das avaliações anteriores, comprovando que não era por acaso que estava ali.
Sou totalmente solidário e sensível a situações como esta (de ameaça de reprovação), mas fico aliviado quando vejo que o aluno de fato não tinha conhecimento suficiente para alcançar o desempenho mínimo. Significa que do ponto de vista da avaliação não fui injusto. E como diz ainda outro professor: “o aluno reprovou-se a si mesmo”.
É claro que não deixo de observar os aspectos mais profundos das questões que envolvem a aprendizagem, da qual a pontuação alcançada é indicador e não explicação.
Sobre esse assunto é necessário uma conversa mais longa pois envolve a metodologia de ensino (1); a proximidade/afinidade do aluno com o conteúdo (2); a qualidade dos instrumentos de avaliação (3); a percepção por parte do aluno da pertinência do conteúdo para sua formação (4); o ambiente de estudo (5); a qualidade do relacionamento professor-aluno (6); a qualidade do relacionamento do aluno com os demais (7) e finalmente, (?) as demais condições que impactam o desempenho de qualquer pessoa, em qualquer situação ou seja, a sua condição de vida extraclasse (8).
Sobre este último aspecto, tive um aluno que abandonou o semestre faltando 2 semanas para o seu final. Desapareceu. Procurei informações. Os amigos disseram que ele passou a faltar em todas as disciplinas. Enviei e-mail – ele estava devendo dois trabalhos que se entregues garantiriam mais do que o mínimo necessário para vencer aquela etapa; nada. Propus que enviasse os trabalhos na forma digital, ao contrário dos demais: nada. Mistério. Abri o diálogo várias vezes, mas nada. Provavelmente uma tragédia deve ter acontecido na vida do aluno. O imponderável o reprovou.
Mesmo passando por situações dessa natureza, houve aqueles que buscaram formas de administrar e conciliar estudos com as dificuldades e ao final alcançaram o resultado positivo. Assim, nós professores devemos saber que “há vida lá fora”, e ela impacta diretamente a vida dentro de uma sala de aula.
Como observação final a reafirmação da permanente necessidade de professores aperfeiçoarem os instrumentos de forma a acompanharem mais “de perto” a evolução da aprendizagem do aluno, incluindo a proximidade no relacionamento como instrumento de abertura e manutenção do diálogo de forma contínua. E por parte do aluno, com a ajuda do professor, o estabelecimento de uma gestão da aprendizagem de forma proativa, gerencial, com metas claras e correções de rumo.
Não menciono aqui os “professores amigos”, que dividem o bar e as festas com seus alunos, pois essa é uma discussão que iria longe: há controvérsias e é preciso muito talento para administrar essa proximidade. Conheço professores que têm talento para isso e alcançam ótimos resultados com a sua equipe. Assim como o oposto também alcançaria os mesmos resultados. Mas é assunto para outra coluna.
Os temas aqui abordados são demasiadamente amplos para este espaço, mas não poderia deixar de mencioná-los como forma de despertar em professores e alunos a atenção para o momento da reprovação. A intenção é sempre fortalecer a aprendizagem através do debate das questões do rico mundo da sala de aula. Até a próxima.
* Professor em Carta Consulta e Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba. Acredita que o diálogo é fundamental para a aprendizagem.