SILÊNCIO
Dênio Mágno da Cunha*
O texto de hoje deveria conter apenas o título. Seria o suficiente para dar a justa medida do tema.
Neste mundo em que as pessoas, de modo geral, estão rodeadas de ruídos por todos os lados – ilhas de ruídos – o silêncio tem sido cada vez mais algo raro de se ter e perceber. Cada vez mais, pessoas buscam alcança-lo e vivenciá-lo. Por este motivo acho relevante fazermos uma parada para pensar sobre a função do silêncio na educação e na vida de modo geral.
Uma breve pesquisa sobre o silêncio vai nos mostrar que ele é enaltecido de várias formas: no provérbio chinês onde “a palavra é de prata, o silêncio é de ouro”; na frase do imperador Marcus Aurelius: “Podem as palavras, ditas ou escritas, machucar, mas jamais causarão dor maior que o silêncio”; no slogan imperativo: “Ouça o silêncio”; na pausa musical da Aleluia, de Hendel: https://www.youtube.com/watch?v=J4JIHvmoN0E; na meditação em suas várias formas: http://aumagic.blogspot.com.br/2016/04/pratique-meditacao-diaria-com-audios.html. E em muitos lugares podemos encontra-lo: nas bibliotecas, nas igrejas, nos templos, nos armistícios, no alto das montanhas, em lugares isolados, em momentos da vida e da morte.
O silêncio está presente, mas está ocupando um lugar que não é o do cotidiano, deixou de ser algo normal, comum, corriqueiro, fácil. Está virando artigo de primeira necessidade, algo raro que em breve será vendido a preços absurdos. Já há um volume considerável de produção literária voltada para ensinar as pessoas a fazerem silêncio; inúmeros retiros espirituais de meditação, cristão ou budista, levam as pessoas a ficarem silenciosas por alguns poucos dias. Nada que seja custo zero. A sua falta ocasiona o crescimento no número de consultas a psiquiatras. O stress, a ansiedade, a impaciência e o nervosismo, a não escuta, são sintomas graves da ausência do silêncio. Há pessoas que têm medo do silêncio.
Esse movimento faz com que os espaços silenciosos, os vazios, do nosso tempo sejam ocupados desnecessariamente pelo consumo desenfreado de informações e comunicações instantâneas. Perderemos, ao longo do tempo a nossa habilidade de fazer, ficar e aproveitar tudo que o silêncio pode nos proporcionar. Pode-se dizer que o silêncio está se retirando ou sendo banido da vida moderna. Se fosse uma pessoa, eu diria que o silêncio está em busca do silêncio.
É sabido que até no momento mais silencioso do dia, quando dormimos, a mente continua a “falar” (sonhar) e nem aí conseguimos, mas nos silenciar.
Do ponto de vista da educação, chegamos ao absurdo de ser necessário uma campanha publicitária, educativa, com o objetivo de mostrar que o professor perde 20% do seu tempo de aula tentando garantir a disciplina em sala de aula. Com certeza, pedindo silêncio e/ou a atenção dos alunos. 20% é muito tempo.
Falando em tempo. A pouco tempo atrás me perguntei porque havia silêncio nas bibliotecas e não nas salas de aula. Pesquisei informalmente alguns alunos. Responderam-me que na biblioteca iam para estudar. E na sala de aula o que que vocês fazem? Perguntei. Silêncio foi a resposta. Nas salas de aula, ao contrário das bibliotecas, o silêncio não é um hábito, é uma conquista no jogo de poder entre alunos e professores – creiam, ainda existe lugares em que este jogo existe.
Já presenciei momentos em que os alunos discutiram em busca do silêncio: “Pessoal, o professor está querendo dar aula. Silêncio! ” Pessoalmente, só em casos extremos peço silêncio em sala de aula. Prefiro acreditar que o silêncio em sala de aula é questão de educação. No entanto, tenho visto o extremo vivar rotina.
A intenção aqui não é “puxar orelha” de meus leitores-alunos, mas chamar a atenção para três aspectos relacionados ao espaço da sala de aula, que interligados possibilitariam ou facilitariam de modo singular a aprendizagem: o silêncio, a escuta e a atenção (foco).
Porque os três? Porque só o silêncio não é suficiente mais. Há os que ficam silenciosos no sentido da mudez, rostos iluminados pela tela do celular; há os silenciosos, mergulhados em seus barulhos internos que nem escutam o que dizem seus colegas ou o professor; e aqueles que vivem no silêncio da dispersão, desfocados completamente do que acontece ao redor.
Ultimamente tenho me esforçado para evoluir na conquista destas três habilidades essenciais: o silêncio, a escuta e a atenção (foco). Facilitado pelos anos de leitura e alguns cursos sobre a meditação, cristão e budista, busco alcançar a plena atenção, acreditando que assim serei efetivo e atencioso com cada um dos meus alunos – mesmo que sejam muitos. Ainda, acredito que estar no presente, vivendo a totalidade do agora, pode nos ajudar (alunos e professores) no alcance de melhores resultados na aprendizagem mútua.
Não tenho ideia ainda sobre como atuar em sala de aula para aumentar o quociente da presença e exercício das três habilidades, mas este é meu próximo objetivo. Espero ter resultados para apresentar num momento futuro.
* Professor em Carta Consulta e Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba. Acredita que o silêncio é poderoso.
PS: na coluna da semana passada, cometi um erro de digitação perceptível aos atentos. Peço desculpas. O título é “Sinapses”.