10/08/2022

Revisitando estudos sobre educação no campo: análise descritiva sobre os estudos da educação campesina no campus XII da Universidade do Estado da Bahia

    Revisitando estudos sobre educação no campo:  análise descritiva sobre os  estudos da educação campesina no campus XII da Universidade do Estado da Bahia1

                                                                                                   Edilma Cotrim da Silva2

                                                                                                  Marinalva Nunes Pereira3

 

                                                                                     

 RESUMO:

 

 O estudo tem por objetivo mapear pesquisas realizadas na última década, com temas relacionados a educação do campo  e as políticas públicas que visam diminuir as disparidades educacionais no Brasil, mais precisamente voltadas para a educação no campo. Para a produção do presente do artigo, recorreu-se a quatro estudos realizados por pesquisadores do Campus XII – UNEB, vinculados como docentes desta instituição e pertencentes à linha de pesquisa sobre educação do/no campo, encontrados  nos repositórios das universidades onde efetivaram seus trabalhos.  O material a ser revisitado consta de duas teses e estas elegem os jovens como sujeitos dos seus estudos e duas   monografias, uma   com destaque   para os jovens  campesinos e a outra para as

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  1. Artigo para cumprimento de estudos realizados durante a licença sabática de 02/02/2022 a 02/08/2022.
  1. Professora do Campus XII – UNEB – Mestra em Educação e Pesquisa
  2. Professora orientadora do estudo - Doutora em Educação pela UFG- Profa. Adjunta da UNEB

 

https://orcid.org/0000-0002-2905-6054

 

práticas educativas e os processos formativos como objeto de estudo. Por pertencer a linha de pesquisa Educação do/no campo, a análise descritiva acerca do tema ganha sentido avaliativo para questões denunciadas e anunciadas nas perspectivas de outras buscas e averiguação que possam permitir possíveis conquistas e produções de novos conhecimentos.

 

   Palavras-chave: Jovens campesinos. práticas formativas. Educação no/do campo

 

Summary:

 

 The study aims to map research carried out in the last decade, with topics related to rural education and public policies that aim to reduce educational disparities in Brazil, more precisely focused on rural education. For the production of the present article, four studies were carried out by researchers from Campus XII - UNEB, linked as professors of this institution and belonging to the line of research on education in/in the field, found in the repositories of the universities where they carried out their work. . The material to be revisited consists of two theses and these elect young people as subjects of their studies and two monographs, one with emphasis on young peasants and the other on educational practices and training processes as an object of study. As it belongs to the Education of/in the field research line, the descriptive analysis on the subject gains an evaluative sense for issues denounced and announced in the perspective of other searches and investigation that may allow possible achievements and production of new knowledge.

 

Keywords: Young peasants. formative practices. Education in/from the field

 

 

Introdução

 

A luta pela educação do campo ganhou força a partir de 1997, através do I ENERA “Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária”, promovido pelo MST “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”. No ano seguinte, aconteceu a “I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo”, que motivou essa população a defender políticas públicas de reforma agrária e a garantia à Educação do Campo de forma a promover a instrumentalização e o desenvolvimento de uma nova sociedade (CALDART et al., 2002, p. 11).

 

Já dizia Althusser, a escola é o aparelho ideológico do Estado que está presente durante a maior parte da vida dos indivíduos, tanto pela quantidade de horas diárias passadas em seu interior, quanto pela duração, que vai desde a primeira infância, a juventude e a fase adulta. Acentuando ainda ma em  tempos de crise, neste interregno,  enquanto os trabalhadores e suas organizações buscam sustentar os avanços em termos de direitos adquiridos, os que subalternizam a economia, aproveitando para impor as suas ideias, assegurar a ampliação de seus ganhos e legitimar as perdas por parte da força de trabalho.

