08/08/2011

Sobre a saída de Jobim

Título proposto:     Sobre a queda de Jobim e as novas articulações

De perfil articulador e, ao mesmo tempo, desafiador, foi-se embora mais um integrante do governo Dilma Rousseff, em seu oitavo mês de governo, o (agora) ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim. Analisar sua saída neste momento de turbulências ocorridas (escândalos no Dnit, Ministérios dos Transportes e Valec (ferrovias públicas) ) só pode ser realizado sob o prisma de suas atuações de embate político e estratégico em relação aos seus supostos aliados que, nas últimas semanas, foram bombardeados por suas declarações tidas como fora do contexto. Seja por criticar abertamente outras ministras por serem, em sua opinião, ou “muito fraquinha” (caso de Ideli Salvatti, das Relações Institucionais) ou porquê “nem sequer conhece Brasília” (caso de Gleisi Hoffmann, da Casa Civil), o fato é que Jobim colecionou adversários com a mesma facilidade com que, anteriormente, resolveu atritos internos entre a base petista e a oposição.

Sobre a oposição, inclusive, foi fato inicial de sua insustentabilidade no governo a declaração explícita de que foi eleitor do ex-governador paulista, José Serra (PSDB), ao cargo de presidente da república na última eleição. Não só pela possível leitura de deselegância do ato, Jobim demonstrou também desinteresse em permanecer em um governo do qual já fazia parte há vários anos, desde o governo Lula. E se com este o ex-ministro mantinha uma relação bem mais amistosa e de maior diálogo, com Dilma a postura foi de maior enfrentamento e de críticas à estrutura partidária e governamental existente que, segundo ele, estaria muito atrapalhada e com vários níveis de interferência para consolidação das políticas públicas que desejava estabelecer (como, por exemplo, sobre a compra e venda de equipamentos bélicos).

O fato que Dilma se sentiu pressionada em demasia a tomar posição frente a uma liderança estabelecida em seu governo e que possui, mesmo que as faça de modo velado, interesses em cargos eletivos de expressão futuramente (seu nome já foi cogitado anteriormente pela oposição tanto para o governador e senador quanto para a própria presidência do país). Ao mesmo tempo, sua saída agora, mesmo que já cogitada anteriormente, representa risco iminente ao atual governo, minimamente, por duas questões: demanda uma nova articulação política entre PT e PMDB pela posição e liderança exercida para o cargo; ajuda a colocar em evidência que o rolo compressor da saída de nomes poderá ainda continuar, como forma de se dar credibilidade administrativa.

Esse acontecimento nos remete ao fato de que a presidenta Dilma tentará a todo o custo manter seu viés técnico e de controle das instituições políticas e econômicas do pais, principalmente com a escolha imediata de um novo nome à altura do que o cargo de ministro da Defesa exige. Por bem ou por mal, Jobim soube se articular tão bem com as Forças Armadas que pôde permanecer no cargo por longo período, mesmo sendo um civil. E se por um lado o governo perde um indivíduo de larga experiência e atuação pública, por outro pode ter se livrado de um empecilho ao próprio andamento da primeira reforma ministerial do novo governo, prevista para os próximos meses. O tempo se encarregará de demonstrar, assim, qual o nível de alcance que a mesma tenderá a acontecer.

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