18/01/2018

Samba Enredo

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Muitos pensam que nas periferias se ouvem apenas músicas sem conteúdos, porém é um ledo engano, pois é justamente nesta época do ano que as escolas de samba mostram de forma inteligente suas letras mais críticas, compostas por pessoas simples, mas com grande discernimento da realidade social a relatar através da música a história, sonhos e realidade de nosso povo em seus sambas enredos.

            Comecemos pela Beija-Flor de Nilópolis que pergunta " Oh pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais!" e a escola é ainda mais incisiva em sua criticidade relatando que "Sou eu [..] O alvo na mira do desprezo e da segregação, Do pai que renegou a criação, Refém da intolerância dessa gente [...] Ganância veste terno e gravata, Onde a esperança sucumbiu, Vejo a liberdade aprisionada".

            A Beija-Flor relata apenas a nossa realidade política, a qual impera a segregação, corrupção, desprezo pelos menos favorecidos e intolerância com esta classe.

            A Mocidade Independente de Padre Miguel com sua letra, faz uma referência a todas religiões, conclamando ícones religiosos e implorando pela paz que tanto necessitamos, e obviamente, para que se tenha a paz desejada pelo Namastê, não deve haver a intolerância religiosa, fazendo-se valer o respeito um pelo outro e por suas crenças.

            Interessante é que o Paraíso do Tuiuti relata a sofrida vida do negro que até hoje está no cativeiro social, o que é ressaltado pelas diferenças sociais as quais os negros se encontram. Estes mesmos negros que têm uma taxa de analfabetismo duas vezes maior que os brancos e que possuem também uma renda 40% menor. São estes negros que fazem parte deste abismo social e se encontram cativeiro citado acima.

            Não é intuito aqui fazer publicidade de algumas escolas, mas o fato é que é justamente nesta época em que as letras devem ser vistas como poesia, crítica, historicidade, fatos que infelizmente, poucos conseguem ter o discernimento para assimilar a nossa dura realidade.

            Seria interessante ver uma escola pública trabalhando com seus alunos as letras destes sambas, mostrando o que tais letras representam, indo na contramão da escola sem partido, fazendo seus educandos pensarem e saírem de suas caixas.

            Nós educadores, precisamos fazer com que nossos educandos deixem de ser inertes e passivos, para se tornarem pro-ativos e verdadeiros protagonistas de sua própria realidade, fugindo a domesticação subalterna e buscando o conhecimento que dará discernimento para que consigam mudar o rumo de nossa pátria que tem sido mais madrasta que  mãe gentil.

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×