 

O ataque praticado pelo governo central, após o golpe de 2016 e pelo capital contra os direitos sociais, conta ainda com a tática de desmobilização da classe trabalhadora com a individualização das relações de trabalho enquanto subsunção do trabalho ao capital e na criminalização das organizações de luta dos camponeses, indígenas, quilombolas, povos tradicionais etc., acima de tudo facilitada pela correlação de forças, favorável ao agronegócio, que transforma a agricultura num imenso território produtor de mercadorias. O fechamento das escolas rurais, amplamente divulgado pelas pesquisas realizadas pelo próprio governo, é uma tentativa de ataque final na coluna vertebral da resistência camponesa.

 

Nesse sentido, pensar a educação rural significa elaborar formas de resistência e de luta na defesa da escola e de sua permanência no campo, mas, que ela seja de fato significativa, que possibilite aos alunos avançar para além de seu lugar comum e que possam adquirir elementos que os instrumentalizem na compreensão da realidade em que vivem e possam, munidos de conhecimento refletido, analisar sua própria realidade e buscar alternativas para mudá-la.

 

Ainda que os estudos sobre Educação do Campo possuam uma trajetória relativamente atual, considera-se relevante acompanhar sua evolução, identificando particularidades e tendências gerais dos trabalhos desenvolvidos nas diferentes áreas do conhecimento. A Educação do Campo tem ganhado espaço em eventos na área da Educação ao longo dos anos, reconhecendo que o aumento das pesquisas nesta área demonstra um avanço.

 

O presente levantamento objetiva mostrar o cenário de pesquisas sobre educação no/do campo nos últimos dez anos no Campus XII da Universidade do Estado da Bahia em Guanambi – Ba. Considerando que um estado da arte se caracteriza por apresentar um levantamento da literatura, produzida pela comunidade acadêmica e científica, estudo que possibilita a discussão e compreensão de temas em abrangências específicas, de modo descritivo (FERREIRA, 2002), foi realizada uma pesquisa com o nome dos professores pesquisadores, pertencentes ao quadro docente da Universidade do Estado da Bahia- Campus XII e  vinculados à linha de pesquisa  educação do/no campo.

 

 

 

Uma reflexão sobre políticas públicas em educação no campo

 

A década de 1960 também foi um marco histórico na luta pela educação dos povos do campo, pois foi nesse período que os movimentos sociais e sindical se afirmaram em sua luta pela educação como direito, negando qualquer relação excludente, na qual a educação é discutida como um direito apenas da elite.

Durante o período, a educação popular foi referência nessa construção, quando, a partir de diversas experiências formativas desenvolvidas pelos movimentos sociais, destacaram-se as dimensões da formação dos indivíduos enquanto sujeitos políticos, críticos e coletivos, além de formular o sentimento de protagonista da sua história.

 

O fruto da história contada a partir da perspectiva da sociedade capitalista é que ela é formada de maneira linear, como se sua forma de vida fosse igual para todos. Porém, vale ressaltar que esta pesquisa dará centralidade a essa questão, na qual os espaços possuem suas especificidades e suas características próprias, não se individualizando, mas se completando em uma relação interdependente.

 

Benevides (2007), ao tratar da luta dos movimentos sociais e sindical do campo por uma educação do campo, destaca a motivação dos povos organizados no esforço de mudar sua realidade, afirmando-se como sujeito de direitos em um contexto de tensões para garantir políticas específicas para os povos do campo. Ressaltamos, desse modo, a democracia na perspectiva da liberdade de ocupar os espaços de lutas, como forma de expressão da soberania popular.

 

Condição forte, por estarmos em um País em que a democracia é forjada, trazendo no seu cerne a liberdade de votar e ser votado. A verdadeira democracia, o mais sólido pilar em que os trabalhadores e trabalhadoras podem se amparar, ainda não foi plenamente alcançada para que as vozes dos oprimidos sejam ouvidas, afirmando-se como sujeitos de direitos.

 

Os movimentos sociais e sindical do campo enfrentam as lutas a favor de uma educação que atenda aos anseios dos/as trabalhadores/as rurais como uma das bandeiras levantadas por esses movimentos. A educação emerge do embate social, da organização coletiva que se manifesta contra a situação de precarização e marginalidade em que vivem os povos do campo, em especial os/as trabalhadores/as rurais. Pensar a educação articulada com o projeto de sociedade que fortalece o desenvolvimento do campo é o lema dessa bandeira, entendendo a trajetória da luta dos povos do campo, tidos como um dos mais excluídos da sociedade.

