30/03/2020

SUSTENTABILIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS ALTERAÇÕES GLOBAIS

GOULARTE, Roana Funke[i];

CORRÊA, João Guilherme Hofmeister[ii].

 

Em “Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados”, os autores buscam analisar as diversas conceituações existentes de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável, visando uma melhor compreensão do significado de cada um. Já em “Breve análise sectorial da situação actual das alterações globais do ambiente”, o autor informa sobre algumas alterações globais (energia e clima; recursos hídricos; desertificação; perda da biodiversidade e degradação dos ecossistemas; florestas e desflorestação; e insegurança alimentar global) na atualidade que estão sob o viés da intervenção humana.

Os termos sustentabilidade, sustentável e desenvolvimento sustentável são termos conhecidos globalmente e de frequente utilização em todos os meios da existência humana. Porém, apesar de ser um tema atual e presente carecem de conceituação irrefutável, isto porque existem diversas críticas e dúvidas no que diz respeito à relação entre teoria e prática.

 

Os termos sustentável, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, embora muito utilizados na literatura científica, no setor privado e nas políticas públicas, ainda não possuem um consenso em termos de conceito. Na literatura, existe uma vasta diversidade de conceitos, relacionada, de forma predominante, com o desenvolvimento sustentável (LINDSEY, 2011). Porém, os significados destes termos variam na literatura em virtude do número de perspectivas e vinculações ao contexto e ao campo de atuação (STEPANYAN, LITTLEJOHN e MARGARYAN, 2013). A partir do estudo bibliográfico dos atributos que compõem os termos, foi possível identificar que, mesmo sem uma conceituação definitiva, é possível compreender seus significados. (FEIL; SCHREIBER, 2017)

O termo sustentável visa solucionar deteriorações verificadas nas inter-relações do sistema global ambiental humano, ou seja, equilibra a relação entre o ser humano e o meio ambiente, de forma que se permita explorar os recursos naturais por um período indeterminado sem que ocorra a degradação permanente do meio ambiente. A ideia de sustentável é concretizada quando preenche os três pilares, sendo eles a equidade dos aspectos econômicos, sociais e ambientais, além disso é embasada nos processos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade.

A sustentabilidade é um processo que tem como objetivo mensurar a qualidade do sistema ambiental humano, possibilitando avaliar como este se encontra em relação ao que é sustentável. Para aferir a sustentabilidade, são considerados indicadores e índices que permitem identificar quais aspectos (social, econômico e ambiental) atingem o nível desejado e, a partir disso, corrigir e reposicionar quando não atingirem o estimado.

O desenvolvimento sustentável é um processo ativo que aproxima o sistema ambiental humano, com base em estratégias, dos níveis de sustentabilidade, de forma que ambos estejam harmonizados. As estratégias são constituídas a partir da tentativa de ruptura entre os paradigmas sociais, através da conscientização da importância da prática de atitudes e ações que permitam corrigir os aspectos negativos revelados pelos indicadores do processo de sustentabilidade.

Cabe destacar que, apesar da ausência de uma contextualização, é possível compreender sintaticamente o papel de cada termo e verificar que possuem significados diferentes, impossibilitando a utilização destes termos como sinônimos um do outro, vez que se trata de ações distintas, porém não isoladas, isto porquê o alcance da eficácia do que é um sistema humano sustentável depende da combinação das três ações.

Com o aumento da população as necessidades de recursos como o energia e água aumentaram, porém, a extração e consumo em discordância com o que é sustentável, desencadeia uma degradação perigosa dos ecossistemas, levando a uma escassez de água e energia.

A energia, atualmente, depende quase que em sua totalidade de combustíveis fósseis. Existem duas razões para a necessidade de redução desta dependência, sendo elas: (1) os combustíveis fósseis são um recurso natural não renovável em uma escala de tempo inferior a milhões de anos; e (2) a combustão dos combustíveis fósseis permanece na atmosfera o que intensifica o efeito de estufa natural e provoca inúmeras alterações climáticas.

Segundo Santos (2012) ao considerarmos o curto e médio prazo (aproximadamente próximos 50 anos), é essencial que haja um aumento da eficiência energética, sejam desenvolvidas fontes primárias de energias renováveis modernas, e passem a utilizar as tecnologias de carvão limpo, visando a captura e sequestro de carbono. Explica, ainda, o autor que “do ponto de vista ambiental, a insistência em utilizar os combustíveis fósseis até atingir a exaustão completa dos jazigos de combustíveis, tanto convencionais como não convencionais, iria trazer problemas gravíssimos”.

A água é um recurso natural renovável, pois é continuamente disponibilizado pelo ciclo hidrológico e é essencial à vida. Em que pese a água essa indispensável para a manutenção da vida, atualmente, a maior parte do consumo mundial deste recurso destina-se à irrigação agrícola (cerca de 70%) e ao ramo de processos chamado água virtual[1].