 

No projeto societário dos movimentos sociais, a educação tem um papel importante na formação dos sujeitos e tem como princípio a educação plena, que possibilita o desenvolvimento de todas as dimensões dos sujeitos. Não basta ter escola, é preciso ter o projeto de escola que dialoga com a vida, com a realidade e com um conhecimento que permita os sujeitos se reconhecerem como sujeitos de direitos e sujeitos históricos.

 

Na análise dos desafios da educação do campo, na perspectiva do fortalecimento da identidade pessoal e coletiva dos/as trabalhadores/as rurais, considera-se importante ressaltar que é o conceito de educação do campo que se contrapõe ao da educação rural, tão marcada pelos interesses da classe dominante.

 

A educação do campo nasce das experiências dos educadores/as da reforma agrária, que articulam a luta pela terra e pela educação, compreendendo que a educação seja condição essencial para a transformação das pessoas. Nessa perspectiva, fundamenta-se como uma educação pautada em um projeto societário, no qual a justiça social, a igualdade de direitos e a solidariedade são pilares fundantes de sua constituição. Como

afirma o Manifesto dos Educadores e Educadoras da Reforma Agrária ao Povo Brasileiro, por ocasião do I Encontro Nacional dos Educadores da Reforma Agrária, em 1997.

A educação do campo se configura como demanda relativa à garantia do direito à educação para os trabalhadores rurais e sua luta firma-se pelo direito historicamente negado, com raízes profundas, marcadas na vida das pessoas. Nesse mesmo caminho de reflexão, Molina (2012), ao discutir a garantia desse direito, considerando os contextos históricos que apresentam outra condição, a de marginalização e exclusão, expõe:

 

 

E essa característica de construção sócio-histórica, de impermanência, da ideia de direitos e da igualdade dos seres humanos é de grande importância para a compreensão do que a educação do campo intenciona ao provocar o debate e ao lutar por Políticas Públicas no tempo histórico que vivemos. Porque a construção da noção da igualdade tem importância histórica ímpar, visto termos convivido durante muito tempo na história da humanidade com a ideia das diferenças intrínsecas entre seres humanos – por exemplo, nos séculos em que imperava o regime da escravidão (MOLINA, 2012, p. 588).

 

 

Por conseguinte, pautar a educação do campo é, acima de tudo, a construção de outro modelo de sociedade, baseado na igualdade, no respeito às diferenças e à garantia dos direitos. As disputas em torno desse bem revestiram-se de diversas formas ao longo do tempo, mas sua raiz está no processo de transformação da terra em equivalente de mercadoria e, portanto, na criação de condições para sua livre compra e venda no mercado e apropriação da renda fundiária. A mercantilização subjuga e tende a diluir outros significados dados à terra pelos que nela vivem.

 

Descrição e análise dos estudos

 

Na consulta às palavras-chave dos estudos, foi possível elencar as abordagens  nos referidos trabalhos. Nestas análises, As palavras-chave mais utilizadas nos quatro trabalhos de teses e  dissertações consultadas que tratam do tema Educação do Campo, disponível nos repositórios das instituições, onde foram realizados são as seguintes: Reforma Agrária. Projeto camponês. Jovens de assentamentos rurais. Constituição social,   Jovens da roça. Mulheres. Ensino superior. Prova. Suportes,   Educação Escolar. Juventude do Campo. Educação do Campo e   Semiárido. ASA. Práticas educativas. Contradições. Possibilidades.                                                                                             

 

Dentre os  textos consultados para a pesquisa, destaca-se a tese: Constituição social do ser jovem camponês no contexto de assentamentos da Reforma Agrária na microrregião Guanambi, Bahia (TRINDADE 2015)  que objetiva  compreender como os/as jovens de assentamentos rurais se constituem como seres sociais na condição de filhos/as de assentados/as da Reforma Agrária no contexto da sociedade capitalista em processo de expansão no campo.  A metodologia trabalhada se pautou numa abordagem qualitativa de pesquisa, utilizando os seguintes instrumentos de coleta de dados: grupo focal, entrevista semiestruturada, observação, questionário, pesquisa documental e diário de campo, considerando a perspectiva do materialismo histórico dialético nas relações contraditórias que movimentam a realidade social.

 

A estrutura textual desta pesquisa contempla um conjunto de argumentos que se interconectam, articulando o debate acerca de três grandes eixos: a) Reforma Agrária, Educação do Campo e Projeto Camponês, b) Constituição social do ser jovem do ponto de vista da família camponesa, c) Constituição social do ser jovem do ponto de vista da autorrepresentação dos/das jovens.

 

 A tese argumenta que os/as jovens se constituem como seres sociais no contexto da Reforma Agrária na base das contradições impostas pela sociedade capitalista que os/as obrigam a construírem suas trajetórias de vida e idealizarem perspectivas de futuro/vida que os/as afastam da identidade camponesa em virtude da negação ampliada de direitos aos sujeitos jovens e às famílias camponesas.

 

A pesquisa aponta que, na microrregião Guanambi a Educação do Campo ainda não conseguiu deixar marcas significativas, sobretudo no que se refere ao debate contra-hegemônico de projeto de campo, de educação e de nação; os/as jovens dos assentamentos são invisibilizados nas ações dos gestores municipais, portanto não são vistos como sujeitos de direitos. Sob a ótica da família dos/das jovens, o futuro da unidade familiar é algo incerto.

 

A ausência do Estado no contexto pesquisado e o poder do capital têm impulsionado a saída dos/das jovens do campo e a muitas famílias venderem sua força de trabalho para o capital, causando, assim, o afastamento da identidade camponesa. No entanto, sujeitos organizados do campo, estão em movimento em contraposição ao modelo capitalista de produção e apontando outras possibilidades para se construir projetos de desenvolvimento, que valorizem as trajetórias de vida do camponês.

 

O segundo trabalho, uma tese  intitulado de  Um pé na roça - outro na universidade: experiências de acesso e permanência de jovens mulheres da roça na universidade do estado da bahia (UNEB). (MARQUES 2019)  tem como objetivo principal compreender as experiências de acesso e permanência de jovens mulheres da roça na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Para isso, desenvolveu-se uma investigação empírica que partiu da Uneb como contexto do estudo e centrou-se nas jovens mulheres rurais como indivíduos da pesquisa. Para alcançar o objetivo, desenvolveu-se uma investigação empírica que partiu da Uneb como contexto do estudo e centrou-se nas jovens mulheres rurais como indivíduos da pesquisa.

 

 Ao deslocar da instituição aos indivíduos, por meio de entrevistas semiestruturadas narrativas e episódicas, a tese focaliza 17 jovens que se identificam como da roça. Essas jovens mulheres da roça e universitárias, pelas condições juvenis experimentadas que as obrigam a enfrentar desafios estruturais e ordinários cotidianos para ter acesso e permanecer na universidade, ganharam centralidade de tal modo que a Sociologia do indivíduo ou da individuação emergiu como referencial teórico-metodológico da pesquisa.

 

Decorrem desta opção, portanto, não só os instrumentos e procedimentos adotados na investigação, como também os principais operadores teóricos de análise: provas e suportes. A pesquisa identifica o Ensino Superior como uma prova estrutural na realidade brasileira e baiana que é vivida como provação nas condições interseccionadas que compõem o perfil das jovens da roça como mulheres, negras, pobres, do interior dos interiores.