O crescimento da população mundial gerou um aumento do consumo global, porém, em muitas regiões do mundo há escassez de água[2]. Atualmente nos encontramos diante de uma alteração global, que tente a agravar-se no futuro, isto porquê, com o aumento da população nas regiões mais problemáticas (países menos desenvolvidos) e às alterações climáticas levará escassez de água à cerca de 2/3 da população global.

Destaca-se que a energia e os recursos hídricos são indispensáveis um ao outro, vez que para gerar energia são necessárias grandes quantidades de água, enquanto grandes quantidades de energia são essenciais para obter água de boa qualidade. Isto posto, percebe-se que a indisponibilidade de um gera a indisponibilidade de outro.

A desertificação ocorre quando há degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas, podendo ser classificada nas formas: natural (sem qualquer relação com as atividades humanas, resultante de variações climáticas) e humana (atividades humanas desvinculadas às práticas sustentáveis).

A combinação de práticas agrícolas desajustadas ao clima, aos solos e aos recursos hídricos locais, resulta em um aumento da aridez, como consequência há uma necessidade de utilização de infraestruturas que permitam a irrigação. Assim, pode-se afirmar que, a principal causa da desertificação de origem humana é a exploração dos ecossistemas naturais para a produção de alimentos e energia, estes visam responder às pressões do crescimento populacional e da globalização.

Diante da insustentabilidade da exploração dos recursos naturais para suprir o crescimento das necessidades da população, ou seja, do consumo global, estamos enfrentando uma crise na biodiversidade, pois há uma frequente destruição sistemática dos ecossistemas. As atividades humanas vêm degradando a maioria dos ecossistemas em escala global. Santos (2012) afirma que caso a degradação e a destruição dos ecossistemas naturais continue de forma incontrolada e por tempo indefinido, corremos o risco de criar situações críticas irreversíveis.

Uma destas situações seria a desflorestação, pois as florestas foram um dos primeiros ecossistemas a ser intensamente explorado e devastado pela humanidade. Sabe-se que o abate das florestas visa o uso da madeira, o uso dos solos (agricultura e pecuária), a exploração mineira e o povoamento. Salienta-se que as razões para desflorestar estão diretamente ligadas aos interesses econômicos.

A degradação desenfreada das florestas resulta em (1) aumento da erosão e transporte fluvial de sedimentos, degradando solos e perturbando os ciclos da água e do carbono, (2) aumento de CO2 na atmosfera, vez que as florestas são as responsáveis pela diminuição do CO2 atmosférico em escala global, agravando, assim, o aquecimento global, e (3) risco de extinção de espécies, pois uma grande diversidade de plantas e animais (já descobertos ou não) habitam as florestas.

Durante a evolução da humanidade, percebe-se uma ligação profunda entre o crescimento da população e o desenvolvimento da agricultura. Acredita-se, portanto, que exista uma quantidade de produtos alimentares suficiente para que não haja mais fome, porém, conforme estimativas o aumento dos valores dos alimentos mantém cerca de 44 milhões[3] de pessoas em situação de fome.

O número de pessoas com fome no mundo vem crescendo novamente e as principais causas, segundo Santos (2012) são “governações e administrações públicas fracas e corruptas ou completamente disfuncionais, recursos econômicos escassos, conflitos, populações refugiadas, sistemas e práticas agrícolas insustentáveis e o colapso das instituições locais”. Podemos, assim, concluir que as pessoas morrem de fome porque não têm condições econômicas para se alimentarem.

Um dos fatos para a presença da fome, além do fator econômico, é a falta de segurança alimentar, sendo esta, importante para evitar o desperdício de alimentos. Com relação ao desperdício, existem duas distinções, sendo elas: a perda de alimentos na cadeia de produção (mais ocorrência nos países mais pobres); e o desperdício de alimentos nos processos de venda e de consumo (mais frequente em países desenvolvidos, diante fabricação exacerbada para suprir a necessidade desenfreada de consumo).

Por fim, importante destacar a ligação entre os textos analisados, vez que um nos informa sobre os termos, enquanto o outro expõe os recursos explorados e as consequências ao não usufruir dos recursos de forma sustentável.

 


[1] Segundo Santos (2012) água virtual é “definida como a água consumida nas várias etapas do processo de produção de um produto alimentar ou não alimentar, ou de um serviço”.

[2] A escassez de água é configurada quando não há um volume suficiente que satisfaça a procura, simultânea, dos setores do uso doméstico, da agricultura e da indústria.

[3] Segundo Banco Mundial, apud, Santos, em pesquisa feita em 2010.

 

Resenha com base nas obras:

Capítulo 5: Breve análise sectorial da situação actual das alterações globais do ambiente. In: SANTOS, F.D. Alterações globais: os desafios e riscos presentes e futuros. 1 ed. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012. 213p.

FEIL, A.A.; SCHREIBER, D. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados. Caderno EBAPE-Brasil, v.14, n.3, p. 667-681, 2017.    

 

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