 

Conclui-se que: Essas jovens, para chegarem e estarem na universidade, precisam conjugar e saber manejar o uso de suportes institucionais e por fora da instituição, assim como apoios relacionais/pessoais. O estudo conclui que as experiências universitárias das jovens da roça se dá na condição de migrantes que as coloca nos entre-lugares onde se forjam como indivíduos metonímicos, que não podem perder nenhuma oportunidade, por isso, são hiperindivíduos e insurgentes. Assim sendo, a pesquisa aponta a necessidade de se ampliarem as políticas de acesso e permanência no Ensino Superior de forma cada vez mais democrática e equitativa em universidades que sejam públicas, gratuitas e socialmente referenciadas.

 

Na dissertação: O olhar da escola sobre a juventude do campo na comunidade de MUTÃS-BAHIA: linhas que se cruzam, tessituras a se fazer (SILVA 2015) que objetivou  analisar como os profissionais da educação, de duas escolas da comunidade de Mutãs, Guanambi, Bahia, veem os jovens do campo e como isso implica na organização do trabalho pedagógico dessas instituições.

 

Para essa finalidade foi utilizado um estudo de caso fundamentado nos princípios da abordagem qualitativa, tendo como instrumentos de coleta de dados a observação participante, a analise documental, questionário e a entrevista semiestruturada. Participaram deste estudo vinte e um profissionais da educação, entre docentes e diretores(as), de duas escolas que juntas ofertam os anos finais da educação básica para os jovens da comunidade de Mutãs. Para fundamentar este estudo trabalhamos com a tríade: educação escolar e Educação do Campo, jovem do campo e o próprio campo.

 

Foi constatado que  apesar de todos os profissionais descreverem o alunado da escola, em maioria ou em totalidade, como jovens do meio rural tal fato pouco interfere na Organização do Trabalho Pedagógico das escolas, isso porque tal reconhecimento revela-se na maioria das vezes como uma identificação.

 

Notamos a presença de ações voltadas para o reconhecimento dos jovens do campo, entretanto embora algumas delas sejam extremamente ricas ainda são ações isoladas, assim evidenciamos tessituras a serem feitas, de forma coletiva e institucionalizada, pois o reconhecimento da juventude do campo esta consequentemente relacionado à outra forma de Organização do Trabalho Pedagógico da escola, uma organização que tenha a educação como direito dos povos do campo e o campo como espaço de vida.

 

Em outra dissertação com o tema: “uma andorinha só não faz verão”: limites e possibilidades das práticas educativas da articulação semiárido brasileiro na microrregião de Guanambi/Bahia (PEREIRA 2015) objetivou analisar as práticas educativas e os processos formativos da ASA na referida região, buscando compreender os limites e as possibilidades dessas ações na construção da política de convivência com o Semiárido. Optou-se por analisar as práticas educativas e os processos formativos da ASA na referida região, buscando compreender os limites e as possibilidades dessas ações na construção da política de convivência com o Semiárido.

 

Optamos pela pesquisa-ação com a finalidade de contribuir para a transformação da realidade, uma vez que o estudo é de base materialista histórico-dialética e segue a abordagem qualitativa. Para compreender a realidade concreta, realizamos observações de cursos de formação, entrevistas coletivas e individuais, análise documental, encontros com agricultores/as e monitores/as-formadores/as. Além disso, desenvolvemos uma proposta de formação com os/as monitores/as-formadores/as.

 

Conclui-se que: As contribuições apontadas referem-se à melhoria de vida na comunidade por meio da descentralização da água para consumo e produção, à garantia da segurança alimentar e, em alguns casos, também da soberania, à articulação e à mobilização social para buscar outras conquistas para a comunidade, entre outros aspectos. Quanto aos limites, percebe-se que a luta pelo acesso à terra, as relações de gênero e a educação do campo são apontadas, pelos próprios sujeitos, como temas que nem sempre são trabalhados, e, quando o são, a abordagem feita é limitada, sem enfrentamento dos problemas.

 

Outro aspecto identificado foi a ausência de uma política de formação inicial e continuada para os/as monitores/as-formadores/as, que sustente a proposta defendida pela ASA. Com base nesse apontamento, elaborou e desenvolveu uma formação com os/as monitores/as-formadores/as em que foi debatido sobre a questão agrária, as relações de gênero e a educação no contexto do Semiárido. Os resultados da formação aprofundaram o debate sobre a necessidade de a ASA enfrentar a luta pelo acesso à terra, tendo em vista que é um dos eixos centrais de um de seus maiores programas.

 

Considerações finais

 

Após a análise dos trabalhos que tem a educação do campo como mote principal,  percebe-se a dificuldade de estabelecer uma identidade campesina e ganha destaque nos estudos o viés marxista dos mesmos. Todos os analisados andam nessa linha, ou seja, onde o econômico é a preocupação principal dos autores e por essa linha tentam explicar as situações encontradas nas pesquisas de campo.

Como sugestão, aponto a crítica cultural do modelo imposto pelos colonizadores sobre os povos subalternizados. Marques(2019) faz uma aproximação com a sociologia do individuo, mas ainda existe a necessidade de um alargamento do conceito de educação envolvendo decolonialidade cultural. Étnica, política, econômica, ambiental e social. Para tanto é necessário revisitar outras bibliografias a exemplo: as Africanas.

 

Para além de fazer críticas, cabe ainda,  ter uma visão mais ampla de nosso objeto de estudo, que embora com ênfases diferentes, nos mobilizam em defesa da permanência do trabalhador no campo e que o campo seja um lugar de vivência, de sobrevivência, de lazer, de política, de trabalho, de contradições, de cultura e também da instituição escolar, sem a qual a compreensão da realidade que cerca o educando, a realidade que o oprime e explora não será compreendida.

 

A retomada da história da organização dos trabalhadores e a constituição do grupo em classe trabalhadora demonstram que a luta pelos direitos sociais foi um processo que reúne indivíduo e as forças sociais. Retomar o capitalismo e seus fundamentos nos ajuda a percorre os caminhos que passaram e passam todos os trabalhadores quando se encontram na luta por direitos. Daí que reconhecer as condições de sua existência é um passo importante para refletir não apenas a história das conquistas, mas pensar nos elementos que tornaram cada etapa um ato de formação do trabalhador.

 

Bibliografia

 

CALDART, R. S., CERIOLI, P. R., KOLLING, E. J. Por uma Educação do Campo: Educação do Campo Identidade e Políticas Públicas. n° 4. Brasília, DF, 2002.

 

CALDART, R. S. Elementos para a construção do projeto político pedagógico da Educação do Campo. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos da Educação do Campo. Curitiba-PR. SEED, 2005

 

BENEVIDES, Maria Victoria de M. Direitos humanos: desafios para o século XXI. In: SILVEIRA, Rosa Maria Godoy et al (Orgs.). Educação em direitos humanos: fundamentos teóricometodológicos. João Pessoa: Editora Universitária, 2007. p. 335-350.

 

FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas "estado da arte". Educ. Soc. [online]. 2002, vol.23, n.79, pp. 257-272. ISSN 0101-7330.

 

MARQUES, Tatyanne Gomes. Um pé na roça – outro na universidade: experiências de acesso e permanência de jovens mulheres da roça na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Belo Horizonte 2019.

 

MOLINA, Mônica Castagna. Políticas Públicas. In: CALDART, Roseli Salete; PEREIRA, Isabel Brasil; ALENTEJANO, Paulo e FRIGOTTO, Gaudêncio (Orgs.). Dicionário de Educação do Campo. Rio de Janeiro: Expressão Popular, 2012, p. 587-596.

 

PEREIRA, Eugênia da Silva. “Uma Andorinha só não faz verão”: limites e possibilidades das práticas educativas da articulação semiárido brasileiro na microrregião de Guanambi/Bahia..  Amargosa, BA, 2015.

 

SILVA, Priscila Teixeira da. O olhar da escola sobre a juventude do campo na comunidade de Mutãs – Bahia: Linhas que se cruzam, tessituras a se fazer. Amargosa. 2015.

 

TRINDADE, Domingos Rodrigues da. Constituição social do ser jovem camponês no contexto de assentamento da Reforma Agrária na microrregião de  Guanambi- Bahia. Brasília 2015

 

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